“QUERO SER RECORDADO COMO UMA PESSOA QUE DEU TUDO O QUE TINHA PELA FREGUESIA”

Hernâni Costa assumiu a presidência da freguesia da Matriz e, apesar de conhecer a realidade da comunidade, ser presidente de Junta não é tarefa fácil. Em conversa com o AUDIÊNCIA, o autarca fala sobre a estrutura da Matriz, a redução do orçamento, da juventude, de Alexandre Gaudêncio, das cores partidárias e do futuro.

 

 

Estamos aqui no coração do concelho da Ribeira Grande, como é sentir o pulsar do coração deste concelho?

Antes de mais, eu sou uma apaixonado pela minha terra. Há cerca de uns 15 ou 20 anos atrás, tive a oportunidade de emigrar mas já sentia um forte apego à minha terra. Foi aqui que nasci e é aqui que trabalho. Vivo muito esta realidade e, portanto, o sentimento de pertença e de apego a esta terra é enorme e, aliás, foi o que me fez na altura querer envergar pela via de serviço público. Foi tentar fazer algo diferente daquilo que era feito até então, para melhorar a Matriz. A Matriz está no sangue e há-de ficar até morrer.

 

Mas a Matriz não teme o risco de nenhum AVC?

Não. Não acredito. A Matriz é uma terra de muitas potencialidades. Desde logo, toda a parte histórica do patrimônio cultural está aqui na freguesia. Mas fora isso, a Matriz tem potencialidades para oferecer a nível turístico e a nível de negócio e de serviços às pessoas. O que nós temos que fazer é potenciar esses investimentos. É potenciar as oportunidades de maneira a que se possa desenvolver ao máximo a freguesia.

 

Quantos habitantes tem a freguesia?

A freguesia tem cerca de 4 mil habitantes. Apesar de ser uma freguesia citadina, apresenta uma característica muito peculiar pois, ainda, existem alguns bairros sociais com algumas carências económicas e sociais. Em zonas identificadas existem problemas sociais muito relevantes que fazem com que haja aqui um certo paradoxo, no sentido, em que existe uma parte citadina desenvolvida e moderna e depois existem problemas que já deviam ter sido resolvidos no século passado.

 

Mas pelos dados que são conhecidos, os do penúltimo ano, o Governo Regional investe nesta freguesia milhões de euros…

Também fiquei surpreendido, quando tive o membro do Governo Regional aqui na sessão solene a indicar todo o investimento que foi feito na freguesia da Matriz. Mas, na minha opinião, não foi bem aplicado pois não vejo infraestruturas.

 

Citou mais os apoios às rendas em que 80 casais foram apoiados pelo Governo Regional e mais 50 restariam com apoios, ao todo, a verba total ultrapassava o 1 milhão e meio de euros…

Mas acho que são valores que não são reais. Não vou questionar aquilo que foi feito há 3 ou 4 anos a nível do Governo Regional, na freguesia da Matriz mas, acho que haveria outros investimentos para os quais o Governo Regional não se tem chegado à frente.

Neste momento, que apoios é que recebe do Governo Regional e da Câmara Municipal para que a situação social seja melhorada?

Com a Câmara Municipal temos um protocolo anual com vista à limpeza e manutenção de espaços verdes e o protocolo anual entre as Juntas de Freguesia e a Câmara. Depois, temos um protocolo com a Direção Regional da Habitação para apoio de habitação degradada e, nos próximos 3 anos, teremos um protocolo de um verba de, que não é muito grande, cerca de 15 mil euros anuais para poder fazer face às dificuldades de habitação degradada, que é o que temos utilizado para as diversas situações de emergência social que nos chegam às mãos.

 

E o Governo e a Câmara diretamente não dão apoios à população?

