“SE QUEREMOS RESULTADOS DIFERENTES, NÃO PODEMOS FAZER AS MESMAS COISAS DE SEMPRE”

A cerca de dois meses de terminar o primeiro ano do seu primeiro mandato à frente dos destinos de Matosinhos e Leça da Palmeira, Paulo Ramos Carvalho, presidente da União de Freguesias em questão, mostrou-se satisfeito com o trabalho realizado até agora, mas não escondeu a preocupação em manter a fasquia elevada nos próximos anos. O autarca falou dos grandes eventos da freguesia, nomeadamente das Festas do Senhor de Matosinhos e das Festas de Sant’Ana, que levaram milhares de pessoas às localidades e que representaram a simbiose perfeita entre cultura, música, gastronomia e convívio. Além disso, Paulo Ramos Carvalho ainda mencionou projetos como as Vivências Seniores e o Campo de Férias, que primam pela enorme quantidade de atividades diferentes que prestam aos seus frequentadores e que o edil considera exemplos a seguir. No futuro, a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira pretende continuar a inovar. Em 2023 o Campo de Férias contará já com vagas para jovens com espectro de autismo, e, ainda este ano, terá um atelier do plástico, com máquinas capazes de transformar plástico usado em novos objetos e um projeto em parceria com a Federação Portuguesa de Rugby, que permitirá aos estudantes terem apoio escolar e praticar desporto, no horário pós-escolar.

 

 

 

As Festas de Sant’Ana voltaram a Leça da Palmeira, entre 26 julho e 7 agosto, depois de dois anos de interregno. Qual a importância deste retorno? Era uma atividade muito ansiada pela população?

É de uma importância quase vital. Nós não podemos olhar para o evento como sendo só as Festas de Sant’Ana, até porque temos também o Festarte, e este é um dos principais encontros folclóricos que existem a nível nacional. Este ano fomos visitados por sete países que mostraram o que de melhor se faz no país deles. Mas as Festas de Sant’Ana são uma tradição muito enraizada na nossa comunidade, é um período de muita alegria, onde as pessoas gostam de se encontrar e, durante dois anos, não puderam fazê-lo. Portanto, foi muito importante este reencontro da comunidade, no Jardim Eng. Fernando Pinto Oliveira, que já é um local carismático, também, aqui, na nossa terra.

 

E era uma daquelas atividades que a população, onde quer que o visse, perguntava quando é que ia voltar ou se ia acontecer este ano?

Eu acho que há, por todo o país, um bocadinho esse sentimento. As pessoas quererem voltar a ter as suas tradições e, aqui, não é diferente. As pessoas, realmente, perguntavam se, este ano, voltaríamos, outra vez, a ter as festas de Sant’Ana, os festivais, a feira de artesanato, e em que moldes é que iríamos fazer isto. Por isso, também, fizemos uma aposta grande. As Festas de Sant’Ana, este ano, foram alargadas, quer em número de concertos, quer em momentos para que as pessoas se pudessem encontrar e matar a saudade que tinham.

 

Este é um dos maiores eventos do concelho e, este ano, contou com um cartaz forte e diversificado, com grandes nomes da música nacional, mas também bandas locais, fado, e até um concerto a pensar nos mais pequenos. Foi uma festa para todos?

Nós temos assistido, por todo o lado, que as pessoas têm aderido fortemente a tudo o que é festas e romarias, portanto, quisemos que as Festas de Sant’Ana não fossem algo que acontecia só durante a noite, nem só para os mais velhos, quisemos que fosse um evento para todos. Também, por isso, aproveitamos o facto de se realizar no Jardim Eng. Fernando Pinto Oliveira, onde está localizado um parque infantil, e tivemos o concerto da Kiki, mais dedicado à pequenada.

 

Qual é o investimento da Junta de Freguesia nesta festa?

