Entrevista a Davide Camboia, presidente do Clube Desportivo Vera Cruz, no âmbito da vitória no primeiro jogo da equipa.
Davide, em primeiro lugar, porquê “Vera Cruz”?
Vera Cruz por uma simples razão: Fenais da Ajuda, em outros tempos, foi denominado por Fenais da Vera Cruz. Vera do latim, “Verdadeira”, “Verdadeira Cruz”, feita pela natureza, sem intervenção do homem. Tudo isto porque a ponta dos Fenais da Ajuda é a ponta mais a norte da ilha, e a forma geográfica da Freguesia com os braços que se estendem até à Maia e Achada tem a forma de uma cruz.
Como surgiu a ideia de criar este clube e ser o seu presidente?
Acho que ter um clube é uma ambição da freguesia há muito tempo. Não havia condições, mas felizmente para nós a Câmara aderiu ao construir este pavilhão. E tendo em conta que eu já não tinha nenhum cargo a desempenhar, é uma forma de ter o tempo ocupado e dar o contributo para a freguesia.
Como vai sobreviver o clube?
Nesta fase inicial, vai sobreviver dos sócios. Quero deixar já aqui uma palavra de apreço aos sócios, que têm aderido com facilidade e com gosto. Hoje ultrapassámos o número 100 de sócios com quotas pagas, o que nos irá dar um fluxo financeiro para esta fase inicial. Também temos de agradecer aos investidores privados, nomeadamente às Lojas Boavista, Pedro Correia, Pedro Gonzaga da Maia, temos também juntas de freguesia (Fenais da Ajuda, Lomba de São Pedro, Ribeira Seca), que têm colaborado na aquisição de equipamento, bem como o Café Fixoides, o Café Alexandre e, claro, a Câmara Municipal da Ribeira Grande. Ou seja, atualmente, tirando algumas despesas que temos, tem havido lucro. A partir daqui, acho que nos conseguimos manter até aos primeiros subsídios, que penso que só irão surgir em fevereiro/março, que são os governamentais e municipais, mas penso que são subsídios que irão vir para preparar a próxima época e não esta.
Uma vez que conseguirá manter-se financeiramente até receber os primeiros apoios, o clube depara-se com mais alguma dificuldade que pode considerar relevante?
Como deve saber, nestas instituições as dificuldades surgem a cada passo dado. Sabemos que a Câmara Municipal da Ribeira Grande foi o principal impulsionador deste projeto, e um dos grandes patrocinadores, ao financiar todas as inscrições do Clube, e a quem devemos um agradecimento especial. No entanto, está em falta a construção dos balneários, que servirão de apoio à prática de desporto no pavilhão já existente. Sendo que, e após reunião com a Junta de Freguesia, fomos informados de que estavam a trabalhar em conjunto com a Câmara, para que se possa elaborar um projeto que venha a dignificar o espaço e consequentemente o Clube. Deste modo, pedimos a compreensão das equipas que nos visitam, uma vez que os balneários existentes distam do pavilhão cerca de 150m. Não esquecendo a compreensão do Conselho de Arbitragem, na pessoa do Sr. Luís Silva pelo facto de ter tido a compreensão necessária para a realização dos jogos neste pavilhão. A outra grande dificuldade prende-se com o transporte dos atletas que nesta fase está a ser efetuado pelos dirigentes, causando alguns constrangimentos, pois com jogos a realizarem-se ao sábado, dia em que quase todos trabalham, terá de haver uma grande disponibilidade.
Mas não existem instituições na freguesia que possam ajudar a colmatar essa dificuldade?
As únicas instituições que poderiam colaborar seriam a Junta de Freguesia e a Casa do Povo. Quanto à Junta de Freguesia, tenho conhecimento de que existe em curso uma candidatura a uma carrinha para solucionar esta dificuldade. No entanto, sabemos que estes processos nem sempre têm a celeridade desejada, o que leva a que relativamente a este assunto não nos possam ajudar. No que diz respeito à Casa do Povo, julgávamos ser a nossa tábua de salvação, visto que é detentora de uma viatura de nove lugares. No entanto, após ter sido efetuado o pedido de colaboração, obtivemos uma resposta dada pelo Sr. Presidente da Assembleia Geral, que me leva a concluir que não há abertura para colaborar com o Clube.
Mas sendo a Casa do Povo uma IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) não deveria zelar pelo bem-estar do seu povo e apoiá-lo?
Eu entendo que sim, mas infelizmente esta não é uma opinião transversal aos valores dos dirigentes da Casa do Povo. Aliás, existem alguns conceitos no que diz respeito à Casa do Povo, com os quais eu discordo totalmente, e penso que mais de 90% da população dos Fenais da Ajuda vai ao encontro da minha linha de pensamento. Infelizmente esta IPSS encontra-se fechada sobre si mesma, sendo os beneficiários da sua ação cerca de meia centena de indivíduos. O que por si só revela muito. O plano de ação de uma Casa do Povo deveria no meu entender, procurar colmatar as necessidades da população e estimular as suas potencialidades, o que não acontece.
Neste momento esta instituição baseia-se num edifício cheio de condições, mas que estão completamente desaproveitadas. Parece estar parada no tempo. Ou pior, porque em outros tempos era um espaço com bastante atividade dirigida às mais variadas faixas etárias.
Sendo uma IPSS certamente terá sócios. Como é que estes reagem?
É uma boa pergunta. Os sócios existem. Eu sou sócio e posso dar o meu testemunho. Já tive a minha quota em dia durante vários anos e nunca recebi nenhuma convocatória para uma reunião da Assembleia Geral. Dei-me ao trabalho de verificar todos os dias, durante os meses de Novembro e Dezembro, se no quadro de editais havia a convocatória para apresentação do Plano de Atividades, a mesma coisa nos meses de fevereiro, março e abril, para a convocatória de Prestação de Contas. Nada encontrei afixado. Eu e outros sócios, com quota atualizada, já solicitámos oficiosamente os estatutos, bem como a lista de sócios efetivos da instituição e não é que para nosso espanto, quase que fomos considerados pessoas inidóneas. E após vários anos a propor sócios à instituição, esse direito foi-nos sempre negado, alegando que as fichas de inscrição de sócios se encontravam em construção. Este assunto reporta ao ano 2009. Se paguei quotas durante vários anos deveria ter usufruído dos meus direitos enquanto sócio efetivo, a não ser que tenha sido excluído e nem sequer tenha tido conhecimento. Não é intenção de ninguém apoderar-se do quer que seja, mas sim podermos dar o nosso contributo para que seja prestado um melhor serviço a uma comunidade que bastante precisa, o que com a atual direção não acontece.
Por outro lado, durante o jogo viu-se um grande apoio da comunidade para com a equipa. Qual a importância desse apoio?
É muito importante. Qualquer atleta que esteja no campo e sinta o apoio da comunidade, acho que é muito importante, pois dá-lhe outra força e vontade de jogar. Isso tem sido bonito, e nos próprios treinos a comunidade tem aderido, e eu estava mesmo à espera que isso acontecesse.