“OS CAPITÃES DE ABRIL ABRIRAM AS PORTAS E JANELAS DA DEMOCRACIA”

A União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares assinalou o 48º aniversário da Revolução dos Cravos na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares. A cerimónia começou com o tradicional hastear das bandeiras, seguindo-se uma Assembleia de Freguesia Extraordinária, que contou com a intervenção das mais diversas forças políticas locais, assim como dos jovens estudantes deste estabelecimento de ensino.

 

 

Os 48 anos do 25 de Abril de 1974 foram, simbolicamente, assinalados pela União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares, com um programa cultural, que envolveu toda a comunidade.

As comemorações foram inauguradas no passado dia 24 de abril, com uma “Noite Cultural”, que teve lugar no Auditório de Gulpilhares e contou com a participação do Coral do Orfeão de Valadares, Grupo de Cordas do Rancho Regional de Gulpilhares e Coral de Gulpilhares.

O dia em que se celebrou a Revolução dos Cravos começou a ser festejado com o hastear de bandeiras, na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares e a atuação da fanfarra da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Valadares, que antecedeu o momento, no qual todos cantaram, em uníssono, o hino nacional. Posteriormente, decorreu uma Assembleia de Freguesia Extraordinária, na qual os alunos deste estabelecimento de ensino brindaram os presentes com prosa, música, teatro e poesia, e demonstraram o seu espírito crítico e olhar atento, interpretando o passado, mas pensando no presente e futuro de Portugal. Através da voz e gestos destes jovens, o público viajou no tempo e reviveu os inúmeros acontecimentos que antecederam e sucederam o Dia da Liberdade.

Ulteriormente, o presidente da Assembleia da União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares, Joaquim Rocha, deu início à sessão solene, passando a palavra à diretora da Escola Secundária de Valadares, Anabela Pereira, que aproveitou a ocasião para referir que “é com um enorme gosto que a escola acolhe a comemoração do 25 de Abril. (…) Antes do 25 de Abril existiam palavras que não se podiam dizer, locais aos quais não se podia ir e reuniões entre os amigos, que eram olhadas com suspeição. As pessoas eram presas e torturadas por terem opiniões diferentes. (…) A grande maioria da população era pobre e não tinha dinheiro para satisfazer as necessidades básicas. Com o 25 de Abril, tudo mudou e, hoje, estamos, aqui, reunidos a celebrar Abril, em liberdade”. No final da sua intervenção, a professora deixou um agradecimento especial “a este grupo de alunos, que me deixou com as lágrimas nos olhos”.

Neste seguimento, Joaquim Rocha inaugurou as intervenções, convidando todas as forças políticas com assento na Assembleia de Freguesia a intervirem. Deste modo, Margarida Moreira, representante do Bloco de Esquerda (BE), tomou a palavra, salientando a importância de “celebrar o dia em que acabamos com o regime fascista e começamos a construir o regime democrático em que, hoje, vivemos”.

Garantindo que “hoje, ainda, 48 anos passados, há muitos hábitos, muitos preconceitos, muito lixo ideológico, que não conseguimos varrer”, a deputada bloquista terminou o seu discurso evocando que “a nossa Constituição continua a ser um excelente guia político para quem ama a democracia e os seus princípios fundamentais. Neste tempo conturbado de guerra, em que muitas velhas e novas paixões e ódios estão a perturbar o ambiente e a perturbar assustadoramente os discursos políticos e a solidez dos argumentos”.

Por outro lado, a representante da Coligação Democrática Unitária (CDU), Beatriz Russo, frisou que “realmente, o 25 de Abril tem, sim, donos e os donos são estes estudantes e todos aqueles que, hoje, decidiram tomar o 25 de Abril e, hoje, aqui, quem tomou o 25 de Abril, foram estes estudantes”, revelando que “eu considero que, verdadeiramente, em cada aluno há uma possibilidade de revolução, seja lá isso o que for para nós, porque cada palavra é uma arma, naturalmente, e em cada professor, cada funcionário escolar, há a possibilidade de canalizar esta mudança social”.

Sublinhando que “nós comemoramos, sobretudo, porque não esquecemos”, a deputada da CDU afirmou a vontade de avançar “com o 25 de Abril plantou, pois, ara nós, isso sim, podemos continuar a semear e a colher”.

Também, Júlia Couto, em representação do CDS-PP, participou nesta sessão, mencionando que no dia 25 de Abril “foi intenção dos capitães de Abril termos um país democrático, com eleições e liberdades de toda a ordem. De ressalvar que, nesse dia, ninguém morreu, ninguém foi ferido, tendo sido uma revolução pacífica, como nunca existiu na história. (…) No entanto, quer a liberdade, quer a democracia, são e sempre serão obras inacabadas que podem e devem ser melhoradas, cabendo essas melhorias a cada um de nós, enquanto cidadãos deste belo jardim, à beira-mar plantado”.

Frisando que “todos temos a responsabilidade social de incentivar a população, nomeadamente os mais jovens, a exercer o seu direito de voto, pois esta é a melhor forma de dar continuidade a uma das mais importantes conquistas da Revolução dos Cravos”, a deputada do CDS-PP deixou um repto: “vamos ajudar-nos mutuamente”.

