Filipe Silva Lopes, presidente da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo há 12 anos, prepara-se para deixar o cargo com um balanço marcado por obras, projetos e uma gestão pautada pela proximidade à comunidade. Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, o edil ressaltou os inúmeros projetos imateriais que foram desenvolvidos em prol da população, desde a criação da Academia Sénior, à Petrus Run, à Festa do Caneco e à União dos Sonhos. Garantindo que requalificação da Associação Musical de Pedroso e a construção da Casa Mortuária de Seixezelo foram as obras que marcaram o seu ciclo autárquico, não pelo investimento ou envergadura, mas por darem respostas a décadas de anseios das populações, o autarca evidenciou a importância do arranque da obra do Centro de Saúde dos Carvalhos, destacando que a requalificação da Escola EB 2/3 Padre António Luís Moreira é a única obra física, planeada, que ainda não foi iniciada. Não escondendo que ainda há muito a fazer em prol da sua terra, Filipe Silva Lopes admitiu que apoia a candidatura do socialista Joaquim Tavares à Junta de Freguesia de Pedroso, porque “é a pessoa que está mais bem capacitada, para continuar o trabalho que foi desenvolvido”.
Quem é o cidadão Filipe Silva Lopes?
Eu sou uma pessoa que nasceu em Pedroso há 46 anos e uns meses atrás. Uma pessoa normal, uma pessoa dedicada, que sempre andou pelos movimentos religiosos, pelo associativismo da freguesia, que estudou na freguesia e que fez família na freguesia. Infelizmente não trabalho na freguesia, trabalho no Porto e licenciei-me no Porto também, mas são os dois únicos momentos que saí fora da freguesia. Tento ser uma pessoa normal, tenho a minha vida, tento ter algum tempo para mim, tento conviver com os amigos e acrescentar algo de valor também no meu dia-a-dia, quer a nível pessoal, familiar, profissional. Acima de tudo, nestes 12 anos eu não mudei a minha forma de ser e continuo a mesma pessoa, aliás, quem me conhecia antes de ser presidente de Junta, tem essa ideia, pode haver uma outra pessoa com uma ideia diferente, mas a grande generalidade das pessoas tem a mesma ideia, por isso eu não mudei, continuo a frequentar os mesmos sítios, a falar com as mesmas pessoas, a grande maioria trata-me por Filipe, porque conhece-me há muitos anos. Logo, sou uma pessoa normal, feliz, realizada, mas ainda com vontade de fazer algo mais nesta vida.
Que balanço faz destes 12 anos à frente da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo?
Acho que é um balanço muito positivo. Acredito que, ao longo de 12 anos, ninguém poderia dizer que se voltasse atrás fazia tudo igual, naturalmente que fazia uma ou outra coisa diferente, não a nível de obras, nem de projetos, mas em relação à confiança com uma ou outra pessoa que fui dando e que, ao longo do tempo, na minha ótica, mostrou-me não ser merecedor da confiança e da amizade que em algum momento possa ter dado. Mas, ao nível de obras e de projetos, eu acho que a freguesia deu um salto muito grande, mesmo ao nível da envolvência. Hoje, a Junta de Freguesia faz parte do dia a dia da população, por isso o balanço é muito positivo. Eu costumo sempre dizer que o balanço que se faz de uma Junta, de um executivo ou de um presidente de junta, mede-se muito com aquilo que a Junta faz autonomamente, porque eu podia não querer fazer nada, mas ter a sorte de ter um presidente de Câmara que olhasse para a minha freguesia e achasse vital para o concelho e investiria muito e nada seria pela minha ação ou pela ação da Junta. Logo, eu acredito que o balanço está relacionado com aquilo que a Junta fez, se que dependeu 100 por cento dela e se conseguiu concretizar. Neste seguimento, eu acho que devemos sentir-nos orgulhosos do trabalho que foi feito, o balanço é muito positivo, a consciência está muito tranquila, mas ainda tenho muita vontade, nestes meses que faltam, de fazer muita coisa. Ainda temos algumas novidades para fazer, outras que ainda quero presentear a freguesia e estou empenhado no dia a dia, até o meu último suspiro enquanto presidente de Junta, para deixar mais e melhor aqui na freguesia.