Estas festas orçam os 55.000 anos e, este ano, apesar de ser um ano muito feliz porque voltamos a ter festas, é, também, um ano muito complicado, porque garantir apoios para a realização das festas foi extremamente difícil, principalmente pela altura que nós estamos a viver e a dificuldade económica e financeira que muitas empresas estão a viver, mas também pelo número de festas, romarias e encontros que está a acontecer por toda a parte. Tivemos grandes dificuldades em garantir esse apoio, mas há uma coisa que é verdade, e que nós não podemos olhar para o lado, a vontade e a exigência desta população faz com que a gente que não olhe a meios para realizar aquilo que tem de ser realizado.

 

Esta é, também, um evento que anda de mãos dadas com a Câmara Municipal. De que forma a mesma apoiou a realização das Festas de Sant’Ana?

Não é só a festa. O trabalho da Junta de Freguesia anda de mãos dadas com a Câmara Municipal de Matosinhos. A Câmara Municipal é um parceiro fundamental em tudo aquilo que nós fazemos, e eu espero, também, que o trabalho da Junta de Freguesia seja fundamental para aquilo que a Câmara Municipal faz, e tenho a certeza que sim, portanto, trabalhamos em conjunto, em parceria. Há um contributo direto para a festa e a Câmara teve essa preocupação, de nos apoiar, principalmente este ano, que é, como disse, um ano difícil.

 

Acabou por já referir que, ligado a este evento, esteve, também, a XXIII edição do Festival Internacional de Folclore de Leça da Palmeira, o Festarte, organizado em colaboração com o Rancho Típico da Amorosa. Depois de dois anos de interregno foi difícil para eles voltarem a esta organização?

Não. A prática é muita, a vontade também. O trabalho, em parceria com a Junta de Freguesia, também sempre foi muito e, portanto, não foi difícil, nós conseguimos organizar tudo isto. O Rancho Típico da Amorosa não é, apenas, mais um rancho, porque eles preocupam-se, realmente, muito com tudo aquilo que tem a ver com as tradições e costumes da população em causa, e fazem um trabalho notável e prestigiado. Vimos do melhor que se faz, cá em Portugal, mas também do melhor que se faz pelo mundo, e quando se tem a oportunidade de ver o que é a veia cultural de outros países, só nos faz engrandecer ainda mais.

 

Aliado, ainda, a estes dois momentos, tivemos o Mercadinho de Sant’Ana. Quantas barraquinhas estiveram presentes e de que forma é que o mercado abrilhantou estes dias de festividade?

Este ano quisemos fazer as coisas de uma forma um bocadinho diferente. Antes fazíamos isto só como uma feira de artesanato e, este ano, da feira de artesanato, um bocadinho mais pequena do que nos anos anteriores, também quisemos pôr a parte gastronómica incluída. Tivemos cerca de 25 expositores, com coisas completamente díspares umas das outras. As pessoas puderam ver um bocadinho de artesanato, tiveram a parte gastronómica, também, o que fez com que trouxessem as famílias e passassem aqui um bom bocado.

 

A Festa do Senhor de Matosinhos também se concretizou este ano, depois de dois anos em que a pandemia não permitiu a sua realização. Na sua opinião, qual o balanço?

Foi o ano com maior afluência. Eu acho que ainda estamos muito próximos do evento e, portanto, ainda nos é difícil exprimir o que é que aconteceu, mas Matosinhos, por exemplo, virava multidão a partir das 16h30. Era impressionante perceber de onde é que vinha tanta gente, eu acho que nós fomos visitados pelo país todo, porque Matosinhos esteve sempre cheia, sempre cheia. As Festas do Senhor de Matosinhos foram uma coisa alucinante, foram os momentos todos. Eu nunca vi tanta gente na procissão como este ano e, portanto, foi um sucesso daqueles que, nem nas nossas melhores ideias e nos nossos melhores sonhos, estávamos a contar. Mesmo para as pessoas que estiveram lá, e que fizeram o investimento para participar nas festas, acho que foi um resultado de salutar e tiveram um rendimento muito interessante com a sua estadia lá. As Festas do Senhor de Matosinhos são das maiores festas a nível nacional e, portanto, era algo que nós estávamos desejosos para que voltasse. Correu muito bem, foi fantástico e espero que nos próximos anos continue igual.