Os cidadãos da Matriz recorrem muitas vezes à Câmara para pedir ajuda a nível da habitação degradada mas numa escala maior. Com o orçamento que temos logicamente só podemos dar apoio de pequeno monte e situações de emergência. Enquanto que apoios de obras mais avultadas são sempre direcionadas para a Direção Regional da Habitação e para a Câmara Municipal para a sua divisão social, com a qual temos tido um bom relacionamento. Existem algumas obras em curso, neste momento, na freguesia, que a Câmara é que está a patrocinar os materiais para essas obras e a mão de obra é facultada pela Junta.

 

Há ou não há casos de fome e miséria na freguesia?

Isto é muito relativo. O que posso dizer pela minha experiência é que de facto ainda existem casos muito difíceis. A nossa maior dificuldade é saber se as pessoas estão a duplicar apoios. Isso é um dos grandes desafios que um Presidente de Junta tem. É saber se o munícipe que chega cá e que pede um apoio já não pediu ao Governo Regional ou a Câmara Municipal ou à Segurança Social. Ou seja, o que nós estamos a tentar trabalhar aqui é fazer uma interligação entre todas essas entidades de modo a que uma pessoa se se deslocar aqui, nós damos logo conhecimento às outras instituições para não haver duplicação de pedidos. Essa duplicação faz com que o dinheiro não possa chegar a outras pessoas que realmente precisam.

 

Na educação, como está a freguesia?

Na educação, nós temos aqui duas realidades paralelas. A Matriz tem a Escola Gaspar Frutuoso que foi inaugurado com excelentes condições e os pais dizem que as coisas têm corrido muito bem, por outro lado, temos a Escola Secundária da Ribeira Grande que tem graves problemas de sobrelotação e de alguma violência. São duas realidades completamente diferentes. A Escola Secundária está a necessitar gravemente de intervenção do Governo Regional.

 

O que acaba de afirmar é que a Freguesia da Matriz tem uma segurança insegura…

De alguma maneira sim. Na Escola Secundária tem sido recorrente. É uma necessidade não para hoje nem para amanhã, mas para ontem. O que se está a passar na escola é inadmissível a todos os níveis. Penso que o Governo Regional não está a desempenhar o seu papel e está a prejudicar o futuro dos jovens da Matriz e do restante concelho, porque já deveria ter sido feito um investimento totalmente diferente naquela escola. A cidade da Ribeira Grande merece. A freguesia da Matriz merece. E, o Governo Regional não está a respeitar os seus compromissos com os jovens da Ribeira Grande.

 

É uma freguesia rica culturalmente. Entre muitas e outras instituições, figura a Filarmónica mais antiga do arquipélago dos Açores…

Temos aqui a Filarmónica Triunfo que é a mais antiga dos Açores e que é um marco aqui na nossa freguesia. Por a Matriz ser o coração da cidade, todos os eventos culturais organizados pela Câmara passaram para cá, o que faz que a população da Matriz tenha acesso aos mais diversos eventos culturais de toda a ordem. Com o aumento do turismo, tem havido uma maior procura de tudo o que é patrimônio histórico da freguesia, complementadas há a oferta a nível de praia e de natureza.

 

Aproveitando esta riqueza cultural, não só de instituições mas de outras seções, como a Orquestra ligeira da Escola Secundária da Ribeira Grande…

A Orquestra está a desempenhar um papel fabuloso. No dia da comemoração solene da elevação da cidade assistimos ao espetáculo que deram no Teatro Ribeiragrandense e, de facto, podemos comprovar que o apoio que nós estamos a dar a estes jovens está a ter um retorno fantástico.

 

É uma freguesia, que para além de ser sede do Sporting Clube Ideal, viu recentemente nascer o Centro de Patinagem da Ribeira Grande e ainda mais recentemente uma equipa de hóquei em patins…

E não esquecer que temos o clube desportivo “Os Fuseiros” que é da Escola Secundária, onde participam em várias provas de voleibol. O Sporting está num patamar semi profissional e já eleva o nome da cidade da Ribeira Grande e o da freguesia da Matriz ao nível nacional. Eu apesar de ser um homem do desporto e, principalmente, do futebol, sempre fui da opinião de que não se pode apoiar só o futebol. É necessário apoiar outras modalidades como o voleibol, o hóquei em patins e a patinagem. O hóquei em patins e a patinagem está a ser um renascer, porque na década de 80, na Ribeira Grande, tínhamos um clube de patinagem e de hóquei em patins com muito sucesso.