O que é que vai acontecer em Pedroso e Seixezelo até ao final do seu mandato?
Nós inauguramos agora recentemente um Parque de Equipamentos Bio Saudáveis, no Parque das Corgas, aproveitando um espaço que havia lá, por termos mudado o parque infantil. Gostava de fazer mais dois ou três parques desses espalhados pela freguesia, porque hoje as pessoas procuram muito o desporto, o bem-estar, as caminhadas e depois se possível até ter um espaço destes para exercitar outro tipo de músculos, por isso gostava muito de deixar isso na freguesia. Também vamos concretizar um sonho de anos, que já vinha do mandato anterior, não porque prometi a alguém, mas porque prometi à minha consciência que o faria, que é colocar um baloiço daqueles panorâmicos, para tirar fotografias, que agora se vê muito. Já temos o sítio idealizado, já pedimos a quem, no fundo, gere o espaço, autorização que já nos deu. Neste momento, o baloiço está já em produção num serralheiro e irá, penso que durante o mês de julho, estar no local. Iremos continuar a reabilitar a rede viária, porque tem sempre o seu desgaste. Mas, a nível de equipamentos, são estes que ainda gostava de deixar na freguesia.
Quais é que considera que foram os maiores sucessos do seu percurso autárquico?
O maior, claramente, é a Academia Sénior de Pedroso e Seixezelo, sempre disse isso, não mudo, é lógico que o Centro de Saúde anda lá perto. Mas, a Academia Sénior, sem dúvida nenhuma, ainda agora no Festival da Cereja e na Festa do Caneco, o orgulho que me deu ver os alunos no palco, acho que é indescritível, é um sentimento muito forte mesmo que tenho, porque não é eles estarem no palco, não é a vaidade deles irem ao palco, mas porque eu vejo o entusiasmo deles no dia a dia nas aulas depois ser ali espelhado. Eu acompanho muito de perto o projeto e tenho muito carinho, pelo que, para mim, é a maior obra que deixo. O Centro de Saúde é uma obra importantíssima para a freguesia e deve-se a uma pessoa que é o doutor Eduardo Vítor Rodrigues e é mais do que justo que o início da obra tenha sido no mandato dele. Tenho pena dele não poder inaugurar, pois não será neste ciclo autárquico, mas, seguramente, acho que quem inaugurar esta obra deve mencionar o nome, porque é mais do que merecido, porque é devido a ele que temos a obra do Centro de Saúde a decorrer. Temos a Feira dos Carvalhos, temos a sede da Associação Musical, temos a Casa Mortuária em Seixezelo, temos o polidesportivo, a piscina, a cobertura do estádio, as praças e equipamos todas as escolas primárias com parques infantis, que também era um sonho que eu gostava de concretizar antes de ir embora e conseguimos no ano passado. Por isso, temos cem ruas requalificadas, claro que falta sempre uma rua, pois é impossível em algum momento uma freguesia ou um concelho dizer, tenho tudo impecável, pois isso nunca vai acontecer. Mas, as pessoas muitas vezes têm memória curta e eu lembro-me muito bem de que quando cheguei à Junta de Freguesia tinha, nos meus pedidos de atendimento, dois tipos de pessoas que vinham aqui falar comigo, eram as ruas, a limpeza das bermas e os fornecedores por causa das dívidas. Hoje, não tenho um atendimento de pessoas a falar de ruas, agora, hoje as redes sociais também permitem que toda a gente se queixe de tudo e mais alguma coisa, mas temos de ir relativizando as coisas. Contudo, há investimento a fazer nas ruas, que é sempre um investimento necessário, quer da Câmara, quer das Juntas, mas a freguesia hoje está muitíssimo bem, comparativamente com 2013 e está muitíssimo bem comparada com outras freguesias quer de Gaia, quer de outros concelhos.