 

Representa também um grande investimento?

É um investimento diferente, é algo que a Câmara apoia, também, diretamente. Nós, aqui, em termos de Junta, não temos tanto essa responsabilidade, nem teríamos capacidade financeira para realizar essa festa. Entretanto, a Associação para a Animação da Cidade de Matosinhos (ANCIMA), organiza as festas. Mas devo dizer que, este ano, conseguimos reduzir, mesmo fazendo as coisas de uma outra forma e com festas maiores, mesmo assim, conseguimos reduzir aquilo que era o investimento no Senhor de Matosinhos, por um conjunto de situações, conseguiu-se que os astros se alinhassem para que se fosse possível, correu muito bem.

 

Mas as festas não foram os únicos eventos a regressar depois dos dois anos de pandemia. Que outras atividades retornaram, ou ainda vão acontecer, em Matosinhos e Leça da Palmeira?

Já retornaram praticamente todas as que, antes, tinham sido suspensas. O campo de férias tem sido algo em que nós, também, quisemos inovar. Eu acho que era importante voltar, mas mostrar que alguma coisa mudou. E mudamos, desde logo, com a introdução de novas atividades. Destaco o ténis, que tem sido fabuloso, todos os dias de manhã, o rugby também, mas depois o surf e a vela. Ou seja, os miúdos não repetem, todos os dias, a mesma coisa. Este campo de férias funciona durante todo o mês de julho, com a obrigatoriedade de frequência de, no mínimo, três semanas. Aquilo que vimos é que, em virtude dos pais gostarem tanto, dos miúdos gostarem tanto daquilo que fazem, a maior parte dos pais, os que tinham contratado as três semanas, quiseram também, depois, logo a seguir, a contratação de mais uma semana. E isso é o melhor indicador de que estamos a fazer o trabalho bem feito. E, depois, perceber a alegria das crianças nas mais diversas atividades. Este ano tivemos cerca de 160 crianças. Além das visitas à Magikland, por exemplo, ou ao Museu da Água, e por aí fora, mas, depois, também tem a componente pedagógica. Por exemplo, demos uma importância muito grande nesse esforço de informação às crianças, de participarem e experimentarem para perceberem porque é que eles têm que defender a questão ambiental, a questão da reciclagem, o que é preciso fazer e que não é preciso fazer. Para além disso, quisemos, novamente, dar vida a um espaço que é muito nosso, que é a Quinta da Conceição. Portanto, eles, todas as semanas, à sexta-feira, para o tempo deles foi passado na Quinta da Conceição, com insufláveis, com relva, com jogos da água, onde andam descalços, onde correm, saltam e brincam. Tudo o que lhes fez falta nestes dois anos, em que estavam presos em casa. Portanto, eles sentiram essa liberdade neste campo de férias e, sem dúvida, para mim, foi o sucesso, estamos muito satisfeitos com essa atividade. Deixo já uma novidade em primeira mão sobre o campo de férias do próximo ano. Eu sou um defensor nato do nosso Serviço Nacional de Saúde, mas acho que ainda há um caminho grande a fazer naquilo que é a saúde mental. E nós, enquanto Junta de Freguesia, e com a dimensão que temos, acho que todos nós temos que fazer o nosso trabalho, um bocadinho. Nós vamos fazer o nosso na questão da colónia de férias. Nós vamos abrir vagas, limitadas, mas vamos abrir vagas para crianças com espectro do autismo. Vão estar acompanhadas, vão ter uma técnica para cada um deles, e onde os pais vão ter a hipótese de colocar os filhos a fazer atividades que são boas para eles, onde podem partilhar com outras crianças, acompanhados, em segurança, sem terem que recorrer a coisas que são privadas e que custam muito dinheiro. Vamos fazer esse trabalho, que é um trabalho também social e que é algo que é imperativo para nós fazê-lo já no próximo ano. Este ano não conseguimos, tínhamos essa vontade, mas não nos foi possível.