 

Sendo o concelho da Ribeira Grande um dos concelhos com mais jovem, o coração obviamente também é jovem…

O coração é jovem. A Junta de Freguesia da Matriz tem um slogan “Patrimônio e Juventude”. Sendo a Matriz extremamente jovem, nós temos que ir ao encontro dos anseios das escolas. Há certos tabus que têm que ser quebrados. Existem problemas de toxicodependência e as pessoas têm alguma tendência a não encarar esses problemas, mas é preciso trabalharmos e irmos ao encontro desses problemas. Não podemos enfiar a cabeça dentro da areia e fingir que eles não existem. Quando um político fala de juventude, normalmente, gosta de falar sobre o desporto, sobre as ações que vai fazer e sobre os eventos culturais, mas essas são as coisas boas e normais. Essas são as coisas que somos obrigados e que devemos sempre fazer. Neste momento, devemos falar sobre as dificuldades que a juventude está a passar. Há um desemprego alarmante. Outro problema é o da toxicodepência que não é fácil de lidar. Já tivemos o contato com algumas instituições para ver o que é que nós, enquanto Junta de Freguesia, podemos fazer para apontar algumas soluções para esses problemas. A nossa preocupação é organizar eventos que realçam o papel da juventude na Matriz. Temos várias instituições jovens como o grupo dos escuteiros, o coro juvenil da Igreja Matriz, o clube de basquetebol, que estamos a apoiar para serem federados na próxima época desportiva. Existem aqui diversos jovens que querem ter o seu papel na sociedade, e nós precisamos de os incentivar e apoiar. Não é só fazer eventos musicais, mas sim, fazer eventos que lhes despertem a participação cívica que, na minha opinião, é o grande problema na sociedade.

 

Como é que há desemprego jovem se os espaços comerciais na freguesia da Matriz e nas freguesias vizinhas mantém às portas “precisa-se de emprego” e não há empregados. Será uma questão de falta de formação?

Eu penso que é uma questão de mentalidade da juventude de hoje me dia. Eu conheço muitos casos em que os jovens estão a tentar procurar trabalho, mas as ofertas que têm existido são todas direcionadas para o ramo da restauração e a restauração de facto carece de mão de obra qualificada. Mas, trabalhar nos feriados, ter horários noturnos, por turnos, não é apelativo. Muitos jovens idealizaram na sua cabeça que tinham que ter um horário de trabalho das 9h às 17h de secretaria e temos que perceber que não vai haver esse tipo de trabalho para toda a gente.

 

Então, é um desemprego que não é grave, mas é um desemprego voluntário…

Na minha opinião, não é um desemprego voluntário. O que se criaram foram expectativas desta juventude e depois, hoje em dia, essas saíram furadas. A juventude também sente-se defraudada porque, de facto, os Açores são a região do país com maior insucesso escolar.

 

 

 

Tenho um colega seu, de uma freguesia vizinha, que tem “exterminado” o desemprego na Lomba da Maia, porque com os seus contactos no Canadá, nos Estados Unidos e no Continente tem pegado em grupos numerosos de jovens da sua freguesia e leva os para esses pontos, e, ele chega à seguinte conclusão que eles cá não querem trabalhar mas vão para fora fazer exatamente o mesmo trabalho e são os melhores trabalhadores. Então, o que é que está a falhar aqui é a formação ou mentalidade?

Por isso é que eu estava a dizer que os Açores são região com maior insucesso escolar e maior abandono escolar. Muitos jovens sem formação acabam confrontados com empregos que não perspetivavam e, depois é como tudo na vida, aqui não querem fazer determinados trabalhos mas quando a necessidade aperta mesmo, têm que emigrar e aí são obrigados a fazer tudo. Agora, não vamos mandar emigrar toda a gente porque estamos a ficar uma região envelhecida e precisamos dos nossos jovens aqui para desenvolver a nossa terra. Está a ser realizado na Ribeira Grande a opção de formação profissional direcionada especificamente para os investimentos turísticos. Eu penso que será uma medida de muito sucesso porque já tenho um série de jovens inscritos e que querem se inscrever nessa formação, porque estão a ver que se não tiverem formação não vão ter oportunidade de trabalho.