Ficarão promessas por cumprir?
Eu como nunca prometi nada, vou sair sem deixar nenhuma promessa para cumprir. Se encararmos como promessas, o que eu escrevia nos meus programas eleitorais, ficará a requalificação da EB 2/3 Padre António Luís Moreira, é a única obra, digamos, que não é feita, o que também não é muito normal, em três programas eleitorais só uma das coisas não ser feita não é muito normal em política, nem em nada na vida, muito menos em política. Mas, fica por fazer com a garantia de que já há verba do PRR para fazer esta obra, por isso esta obra será feita independentemente de quem ganhar as eleições, quem for de governo, quem estiver na Câmara e na Junta. Na primeira vez que me candidatei tinha mencionado a construção de um auditório, que depois desisti, não por falta de ambição, mas por excesso de realismo, quer dizer, acho que é impossível todas as freguesias terem um auditório, todas as freguesias terem uma piscina, todas terem um estádio, pois nós não somos um país rico, isto não é o Dubai. Por isso, eu abandonei a ideia do auditório, no intuito de quando se reabilitasse a Escola EB 2/3 preparássemos o pavilhão, quer a nível técnico, quer a nível acústico, com uma bancada amovível para fazer pequenos movimentos culturais, ou um cantar das janeiras. O projeto está fechado e isso está previsto. Portanto, fica isso por fazer, mas com a garantia de que será feito. Logo, não vou dizer que cumpri a 100 por cento do programa, vai haver uma outra coisa que não foi feita, sem grande impacto, porque aquilo que era impactante, tudo foi feito e acho que isso não é nada normal em política.
Já me falou da Academia Sénior e da importância da mesma, mas que outros projetos imateriais foram concretizados?
Nós somos certificados pela qualidade, então um dos requisitos que a norma nos obriga é elaborar um mapa de planeamento de eventos, pelo que temos cerca de 30 eventos por ano e quando digo eventos, enquadra-se a Festa do Caneco, o Festival da Cereja, o Regresso às Aulas em que damos material escolar, a Vila Natal, a Petrus, a Homenagem aos Combatentes, ou vários outros eventos que temos. Lógico se falarmos projetos imateriais impactantes, a Festa do Caneco é um evento muito impactante na freguesia e mais do que ser impactante na freguesia, é impactante nos cofres das coletividades. Ainda há gente que não percebe a importância da Festa do Caneco, que nunca percebeu, pessoas que passaram pela Junta e nunca fizeram, por isso é difícil perceberem a importância. A Festa do Caneco representa um esforço orçamental da Junta de Freguesia, e eu sei o que estou a dizer e se houver dúvidas consigo demonstrar, de perto de zero euros, porque a Câmara Municipal apoia com uma parte, a presença das barraquinhas apoia com uma parte e felizmente conseguimos, ao longo destes 12 anos, ter uma relação de proximidade com o tecido empresarial que patrocina e ajuda a promoção do evento, que dá uma outra parte e estas três partes, sensivelmente, têm valores iguais, que pagam praticamente o custo da Festa do Caneco. É uma festa que não é para a promoção do presidente, pois para isso não fazia este ano, porque este ano não vou ser candidato. Portanto, é uma festa que promove, sim, a freguesia, promove, sim, as coletividades, ajuda à sua sustentabilidade e cria ali um momento de convívio e de fruição das pessoas da freguesia. Acredito que foi um evento bem desenhado, e digo isto sem vaidade nenhuma, porque foi desenhado pelas coletividades, porque a Junta de Freguesia não é nenhum centro de ideias, é um centro de partilhas e todos os projetos que nós fazemos têm parceiros. Por exemplo, a Petrus Run, conta com o apoio dos dois clubes de atletismo da freguesia, o Duatlo tem um campeão que é da freguesia, os festivais têm das coletividades, o Regresso às Aulas tem das escolas, porque as iniciativas para terem sucesso têm de contar com o envolvimento das pessoas, elas têm de sentir que são parte da solução e acho que tem sido esse o sucesso. Temos o Posto de Enfermagem, também que é um projeto muito interessante e um investimento muito importante que fazemos. Temos a MOB+, pois conseguimos que a Câmara nos financiasse e