 

Até porque o trabalho da Junta de Freguesia no âmbito da saúde mental tem vindo a ser contínuo.

Nós começamos a fazer, mais uma vez porque tentamos fazer coisas diferentes, aliás, eu digo esta frase muitas vezes «se nós queremos resultados diferentes, não podemos fazer as mesmas coisas de sempre» e, portanto, temos vindo a fazer as coisas de uma forma diferente. Por exemplo, a questão do boderline, contratámos uma peça para falar do tema e, no final, houve um debate e um workshop com técnicos especializados sobre a temática. Mas, pelo menos, é uma forma diferente de nós olharmos o problema. Nós precisamos de olhar para a saúde mental e torná-la mais simples, perceber que é uma doença como as outras, que tem que ser tratada, tem que ser acarinhada e que temos que estar atentos a ela, não podemos virar a cara. Não podemos ter estigmas. Só porque alguém tem um problema de saúde mental, não podemos considerar que essa pessoa é menos ou é mais ou é diferente. Nada disso, ela é igual a nós, exatamente igual a nós. É como a questão do bullying. Eu não posso chegar à beira do menino que praticou bullying e estar a castiga-lo, se assim posso dizer, porque fez aquilo. Não chega. Eu tenho de lhe dizer porque é que não pode, ensiná-lo. Ele tem que perceber que aquilo que está a fazer provoca algo noutra pessoa, algo mau, e que ele pode sofrer disso também. Eu tenho que apelar à consciência social, até das crianças, e quando nós conseguirmos fazer isso, o processo de aprendizagem, da parte dos mais pequenos, é muito mais rápido, muito mais sincero e muito mais interiorizado. Portanto, acho que é o que nós temos, rapidamente, de mudar.

 

Um evento que também esteve em destaque e que aconteceu recentemente foi o Piratas em Leça da Palmeira (9 e 10 julho). Quais foram as surpresas deste ano e qual o balanço?

Eles entraram-nos pelo Forte da Nossa Senhora das Neves, nós fomos todos assaltados e roubaram-nos o ouro e, portanto, foi mais um momento de grande diversão, de grande alegria e que não escolhe idades. Aquilo tanto é para o neto como é para o avô. É engraçado perceber que é um evento que traz as famílias juntas e, portanto, correu muito bem, mais uma vez, carregado de gente, o que também é ótimo, depois, para o comércio tradicional e para a restauração que está ali á volta, por isso, correu muito bem. Tínhamos, e temos, uma entrada privilegiada, o mar. Portanto, era onde havia grandes laços comerciais e grandes negociantes e, como em todo o mundo, estes locais eram propícios às visitas dos piratas, para usurpar aquilo que não era deles e, portanto, faz parte das tradições desta terra. Nós hoje vivemos dias tão cinzentos, que basta ligar a televisão para perceber que há tanta coisa má, que se nós não conseguimos criar estes momentos de diversão, de descontração, de convívio, torna-se muito mais difícil levantarmo-nos todos os dias da cama e acreditar que o mundo pode ser melhor. Por isso, acho que também é um bocadinho essa a nossa obrigação, fazer com que as pessoas se riam, se divirtam, sonhem, e libertá-las do dia-a-dia pesado que, muitas vezes, todos temos. O balanço, mais uma vez, é muito positivo.

 

Outra das apostas da União de Freguesias é a parceria com a produtora Rois de Lune e a oferta de dois cursos de artes performativas para as crianças e jovens de ambas as freguesias. Fale-nos um pouco mais sobre este projeto, como e quando vai ser posto em prática e os benefícios que acredita que tem para os mais novos?