 

Mas nessa formação, até o concelho da Ribeira Grande é privilegiado, porque tem uma Escola Profissional patrocinada pela Câmara Municipal da cooperativa Ponte Norte e às vezes parece que se debate também com a falta de alunos. Mas afinal, como é que ficamos?

Eu penso que a aposta na Escola Profissional deve ser mantida e reforçada. Eu sou da opinião que se cometeram alguns erros no passado, nomeadamente, aquela escola não ter tido a valência de pescas, visto que estava na freguesia de Rabo de Peixe, desde logo de início na sua gênesis, e, na altura, deixou-se perder essa oportunidade. Mas, deve-se manter a Escola Profissional, porque temos muitos jovens da Matriz a frequentar a escola. Bem sei que houve nos últimos anos, um decréscimo de alunos nos cursos na escola, mas acredito que é uma realidade que será invertida, porque muitos desses jovens estão a perceber finalmente que só através da formação é que poderão ter um emprego. Eu já tenho acolhido alguns desses jovens na empresa onde trabalho e a realidade que eu estou a assistir é que de facto eles estão a começar a ter emprego e estão a começar colocados nas empresas.

 

Resumindo, os jovens da Matriz têm vivências de primeiro mundo e mentalidade de segundo mundo…

Alguns têm, mas nós temos que trabalhar para que esses, que têm essa mentalidade de segundo mundo, se elevem para as necessidades do dia a dia.

 

A Matriz tem um patrimônio muito rico em todos os campos. Fale-me um bocadinho sobre essa riqueza patrimonial que são as instituições…

Nós temos aqui o lar Jacinto ferreira Cabido,uma instituição com muitos anos. Foi o principal pólo de terceira idade que até servia a cidade toda da Ribeira Grande até abrirem há poucos anos uma valência no Pico da Pedra, devido à grande procura que esta instituição tinha. Um serviço público inestimável e, por aquilo que nós sabemos, é um serviço de primeira qualidade, ao contrário, de todas a outras instituições que têm vindo a público. Nós temos aqui o C.A.S.A. que é uma instituição que teve um desenvolvimento muito acentuado nos últimos anos, com o aparecimento do C.D.I.J., que vai ao encontro dos problemas da juventude, e de uma creche, que vem colmatar uma procura enorme que havia. Não podemos esquecer a Santa Casa com a valência Casa Leo, que fica situada no bairro de Santa Luzia, que tem a parte de ATL . Esta valência foi das primeiras a ser construídas cá e foi construída diretamente no bairro de Santa Luzia pois era o bairro mais problemático. A freguesia da Matriz a nível de instituições está muito bem servida.

 

Começa a ser difícil encontrar casa para arrendamento na Matriz porque o alojamento local tem tomado de assalto a freguesia, que traz muitas vantagens a nível económico como a criação de hotéis e na restauração. Como é que é a freguesia?

Isso é um dos maiores desafios e das maiores preocupações que nós temos.Antes de realçar as vantagens do turismo, tenho que realçar a desvantagem. Hoje em dia, um casal jovem da Matriz não está a conseguir encontrar um alojamento para começar a sua vida porque, no coração da cidade, os preços estão inflacionados e alguns casais jovens estão a sair da freguesia para as outras freguesias, porque os preços são um pouco mais acessíveis. Isso para nós é uma preocupação. Nós não queremos ter uma freguesia só de alojamentos locais e depois não ter os nossos cidadãos a viver na freguesia. Já as vantagens do alojamento local, logicamente, que a nível económico tem sido uma mais valia porque faz girar toda a economia local. Os turistas pagam nos restaurantes, nas mercearias, nas lojas, nas piscinas municipais, entre outros. Portanto, toda a economia local beneficia dessa evolução turística. Na minha opinião, a Matriz tem potencialidade de crescimento tanto para a zona nascente também para a zona sul no sentido de expandir a freguesia e, aí sim, poderemos crescer nos dois sentidos.