temos todos os dias a carrinha para trás e para a frente, a levar as pessoas aos locais que estão definidos em regulamento. A Vila Natal era um sonho que eu tinha e que faltava na freguesia e é um evento que tem vindo a crescer, tal como a Festa do Caneco. Quem quer fazer um projeto e idealiza uma solução perfeita, não o consegue tirar o papel, porque as coisas têm de se ir fazendo, com o dinheiro que se tem, com a experiência que se tem, com as pessoas que se tem, e o caminho faz-se caminhando, como eu gosto de dizer, e hoje a Festa do Caneco, eu acho que é um caso de sucesso, porque independentemente do artista que tem, está sempre cheio, porque tem uma dinâmica muito própria. As pessoas gostam de comprar o íman, gostam de levar a caneca para casa e sentem como se fizessem parte da festa e isso é brutal. Por isso, muitos projetos imateriais, a União dos Sonhos que fizemos, em parceria com as empresas, onde damos cadeiras de rodas a crianças com muitos problemas de saúde e com dificuldade financeira, que é um projeto que custou zero à Junta, que é em parceria com as empresas. Mas, esta foi uma relação que se foi construindo. Hoje, posso dizer que uma grande parte do sucesso que temos nos projetos imateriais deve-se à envolvência das empresas, que acreditam em mim, que acreditam na Junta e que investem nesses projetos e não tem mal nenhum em dizer isso, porque quem não deve não teme. Eu chateio muito as empresas e acredito que, para elas, vai ser um sossego quando eu sair da Junta, mas elas são muito importantes para mim, gosto muito delas e eu sei que elas também gostam muito de mim, tanto é que, na Festa do Caneco, fazemos sempre um jantar com os patrocinadores, porque sentem que o evento também é deles e são esses momentos que fazem com que as coisas durem e tenham o sucesso que vão atingindo.
Sente que, à semelhança das empresas, também conseguiu manter um diálogo próximo e transparente tanto com a população, como com as coletividades?
Sim, acho que sim. Eu costumo dizer que nós somos credíveis quando dizemos que sim e fazemos, mas também somos credíveis quando temos de dizer que não, em alguns momentos. Sempre que uma coletividade vem pedir um apoio à Junta de Freguesia, nós podemos não dar cem, mas também não damos zero. Sempre houve este diálogo e as coletividades sabem que todos os anos têm apoio financeiro, sabem que podem contar com o autocarro da Junta, coisa que não era prática. Por isso, há um diálogo e há uma proximidade. Quando há um evento que eles fazem convidam e nós vamos, eles pedem-nos para ajudar a divulgar e nós fazemos. Por isso, há uma relação muito forte. A Junta nos eventos que organiza conta com as coletividades, mas o contrário também é verdade, por isso sempre tive um diálogo muito próximo, independentemente das preferências políticas de cada presidente, de cada Direção, com isso nunca me importei, porque não andei preocupado se ajudava uma determinada coletividade que votava em mim ou noutra pessoa, nunca me preocupei com isso. Portanto, temos uma relação muito próxima, muito aberta, e com as pessoas também, de uma forma geral sim, não digo com todas, porque a freguesia é grande, mas temos uma relação muito próxima, muito aberta e eu acho que, acima de tudo, as pessoas sabem com o que contam do meu lado e essa acredito que é a maior virtude que posso dar à população. As pessoas sabem do que é que eu gosto, sabem que eu não faço fretes, se eu não gosto de uma coisa digo, se gosto digo, se digo que faço, faço, se digo que não faço, não faço e acho que foi essa relação de confiança de uma população que já me conhecia antes de eu ser presidente de Junta e que me ficou a conhecer melhor, por isso eu acho que esse é o grau de confiança, de abertura e proximidade, é a confiança que as pessoas sentem em mim. Há exceções, naturalmente, e ainda bem que há, porque também era estranho, ao fim de 12 anos, toda a gente gostasse de mim, mas quem me conhece e quem dá o benefício da dúvida pode não gostar de mim, da forma como eu falo, como eu comunico, das minhas preferências, quando faço algo, mas sabem que o que eu digo é verdade e confiam e esse o grau de confiança é muito alto.
