Há seis anos a lecionar a disciplina de Instrumentos Musicais na Academia Sénior de Pedroso e Seixezelo, o professor André Ribeiro sublinhou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, o impacto positivo deste projeto no desenvolvimento pessoal e social da população sénior. Através do ensino da música tradicional portuguesa, os alunos não só exercitam a mente e a motricidade fina, como também reforçam os laços familiares e comunitários, levando o seu talento a festas locais, escolas e eventos intergeracionais. Para o docente, esta é uma iniciativa que promove o envelhecimento ativo e que merece ser replicada noutras localidades.
A seu ver, qual é a importância do trabalho que é desenvolvido da Academia Sénior de Pedroso e Seixezelo?
É um trabalho, efetivamente, muito importante, porque permite dar às nossas pessoas mais idosas novas valências. Relativamente à disciplina que leciono, Instrumentos Musicais, eu acho que é algo que é muito bom para eles, pois eles em casa, depois, também conseguem partilhar os seus conhecimentos com a família e os amigos, criando momentos de muita animação e convívio, porque eles levam as suas aprendizagens e as músicas populares para o meio familiar e isso é algo que é muito positivo para eles. Para além disso, ao frequentarem a Academia Sénior e as suas mais diversas disciplinas também exercitam a mente.
Nestas aulas reina a música tradicional portuguesa. O reportório vai sempre ao encontro dos gostos dos alunos?
Normalmente nós escolhemos as músicas todas em conjunto, aliás, até fazemos votações às vezes, sendo que as mais votadas são as que nós trabalhamos, sendo que isso só não acontece se eu achar que são músicas muito complexas que eles ainda não tenham capacidade. Contudo, se eu sentir que eles têm capacidade e gostam da música, nós avançamos. Portanto, ao fim e ao cabo, as músicas que tocamos e cantamos são escolhidas pelos seniores.
O facto de os seniores aprenderem um instrumento musical contribui para a estimulação cognitiva e para o envelhecimento ativo.
Sim, permite a estimulação cognitiva, mas também ao nível físico, porque, por exemplo, a guitarra e o cavaquinho exigem muita destreza dos dedos e até do pulso e alguns alunos têm alguma dificuldade nisso, pelo que acaba por ajudar nesse aspeto, ao nível da motricidade fina. Eu sei que alguns alunos têm efetivamente muita dificuldade e que até há certas posições que não vão conseguir fazer perfeitamente, mas também não é isso o que nós queremos aqui, pois não é esse o objetivo, aqui, da Academia, mas, sim, que o conjunto funcione. O meu objetivo não é dar aulas individuais, portanto, não estou com esse foco, mas que eles convivam entre eles, que eles aprendam e saiam daqui mais ricos e passem aqui um bom bocado, ficando também munidos para enriquecer a nossa freguesia, ao fazerem apresentações quer nas festas populares que decorrem ao longo do ano, quer no Natal e no próprio aniversário da Academia e que haja uma partilha entre toda a nossa comunidade da União de Freguesias.
O Grupo de Instrumentos Musicais da Academia Sénior de Pedroso e Seixezelo sai das fronteiras físicas da própria instituição, uma vez que, como referiu, participa ativamente nos eventos promovidos, nomeadamente, pela Junta de Freguesia, como é o caso do Festival da Cereja e da Festa do Caneco.
Efetivamente, o facto de participarmos nos eventos não só da freguesia, como além-fronteiras é de extrema importância. Para além dos eventos que mencionou, recordo-me de uma iniciativa que, à semelhança do ano transato, também realizamos este ano, que é ir às escolas, aliando quer os mais novos, como as nossas crianças do ensino básico, quer os mais velhos, criando momentos muito interessantes de partilha, uma vez que os alunos mais jovens aderem em força e cantam connosco. Depois, também é muito engraçado ver a própria interação dos nossos alunos com as crianças. A meu ver, esta é uma experiência muito enriquecedora, porque muitas das crianças acabam por receber os seus avós na escola. Por outro lado, para a comunidade em geral, também é de ressaltar a reação dos filhos dos nossos alunos quando veem os pais a tocar os instrumentos, pois ficam admirados, porque, muitas vezes, julgam que eles vêm para aqui brincar, e não deixa de ser uma brincadeira, pois não levamos isto com uma seriedade extrema, mas é um trabalho que estamos a fazer, pouco a pouco, porque entram pessoas todos os anos e temos de começar do zero, porém dá frutos.
Acredita que, a cada atuação, vai aumentando o sentimento de superação dos próprios alunos?
Sim, porque alguns alunos admitem que nunca imaginaram algum dia aprender um instrumento musical. Muitos deles vieram para esta disciplina sem qualquer tipo de base e passados dois anos já conseguiam tocar sozinhos em casa para os seus familiares. A meu ver, isto é muito bom e enriquece toda a comunidade.
Acredita que o exemplo da Academia Sénior de Pedroso e Seixezelo devia ser replicado por outras localidades?
Claro que sim, sem dúvida, por este é um projeto muito positivo.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?
É importante que a comunidade continue a apoiar estes projetos, que são bons para toda a gente, porque mantêm os nossos idosos ocupados e estimulados, que é uma coisa que eu acho que faz mesmo muito bem, para eles saírem de casa, virem conviver uns com os outros e falar uns com os outros, para além de aprenderem coisas novas, seja música ou outra disciplina. O estímulo é muito importante nestas idades, para os manter ativos e com o propósito de irem sempre mais além.