Vai funcionar já em setembro e eu acho que é muito interessante para os jovens, na medida em que vai fazer com que eles se libertem, que saiam um bocadinho da sua zona de conforto e que experimentem coisas novas, como é o caso da colocação de voz, de saberem estar em palco, de se libertarem da sua própria timidez, da postura corporal, ou seja, fazer com que isto seja bom, depois, para dia a dia deles. Basicamente, aquilo que eu quero, é que eles ganhem estas ferramentas para, no dia que forem uma entrevista de emprego, se sintam confiantes, saibam como se sentar na cadeira, que saibam olhar para a pessoa, que saibam colocar a voz e que mostrem todo o valor que, muitas vezes, têm dentro deles, mas não conseguem transmitir isso. Voltamos, outra vez, ao que já tinha dito, fazermos diferente para termos resultados diferentes. Nada melhor do que uma companhia de teatro para poder passar este conhecimento. Se um ator, que consegue subir a um palco, estar à frente de centenas ou milhares de pessoas, e sentir-se completamente livre para criar. Se nós conseguirmos absorver um bocadinho do conhecimento dessa pessoa, desse ator ou atriz, e colocarmos esses ensinamentos no nosso dia a dia, com certeza que, quando nós formos fazer qualquer coisa, vamos fazer de uma forma muito mais confiante, muito mais assertiva e com muito melhores resultados. Portanto, é um bocadinho isso que nós queremos passar para os mais jovens. O projeto, como também já referi, terá início em setembro. Vai acontecer à sexta-feira e vai ter duas aulas, consoante as idades dos jovens, mas sendo a sexta-feira à tarde.

 

O Programa Vivências Seniores nasceu em 2011 e tem vindo a crescer ano após ano, tanto no que diz respeito à sua oferta (aulas de teatro, musicoterapia, ginástica, yoga, canto coral, artes decorativas, equitação terapêutica, etc) como no número de frequentadores. Fale-nos um pouco sobre este programa pensado para os mais velhos e as suas mais-valias para a população.

Par além da ginástica, da piscina, da pintura, da poesia, da escultura, da musicoterapia, como já disse, do yoga, já estamos a preparar a próxima temporada, o próximo ano letivo, onde vamos trazer coisas novas e que esperamos que continue a crescer. Devido à pandemia, naqueles dois anos, houve muita gente que desistiu, infelizmente. Agora, aos poucos, começam a retomar e a ganhar confiança para retomar, mas aquilo que temos visto é que temos conseguido trazer muita gente que não estava e que agora se identifica, que gosta e participa. Eu não estou muito importado se eles fazem bem natação, se fazem a ginástica bem, ou se o quadro fica bonito. Não estou preocupado com isso. Eu estou preocupado é que eles tenham um sítio onde se sintam bem, que saiam de casa, não se isolem, que continuem a alimentar o seu cérebro, a exercita-lo e a ganhar novos amigos, porque não é por sermos sérios que não podemos fazer novos amigos. Podemos e devemos fazer novos amigos. Eu convido toda a gente a visitar uma musicoterapia e quando alguém que não compreende este tipo de programas for visitar uma aula de musicoterapia, vai perceber a dinâmica, a alegria e a fraternidade que existe entre uns e outros e, portanto, vai sair dali bem contente, bem alegre, como eles saem. Eu confesso que não tenho só ido ver, mas também já participei em algumas aulas e, nos dias mais difíceis, aquilo é uma aula de libertação fabulosa, tenho aprendido muito com os nossos seniores, tenho sentido muito carinho, muito amor por parte dos nossos seniores. São pessoas fantásticas, com histórias fantásticas, portanto, é uma alegria muito grande poder proporcionar-lhes momentos como estes. Eu não sei se existe, em alguma parte do país, um projeto igual ao nosso. Nós fomos convidados, ainda há pouco tempo, pela Câmara de Lisboa e estivemos a apresentar o projeto das Vivências Seniores, e aquilo vimos é que, a forma como está organizado, tona-o único, sem par no nosso país. Há coisas isoladas, que depois não têm esta dinâmica muito boa, algumas com muito poucas atividades, com a leitura, a pintura e pouco mais. Depois há muitas a fazer os passeios do idoso, coisas que são mais pesadas, são muito esporádicas, que não tem esta consistência, e, portanto, eu acho que nós temos aqui um programa que deveria ser copiado por grande parte das Juntas de Freguesia, porque faz falta às pessoas, faz falta elas terem estes espaços. Nós não somos uma empresa para ganhar dinheiro, isto é um trabalho social que nós fazemos, mas onde as pessoas, todas, podem estar, das que tenho mais posses, às que não têm posses nenhumas, e onde podem confraternizar, são todas iguais e que se ajudam, também, um bocadinho, uns aos outros no seu dia a dia. Portanto, é um programa com uma componente social muito importante. Isto tem especificamente a ver com aquilo que é o papel de uma Junta de Freguesia e aquilo que é o papel do poder local. Se nós entendermos o papel de uma Junta de Freguesia, defendermos o poder local, a política de proximidade, o estar presentes e junto da população, é isto que é, realmente, uma política de proximidade. Isto é, realmente, a defesa do poder local, a importância do poder local. São este tipo de iniciativas que nós temos de mostrar a toda a população que nós fazemos, que fazemos bem e que fazemos em prol da população no seu todo e é para isto que é preciso uma Junta de Freguesia.