Quais diria que são as reais necessidades da população de Pedroso e Seixezelo?
Eu acho que ao nível de necessidades, há um problema um bocadinho transversal, relacionado com os transportes públicos, que são um ponto crítico. Quando digo crítico não digo que é mau, crítico no sentido de que é muito importante para a população e se alguma coisa não corre como esperado, cria ali um desconforto muito grande, por isso os transportes públicos têm vindo a melhorar, com a operação da UNIR, isso sem dúvida, ainda não é perfeita, se calhar nunca será perfeita, uma operação daquela dimensão é impossível ser perfeita, mas há campo e há espaço para melhorar. Hoje chegam muito menos reclamações à Junta, é residual, mas sinto que ainda há um grau de desconfiança grande entre a população e a UNIR. Por isso, acho que é um ponto crítico. A nível de equipamentos, digamos assim, eu acho que falta na freguesia um grande espaço de lazer e de convívio. Há um projeto que nunca mencionei nos meus programas, porque não era para implementar, mas já fizemos algum trabalho de casa e acho que seria de agarrar quem viesse a seguir, que é fazer a requalificação do Parque da Senhora da Saúde, porque é um parque natural único em Gaia. A Câmara Municipal também concordou, olhou para isso também com carinho, fez-se um caderno de encargos e um trabalho já muito bem feito e acho que é isso que falta, um grande parque de lazer, porque nós se quisermos chegar ao domingo à tarde e ir com os filhos a algum sítio aqui na freguesia, não temos muitos sítios. Temos um ou outro parque infantil, temos um ou outro jardim, mas depois falta ali um grande espaço, com mesas para fazer um piquenique, um parque infantil, com máquinas, entre outras coisas, e acho que a Senhora da Saúde é o sítio ideal para isso. Depois falta fazer aquilo que fizemos no Parque das Corgas, ao nível de equipamentos bio saudáveis, criando uma mini rede ao nível da freguesia, com mais dois ou três sítios. Acho que ao nível de equipamentos, muito honestamente, não vejo assim nenhum equipamento que não tenhamos e que deveríamos ter. Eu falo com muita gente, como deve compreender, também é esse o sentimento que eu vou tendo de com quem vou falando. Por isso, acho que será promover mais um bocado a qualidade de vida nos tempos livres da população, quer em equipamentos, quer em iniciativas, acho que seria mais nisso que me focaria se estivesse cá no próximo mandato.
Quais foram os maiores obstáculos enfrentados ao longo destes 12 anos?
