“TEMOS DE SER INTRANSIGENTES NA DEFESA DA IGUALDADE DE DIREITOS”

A União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira voltou a comemorar o Dia Internacional da Mulher, assinalado a 8 de março, com um programa recheado de atividades. Cumprindo a tradição, o executivo visitou o Mercado matosinhense e, de seguida, iria acompanhar a caminhada leceira, que não se realizou fruto das condições climatéricas, porém os seus participantes realizaram um aquecimento físico com o Centro de Marcha e Corrida da autarquia e uma aula de dança com a Escola Attitude. As celebrações encerraram na Saber é Fácil – Formação e Conhecimento Partilhado, onde a edilidade se associou a uma tertúlia, com o mote “Mulher vs Violência”, que recordou o longo caminho percorrido na conquista de direitos e oportunidades e culminou com a inauguração dos gabinetes de Mediação de Conflitos e Ser + Livre.

 

O Dia Internacional da Mulher, assinalado a 8 de março, foi celebrado pela Junta de Freguesia de Matosinhos e Leça da Palmeira com um programa recheado de atividades, abertas à população.

Durante a manhã, o presidente da autarquia, Paulo Ramos Carvalho, voltou a cumprir a tradição e visitou o Mercado de Matosinhos, acompanhado dos membros do executivo Paulo Ferreira, Fernando Monteiro e Eduardo Ferreira, com o intuito de cumprimentar todas as mulheres que trabalham neste local emblemático e entregar flores, como símbolo e reconhecimento do valor e do papel que têm na nossa sociedade.

Já em Leça da Palmeira, apesar das condições climatéricas terem impedido a realização da habitual caminhada, a animação não faltou e os participantes fizeram um aquecimento, promovido pelo Centro de Marcha e Corrida da autarquia, assim como uma aula de dança, protagonizada pela Escola Attitude.

Por outro lado, à tarde, a União de Freguesias associou-se à Saber é Fácil – Formação e Conhecimento Partilhado, em Matosinhos, e promoveu a tertúlia intitulada “Mulher vs Violência”, que foi moderada por Fernanda Curbage e contou com a participação de Paulo Ramos Carvalho, Manuela Machado e José Pinto, da Delegação de Matosinhos da Cruz Vermelha Portuguesa, e de Lyudmyla Artysh, da Associação dos Ucranianos em Portugal.

Evocando a importância da mulher e o longo caminho percorrido na conquista dos seus direitos e oportunidades, esta sessão também teve como principais temas a violência doméstica, assim como o impacto da guerra na Ucrânia, nas mulheres deste país. “Este é um momento importante pois vemos reconhecido o trabalho que realizamos, desde 2012, por parte da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, em especial pelo convite, porque a iniciativa foi do presidente da Junta, Paulo Carvalho, que nos acolheu e decidiu festejar esta data com a Saber é Fácil. Acho que os formandos e as formandas desta casa merecem”, salientou Vera Sampaio, diretora da Saber é Fácil – Formação e Conhecimento Partilhado, sublinhando, em exclusivo ao AUDIÊNCIA, que “esta data deve ser lembrada todos os dias, porque ser mulher é ser resiliente, pelo que faz todo o sentido”.

Com o mote “Mulher vs Violência”, a tertúlia foi moderada por Fernanda Curbage, que questionou o painel sobre “O que é a mulher? O que é a inclusão da mulher na nossa sociedade? O que é o justo?”, com o objetivo de “promover uma troca, no sentido comunitário, celebrar a coragem, a contenda e a resiliência de todas as mulheres que lutaram, lutam e continuarão a lutar, em prol da igualdade, de um mundo mais justo e inclusivo”.

Por conseguinte, as intervenções foram inauguradas por Paulo Ramos Carvalho, que fez questão de ressaltar que “o homem e a mulher são seres diferentes, que têm de ser entendidos como tal, mas de ser tratados da mesma forma, pois a equidade é muito importante”, enfatizando que “é precisamente, hoje, que nós temos de falar dos problemas, de os abordar de frente e de continuar a lutar, para que estas diferenças se dissolvam”.

Afiançando a importância da denúncia daquilo que é um crime público, o edil assegurou que “nós temos de ter a obrigação de defendermos aqueles que estão ao nosso lado e que fazem parte da nossa comunidade. Se nós queremos um território mais justo, mais humano, mais próximo, também temos de ser nós a dar esse primeiro passo”, garantindo que “se há coisa em que nós temos de ser intransigentes é na defesa da igualdade de direitos, de oportunidades, de tratamento e de respeito, que são valores que têm de estar na nossa sociedade e não podemos permitir, sequer, que alguém os ponha em causa”.

