Desejava ter enviado este pequeno artigo antes do fim do ano, situações várias impediram-me, mas aqui está. Começarei por lembrar um episódio marcante sucedido na década 70. A morte do jornalista norte-americano Bill Stewart durante a guerra civil que tomou conta da Nicarágua nos anos 70 e derrubou a ditadura de Anastásio Somoza., dando passo a uma junta formada por sandinistas e liberais que assumiu o poder.
“Um dos momentos mais dramáticos da cobertura foi a morte do jornalista norte-americano no dia 20 de junho de 1979. Ao tentar cobrir os combates, o correspondente da rede ABC aproximou-se da região dos conflitos com uma bandeira branca e um intérprete. Um soldado da Guarda Nacional mandou o repórter se ajoelhar, abrir os braços, deitar de bruços e o matou com tiros de metralhadora. A cena da execução foi gravada pela câmara da equipa norte-americana e foi ao ar no mundo inteiro”.
Está ainda patente no youtube para a memória da ignomínia! A revista Time, publicação norte-americana distinguiu, como é habitual todos os anos, uma personalidade, desta vez o jornalista saudita Jamal Ahmad Khashoggi (Medina1958 -Istambul 2deoutubro de 2018), saudita, autor e ex-gerente geral e editor-chefe da Al-Arab News Channel, também foi editor do jornal saudita Al Watan, transformando-o em uma plataforma para o movimento progressista da Arábia Saudita. Após exilado nos Estados Unidos, passou a escrever uma coluna mensal no Washington Post.”Ele ousou discordar do governo do seu país”. Denunciou ao mundo a brutalidade contra todos aqueles que falassem. E foi assassinado por isso.”
É assim que a revista norte-americana Time apresenta o jornalista Jamal Khashoggi como escolha para a Personalidade do Ano de 2018. Khashoggi, um crítico do Governo saudita e colunista do Washington Post, foi morto no consulado saudita em Istambul no passado dia 2 de Outubro. É, juntamente com outros jornalistas apresentados como os “guardiões da verdade”, um dos destacados pela Time.
Todos os anos assistimos a atraque a jornalista e à imprensa, e nesse sentido que a Comissão da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o Ministério de Negócios Estrangeiros de Portugal promovem no seguinte documento, que citamos, a Segurança dos jornalistas: “O número de assassinatos de jornalistas segue uma tendência cada vez mais preocupante. Depois de se homenagearem as vítimas e a sua coragem, surgem questões cada vez mais insistentes. Como proteger o direito de todos os cidadãos a uma informação fiável e o direito dos jornalistas a fornecer essa informação sem temerem pela sua segurança?
Os países, as organizações internacionais e os órgãos de comunicação social implementaram todos os meios possíveis para limitar os riscos corridos pelos jornalistas? Estes últimos podem beneficiar de uma preparação eficaz para fazer face aos perigos, e que é que pode assegurar essa formação? Nos últimos dez anos, cerca de 500 jornalistas foram mortos.
A maioria não são repórteres de guerra, não foram vítimas de fogo cruzado, foram assassinados, muitas vezes devido à investigação que levaram a cabo. De facto, a maioria destes ataques não ocorrem num contexto de conflito ou de guerra mas são frequentemente perpetrados pela polícia, o pessoal de segurança, as milícias ou ainda por atores como membros do crime organizado. Os jornalistas locais merecem uma atenção particular pois são mais vulneráveis. A maioria das agressões contra os jornalistas e os profissionais dos media continuam impunes.
Esta constatação é também um problema crítico. A incapacidade em julgar os criminosos resulta na impunidade que perpetua o ciclo de violência contra jornalistas, incluindo aqueles que trabalham nos média comunitários e os jornalistas cidadãos. A restrição da sua contribuição jornalística priva a sociedade da informação necessária à plena realização do seu potencial e a um impacto sobre a liberdade de imprensa ao criar um clima de intimidação e de violência propício à autocensura.
Garantir aos profissionais dos média o direito de trabalhar sem serem sujeitos a ameaças à sua integridade física é essencial para a plena implementação do direito à liberdade de expressão e de informação. A sociedade e o Estado têm o dever de criar e de manter as condições necessárias a estes direitos fundamentais”. A todos os jornalistas de Portugal, aos meios de comunicação, aos seus colaboradores e seguidores desejamos um Bom Ano de 2019, sem notícias falsas, sem assassinatos, sem mortes em paz!