Os maiores obstáculos, na primeira instância, foi a dívida, quando aqui cheguei, aliás, recentemente paguei o último cheque à Civopal e normalmente nós pagamos por transferência, mas desta vez vou levar o cheque para tirar a fotografia, para registar para mim, e acho que para registar para a freguesia, mas a freguesia depois regista o que acha que deve registar. O que é que isso implicou no nosso dia a dia, enquanto coletivo? Eram 120 mil euros por ano que a Junta de Freguesia se via privada de fazer algo, porque estava a pagar dívidas que os outros inauguraram e esqueceram-se de pagar. Estamos a falar de 1,170 milhões numa Junta que tem um orçamento de cerca de 1,2 milhões, por isso acho que se percebe que foi um absurdo a dimensão do disparate. Esse foi o principal desafio, que me levou a um segundo desafio, que era a relação de confiança dos fornecedores, porque quando às vezes íamos comprar alguma coisa, exigiam no início que fosse com pré-pagamento ou não forneciam. Portanto, essa foi a única dificuldade que tive desde que estive aqui na Junta, porque depois fomos fazendo o caminho com as empresas, com as coletividades e hoje parece tão fácil fazer um evento na freguesia e ter sucesso, coisa que há seis, sete ou dez anos atrás não era, porque tínhamos de partir pedra, tínhamos de dizer que éramos diferentes, que podiam confiar, que nós fazíamos e era bom e tivemos de ter essa paciência em passar essa mensagem e, depois, sempre que fazíamos algo, efetivamente demonstrar que éramos diferentes e que queríamos fazer algo diferente. Hoje, se eu enviar um e-mail para uma coletividade recebo um sim, passados cinco minutos, e o contrário também é igual, é só ter confiança. Estamos aqui todos para ajudar a freguesia a crescer, por isso tirando esse desafio, o resto não foram desafios, foram oportunidades.
E de que mais se orgulha?
Eu acho que do que mais me orgulho nestes 12 anos, não falando das obras que já falei, não falando dos projetos, acho que é um sentimento que se calhar nunca pensei ter na minha vida e se calhar nunca mais irei ter na minha vida, que é poder ajudar a minha terra e as minhas pessoas, acho que é um orgulho. Acho que é um sentimento que eu nunca tive e nunca irei ter, poder ajudar pessoas que eu conheço há muitos anos, pessoas esforçadas, que em alguns momentos não tiveram sorte na vida, e poder proporcionar uma melhor qualidade de vida a essas pessoas, marcou-me e continua a marcar-me, hoje, ao fim de 12 anos, porque pequenas coisinhas que parecem irrisórias, para mim eu vivo de uma forma muito intensa, porque tenho uma ligação muito grande à freguesia, a nível pessoal e de família e por todos os motivos.
Que marca é que acha que vai deixar no território?
Acho que vou deixar uma marca de uma pessoa que tentou, que fez e que se dedicou de corpo e alma à freguesia, que se esforçou, que puxou pela freguesia, que tentou puxar pelo que há de melhor na freguesia, que tentou puxar pelas pessoas, pelo melhor que as pessoas têm e fazer uma freguesia solidária, uma freguesia unida, onde as empresas se voltaram para a comunidade, as coletividades se voltaram para a comunidade, onde a Junta esteve na comunidade. Acho que é essa a marca que deixarei e acho que deixo a marca de uma pessoa confiável, que acho que hoje em dia é o que falta muito na política. Nós não estamos aqui para ser a miss simpatia, estamos aqui para ser credíveis, para ser próximos, para ajudar e dar respostas e acho que a esse nível, cumpri, na minha consciência, perfeitamente, com falhas, naturalmente, pois não estou a dizer que eu cumpri a 100 por cento, porque ninguém cumpre a 100 por cento, mas cumpri e deixei uma marca de confiança e de credibilidade e foi com isso que eu vim para cá há 12 anos, porque todos nós vamos sabendo como é que a política está, a forma que como a política é vista pelas pessoas e a minha preocupação sempre foi entrar pela porta grande e tentar sair por uma porta ainda maior. Portanto, eu acho que a quatro ou cinco meses de ir embora, posso já correr o risco de dizer que irei sair por uma porta maior do que a que entrei.
Nesse seguimento, podemos depreender que sairá com um sentimento de missão cumprida?
Completamente, sim, sem dúvida.