 

Está em condições de afirmar e garantir, a quem ler esta entrevista, que a freguesia tem ótimas soluções para alojamento e boa restauração na Matriz?

Sim. Está a aparecer no centro histórico novos investimentos a nível da restauração, mas já tínhamos aqui restaurantes com uma dimensão muito grande. Os restaurantes tiveram uma fase muito negra há alguns anos mas, felizmente, neste momento, as coisas estão a correr muito bem. A nível de alojamento, eu penso que a freguesia tem beneficiado da reabilitação urbana que tem sido feita à custa do alojamento local, ou seja, a freguesia nesse aspeto está a ganhar, porque nós tínhamos muitas casas devolutas e, neste momento, estão a ser recuperadas. Logicamente, isso é uma mais valia. Há 10 anos atrás, se calhar passávamos por todas as ruas da freguesia e víamos placas de imobiliárias para vender e algumas em péssimo estado de conservação, hoje em dia, a realidade é muito diferente. Somos contactos por diversas pessoas para que quando houver um imóvel à venda na freguesia para avisármos, porque já há clientes em lista de espera para adquirir imóveis na Matriz.

 

Um dos pólos mais apelativos turísticos da freguesia são as Caldeiras da Ribeira Grande mas, por falta de promoção e divulgação não tem visitas suficientes que justificam a qualidade. Numa consulta recente que fiz a um funcionário que a Câmara Municipal lá tem disse que realmente era uma pena não ir ninguém ver. A Junta vai tentar aumentar a promoção da Caldeira ou vai tentar pedir às empresas para fazer essa promoção?

Vou lhe ser sincero, as Caldeiras da Ribeira Grande têm sido menosprezadas pelo Governo Regional dos Açores, porque para podermos desenvolver corretamente a estância das Caldeiras, nós temos que ter um acesso que seja condizente com a qualidade das Caldeiras. O que se tem passado é que a estrada das tem sido constantemente esquecida apesar dos vários apelos que temos feito nesse sentido. Devemos ressaltar que esta é uma obra que já esteve incluída na carta das obras públicas do Governo dos Açores diversas vezes mas foi retirada. Como é que é possível ter a mais valia que as Caldeiras representam para o turismo dos Açores e não haver sequer o mínimo de investimento para dar segurança às pessoas que possam lá ir. Aquela estrada não apresenta as mínimas condições de segurança, principalmente no inverno, e para não falar dos autocarros que quando vão lá não têm local para poder dar volta ou para estacionar. Aliás, o único investimento que foi feito lá foi por parte da Câmara Municipal. Pelos contactos que já fiz com a Câmara percebo que exista uma preocupação de investimento nas Caldeiras, diferente do que houve no passado, ou seja, penso que existe aqui uma sensibilidade diferente para investir lá que não houve até agora. O nosso papel enquanto Junta de Freguesia é chamar atenção às autoridades competentes. Faço um apelo diretamente ao Governo Regional pois é preciso investir no caminho das Caldeiras de maneira a dar segurança e levar os turistas a conhecer uma riqueza dos Açores. Existe agora as termas das Caldeiras que tem tido muita procura. Está a existir investimento privado mas não há investimento do Governo Regional.

 

A freguesia tem várias empresas de grande impacto económico na Região Autónoma dos Açores. Como é que sente o pulsar dessa economia?

