“OS AÇORES ESTÃO A CONTROLAR BEM A SITUAÇÃO, BASTA OLHAR PARA OS NÚMEROS”

Numa altura em que os números continuam a descer, Pedro Lourenço dos Santos, presidente do Conselho de Administração da Saúde da Ilha de S. Miguel, da qual faz parte o Centro de Saúde da Ribeira Grande, adianta que os utentes dos quatro lares da Ribeira Grande já estão todos vacinados. O presidente garante ainda que os serviços continuam a funcionar praticamente a 100 por cento e assegura que a maior necessidade, neste momento, continuam a ser os recursos humanos, nomeadamente, enfermeiros, sem os quais os serviços não podem funcionar.

 

 

Como tem a Saúde da Ilha de S. Miguel lidado com esta situação da pandemia?

O que nós fazemos no âmbito da Covid-19 é toda a parte de colheitas, de vigilância ativa dos positivos e dos contactos de alto risco e também a investigação epidemiológica. Ou seja, damos apoio a toda a atividade da delegação de saúde da Ribeira Grande.

 

Em termos de utentes, quantos tem a Ribeira Grande? Todos estão a ser atendidos ou há atrasos?

O Centro de Saúde da Ribeira Grande tem 32 mil utentes. Em termos de consultas médicas, nós definimos uma estratégia, desde o início da pandemia, as consultas praticamente que estão regularizadas, as consultas que são presenciais estão a ser feitas dessa forma e também temos preferência por teleconsulta, o que permitiu que não houvesse um decréscimo na assistência médica aos utentes. Outra estratégia foi, tudo o que são receituários, também são pedidos através do telefone ou por email para o Centro de Saúde, e depois os próprios médicos passam a receita que é também enviada por meio eletrónico, ou se preferirem, podem ir buscar diretamente ao Centro de Saúde.

 

Comparativamente ao continente, por exemplo, então a ilha de S. Miguel está a conseguir não atrasar consultas devido à pandemia?

Até ao momento, temos conciliado a situação. Não quer dizer que não haja uma ou outra situação pontual que tenha ficado para trás, não estamos a 100 por cento como estávamos antes, mas a grande maioria conseguimos responder às necessidades da população. Também temos uma Unidade Básica de Urgência no Centro de Saúde da Ribeira Grande.

 

Considera que os Açores estão a conseguir de alguma lidar melhor com esta situação, talvez também devido ao menor número de casos?

Isso apenas a Direção Regional de Saúde poderá dizer. Mas na minha opinião pessoal sim, os Açores estão a controlar bem a situação, basta olhar para os números.

 

Cabe também à Unidade de Saúde da Ilha avisar a população idosa da vacinação. Como está a correr essa atividade na Ribeira Grande?

O concelho da Ribeira Grande é o concelho com a população mais jovem dos Açores. Mas em termos de lares, que são quatro no total, já estão todos vacinados, assim como a Unidade de Cuidados Continuados.

 

Como está neste momento a situação em Rabo de Peixe?

A situação de Rabo de Peixe penso que está a ser controlada, neste momento, o Governo Regional tem uma equipa multidisciplinar no terreno composta por assistentes sociais e por pessoal da saúde, coordenada pelo delegado de saúde concelhio, com elementos também da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal e estão no terreno a acompanhar e a fazer a vigilância ativa dos positivos no terreno, indo mesmo neste caso às habitações, e verificando se as pessoas estão a cumprir o isolamento, se têm sintomas. Ou seja, está a ser feito um acompanhamento presencial e que está a dar frutos porque os números também estão a baixar. Neste momento, os casos ativos em Rabo de Peixe são 64.

 

Diria, então, que esta situação pandémica acabou por interferir nos serviços normais dos Centros de Saúde ou não?

