“SER LÍRIO É UMA QUESTÃO DE ATITUDE”

Fundado, em 2014, por Odete Costa, o Movimento Lírio Azul (MLA) é desenvolvido por mulheres e tem a solidariedade, equidade, empreendedorismo e liderança como pilares fundamentais. Gratuito e aberto a todas as interessadas que se identifiquem com esta ação, este movimento cívico serve de ponte entre quem mais precisa e quem pode ajudar. Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, a fundadora revelou as razões que a levaram a nomear Joaquim Ferreira Leite, diretor deste órgão de comunicação, e Luís Garcia, presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, padrinho e embaixador MLA, respetivamente. Não escondendo a sua ânsia de que o MLA fique na história “por ser conseguido provar que é possível fazer a diferença na vida de muitas pessoas”, Odete Costa assegurou que esta é uma causa que abraçou com o coração e na qual trabalha todos os dias, em prol da valorização da mulher.

Para quem não a conhece, quem é Odete Costa?

Nasci em Paris, mas fui para o Canadá com apenas 8 meses de idade. Fui criada em Toronto, na parte inglesa, onde cresci, estudei até ao 11º ano de escolaridade e fiz toda a minha caminhada na catequese. Em meados dos anos 80, vim viver para Portugal. Sou casada, mãe de três filhos e licenciada em História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), para além de ter formação noutras áreas, como é o caso de inglês, pelo Instituto Britânico de Cambridge. Atualmente, desempenho o cargo de Coordenadora Nacional da Luta Contra a Pobreza e Exclusão Social na Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida”, de Embaixadora da Paz na Women’s Federation for World Peace (WFWP) Portugal, de presidente e cofundadora da Patripove – Associação de Defesa e Consolidação do Património Poveiro e de presidente do Clube Taurino e Equestre Povoense (CTEP). Também sou membro do Conselho Consultivo da Associação Portuguesa de Criminologia (APC), onde exerço a função de coordenadora-geral do projeto JR – Justiça Restaurativa, além de mentora e coordenadora-geral dos projetos “No Blah Blah”, “Raios de Sol” e “Amor Maior”.  Paralelamente, sou madrinha e/ou embaixadora de várias associações e campanhas solidárias em Portugal e nos países lusófonos. Por outro lado, também já recebi inúmeras distinções como “Voluntariado e Solidariedade – Apoio a Crianças e Famílias Carenciadas” pela Associação Pró-maior Segurança dos Homens do Mar, “Mulher Inspiradora” pela Revista Mulher Africana, “Liderança através do serviço aos outros” pela Glow Woman Club, “Mulher Inspiração” pela Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida”, “Excelência na Defesa da Paz e Justiça Social” pela Unión Hispanomundial de Escritores – UHE.

Qual é a história da fundação do Movimento Lírio Azul? Qual é a missão e os seus principais objetivos?

O Movimento Lírio Azul (MLA), surgiu em 2014, no concelho da Póvoa de Varzim. Na ocasião, eu fui desafiada a criar um projeto inovador para as mulheres, onde a componente solidária e o empreendedorismo teriam um grande destaque. Como eu já era uma figura bastante conhecida, e tida como tendo capacidade mobilizadora, várias mulheres disseram que eu tinha perfil para liderar um projeto deste tipo. Inicialmente, foi pensado que faria sentido ser uma associação, mas eu sempre considerei que o melhor seria fundar um movimento cívico. Sempre foi a minha intenção criar algo muito abrangente, aberto a todas as mulheres e que não teria custos fixos, de modo a nunca depender de subsídios, ajudas monetárias ou apoios políticos, económicos ou religiosos de qualquer espécie. Queria que o projeto fosse o rosto de todas, independentemente da sua ideologia, etnia, religião, profissão, estrutura familiar, idade ou experiência de vida. Queria que fosse um espaço ou conceito onde todas assumiam, com naturalidade e liberdade quem são e aquilo em que acreditam, sem receio de crítica. Para que isso fosse possível, foi necessário entender que a adesão ao MLA teria de ser gratuita e assente no voluntariado, pelo que qualquer mulher podia ser “Lírio” (membro), desde que se identificasse com os valores e os quatro pilares fundacionais do nosso movimento cívico, nomeadamente a solidariedade, equidade, empreendedorismo e liderança, ou seja, ser Lírio é uma questão de atitude, é ser uma mulher bem resolvida que quer acrescentar, de forma positiva, à sua vida e à vida dos outros. O Movimento Lírio Azul nasce como uma organização, que serve de “ponte” entre quem mais precisa e quem melhor pode ajudar. Outro objetivo muito importante no MLA é reconhecer, publicamente, algumas mulheres. Ao longo de todo o ano, homenageamos mulheres que se destacaram nas mais diversas formas, seja na comunidade, na profissão, no associativismo, nas artes, em termos académicos, na área da investigação.

Trata-se de um movimento cívico independente, gerido e promovido por mulheres, mas que é aberto a todos. Quantas pessoas o integram?