Não nos podemos esquecer que o país todo passou pela crise económica e, nos meios locais, essas crises ainda se faz sentir muito mais. Nós passamos um período muito atribulado que teve aqui consequências gravíssimas na Matriz, mas, o que eu sinto é que as coisa estão a melhorar rapidamente. A BEL, que pelo aquilo que percebo, está a exportar cada vez mais para o exterior, o que traz um papel fundamental para o peso de exportações a nível regional. Não nos podemos esquecer que temos empresas de indústrias alimentar que dão um serviço à cidade da Ribeira Grande impecável. Temos também diversas empresas de construção civil que felizmente estão a fomentar emprego e a recuperar índices para valores antes da crise. O feedback que temos das empresas de restauração e contabilidade é que estão a correr bem. Penso que a nível de economia estamos agora numa fase de crescimento e de recuperação.

 

Em termos de romarias e tradições, quais são os eventos que caracterizam e atraem a população?

Desde logo, gostaria de afirmar aqui o recuperar da tradição do São João. Nós aqui na Matriz da Ribeira Grande já não festejávamos o S. João há muitos anos, e, quisemos recuperar essa tradição. Em vez de o fazermos no jardim municipal, quisemos levar a festa à comunidade para descentralizar um pouco. Nós vivemos na Matriz mas com o peso das rotinas diárias, as pessoas não visitam o restante da freguesia e, por isso, a nossa política será de descentralização de alguns evento culturais, nomeadamente, as tradições pelo Largo de Santo André e pelo Largo das Freiras, de maneira a podermos levar a comunidade lá. Quando recuperamos o São João, qual não foi o meu espanto quando diversos residentes da Matriz foram à Ermida de Santo André pois já não visitavam há dezenas de anos. Isso para nós foi uma alegria imensa. Outra coisa que também fizemos este ano, foi celebrar o Carnaval pois não existia nada na cidade. Este ano, fizemos um desfile e qual foi o nosso espanto ao ver a adesão das pessoas. Foi de facto espetacular. E, penso que será uma coisa para continuar. A nível de romarias, temos a romaria da Nossa Senhora da Estrela que é uma das romarias mais antigas. Eu já fui romeiro por quatro vezes na Matriz e tenciono, no próximo ano, integrar esta romaria porque de facto é uma semana de terapia espiritual. Nós a nível de tradições estamos muito bem servidos. Devemos apoiar cada vez mais temos as comissões de festa. Temos a festa da Nossa Senhora da Estrela em fevereiro, e a festa do Coração de Jesus, em setembro. Na festa do Coração de Jesus vamos organizar um dia dedicado aos emigrantes, no dia 4 de setembro. Vamos ter um almoço de convívio com os nossos emigrantes e vamos levá-os ao Museu de Emigração Açoriana porque, apesar de muitos imigrantes virem cá muitas vezes, esquecem-se que existe um Museu de Emigração na Ribeira Grande. E, depois, iremos realizar um momento lúdico à noite. Nós cada vez mais temos que nos virar para a nossa diáspora porque, em vez de procurarmos investimentos noutros locais, se calhar a diáspora será o local certo para procurar esses investimentos. Poderá ser a resposta a um mercado que conhece bem a nossa realidade e que tem possibilidades de investir na nossa terra.

 

Até porque ao falar de emigrantes, falamos de uma emigração maioritariamente bem sucedida, pois existem, quer no Canadá quer nos Estados Unidos, grandes empresários que são filhos da Matriz…

Filhos e até alguns já são de segunda e terceira geração. Isso vem ao encontro naquilo que falamos nível de juventude. O jovem aqui não quer trabalhar mas se for para os EUA ou Canadá vai trabalhar e vai se revelar um excelente trabalhador. A nossa emigração nas décadas de 60, 70 e 80 revelaram-se homens de grande valia que, hoje em dia, na generalidade, são homens de sucesso a nível empresarial e que têm sido uma mais valia para a freguesia. Eles próprios querem investir na freguesia. Querem que a freguesia cresça. No ano passado e há dois anos, diversos emigrantes patrocinaram a distribuição de cabazes de Natal a algumas centenas de pessoas da Matriz. Portanto, é de realçar o investimento que eles possam mas também o papel social que eles desempenham na comunidade.

 

Está à frente de uma nau e vamos falar de números. Qual é o orçamento que tem à disposição para não deixar naufragar a nau que comanda?