Interferiu claro, principalmente na enfermagem. A enfermagem teve uma quebra substancial porque tivemos que alocar os profissionais de enfermagem às áreas Covid, não só da Ribeira Grande como de toda a Unidade de Saúde da Ilha, tivemos uma equipa única de profissionais de saúde na área da enfermagem que ficaram responsáveis, e também alguns médicos colaboraram nesta equipa, nomeadamente, na equipa de colheitas, na vigilância ativa, à investigação epidemiológica, ao aeroporto, ou seja, estas quatro frentes de combate no terreno tivemos que afetar muitos enfermeiros para aqui. Afetamos médicos também e outros profissionais de saúde como psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas da fala, dentistas, entre outros profissionais de saúde que foram afetos a essas áreas Covid mas realmente a área da enfermagem foi a mais afetada. Salvaguardando sempre que nunca, e foi uma estratégia da Unidade de Saúde da Ilha, para qualquer um dos centros de saúde, incluindo o da Ribeira Grande, nomeadamente, saúde infantil, saúde materna e os grupos de risco, sempre tiveram o seu acompanhamento previsto salvaguardado.

 

Em termos de especialidades, fala-se agora também nos efeitos psicológicos que o Covid-19 trouxe. Nesse sentido, e visto que já dispõe de apoio psicológico nos centros de saúde, vão reforçar esse apoio?

Sim, temos psicólogos na Ribeira Grande, aliás, o Governo Regional dos Açores criou, antes da pandemia, a Comissão de Saúde Mental, da qual a Unidade de Saúde da Ilha também tem uma equipa que faz parte desta Comissão regional, onde estão afetos enfermeiros de saúde mental, médicos, psicólogos e assistentes sociais. E, neste momento, estamos a dar resposta às situações que nos chegam e que são sinalizadas. Não só muitas vezes pela linha de vigilância ativa, como também pela própria medicina ou mesmo pela própria área de enfermagem nas suas consultas normais de rotina.

 

Os casos têm aumentado, sente que há uma maior procura?

Tal e qual conforme está identificado, a saúde mental é de facto um problema neste momento. Acho que é transversal a nível mundial considerando o estado pandémico e a situação que o país vive não só a nível económico, mas também a nível de saúde e de confinamento, o que obriga a um acompanhamento nesta área da saúde mental mais afincado. E é nesse aspeto que estamos a trabalhar, em coordenação com a parte regional, para dar respostas às situações que estão sinalizadas.

 

Em termos de infraestruturas e serviços, há algo que ainda falte no Centro de Saúde da Ribeira Grande?

Neste momento, temos um concurso de enfermagem a decorrer para 20 enfermeiros, que é, realmente, das maiores lacunas que temos no Centro de Saúde da Ribeira Grande e dos quais vão ser afetos alguns, de acordo com a estratégia que temos definida, e nesse sentido vamos afetar pessoal de enfermagem ao Centro de Saúde da Ribeira Grande. Relativamente aos médicos, a população está praticamente coberta, neste momento, apenas 1,5% dos utentes é que não tem médico de família, ou seja, é um valor residual, e, por isso, neste momento, para já, não está previsto afetar nenhum médico de família. Temos um concurso também de médicos de família a decorrer, mas será afeto a outros centros de saúde, não à Ribeira Grande porque esta está coberta.

 

E pensa que essa lacuna de enfermeiros estará resolvida quando?

Penso que a primeira fase do primeiro concurso, porque são dois, de 10 enfermeiros cada um, estará concluída no final de fevereiro, início de março. A segunda, lá para maio. Se tudo correr bem claro, os concursos públicos têm regras e procedimentos próprios e ficamos sempre dependentes dos prazos legais previstos.

 

O Centro de Saúde da Ribeira Grande está integrado na Unidade de Saúde da Ilha. Qual o funcionamento dos mesmos?