 

A Junta tem uma equipa dedicada ás Vivências Seniores ou trabalha em colaboração com associações?

Nós temos três pessoas alocadas às Vivências Seniores, três psicólogos que fazem todo o projeto e, depois, contratamos os monitores para as diversas aulas que existem.

 

Há mais algum projeto que gostasse de destacar da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira?

Dar nota de uma coisa importante. O atelier de plástico, que consiste numas máquinas que vão reciclar o plástico e onde as crianças vão ter a oportunidade de construir coisas novas com plástico que já está morto, que já não tem vida. Esse processo não vai acontecer só nas escolas, depois vamos levá-los, também, às marginais, tanto de Matosinhos como de Leça da Palmeira, com as associações ambientais que vão colaborar connosco. Comunicar que já fechámos o contrato com um fornecedor, que já estamos à espera das máquinas e, portanto, rapidamente vamos ter esse projeto nas ruas de Matosinhos e Leça da Palmeira. Quero acreditar, também, que no início do ano escolar já estará apto a percorrer as escolas. Hoje em dia deparámo-nos com um problema de materiais e cada vez é mais difícil ter os materiais para podermos fazer as obras, mas quero acreditar que até ao final de setembro vamos ter esse projeto já a funcionar. Em setembro, também, teremos outro projeto. Nós estabelecemos uma parceria com a Federação Portuguesa de Rugby, com o Leixões Sport Clube, também, onde crianças dos seus aos 12 anos, vão poder ter uma iniciação ao rugby, porque é uma modalidade que não está muito proliferada em Portugal e, então aqui, não existe mesmo, no concelho de Matosinhos, portanto, é uma coisa nova.  Mais uma vez, terá a componente social e, neste caso, a componente da escolaridade e do apoio pedagógico aos praticantes e aos atletas. É a Federação Portuguesa de Rugby que fica responsável de, nas instalações da Junta de Freguesia, fazer o apoio escolar aos meninos que estão inscritos neste programa, ajudando-os a fazer os trabalhos de casa ou a ultrapassar dificuldades que possam ter. Ou seja, nós com este projeto estamos a juntar o que é o desporto à componente escolar, mas também a um período complicado para os pais, que é aquele horário em que alguns ainda estão a trabalhar, os meninos saíram da escola e agora? Agora podem estar na Junta de Freguesia a receberem acompanhamento escolar e, depois, a fazerem prática desportiva.

 

No que diz respeito a projetos materiais, que obras da União de Freguesias gostaria de enaltecer?

