Lomba de S. Pedro foi uma das 3 freguesias que mudou de cor partidária, do PS para o PSD. Com cerca de 300 habitantes, é uma freguesia com pouco peso eleitoral a nível municipal e regional.
Em conversa com o AUDIÊNCIA, Dário Bernardo falou sobre o cargo que exerce pela primeira vez, as dificuldades da freguesia, os desafios, o pouco peso eleitoral e a oposição.
Como veio parar a Presidente de Junta de Lomba de S. Pedro?
O meu pai foi autarca há cerca de 16 anos e isso foi um incentivo para mim para aceitar este cargo. Criou-se aquele ambiente em casa do qual se idealiza uma política e, entretanto, fui ganhando esse gosto mais à frente com a participação na JSD do concelho e na presidência do núcleo da JSD da Lomba de S. Pedro. Depois, fui convidado pelo presidente Alexandre Gaudêncio para encabeçar a lista.
Entretanto, é um Presidente de Junta nos tempos livres porque tem que coordenar a sua atividade profissional com a atividade autarca. O que é que faz na vida?
Atualmente estou a trabalhar numa empresa que desenvolve jogos, única empresa cá deste género. Já trabalho lá, há cerca de 3 anos, como ilustrador e compositor gráfico. É sempre um bocadinho complicado conciliar as duas coisas, mas felizmente, temos uma equipa coesa, o conhecimento necessário e uma calendarização devidamente estruturada para atingirmos todos os objetivos que queremos alcançar. Juntando também o nosso know-how na área das novas tecnologias, que hoje em dia são fulcrais para agilizar todos os processos necessários para o desenvolvimento da freguesia. Com eficiência, criatividade e união tudo é alcançável.
Conseguiu conquistar a Junta ao partido socialista. Como é que isso foi possível?
Eu nasci e cresci na freguesia. Conheço a freguesia, conheço as pessoas que lá habitam e conheço todas as dificuldades que lá existem, e o facto de ser jovem, o fato de ter ideias diferentes e de ter apresentado uma equipa capaz pode ter ajudado também.
Quantos habitantes tem a freguesia de Lomba de S. Pedro?
Atualmente, tem cerca de 300 habitantes, mas estamos a trabalhar arduamente para que a “nossa freguesia” cresça e que os jovens permaneçam cá.
Como define a estrutura social da freguesia?
A desertificação tem sido um dos temas que nos preocupa, mas estamos conscientes que a médio longo prazo a Lomba de São Pedro será um lugar de destaque no concelho. A atividade predominante e a agricultura, que é a área na qual as pessoas estão mais à vontade. A taxa de desemprego, nos últimos meses, tem decrescido devido também, um pouco, à recuperação da economia e a continuação dos programas de emprego. Estamos atentos às necessidades das pessoas, estamos constantemente a publicar, quer nas redes sociais ou de forma presencial, ofertas de emprego e formações em diversas áreas.
Lomba de S. Pedro é a última freguesia da Ribeira Grande. Qual o orçamento da Junta?
Nós recebemos do FEE cerca de 24 mil euros, da Câmara Municipal recebemos cerca de 17 500 mil euros, e juntando outros tipos de receitas que temos, o orçamento será cerca de 45 mil euros anuais.
Por mais pequenina que a freguesia seja, como é que se consegue gerir uma freguesia com um orçamento tão limitado?
O facto de termos uma equipa com alguma experiência profissional em entidades particulares, e dado termos um executivo formado em diversas áreas, nomeadamente na área financeira, faz com que a gestão seja muito mais fácil e claro que a criatividade também é um alicerce forte na nossa equipa. Usando a originalidade, com uma boa gestão e o apoio tanto do Governo Regional, como da Câmara Municipal da Ribeira Grande, teremos o necessário para o desenvolvimento da freguesia.
Deve reconhecer que 45 mil euros não dá nem para pensar numa obra a sério para a freguesia, serve apenas para tapar buracos e mal…
Em termos estruturais, eu penso que a Lomba de S. Pedro carece de algumas obras mas o nosso foco incide essencialmente na intervenção social, porque nós vivemos numa aldeia que fica longe da cidade, onde as pessoas têm alguma dificuldade em ir para lá devido à carência de transporte. Estamos numa freguesia triste e perante esse cenário já temos algumas estratégias no âmbito de ação social para conseguir colmatar essas dificuldades, inclusive, já nos reunimos com a Coordenadora da Ação Social e solicitamos uma avaliação a todas as famílias que habitam na Lomba de São Pedro.
Com o resultado eleitoral, a saída da Marisa Amaral e a entrada do Dário Bernardo era algo expectável ou foi uma surpresa para a população?
Eu desde criança que fui uma pessoa sociável, e, acima de tudo, sempre fui uma pessoa com princípios e isto nas zonas rurais tem um peso muito importante. Pelo facto da Lomba de S. Pedro ter um número significativo de jovens, viram neste projeto um espaço para evolução.
Como é que encontrou a Junta de freguesia?