O MLA ultrapassou todas as expectativas. Logo no primeiro dia da sua apresentação, em 2014, apareceram mais de 100 mulheres que queriam conhecer o projeto proposto. Foi um sucesso imediato e superou todas as expectativas. Hoje, passados quase dez anos, o Movimento Lírio Azul já tem representação formal “Lírio” (Núcleos), em mais de 40 concelhos de Portugal e além-fronteiras, com grande destaque para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Temos importantes parcerias estabelecidas e conquistamos o apoio e o reconhecimento de importantes entidades, organizações, empresas e personalidades. O nosso movimento cívico tem como subtítulo “valor no feminino”. Foram as mulheres que fundaram e são elas que gerem e promovem o MLA, mas os homens também fazem parte, desde o primeiro dia e são convidados a participar nas nossas iniciativas, porque acreditamos que só juntos somos mais fortes e capazes de construir um mundo mais justo e melhor. Também convidamos os homens para terem um papel muito especial no Movimento Lírio Azul, nomeadamente enquanto padrinhos ou embaixadores. Este convite honorifico é feito a homens da sociedade civil, que consideramos especiais e merecedores desta distinção. Todos os anos convidados um padrinho novo para ser juntar à lista dos notáveis que têm como principal função dar a conhecer o MLA. Uma vez nomeado padrinho, padrinho para sempre. Para além desta importante figura, também temos a de embaixador MLA, que tem a função de ajudar a fazer crescer o movimento em determinadas áreas, como por exemplo empreendedorismo, jornalismo, solidariedade, saúde, regiões e tradições de Portugal.

Aquando da participação do Movimento Lírio Azul no Almoço de Primavera, promovido pelo Jornal AUDIÊNCIA, o diretor deste órgão de comunicação foi convidado para ser padrinho e o orador Luís Garcia, presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, para ser embaixador desta instituição. Como surgiu a ideia? Qual é a relevância de ter estas personalidades associadas a esta causa?

A partir de dezembro de 2023, o MLA pretende dar um grande destaque à Região Autónoma dos Açores e, no ano seguinte, será a Região Autónoma da Madeira. Assim sendo, e pelo grande destaque que pretendemos dar ao arquipélago açoriano, acreditamos que fazia todo o sentido que fosse nomeado para padrinho MLA o diretor do Jornal AUDIÊNCIA, Joaquim Ferreira Leite, por “dar voz a quem não a tem”. Neste seguimento, o presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Luís Garcia, foi designado embaixador MLA, por liderar o principal órgão da autonomia, onde está representada a vontade de todos os açorianos. Por conseguinte, também vamos convidar a nossa estimada e talentosa Lírio-mor Manuela Bulcão, que faz parte do Movimento Lírio Azul praticamente desde a nossa fundação, para colaborar diretamente connosco nos Açores, porque sendo ela uma conceituada poetisa e escritora açoriana, embora resida no continente há muitos anos, será certamente uma preciosa ajuda na criação de Núcleos MLA nas diversas ilhas.

Qual é o impacto o MLA que tem na sociedade?

Temos feito a diferença na vida de muitas mulheres, famílias e instituições. De forma independente, abnegada e empenhada, o MLA tem conquistado o reconhecimento de muitas reputadas e idóneas entidades. Estou muito grata.

A luta contra a pobreza e exclusão social, o apoio à família e networking são algumas das bandeiras do Movimento Lírio Azul. Que projetos e ações estão a desenvolver neste sentido?

A mulher, assim como a criança e a família, são as prioridades no MLA. Nas mais diversas áreas e formas, procuramos contribuir para a construção de um mundo mais justo e melhor. Alguns projetos são de longa duração, em permanência, enquanto outros são pontuais. O projeto “Miúdos que Salvam” tem como objetivo transmitir conhecimento às crianças e adolescentes, sobre os primeiros socorros, de forma que possam identificar e socorrer as pessoas em caso de emergência, consigam fazer o reconhecimento da paragem cardíaca e saibam como atuar no caso de engasgamento ou fazer a massagem cardíaca. Este projeto tem como promotores e parceiros o Movimento Lírio Azul, a Junta de Freguesia de Vila do Conde, a Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida” e a Associação Portuguesa de Criminologia. Por outro lado, o “No Blah Blah” é um fórum empresarial e de networking, que é realizado em parceria com a Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), cuja primeira edição decorreu em Paços de Ferreira e foi um sucesso, pelo que pretendemos, este ano, dividir a segunda edição em duas partes, sendo que uma se realizaria na região Norte e a outra em Lisboa. Também, em fevereiro deste ano, eu tomei posse como madrinha de uma importante IPSS de apoio ao idoso da freguesia de Malta, em Vila do Conde, a SANCRIS – Associação de Solidariedade Santa Cristina de Malta, que precisa de muita ajuda para acabar de mobilar, equipar e construir o jardim e o MLA vai fazer os possíveis para divulgar e angariar apoios para esta importante obra social, sensibilizando a comunidade para ajudar.

Quais são as suas perspetivas para o futuro do Movimento Lírio Azul?

Queremos continuar a crescer e a consolidar a nossa organização em Portugal e além-fronteiras. 2024 será um marco importante para o nosso movimento cívico, uma vez que celebramos dez anos de trabalho, conquistas, alegrias e muita emoção. Também, estamos a preparar algumas mudanças na estrutura e funcionamento interno.

Quais são os seus maiores sonhos?

Os meus sonhos, no que diz respeito ao Movimento Lírio Azul, são muito simples, gostaria de continuar a crescer e a consolidar o trabalho já realizado. Gostaria que o MLA ficasse na história por ter conseguido provar que é possível fazer a diferença na vida de muitas pessoas, sem haver a necessidade de ficarmos reféns de lobbies ou amarras de qualquer espécie. Gostaria que o MLA fosse reconhecido e recordado por ter sido um projeto pensado na mulher e as suas circunstâncias e que o MLA fosse um exemplo de força, união e compromisso. Também, anseio que o Movimento Lírio Azul seja capaz de incutir nas mulheres uma mensagem muito simples, mas de grande importância: só deve deixar ficar na sua vida o que faz bem e acrescenta.