As que foram terminas, já estão, já não interessam, já nem precisamos pensar muito nelas, mas há duas obras que, até ao final do ano, eu gostava de ver, pelo menos, até porque o valor é alto, o processo iniciado. Uma delas é a rampa de acesso para pessoas com mobilidade reduzida, aqui, na Junta de Freguesia de Leça da Palmeira. Nós já temos o cabimento para fazer a obra e, portanto, iremos dar início à abertura de concurso. Em segundo, as obras no cemitério nº2 de Leça da Palmeira, onde também já temos o valor cabimentado e, rapidamente, também, iremos avançar com o concurso. Acredito que não fique pronto este ano, mas o primeiro empurrão será dado ainda este ano. Se nós atendermos que o programa, era para quatro anos, que ainda não passou um ano, e já temos isto bem estruturado, desta forma, acho que nos deve deixar bem agradados. Tirando isso, são as coisas do dia a dia, que é um trabalho sem fim, numa altura muito complicada, onde tudo está, terrivelmente, mais caro. Hoje em dia é muito difícil encontrar parceiros e funcionários para trabalhar, mas temos conseguido, para já temos conseguido ultrapassar isso, bem como a manutenção das nossas escolas, é algo que vamos continuar sempre a fazer.

 

Este trabalho de manutenção das ruas, por exemplo, é um dos mais invisíveis aos olhos da população?

Completamente invisível. Mais uma vez, o trabalho de uma Junta de Freguesia é preocupar-se com a pessoa e com o problema, portanto, se a D. Maria tem um buraquinho ali à porta de casa, para nós pode não parecer um grande problema, mas para ela é, porque pode cair e magoar-se, por exemplo. Portanto, eu tenho que estar atento. Agora, aproveito para deixar, aqui, um pedido à população: deixem as redes sociais e liguem para a Junta de Freguesia. Comuniquem connosco. Nós temos meios próprios para as pessoas poderem falar connosco e nos dizerem que há um buraco ali na rua x. Há uma coisa importante que as pessoas têm de perceber: a responsabilidade da defesa do território não é minha, é de todos nós. Portanto, se a responsabilidade é de todos nós, não me custa, a mim, enquanto cidadão, rigorosamente nada, alertar as autoridades para um problema que é preciso ser resolvido. E se todos nós tivermos essa responsabilização social e a aceitarmos, de certeza de que as coisas funcionam mais rápido. Eu dou um exemplo. Eu tenho, aqui, na Junta de Leça, quatro funcionários nos serviços gerais, sendo que dois estão nas escolas, e dois estão na rua. Eles, ou estão a ver ou a fazer. Portanto, se eu não tiver ninguém a ver e se a população me disser e fizerem chegar a informação de que há este ou aquele buraco, naquela estrada ou naquele passeio, esses dois homens, em vez de estarem à procura de sítios onde é preciso concertar, vão diretamente àqueles locais e vão fazer. É isso que é importante que as pessoas percebam. Não é nas redes sociais que se trata a defesa do nosso território. Nós, de uma vez por todas, temos de perder o espírito de bom português, de só dizer mal porque fica bem, porque gera muitos likes, ou porque gera muitos comentários. Temos de perceber o que nós fizemos para fazer a diferença, no que é que nós contribuímos para que, realmente, o nosso território seja melhor.

 

Como referiu, passou pouco mais de um ano desde que assumiu a função de presidente, mas qual o balanço que faz do tempo que já se encontra à frente dos destinos da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira?

Vou-lhe responder com as experiências que tenho sentido e que foi por elas que eu me candidatei. Os relatos que os pais das colónias de férias me têm feito pessoalmente. Os relatos que os nossos seniores têm feito, a mim pessoalmente, daquilo que sentem, do que está diferente e das coisas novas que apareceram. Portanto, quando nós sentimos que, da parte da população, há, eu não digo admiração, mas a simpatia e o positivismo daquilo que está a ser feito, é uma alegria muito grande. Faz com que eu vá para casa, todos os dias, cansado, mas extremamente satisfeito com o trabalho que nós, em equipa, estamos a realizar. Claro que também ouvimos críticas, não fazemos tudo bem, mas eu costumo dizer que lido muito bem com as críticas. Eu aprendo muito com as críticas e quando alguém nos critica, é uma oportunidade que nos está a dar para melhorarmos e, portanto, é algo que nós temos que aceitar e aprender a fazer melhor. Não vou estar sempre certo, também não vou estar sempre errado, não vou fazer sempre tudo bem, nem sempre tudo mal, vou é procurar fazer sempre o melhor possível para esta terra que eu amo.