Em termos burocráticos, não achei que houvesse nada de anormal, sendo que, achamos que algum do dinheiro não foi devidamente bem gasto, mas assumimos que as contas estavam todas saldadas. A imagem que a freguesia passa para fora, para além de desconhecimento, é de tristeza. Faço a associação com a antiga Câmara da Ribeira Grande, desde que o Alexandre Gaudêncio veio para a presidência, a cidade ganhou uma nova imagem. À semelhança do projeto “Alexandre Gaudêncio”, queremos dar uma nova roupagem à freguesia, com fortes intervenções a nível social, com dinâmicas de empreendedorismo e com uma projeção, a nível de imagem, para o exterior. Queremos uma freguesia FELIZ, SABIA e INOVADORA.
Era uma população de orgulho ferido e, por isso, optaram por uma nova opção…
Sim e não só. A rotina e a falta de ideias contribuíram para a mudança do executivo, essa nova esperança, novo rosto e essa nova vontade de trabalhar foram fundamentais para ganhar as eleições.
Percebo que está apostado em voltar a conquistar a alegria para a sua freguesia. Quais são as suas prioridades?
Como já foi referido, já tivemos uma reunião com a coordenadora da ação social, onde referimos os aspetos menos bons e as dificuldades que as pessoas sentem. Há falta de dinâmica mas estamos a pensar em dinamizar a freguesia não só com festividades mas também com eventos de variada índole para que esta freguesia passe a ser uma localidade de referência. Sendo o turismo uma área predominante nos dias de hoje, não querendo menosprezar as restantes áreas, queremos preparar a Lomba de São pedro tanto a nível mental como a nível profissional e assim ter as condições necessárias para tirar o máximo partido deste “boom” que a região está a atravessar com o turismo, procurando dinamizar e captar investimento para a economia local. Infelizmente há muitas casas degradadas, pelo que pedimos aos proprietários que intervenham nestes imoveis de forma que possam ser rentabilizados, poderão por exemplo, investir no já tão famoso Alojamento Local.
E a rede viária é apelativa?
Não é uma freguesia isolada. Nesse aspecto, temos uma rede de acesso razoável. O nosso principal objetivo é intervir mais a nível social e dar também uma outra projeção para fora da freguesia, atraindo mais turistas.
Há muitas famílias pobres na Lomba de S. Pedro?
Sim, algumas. Há algumas pessoas carenciadas e algumas pessoas que recebem o rendimento social de inserção.
Normalmente, alguns problemas sociais resolvem-se com a participação das misericórdias e das paróquias. Na Lomba de S. Pedro a Junta de freguesia não tem essa possibilidade…
Pelo Natal, nós fizemos a festa da catequese, em articulação com a Câmara Municipal, com a Comissão da Igreja e com a Associação Cais do Remar, de forma também a dinamizar um bocadinho a festividade local. Infelizmente, temos uma escola primária, que se encontra fechada, porque não havia alunos suficientes para que esta continuasse aberta.
Como está o campo da educação?
Em protocolo com a Casa de Povo da Maia existe cá um ATL e um CATL. Temos na escola cerca de 45 crianças. O CATL abrange a adolescência, onde procuramos, de certa forma, dar um certo tipo de educação àqueles jovens adolescentes que têm problemas em casa.
Disse-me que era uma freguesia jovem ou rejuvenescida. Que saídas tem para os jovens na Lomba de S. Pedro.
Um dos nossos objetivos tem sido sensibilizar os próprios jovens na procura de trabalho e de formação. Apesar de termos muitos jovens, temos muitos rapazes e raparigas que não têm habilitações académicas e nós estamos constantemente, quer nas redes sociais quer presencialmente, a sensibilizá-los para a importância da aposta na educação.
E na cultura, há instituições na freguesia?
Temos a Associação Semente e Viva, que ao longo dos últimos anos, tem desenvolvido alguns eventos na freguesia, como por exemplo, o Festival da Batata, comemorado em setembro, e espero que se volte a realizar. Para além disso, não temos mais nenhuma associação.
Como Presidente de Junta, sendo a primeira vez que exerce funções, não se sente um bocadinho desiludido, por não poder exercer o seu mandato com os meios necessários para fazer algo pela sua freguesia?
Sinceramente, eu gostaria de ter um outro tipo de verba ou um outro tipo de autonomia para ter um outro à vontade para realizar certas obras que sejam necessárias na freguesia. Nós não temos funcionários no quadro, logo o dinheiro que nós recebemos são para despesas fixas, como seguro e segurança social dos trabalhadores afetos aos programas de emprego, luz, água e afins. Nós quando queremos qualquer coisa e surge um governo ou uma câmara de cor partidária diferente há sempre uma barreira devido às ideologias políticas.
O facto de ter cerca de 300 habitantes e o seu peso eleitoral quer a nível municipal quer a nível regional ser pouco mais que insignificante, isso prejudica a freguesia?
