UM AMOR DO PASSADO AINDA NÃO ESQUECIDO

A tentativa de um crime de homicídio premeditado por vingança de um acontecimento ocorrido no passado, tendo por base uma disputa amorosa, é o mote de mais um conto do nosso concurso “Um Caso Policial em Gaia”. O seu autor é um participante habitual nas iniciativas que temos levado a efeito nos últimos anos, distinguido por diversas vezes pela sua performance tanto na decifração como na produção de ficção policiária, tendo conquistado muito recentemente a “Taça Zé”, correspondente ao 3º. lugar do Torneio “Solução à Vista!” – 2019-2020. O seu nome é um dos mais conhecidos do mundo policiário nacional com residência no distrito de Santarém, região que tem sido alforge de um lote considerável de grandes policiaristas, de que se destacam, entre outros, os nomes de M. Constantino, Inspetor Aranha ou Detetive Jeremias. Vamos então ao seu conto:

 

CONCURSO “UM CASO POLICIAL EM GAIA”       

Conto nº. 5    

“Vingança Frustrada”, de Inspetor Moscardo

O dia nasceu claro em Gaia. Silva compôs o casaco e saiu para fazer a habitual caminhada até ao Parque da Lavandeira. Enquanto andava, refletia nas ameaças recebidas no smart, remetidas de números confidenciais. Quem seria? Pensava que a sua conduta primava por exemplar. Julgava também que todos o respeitavam e que a sua postura e maneira de estar era aceitável. Contudo, os agoirentos prenúncios aí estavam. Participara o caso à polícia e o perspicaz agente Gazua estava a tratar do assunto com a sua equipa especializada. Tirou da cabeça as ideias turvas e substitui-as por pensamentos escorreitos e positivos.

Regressou a casa, tomou um duche e foi até ao no bar oxigenar as ideias com um cimbalino. Ligou à sua amiga Maria, que ficara de o visitar, e segundo o combinado devia estar a sair de Lisboa. Assim que pegou no telemóvel, viu que recebera uma mensagem. Dizia: “O carro avariou. Depois de o rebocarem, vou apanhar o comboio. Espera-me na estação das Devesas”.

Não dizia a hora, talvez ainda não soubesse os horários. Na rua em frente, no passeio do outro lado da via, passava um indivíduo de má aparência. Era o funesto e mal-afamado Maçarico.

Silva em tempos apaixonara-se pela namorada dele e conseguira arrebatá-la. Na altura, de cabeça quente, trocaram ameaças.

Os anos passados e o tempo em si mesmo, arrumaram o assunto. Vivera com ela alguns tempos felizes.

A presença de uma figura detestável poderia reavivar feridas já saradas.

Luísa, ex-colega de trabalho, entrou no café, bela, encantadora. Contou-lhe que depois de terem prescindindo dos seus serviços, de uma maneira brusca e inusitada, a sorte sorrira-lhe. Trabalhava a partir de casa, pela net, numa firma de design comercial.

Contou-lhe do seu casamento com um engenheiro informático. Do nascimento de um menino e uma menina, e das peripécias de umas viagens que tinha feito. Despediu-se, com um tchau, e uma outra expressão chic, que ele não entendeu. Começou a pensar, onde iria almoçar e telefonou a Maria, a fim de saber a hora da sua chegada.

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Maçarico, estava impaciente. Um traficante do submundo, ficara de lhe arranjar uma arma e munições. Soubera que Silva residia em Gaia há uns anos. Nos seus tempos de estudantes, ele tinha-lhe roubado a namorada. Atirara-o para a tormenta da depressão. Para a ditadura do copo. A vontade de se vingar aparecia-lhe no cérebro, como luz de néon num anúncio. Acabado de chegar, estaria por ali o tempo necessário, a conseguir uma oportunidade para uma espera, num sítio do itinerário.

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Silva admirou-se da presença do ominoso Maçarico, mas desconhecia as suas intenções nefastas. Soube da hora da chegada de Maria e deslocou-se para o bar, onde a iria esperar. Chegou instantes depois, bonita e suavemente perfumada. Beijaram-se com afeto.

Maria disse-lhe que o financiamento para criação do próprio emprego tinha sido aprovado. Poderiam procurar o edifício ideal para instalar a livraria e cibercafé.

Sentiu-se bem ao ouvir a notícia. A aspiração comum, que surgiu quando as suas vidas se cruzaram sem pedir licença, e os emparceiraram sem cerimónia.

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No sítio combinado, Maçarico recebeu a arma. Aproximava-se a hora. Escolhera o local para fazer a emboscada. Avistou Silva, que caminhava concentrado. Carregou a arma, apontou. Tinha-o debaixo da mira.

─ É agora! Vais pagá-las! Fogo!

Uma, duas vezes. Ficou continuamente a dar ao gatilho.

─ Mas qu’é isto?

A bala não deflagrou, a arma tinha encravado.

─ Cum caraças! Cum camandro! Cum escafandro! – Desabafou irado.

Logo a seguir, ouviu nas suas costas:

─ Silêncio! Mãos ao alto!

O agente Gazua, que colocara o percurso sob vigilância, aparecera com a sua equipa.

Silva ao dar conta da agitação nas imediações, aproximou-se com outros camaradas de caminhada.

Gazua cumprimentou-o. Tudo indicava que poderia dormir descansado.

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Momentos depois, junto do Mosteiro da Serra do Pilar, Silva e Maria, abraçados, observam o por do sol, descendo colorido a refletir-se na água, preparando com firmeza o esplendor do próximo amanhecer.

 

CONVITE AO LEITOR

E pronto, caro leitor. Agora o passo seguinte é seu. Para tal, repetimos o nosso convite à sua participação na escolha dos melhores contos. O processo é simples. A partir de hoje, tem trinta (30) dias para fazer a avaliação, em função da sua qualidade e originalidade, do quinto conto do nosso concurso, da autoria de Inspetor Moscardo, e enviar a respetiva pontuação, numa escala de 5 a 10 pontos, para o e-mail do orientador da secção (salvadorpereirasantos@hotmail.com).

A competição prossegue na próxima edição com a publicação do sexto conto, desta vez com assinatura de Rigor Mortis, repetindo-se o processo de avaliação crítica dos nossos leitores durante o mesmo espaço temporal de 30 dias. A sua colaboração é imprescindível, caro leitor!