 

Qual o caminho a percorrer na União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, relativamente ao assunto da desagregação de freguesias?

Nós estamos a preparar o processo. Eu com isto não estou a dizer que sou a favor ou contra. Tenho a minha opinião, e praticamente toda a gente sabe, mas isso é a minha opinião enquanto cidadão. Enquanto político, enquanto presidente, tenho de continuar a olhar, até ao final do meu mandato, para a igualdade deste território, e é isso que vou fazer. Mas tenho que preparar um processo para que, depois, a vontade da população, expressa na Assembleia de Freguesia, defina aquilo que será o futuro da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira. Temos o processo praticamente todo pronto, em termos burocráticos. Vamos auscultar a população, em dois momentos, um em Matosinhos, outro em Leça, no início de setembro. Será uma sessão aberta a toda a população, onde todos vão poder expressar a sua vontade e a sua forma de ver este problema, e, depois, teremos a Assembleia de Freguesia para decidir se sim, ou se não, se mantemos Matosinhos e Leça juntos, ou se separamos.

 

Quais os sonhos e objetivos que tem para as freguesias que lidera?

No dia em que eu sair, que será quando for, se Matosinhos e Leça da Palmeira estiverem um bocadinho melhor do que no dia que eu entrei, eu já fico satisfeito e acho que fiz a minha parte. Eu vim para aqui para trabalhar, para fazer com que tenhamos mais condições, mais ferramentas, que tenhamos um território mais equilibrado. Acho que temos conseguido fazer isso. Se vamos conseguir manter isso? Fazer, muitas vezes, é fácil, manter é muito mais complicado. É nisso que nós, agora, temos de trabalhar. Neste primeiro ano nós conseguimos fazer muito bem esta parte do inovar, do fazer diferente. Agora, temos que trabalhar muito para manter esta diferença, esta dinâmica. Precisamos da ajuda de todos, precisamos que a população também se envolva na tal defesa do seu território. Se nós conseguirmos ter isso, tenho a certeza que vamos ter, cada vez mais, uma Junta de Freguesia mais dinâmica, mais forte, mais contributiva, mais solidária, também. Portanto, estou muito esperançado que as coisas corram bem e, se no final, conseguimos isso, tenho a certeza que vamos estar um bocadinho melhor e isso vai fazer com que o meu sonho esteja realizado.

 

Que mensagem gostaria de deixar à população?

É muito simples e eu acho que já deixei, aqui, muitas mensagens, mas, nesta altura, a mensagem é mesmo esta: envolvam-se, defendam o território, mas façam-no em conjunto connosco. Façam-nos chegar as vossas vontades, as vossas críticas, mas façam-nos também chegar aquilo que está a ser bem feito, até que nós percebemos, mas que se envolvam na defesa deste território. Eu costumo dizer que Matosinhos e Leça da Palmeira é diferente de tudo. Temos um território fabuloso, temos duas freguesias, nesta União, completamente singulares, onde tudo acontece, onde está sempre a acontecer alguma coisa, seja nas praias, seja no desporto, seja na cultura, seja onde for. Temos uma comunidade muito rica, em diversas áreas, mas nós temos que perceber que precisamos de continuar a defender a nossa identidade, a nossa terra, e isso é responsabilidade de todos nós. Ajudem-me, também, a fazer isso porque, se cada um fizer um bocadinho desse trabalho, tudo será muito mais fácil e tudo estará muito melhor.