Já Pedro Guilherme-Moreira, representante do Partido Social Democrata (PSD), usufruiu do momento para evocar o significado e importância da liberdade, afiançando que “é uma honra estar aqui, em nome pessoal e a pedido do partido que apoiou a minha candidatura, mas não se enganem os partidos, que insistem no cliché de que não há democracia sem partidos. Na verdade, há democracia, quando há pessoas a debaterem-se pelos seus ideais, sem que os outros tentem esmagar, em nome do mero poder”.

Assegurando que “foi na política e nos partidos que vim encontrar as pessoas mais altruístas e abnegadas, que abdicam do seu conforto, da sua família, do seu tempo, em nome de um projeto coletivo”, o deputado social-democrata ressaltou que “hoje, quem cultiva a bondade, honestidade, simplicidade, família e amor, é livre e os que são, verdadeiramente, livres contaminarão todos os outros, com essa liberdade e pela liberdade é preciso lutar no dia-a-dia”.

Por outro lado, Tilú Ricon Peres, representante do Partido Socialista (PS), aludiu que a Revolução dos Cravos “marca a grande viragem na vida de um país, que deixa anos interruptos de política ditatorial, do regime autoritário, abrindo portas à democracia, à ascensão social, à igualdade de oportunidades, à educação, à saúde, à justiça social, à liberdade de expressão”, declarando que “hoje, poder estar neste local, nesta escola pública, a falar livremente, sem opressão, sem uma escola dividida, (…) significa que o 25 de Abril tem muito significado e continua vivo e eu passei por essa mudança”.

Asseverando que “não nos podemos esquecer que liberdade significa responsabilidade, numa democracia plena”, a deputada socialista dirigiu-se aos jovens presentes, “que tiveram o privilégio de viver em liberdade, viver no seio dela, sejam depositados desta herança. Defendam o papel da liberdade até às últimas consequências e contribuam, diariamente, para o seu aperfeiçoamento”.

Por conseguinte, Alcino Lopes, presidente da União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares, começou por dizer que “esta foi a cerimónia mais bonita e fez-me arrepiar em muitas ocasiões e este momento foi-nos proporcionado pelos alunos desta escola”, atestando que “os alunos, hoje, deram-nos, aqui, uma grande lição e sendo jovens deixaram alguns recados, muito importantes, que nós não somos capazes de dizer, pois sabemos que nem tudo vai bem. É preciso que nós, todos, reflitamos sobre este assunto”.

Explicando os motivos da sua emoção e fazendo votos para que os jovens nunca tenham de viver qualquer guerra, o autarca contou que “no dia 25 de Abril, eu estava num deserto a viver, na tropa, sem condições. Estava eu e outros tantos, sem uma instalação sanitária e com um bidão de gasóleo, cheio de água, para tomarem banho 120 homens, sem condições. Os soldados vivam em tendas de campanha, com temperaturas de 50 graus e eu lembrei-me disto tudo e espero que nunca mais haja uma guerra e vocês nunca tenham de passar por isto”.

Por fim, Alcino Lopes endereçou-se aos estudantes da Escola Secundária de Valadares, dizendo que “vocês são o futuro deste país e eu só tenho de dizer a esta escola, à sua diretora e a todos os alunos, muito obrigado, pelo vosso contributo. Eu, hoje, saio daqui muito mais rico. Vocês mexeram muito comigo. Obrigado”.

Neste contexto, foi Joaquim Rocha, presidente da Mesa da Assembleia da União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares, quem encerrou as intervenções, expondo que “é lamentável quando nós estamos a comemorar Abril, que haja um país que invada outro”.

Para o presidente da Assembleia de Freguesia, a democracia precisa do envolvimento dos jovens na vida política, que “devem exercer o seu dever de cidadania, não só através do voto, mas da participação cívica, sempre com a finalidade de servir as pessoas, independentemente da sua filiação partidária”.

Enaltecendo que “precisamos de continuar a comemorar Abril e lembrar aos jovens que os capitães de Abril abriram as portas e janelas da democracia”, Joaquim Rocha destacou que “é preciso transmitir às novas gerações esta mensagem de esperança e de confiança no futuro, na certeza que, com a presença dos jovens, Abril nunca acaba, porque os jovens nunca permitirão ser amordaçados ou silenciados. Com a força da juventude, ninguém mais fechará as portas da liberdade”.

O presidente da Assembleia da União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares enfatizou, ainda, que “urge, por isso, afirmar, cada vez mais, a mudança operada com o 25 de Abril de 1974, que os capitães vieram trazer ao nosso país, por forma a que cada um de nós seja, também, um herói, no caminho que vai sendo construído”.

Defendendo que “não podemos dar Abril como adquirido, pois corremos o risco de esquecermo-nos e as conquistas esfumarem-se”, Joaquim Rocha realçou que “devemos continuar a aperfeiçoar, a aprofundar o regime democrático e torná-lo mais vivo, exigente, moderno e participado, tomando medidas, que contribuam para dignificar o trabalho e valorizar o mérito a quem o merece. Se isto acontecer, o 25 de Abril estará a cumprir-se, mas é, também, um dever de cada um, sonhar como o poeta António Gedeão”.

Por conseguinte, foi ao som do poema “Pedra Filosofal”, da autoria de António Gedeão, cantado por Manuel Freire, que o presidente da Assembleia da União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares deu como encerrada a sessão solene comemorativa do 48º aniversário do 25 de Abril, com uma mensagem sobre a importância do sonho, para que um futuro melhor aconteça.