“PROVEI A MIM MESMO QUE O MEU TALENTO É MAIOR DO QUE AQUILO QUE POSSO PARECER DIANTE A SOCIEDADE”

Miguel Bandeirinha tem 28 anos, é natural do Porto e, atualmente, vive em Vila Nova de Gaia. O fado está presente na vida do jovem deste os seis anos e, desde então, tem sido uma constante através de participações televisivas, radiofónicas e atuações em grandes palcos como o Coliseu do Porto. O artista foi um dos participantes do The Voice e admitiu que este programa “foi uma oportunidade de ser avaliado às cegas” onde “os mentores ouviram apenas a voz e o sentimento que esta transmite”. Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, Miguel falou do seu percurso enquanto fadista, da sua experiência no programa e desvendou alguns dos projetos que tem para o futuro.

Para quem não o conhece, quem é Miguel Bandeirinha?

O Miguel Bandeirinha é uma pessoa como as outras, nasceu no Porto, a 19 de abril de 1994, na freguesia de Massarelos e, atualmente, vive em Vila Nova de Gaia. Dedicou-se desde sempre às artes, ao fado e estudou educação. Agora é um fadista, vamos dizer assim, um artista que vive em Vila Nova de Gaia.

Como surgiu a sua paixão pelo fado?

A paixão pelo fado surgiu desde muito cedo, desde os seis anos que ouço fado, principalmente nas casas de fado do núcleo familiar onde iam grandes artistas, e eu escutava e gostava daquilo, algo me dizia é para ali que tu vais.

Quando é que começou a sua carreira enquanto fadista?

A partir dos meus seis anos o fado foi sendo uma constante, fui cantando e houve aí muito tempo que andei enganado como, infelizmente, muitos de nós andam, porque as pessoas muitas vezes deixam-se iludir pelo aplauso e não percebem que se não fizerem uma autoanálise não percebem que não está assim tão bem. Posso dizer que andei a cantar e pensava que era o maior do mundo, até que levei um abanão, na Cooperativa dos Pedreiros, no meio dos aplausos, de um grande executante da guitarra portuguesa chamado Samuel Cabral. Foi aí que tive um clique, o Samuel ofereceu-se para me ajudar, para me ensinar algumas técnicas e foi aí que existiu uma mudança do fadista criança para aquele que encara o caminho de uma forma diferente. A partir daí começaram a surgir participações em concursos, em programas de rádio e o fado começou a ganhar destaque a par de toda a minha vida. Eu, com os meus 17 anos, estava a estudar na Escola EB 2/3 Soares dos Reis quando fiz a minha primeira digressão, a minha primeira ida ao estrangeiro, mais concretamente, à Alemanha. A partir daí foi sempre uma constante, mais concursos, mais programas de televisão e foi-se tudo sedimentando de uma forma bonita e consistente.

Como é que surgiu a oportunidade de participar no The Voice?

Ao longo destes anos todos eu fui uma das inúmeras vítimas do bullying e o bullying foi uma constante na minha infância, na minha adolescência e, até mesmo, na vida adulta. Há muito adultos que passam por bullying, porque a sociedade é perita nisso, em julgar pela aparência, acima de tudo. Apesar de, ao longo deste tempo todo, já ter participado noutros programas, por exemplo, o Got Talent Portugal, e já ter sido chancelado várias vezes o meu talento, eu comecei a desacreditar um bocadinho pela falta de apoio que tenho de entidades e pessoas à minha volta, ou seja, nós somos os maiores, aplaudem-nos, mas não nos apoiam e só servimos, por exemplo, para tapar o buraquinho da borla. O The Voice foi uma oportunidade de ser avaliado às cegas, onde os mentores ouviram apenas a voz e o sentimento que esta transmite e não avaliaram pelo olhar ou pela fisionomia. Ali o que vende é a voz, ali é chancelada a voz e então provei a
mim mesmo que o meu talento é maior do que aquilo que posso parecer diante a sociedade.

Qual é a retrospetiva que faz da sua participação?

Faço uma retrospetiva muito positiva, primeiro porque conheci pessoas fantásticas no programa, segundo, porque tive a oportunidade de trabalhar com mentores de excelência e, por último, porque, mais uma vez, as luzes do palco ajudam a descobrir pessoas que estavam esquecidas, ou melhor, elas não estavam esquecidas, elas sempre estiveram lá. Eu costumo dizer que quando fazemos uma publicação nas nossas redes sociais só temos 50 gostos, mas se publicarmos um story temos 100 pessoas a ver, portanto as pessoas sempre viram, mas precisam que haja algo que impulsione. O programa foi uma experiência fantástica e sinto-me muito grato pelo público e pelo carinho que recebi.

Quais são as expetativas que tem para o futuro?

As minhas expetativas são consolidar a minha carreira, afirmar-me no mundo da música e fazer com que as pessoas percebem que, efetivamente, o fado não morre na minha voz. Procuro conseguir o respeito, e quando digo respeito não é do público, porque o público que me acompanha respeita-me muito e é dono e senhor da vida de um artista. Eu procuro que saibam quem eu sou e que me identifiquem ao fado, à música, à minha arte, ao meu talento, procuro também esse tal respeito por parte de entidades e de pessoas que sabem perfeitamente que existimos, eu falo por mim e se calhar por muitos artistas, as pessoas e as entidades sabem que nós existimos, mas simplesmente põem-nos de lado e só quando acontecem estas coisas é que se lembram um bocadinho de nós e isso não é justo.

Considera que a participação neste programa aumentou a sua visibilidade?

Sim, porque quer queiramos quer não, esta participação faz com que reparem que a pessoa está lá e há uma pergunta que me fazem e eu sei que isto que vou dizer pode ficar um bocadinho mal, ou seja, pode-me trazer algum dissabor. Eu apresento-me no The Voice como sendo do Porto e na minha apresentação aparece Oliveira do Douro, eu gosto muito de viver em Gaia, mas não me considero um artista gaiense. Para mim a única coisa que me faz sentir um artista gaiense são as pessoas, porque, infelizmente, isto já foi dito aqui no AUDIÊNCIA e volto a repetir, o apoio institucional em Gaia, pelo menos quanto a mim, não existe.
Quais são os projetos que tem para o futuro?

Muitos projetos, desde trabalhos conjuntos com artistas, tanto do The Voice como alguns colegas, tenho um grande espetáculo preparado para as pessoas de Gaia, para os cidadãos e para as pessoas que gostam de mim em Gaia, marcado para o dia 3 de dezembro no Auditório Paroquial de Mafamude e tenho umas gravações preparadas. Tenho uma série de coisas que vão acontecer e é melhor estarem atentos.