TRÁS-OS-MONTES: VINHOS, GASTRONOMIA E PESSOAS DE IDENTIDADE PRÓPRIA

O acordar tarde, mas mais vale acordar do que nunca e acordar com calma e sem pressas.

Sim em questão de vinhos a região de Trás-os-Montes foi a par da dos Açores as últimas a acordar para o novo mercado dos vinhos, devido a vários factores. A CVR muito recentemente fala sobre a falta de autoestradas para aproximar os produtores dos grandes mercados e a não existência de produtores de grandes dimensões e com história de antepassados.

A maioria era e ainda continuam a ser micros produtores. Poucos deles possuem mais de meias dúzia de Hectares de vinha, espalhados por várias parcelas muitas das vezes bastantes distantes umas das outras e esses mesmos produtores dependem quase na totalidade de cooperativas ou centros de recolha de grandes empresas, pois não conseguem ser independentes no mercado actual. Estando sozinhos é complicado com a ausência de grandes marcas produtoras e eles preferem ter produções certas.

Trás-os-Montes vinhos ou CVR muito pouco tem a ver com a província de Trás-os-Montes. A região demarcada do Douro está na sua maioria situada na província de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A CVR Trás-os-Montes é muito recente, sendo dos finais do seculo passado. Por ser tão recente é que só em 2006 se começaram a certificar D.O.C., quando outras zonas de Portugal já o faziam há décadas e décadas. Existem três sub-regiões de vinhos D.O. bem distintas entre elas e de fácil identificação e longínquas umas das outras, são elas DOC Chaves, DOC Valpaços, DOC planalto mirandês.

A grande singularidade entre elas é a altitude a frescura e as grandes amplitudes térmicas. Invernos muito rigorosos e gelados na maior parte do tempo com temperaturas negativas e verões muito quente com temperaturas a conseguirem atingir 40ºc, e mesmo durante o verão a diferença de temperatura entre a noite e o dia são abismais.

A região de Valpaços é a que mais produtores de renome e quantidades dos mesmos têm.

A do planalto mirandês é das que mais tem crescido e que mais tem para crescer, e para marcar a sua identidade e singularidade, principalmente pelos seus brancos frescos, minerais e graníticos. É a que melhor se adapta para elaborar vinhos biológicos, o que facilita o viticultor, pois a zona é bastante seca, com altitude acima dos 600mts, e de fortes influências de vento do norte, com algumas rajadas fortes e que dificulta a reprodução dos fungos míldio e oídio. O mais adverso nesta zona com os ventos de norte é a quantidade de varas verdes que se partem com o vento e as fortes geadas de finais de Abril e início de Maio e que queima as videiras logo a seguir ao abrolhamento.

É uma zona em que as microproduções são quase na totalidade dependentes de duas empresas (cooperativa Ribadouro Sendim), e, (centro de recolha da Sogrape em Bemposta).

Agora recentemente começaram a aparecer alguns produtores engarrafadores e que mais apareçam.

A riqueza de vinhas velhas que lá existem, muitas delas centenárias é enorme, e de castas autóctones.

Os pequenos produtores ainda nem sempre pensam em qualidade, mas sim em quantidade e grau.

Tenho a esperança e espero bem que muito em breve venha a ser uma das zonas que mais irá dar cartas no que toca a vinhos brancos.

Tem tudo para isso e assim o espero, e que possa usufruir deles.