PRAÇA DO EMIGRANTE RECEBE CERIMÓNIA DE HOMENAGEM A TODOS OS AÇORIANOS ESPALHADOS PELO MUNDO

Promovida pela Associação dos Emigrantes Açorianos, a celebração do Dia dos Açores este ano foi realizada na Praça do Emigrante com mensagens e lembranças daqueles que, um pouco por todo o mundo, mantém viva a chama, a cultura e as tradições açorianas.

 

 

A AEAzores – Associação dos Emigrantes Açorianos assinalou o Dia dos Açores, no passado dia 24 de maio, com várias homenagens. A cerimónia decorreu na Praça do Emigrante e foi transmitida em direto através das redes sociais.

Tendo como cenário a exposição dedicada a cada uma das 17 Casas dos Açores espalhadas pelo mundo, foram colocadas placas no mural da Praça do Emigrante, homenageando os romeiros das Comunidades, personalizados em António Tabico, assim como o trabalho dos Colóquios da Lusofonia na promoção da língua portuguesa. Na altura, também Aurélio Ferreira, emigrante nos Estados Unidos da América, colocou uma placa da sua família, um momento bastante emotivo que o próprio confidenciou ao AUDIÊNCIA o deixar bastante orgulhoso.

“Sinto uma grande emoção. Sai daqui em 1965 e estive sempre emigrado até que há 10 anos comprei um apartamento em São Miguel e venho todos os anos passar férias com a minha esposa, Maria de Deus e a minha filha Cristina, e é um prazer e uma emoção. Ao colocar a placa senti um orgulho de ser mais um português que se distingue no estrangeiro pois fui o primeiro emigrante açoriano que entrou na Boston Police Academy, ou seja, na Academia Policial de Boston”, explicou Aurélio Ferreira.

Com uma vida preenchida, Aurélio Ferreira saiu dos Açores aos 18 anos, com apenas o 4º ano da Escola Industrial de Ponta Delgada. Em 1970, começou a trabalhar para uma companhia luso americana, de dois irmãos açorianos, Humberto Serpa e Aurélia Rita, de produção de fatos e camisas na Ribeira Grande e enviar para os Estados Unidos para serem vendidos num centro comercial chamado Burlington Mall. Dois anos mais tarde, foi trabalhar como encarregado de catering da TAP, onde ficou até 1979, altura em que entrou para a Polícia. Formou-se no curso de justiça criminal pela Universidade Winter Hill Community College e a parti daí, foi levado a detetive na secção da área de Boston, função que desempenhou até 2003, quando se reformou.

Apesar de toda a família que criou já ter raízes americanas e canadianas, Aurélio Ferreira sente uma enorme emoção ao falar da filha Cristina, que em 2018 decidiu ter dupla nacionalidade e pedir a cidadania portuguesa. “Gosto muito de ser portuguesa, assim como gosto de estar nos Estados Unidos, mas adoro vir a esta terra”, afirma a filha do homenageado.

Também a esposa, Maria de Deus, açoriana de gema, foi viver para o Canadá em 1964 com os pais e irmãos. “O meu pai, José de Melo Pimentel, natural da Ribeira Seca, Ribeira Grande, foi um pioneiro, foi 14 anos antes de nós. Tenho uma irmã que já nasceu no Canadá que tem hoje 55 anos. Já namorávamos aqui, e casamos em Montreal. E depois tivemos o nosso filho mais velho, o Steven, que é sub-chefe da polícia de Miami, e os meus pais viviam em Cambridge, Massachussets, então, viemos viver para perto dos pais do Aurélio e assim começou a nossa família”, relembra a esposa.

O evento, organizado em colaboração com o Governo dos Açores e com a Câmara Municipal da Ribeira Grande, contou também com a presença do presidente da AEAzores, Rui Faria, que relembrou que este dia se assinala desde 1980 e que tem precisamente como objetivo lembrar que “há Açores de mil ilhas”, espalhadas um pouco por todo o mundo e que a exposição agora inaugurada dá a conhecer a todos “a riqueza açoriana neste mundo global”, através das Casas dos Açores.

“Bem haja a todos que no passado e no presente trabalham de forma voluntária nas 17 casas dos Açores em prol da cultura e história destes Açores de mil ilhas”, afirmou, Rui Faria deixando ainda uma palavra de esperança e de saudade a todos os açorianos emigrados.

Por sua vez, José Andrade, diretor regional das Comunidades, lembrou que as visitas à Ribeira Grande têm sido cada vez mais, devido à proatividade da Associação dos Emigrantes Açorianos. “Afinal, estamos numa cidade que é o berço e o palco da Associação dos Emigrantes Açorianos. Uma cidade que criou e desenvolve o Museu da Emigração Açoriana e que construiu e dinamiza esta Praça do Emigrante. Podemos até porventura dizer que a Ribeira Grande é a capital institucional da relação afetiva com a diáspora açoriana, em São Miguel e nos Açores e esta cerimónia, neste dia e neste local, é prova disso”, reforçou.

“Evocar as Casas dos Açores na Praça do Emigrante e no Dia dos Açores assume um simbolismo muito especial. Neste dia maior da nossa açorianidade global sentimo-nos ainda mais próximos dessas verdadeiras embaixadas da nossa identidade cultural, porque os Açores estão onde estiver um açoriano. Apesar de dispersos e distantes, estamos juntos e somos cúmplices, erguendo bem alto a bandeira azul e branca e sentindo bem fundo a bandeira do Divino. O Divino Espírito Santo que está sempre presente no coração dos açorianos e, por isso mesmo, em todas as Casas dos Açores. Em Lisboa, no Rio de Janeiro, na Califórnia, no Quebeque, no Norte, em São Paulo, na Bahia e na Nova Inglaterra, mas também no Ontário, em Winnipeg, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Uruguai e na Bermuda ou ainda agora no Maranhão e na Madeira. Por isso o Dia dos Açores tinha que ser, como é, na Segunda-feira do Espírito Santo”, rematou.

Também Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, marcou presença no evento e enalteceu o papel dos emigrantes, deixando também uma mensagem de “esperança no futuro”. “É de enaltecer esta iniciativa e não posso deixar de fazer referência ao importante papel que a comunidade emigrante sempre teve na construção do nosso futuro. Um dos exemplos mais recentes é, precisamente, a Praça do Emigrante, espaço que contou com o contributo de muitos emigrantes e que dessa forma mantêm vivos os laços que os unem à terra que os viu nascer”.

A cerimónia contou ainda com a presença do presidente da associação Movimento dos Romeiros de São Miguel, João Carlos Leite, e ainda Fernando Maré, uma referência das romarias em São Miguel e na diáspora e do organizador dos Colóquios da Lusofonia, Chrys Chrystello.