O presidente da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira também fez questão de explanar as consequências da guerra na Ucrânia, afirmando que “nós podemos ter muita solidariedade para com este povo, mas não conseguimos perceber bem a dimensão do que é o sofrimento, neste caso, das mulheres, que partiram do seu território e deixaram as suas casas, os seus maridos, alguns familiares, ou seja, uma vida toda para trás e tiveram de sair”.

Também Manuela Machado, presidente da Delegação de Matosinhos da Cruz Vermelha, interveio, aproveitando a ocasião para evocar os obstáculos que teve de ultrapassar, enquanto mulher, ao longo do seu percurso na medicina e pedopsiquiatria, salientando que “temos de celebrar o Dia da Mulher, porque ainda não conquistamos tudo, ainda há muito para conquistar. (…) O percurso que percorremos até agora, ainda não está terminado, pelo que, hoje, temos de lutar pelos nossos poderes, por aquilo que queremos e por aquilo que sonhamos”.

Por outro lado, José Pinto, psicólogo e supervisor na área da violência doméstica, na Delegação de Matosinhos da Cruz Vermelha, mencionou que “a resposta à questão: o que é a mulher? Depende do sítio e da cultura onde estamos inseridos”, reforçando que “efetivamente, todos nós temos de encontrar, aqui, uma maneira de igualar o que tem de ser igualado e não ambicionar misturar tudo no mesmo saco, porque isso traz consequências graves, pois nós queremos ser muito iguais, mas não é possível e, por isso, é que existem, no país todo, 40 Casas Abrigo, sendo que algumas delas são específicas para determinados tipos de situações e não são só para mulheres, algumas são para homens, outras para a população LGBTQI+, para vítimas que são portadoras de doença psiquiátrica, e por aí fora, todas elas com a sua especificidade, porque temos sempre de ter em consideração essa necessidade”.

Já, Lyudmyla Artysh, representante da Associação dos Ucranianos em Portugal, asseverou que “a única coisa que as mulheres querem é respeito, porque a liberdade de escolha é igual para todos, seja homem ou mulher”, falando, de olhos postos na Ucrânia, noutro tipo de violência, “que não tem nada a ver com a doméstica e que é inimaginável. Isto é difícil de compreender. Não há explicação. Já estão registados mais de 170 casos de violação e entre estes há homens e crianças, não é só mulheres, porque quando falamos de violência, é para todos”.

Enaltecendo o papel importante que as mulheres ucranianas têm desempenhado em tempo de guerra e conflito, Lyudmyla Artysh realçou que “dignidade e liberdade, são os valores pelos quais está a lutar, agora, a Ucrânia”.

Este evento culminou com a inauguração de dois gabinetes, nomeadamente, de Mediação de Conflitos e Ser + Livre. “Enquanto celebramos o Dia Internacional da Mulher, inauguramos o gabinete de apoio à vítima, o Ser + Livre, em parceria com a doutora Maria Trindade Vale e com a ADICE e, ao mesmo tempo, o nosso Gabinete de Mediação de Conflitos, que é Sampaio Curbage, e acho que marca o início de uma mudança e o facto de termos o doutor Paulo Carvalho, como parceiro e como padrinho, como diz a frase: «permitiu-nos ser»”, evidenciou Vera Sampaio, ao AUDIÊNCIA.

Neste seguimento, Maria Trindade Vale, presidente da Direção da ADICE, frisou que “nós temos de alocar os recursos onde eles sejam precisos, daí nós criarmos este projeto, que é o Ser + Livre. A Vera cedeu as instalações e eu trago os recursos humanos e tentaremos, aqui, ajudar as pessoas a terem dignidade e é para isso que nós trabalhamos, para que todos sejamos mais dignos da vida que merecemos”.

Por seu turno, Fernanda Curbage explicou, em exclusivo a este órgão de comunicação, que “no Gabinete de Mediação de Conflitos, o que nós propomos é um espaço para as pessoas virem e procurarem uma resolução da violência. Neste âmbito, nós sugerimos uma mesa aberta, onde as pessoas vêm e nós tentamos promover, através de dinâmicas técnicas, outras soluções, que tragam uma resolução satisfatória para quem nos procura”.

Radiante com a abertura destas duas novas valências na União de Freguesias, Paulo Ramos Carvalho destacou, ao AUDIÊNCIA, que “estes dois gabinetes são fundamentais para o nosso território, nomeadamente o da mediação e o de apoio à vítima com sinalização, e constituem mais uma prova de que nós, em conjunto com as associações e as escolas, conseguimos trabalhar em rede, criar parcerias e fazer projetos que são bons para toda a comunidade. Muito mais importante do que quem descerra a placa, é termos a porta aberta e podermos oferecer isto à nossa população. Portanto, hoje, é um dia extremamente feliz”.