Este ano, por acaso, o nosso orçamento desceu bastante. Este ano, temos um orçamento de 115 mil euros, o que é um orçamento muito reduzido, porque retirando todas as despesas inerentes ao normal funcionamento de uma Junta mais os produtos que assinamos a nível de despesas de manutenção e limpeza de espaço verdes, ficamos com uma verba muito reduzida para poder fazer alguma coisa face aos diversos problemas que nos surgem pela frente. Aliás, devo dizer que conhecia a realidade da Matriz mas é um desafio muito grande e é muito difícil para um presidente de Junta receber uma pessoa e não ter capacidade para conseguir dar a resposta adequada ao cidadão.

 

Mas tem uma vantagem pois sai da sua porta e entra na porta na lado e está nos Paços do Concelho…

Não vou negar que a relação com a Câmara Municipal é fundamental para um bom desempenho mas também devo realçar que muitas vezes o facto de haver tanta proximidade também tem alguns inconvenientes. Muitas vezes não se sabe onde é que acaba a intervenção da Câmara e começa a intervenção da Junta. Mas, estamos a trabalhar nisso para combater. Nós desde que entramos estamos a ter esse trabalho que é saber onde é que começa a nossa ação e onde é que acaba a da Câmara e vice versa. Estamos à cerca de 9 meses no mandato, mas de facto temos tido um bom relacionamento com a Câmara Municipal e, felizmente, assim o é, porque a tarefa de uma Junta já de si é suficientemente difícil e se não existir nenhum apoio institucional, torna-se mais difícil.

 

A redução de orçamento deve- se ao facto de ser laranja e o Governo Regional ser rosa?

Eu não quero acreditar que sim. O que é certo é que essa redução de orçamento foi uma redução brusca, mas deve-se ao facto de ter terminado uma série de protocolos que estavam em vigor com o anterior executivo. Ainda não tivemos a oportunidade de realizar novos protocolos com o Governo Regional. Agora quero que num futuro próximo, possamos realizar algum protocolo com o Governo Regional. Aliás, seria mau se o Governo olhasse para as suas freguesias pela cor partidária, embora perceba que muitas vezes é isso que aconteça. Espero que seja uma postura que não se verifique para o futuro e que nós possamos trabalhar. Devo confessar que os contactos que tive até agora com o Governo Regional foram com Dr. Orlando Goulart, da Direção Regional da Habitação, com a Dr.ª Ana Cunha, Secretária Regional dos Transportes e Obras Públicas, e com a Dr.ª Paula Andrade, da Direção Regional do Emprego e Qualificação Profissional e vi da parte deles vontade de colaborar, portanto espero colaborar com eles para que as pessoas da Matriz possam ser consideradas açorianas de primeira. Agora, como cidadão sempre fui crítico do Governo Regional, no sentido que, na minha opinião, nunca investiu na Ribeira Grande da maneira que deveria ter investido. Se fizermos uma retrospetiva dos últimos 20 anos só posso identificar aqui 3 obras do Governo Regional: a Escola Gaspar Frutuoso, na Matriz, o Centro de Arte Contemporâneo, na freguesia da Conceição, e o Porto de Pescas, de Rabo de Peixe. Qual a razão de não ter investido no passeio atlântico na altura que era devida? Hoje, com o investimento turístico que há na cidade da Ribeira Grande já havia obrigação de estar num patamar muito mais elevado, mas nunca houve a vontade política de investir na Ribeira Grande.E eu, enquanto cidadão, sempre senti que não houve por parte do Governo um investimento na nossa cidade e no nosso concelho que permitisse esse desenvolvimento do mesmo modo que houve nos concelhos pelos Açores fora. As potencialidades que a Ribeira Grande está a demonstrar hoje, já as tinha há 20 e há 15 e há 10 anos atrás e, infelizmente, não houve a visão de investir.