Uma vez que é natural de Pedroso, vai apoiar a candidatura de Joaquim Tavares à Junta de Freguesia de Pedroso?
Sim, apoio convictamente. Não apoio por frete, por ser o meu presidente da Assembleia, não apoio por frete de ser do meu partido. Apoio convictamente, porque é a pessoa que está mais bem capacitada, para continuar o trabalho que foi desenvolvido nestes últimos 12 anos, isso sem dúvida nenhuma.
Que conselhos deixa ao seu sucessor?
Deixo o conselho de se rodear bem, de escolher uma boa equipa, de não comprometer aquilo que não pode cumprir, de pôr as pessoas em primeiro lugar, em vez do asfalto, dos eventos, dos passeios seniores, porque primeiro têm de ser sempre as pessoas, pois acho que é para isso que existe uma Junta de Freguesia, e, acima de tudo, continue motivando e exponenciando os excelentes profissionais que a Junta da Freguesia tem. Eu acredito que muito do sucesso que tivemos nestes 12 anos deve-se a eles, à equipa, muitos deles entraram depois de mim, a Junta de Freguesia tinha pouca gente, porque como não tinha projetos, não precisava de pessoas e, hoje, temos mais de 30 pessoas a trabalhar para a Junta da Freguesia e são pessoas motivadas, que dão o litro pela freguesia. O sucesso disto depende deles e são eles que são os profissionais da Junta, por isso, têm de estar atentos, têm de estar motivados e têm de trabalhar para que isto continue a crescer cada vez mais.
Acha que este cargo que tem desempenhado mudou a sua visão sobre o serviço público?
Muito, completamente. Eu vou dar um pequeno exemplo, eu sempre fui conceptualmente favorável, na altura, ao rendimento mínimo, agora tem outra denominação. Mas, reconheço que havia um bocado aquela ideia de que se calhar há pessoas que recebem e que não deviam receber, claro que há e haverá sempre, tal como há banqueiros que deviam pagar mais impostos e pagam menos. Por isso, nós não podemos olhar para o desgraçado e o problema da sociedade é o desgraçado, porque se o problema da sociedade fosse o desgraçado era muito fácil de resolver. O problema é outro, é o que está do outro lado do desgraçado. Naturalmente que há pessoas que recebem, que não mereciam, que aldrabam o sistema, tenho a certeza e todos nós sabemos que há, mas isso é uma minoria muito pequenina. Aquela ideia generalizada de que ninguém faz nada e somos um país de subsídios. Aliás, se estivermos atentos aos relatórios económicos, percebemos que se não houvesse subsídios, a pobreza em Portugal era muito maior. Por isso, a visão que eu tinha do serviço público e do que era um funcionário público e que tenho, hoje, mudou para melhor. Há muito funcionário público com vontade de trabalhar e de fazer diferente, com responsabilidade. A visão do serviço público é muito grande, por isso é que eu fico admirado que quando vemos partidos que têm um discurso totalmente contra o serviço público e como é que há pessoas que o apoiam convictamente, acredito que são as pessoas que nunca precisaram, eu também felizmente nunca precisei, mas isso não me dá o direito de pensar em mim, dá-me o direito de pensar na comunidade e enquanto coletivo. A meu ver, enquanto coletivo, o funcionarismo público é muito importante, desde que seja bem desempenhado, como tudo.
No seguimento dos resultados das últimas legislativas, quais são as suas perspetivas para as próximas autárquicas?