Sim, existe isso, mas, pela experiência e pelo que eu tenho visto, ao longo dos últimos anos, a Lomba de S. Pedro foi uma freguesia mais ou menos acarinhada. No entanto temos em mãos vários projectos, inclusive a limpeza e manutenção constante dos caminhos agrícolas pertencentes ao IROA. Perante este cenário, acredito que haverá um apoio do Governo Regional. Acima dos partidos, está a qualidade de vida das pessoas.
Recentemente, o Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande esteve na freguesia para uma iniciativa…
Na inauguração de uma obra que consistia na construção de um merendário, de um parque de estacionamento e de um parque infantil. Obra esta abrangida pelo orçamento participativo da Câmara Municipal da Ribeira Grande na qual financiou a ideia proposta pela cidadã Marisa Amaral, antiga Presidente de Junta.
A alegria está a voltar. Neste momento, que protocolos tem com a Câmara Municipal?
Esperemos que sim… A abertura de um trilho municipal que foi delegado à Junta de freguesia. O protocolo tem um valor de 30 mil euros. Acima de tudo, a Câmara delegou esta competência à Junta de Freguesia para combater o desemprego local. Estamos a pensar através de protocolos ou recibos verdes contratar mão-de-obra local para desempenhar as funções necessárias nessa abertura do trilho. Nós já fizemos a candidatura ao Eco freguesias e à DROAP.
E com o governo regional?
Nós tivemos reunidos com o Diretor Regional da Habitação, Dr. Orlando Goulart, no dia 16 de Fevereiro, onde referimos algumas das carências da freguesia sobretudo as infraestruturas do bairro social. Tivemos a falar da degradação e do apoio à habitação degradada, e o feedback dado pelo diretor foi muito positivo. Aliás, o próprio diretor comprometeu-se a construir um forno comunitário no bairro social, projeto este abandonado pelo antigo executivo. Perante essa situação, também foi-nos comunicado que o bairro social iria sofrer intervenção em termos de manutenção de fissuras, paredes, tudo o que esteja degradado. Mas, gostaria de salientar e alertar as pessoas que lá vivem que caso haja alguém que não tenha as rendas atualizadas, a habitação não sofrerá qualquer tipo de intervenção.
A sua opositora, ao não vencer as eleições, tornou-se membro da Assembleia da Freguesia. Considera que isso poderá ser uma mais-valia?
Não temos só a antiga presidente mas também parte do antigo executivo. É sempre uma mais-valia termos pessoas que já tiveram neste cargo e têm experiência e sabem como a freguesia funciona. Existe uma cooperação e junção de esforços entre o executivo e a oposição. O nosso objetivo é tomar decisões fulcrais para a freguesia com o conhecimento e consentimento da oposição.
No último e o primeiro Plano de Orçamento que este executivo apresentou à Assembleia, como é que a oposição votou?
Para o bem de todos, votaram todos a favor.
Qual é a sua maior ambição em termos políticos?
A minha única ambição e ajudar a freguesia.
Agora que já tem 6 meses de presidência de Junta, era isto que estava à espera?
Sinceramente, o facto de ser jovem pesa um bocadinho esta experiência. Não ter muita experiência de vida é uma barreira para determinadas situações. No entanto tem sido uma experiência agradável e enriquecedora. Eu mais a minha equipa entramos aqui sem qualquer experiência a nível de gestão de autarquias, mas acho, que o conhecimento adquirido na nossa vida profissional tem sido fulcral para um maior entendimento deste sistema.
Aproveito para dizer que estamos a construir um novo novo website onde irá constar informações da freguesia e ferramentas onde as pessoas possam ter as coisas de forma mais fácil. Também, já está a ser trabalhado o novo Logotipo promocional que irá representar a freguesia.
Apesar de ter referido o facto de ser jovem, a verdade é que está na onda do atual Presidente da Câmara que também é um jovem. Isso é uma mais-valia para que Lomba de S. Pedro seja olhada de forma diferente?
Eu e o Sr. Presidente da Câmara, Alexandre Gaudêncio, temos 4 anos de diferença e, apesar de termos cargos com responsabilidades diferentes, é bom saber que existe alguém num cargo muito mais exigente com uma idade semelhante à minha. Posso dizer que é uma imagem de referência.
Uma das coisas que eu percebi e tenho me apercebido, é de alguma troca de sinergias com as freguesias vizinhas.
Sempre que eu contacto os meus “vizinhos,” há sempre uma boa abertura da parte deles no que diz respeito a dúvidas burocráticas ou a aspetos mais complexos. É uma mais-valia para nós.
É militante do PSD, com esta eleição para Presidente de Junta. Como fica a sua vida partidária?
Atualmente, eu não estou a pensar noutra coisa sem ser aquilo que faço na função que estou a exercer. Não tenho nem sequer tempo para me concentrar em outras ambições. Quero simplesmente focar-me naquilo que me foi confiado. Quero dar o meu contributo à freguesia e provar às pessoas que votaram, que votaram bem. Daqui a 4 anos, veremos o que irá acontecer.