 

Quer dizer que está a culpar Alexandre Gaudêncio por ter descoberto as potencialidades que o concelho tem…

Eu estou a culpar Alexandre Gaudêncio porque ele foi o único que disse vamos virar a cidade para o mar. Nós há 20 anos já estávamos a ver isso. Nenhuma cidade no mundo que tivesse mar e não tivesse uma avenida marginal. A Ribeira Grande devia de ser um caso inédito. Não tinha uma marginal. Quando quiseram fazer algo, fizeram-no mal, pois, em vez de fazer uma marginal, fizeram uma rua estreita que não vai ao encontro daquilo que nós necessitávamos. Hoje em dia, um autocarro não consegue passar porque não existe largura suficiente na via. É péssimo. Não existe visão para o futuro. Quando estamos nos cargos públicos, temos que ter uma visão para o futuro e devemos utilizar o dinheiro de maneira a que a obra não seja para o momento, mas sim, para as gerações vindouras.

 

Referiu que Alexandre Gaudêncio está a virar a Ribeira Grande para o mar. Acredita que Alexandre Gaudêncio consegue virar da mesma forma os açores para o mundo e os açores para os açorianos?

Devo até dizer que é o único que vai conseguir, na minha opinião. Reconheço qualidade para isso.Estarmos a viver, neste momento, uma situação muito complicada nos Açores. As empresas públicas estão falidas. Estamos nos índices piores a nível europeu e do país. Portanto, tem que haver uma viragem rapidamente e, penso que essa viragem já seja tardia. A alternância do poder é muito importante para o desenvolvimento de uma democracia. Qualquer partido que se perpetue no poder durante muito tempo, o resultado nunca é bom.

 

Então, quer dizer que como a Matriz virou, os habitantes desta freguesia só podem esperar o melhor. Como é que vai fazer milagres com o orçamento de 115 mil euros anuais?

Devo dizer que com um orçamento destes logicamente não podemos aspirar a grandes obras. Mas, felizmente, temos a mesma visão para a freguesia como a Câmara Municipal. É preciso haver algum investimento na freguesia em determinados valências que são fundamentais. É necessário construir uma Casa Mortuária na Matriz, urgentemente, porque não podemos assistir ao que temos assistido ultimamente. Outro projeto que temos como prioritário e concorremos ao orçamento participativo este ano com ele é o roteiro dos moinhos. Temos que renovar as nossas tradições dos moinhos de água da Ribeira Grande. Na minha opinião, a principal cara da cidade é a Ribeira da Ribeira Grande. A Ribeira da Ribeira Grande na zona do parque infantil e na zona do centro histórico está inda, mas basta subir alguns metros e o resultado já é diferente. Como Junta de de Freguesia queremos investir na parte de cima da Ribeira até à zona da mãe da água.

 

E depois dos arcos?

O nosso projeto passa por abrir um trilho mestre que vai ao longo do curso da ribeira com algumas pontes sobre a ribeira, embelezando e limpando toda a zona, de maneira a que possa elevar o nosso patrimônio. Levar as pessoas a conhecer a tradição que nós tínhamos. Perceber que já existem moinhos recuperados e que estão em andamento. Temos que levar os nossos residentes e os turistas a visitar e aproveitar para deixarmos uma pegada ambiental, no sentido de promover a sensibilização ambiental e promover a limpeza da nossa ribeira. Eu acredito que quando abrirmos o roteiro dos moinhos, não só vai servir para os turistas, mas paras próprios residentes. As Juntas de Freguesia passaram a ser quase empresas de construção civil e, na minha opinião, foi um erro estratégico. Não temos um orçamento que possa permitir continuar com essa política. A nossa política será de investimento na sensibilização, na divulgação, e no acompanhamento cada vez mais presente aos nossos cidadãos. Eu gostaria de ser relembrado, quando sair daqui, como alguém quem nunca virou a cara à luta e que teve presente quando as pessoas precisavam. Posso não ter a capacidade de resolver o problema mas nunca posso dizer que não estarei presente, que não vou direcionar, que não vou acompanhar. Quero ser recordado como uma pessoa que deu tudo o que tinha pela freguesia, e espero bem deixar alguma obra para a geração vindouras.