Acho que os resultados não se podem misturar, as eleições não se misturam. Acho que, pelo menos da minha parte, a única surpresa que tive foi o crescimento do Chega. Sabia que o Chega iria ter uma votação alta, mas nunca pensei que aumentaria comparativamente com o ano passado e muito menos que aumentaria da forma que aumentou. Portanto, as expectativas para as próximas autárquicas são otimistas, mas ao mesmo tempo realistas. Os tempos estão difíceis, mas acredito que o Partido Socialista sempre se uniu nos momentos difíceis e sinto o Partido Socialista unido. Temos um excelente candidato, por isso a expectativa é boa, mas compete a todos nós, que queremos, efetivamente, apoiar e fazer de Gaia uma cidade melhor, com 24 freguesias melhores, estar atentos, ter um sentido crítico, opinar sem receios, dizer aquilo que pensamos, acho que é assim que os partidos crescem, que os grupos crescem e evoluem e vejo no Partido Socialista esta vontade. Ainda falta muito, pelo que acho que a melhor forma de contribuirmos é darmos, cada um nas suas funções, o nosso melhor até ao último dia. Eu estou empenhadíssimo nisso e se cada um de nós der o seu melhor nas funções que cada um ocupa, a probabilidade de vitória aumenta, como é lógico.
Após o seu último dia na Junta de Freguesia, qual será o próximo passo?
O próximo passo vai ser ir de férias. Eu sei que as pessoas às vezes não acreditam, aliás eu acho que até a minha mulher às vezes não acredita, quando eu lhe digo isso, por isso não me admira que outras pessoas também não acreditem, mas não penso nisso. Felizmente, eu nunca dependi da política para viver, não dependo da política para viver e uma coisa é certa, nunca dependerei da política para viver. Isto não é uma crítica a quem optou por esse rumo de vida, é uma opção minha, que me dá a liberdade de poder escolher aquilo que acho que é o melhor para mim, em qualquer momento, e também o que é melhor para o coletivo. Eu não vou ter saudade, não é que esteja farto, mas eu não sou nostálgico. Eu tenho orgulho do que fiz, não tenho saudades do que vou deixar de fazer. Tenho orgulho e posso é ficar triste por ter feito mal uma ou outra coisa, mas a vida é mesmo assim, tudo passa e nós temos de ter essa consciência, eu sempre tive e garantidamente não irei tomar antidepressivos quando deixar de ser presidente de Junta. Acho que nós temos de estar a dar o nosso melhor onde estamos, no momento em que estamos e eu neste momento estou muito empenhado, até ao meu último dia, nem penso que estou mais três meses ou quatro ou cinco. Continuo no meu estilo de vida normal e consegui durante estes anos conciliar a dedicação extrema que dei à Junta de Freguesia com os outros projetos que tenho a nível profissional e pessoal. No futuro logo se verá o que é que se propõe, não estou minimamente preocupado com isso.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?
A mensagem é de agradecimento. Eu tive a oportunidade recentemente de ter um momento em que convidei os representantes de cada coletividade e instituição da freguesia para um de balanço dos 12 anos, mas mais do que isso, foi de agradecimento, porque este foi um caminho que se fez com todos. Eu sei, também não me vou estar, aqui, a fazer de inocente, que muitas pessoas têm pena de eu não poder continuar, sinto isso no dia a dia, aquela nostalgia da parte das pessoas. Por isso, é muito de agradecimento, acho que é uma experiência que eu levo para a minha vida. Acho que foram 12 anos espetaculares. Não me arrependo nada de ter vindo para a Junta, tal como não me arrependo nada de nenhuma grande decisão que tomei. Mas, ver no dia a dia, a forma como as pessoas me tratam, na minha humildade, é um carinho que eu nunca pensei que algum dia iria ter e isto vale tudo, tudo o que já aconteceu na minha vida. Eu, felizmente, tenho uma vida profissional muito intensa, sempre tive, mas não trocaria nada do que fiz até hoje por estes 12 anos que estive aqui na Junta. Foi a maior experiência que tive na minha vida, acredito que vai ser a maior experiência que alguma vez irei ter na minha vida, poder servir a minha terra e as minhas pessoas, pelo que devo esse agradecimento pela confiança e devo pedir desculpa às pessoas que defraudei numa ou noutra coisa, seguramente não agradei a todos, mas é uma mensagem de agradecimento muito sentida mesmo.