O Centro de Saúde da Ribeira Grande, tal como outro centro de saúde normal, dos cinco centros de saúde que fazem parte da Unidade de Saúde da Ilha de S. Miguel, tem uma direção clínica, uma direção de enfermagem e uma coordenação técnica. Esta direção clínica é responsável pela gestão dos médicos, ou seja, pela gestão clínica, e a direção de enfermagem, tal e qual como nos hospitais, pela parte da enfermagem, e depois a coordenação técnica é responsável pela parte administrativa do funcionamento do centro de saúde. Tudo isto é articulado com o Conselho de Administração da Unidade de Saúde da Ilha do qual faz parte. A Unidade de Saúde da Ilha tem um presidente do Conselho de Administração e tem dois vogais executivos e dois vogais não executivos. O presidente, neste caso, sou eu, depois temos um vogal executivo médico e outro enfermeiro. E os outros dois vogais são administrativos. E depende do Conselho de Administração as direções clínicas, de enfermagem e de coordenações técnicas dos centros de saúde. Cada Centro de Saúde tem a sua direção clínica, a sua direção de enfermagem e coordenação técnica, que chamamos de direções técnicas dos centros de saúde.

 

Como presidente do Conselho de Administração, quais são as necessidades que diria que sente? O que poderia pedir?

Podemos sempre pedir muito, a saúde é um investimento. Não podemos encarar a saúde como um custo mas sim como um investimento. As necessidades são constantes, e, mais concretamente, o que pedimos é, na parte dos utentes, uma compreensão pela situação atual, mas as necessidades existem e são várias. As mais prementes diria que são as que já falamos, a questão dos recursos humanos. Sem recursos humanos não funcionamos. A Unidade de Saúde da Ilha e o Centro de Saúde da Ribeira Grande em concreto, sem os recursos humanos não funcionam. E essa é realmente a principal necessidade, que, nomeadamente no caso da enfermagem, estão a ser tratados. E penso que é transversal quer ao Serviço Regional de Saúde, quer ao Serviço Nacional de Saúde.

 

Que mensagem gostaria de deixar à população numa altura destas?

Gostaria de alertar as pessoas para o facto de vivermos num tempo de pandemia e que a pandemia ainda não terminou. Como já referi, pedimos a compreensão dos utentes e chamamos a atenção dos utentes para se dirigirem ao Centro de Saúde apenas quando necessitarem, não irem ao Centro de Saúde por razões que não sejam necessárias, porque neste momento muitos dos recursos estão alocados ao combate à pandemia. E que a população também compreenda a parte dos profissionais de saúde, que têm dado o seu melhor, têm trabalhado no seu máximo de carga, e penso que é importante que a população perceba isso. Queria também agradecer aos profissionais de saúde porque têm sido incansáveis, não só os da Ribeira Grande como de toda a Unidade de Saúde da Ilha, que têm feito um esforço enorme, muitas vezes em detrimento da vida pessoal em prol da saúde pública da população, e falo de todos os profissionais da saúde, desde enfermeiros, médicos, assistentes operacionais, assistentes técnicos, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, dentistas, ou seja, todos os profissionais envolvidos. E lembrar, por fim, para a população manter as regras que são emanadas pela Direção Regional de Saúde, nomeadamente, o distanciamento social, a etiqueta respiratória, o uso de máscara obrigatório, o lavar as mãos, que são as condições principais para que esta situação pandémica não se agrave, porque já está provado que o uso da máscara é uma ferramenta que tem de ser um acessório já imprescindível das pessoas. E é importante também transmitir que uma máscara não serve para o dia inteiro, tem de ser mudada, pelo menos, duas vezes por dia, sendo que as máscaras sociais têm de ser lavadas também a 60 graus, porque senão, não fazem o seu papel. E é notório como a máscara é eficaz porque os casos de gripe este ano são muito poucos, o que significa que a máscara é eficaz na prevenção da transmissão desse vírus, ou seja, tudo o que é transmitido por aerossóis, a máscara é um instrumento de combate eficaz e que deve ser utilizado de modo eficiente.