Renato Soeiro é o candidato a presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia pelo Bloco de Esquerda. O candidato reforçou que o partido luta pela vereação na Câmara, uma vez que para a posição de presidente a luta ainda é “desigual”. Renato Soeiro fala das vantagens de existir outro partido na vereação e o quanto isso poderia ajudar a dinamizar mais a discussão das temáticas. Além disso, o candidato também referiu projetos e necessidades do concelho, nomeadamente no setor da habitação, onde defende a construção de fogos novos, a reabilitação de frações ou prédios devolutos e degradados, a dinamização e apoio a cooperativas de habitação, entre outros. Na área dos transportes, acreditam num Serviço Municipal de Transportes, com transportes articulados e gratuitos.
Como surgiu o convite e porque decidiu candidatar-se a presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia?
Quando apresentamos o objetivo de ‘uma Câmara mais plural’, temos em conta que tipo de eleição é esta. Há uma certa confusão quando somos referidos como candidatos a presidente, já que em Portugal não há propriamente eleições para presidente da Câmara. A verdade é que nunca ninguém viu um boletim de voto a dizer ‘eleição do presidente da Câmara’. Por isso insistimos: isto não é uma eleição do presidente, é uma eleição da Câmara. Há 11 lugares em disputa, 11 pessoas vão ganhar esses lugares. São precisos cerca de 9% dos votos para eleger cada um deles (um pouco menos, porque a proporcionalidade não é direta no método de Hondt e com uns 8% já é possível eleger). Acontece que um resultado desta grandeza está ao alcance do BE, que, em Gaia, já tem tido 10, 12 e até mais de 13% em eleições legislativas. Se isto for visto corretamente como a eleição de 11 vereadores, nós estamos claramente em jogo, temos uma probabilidade real de eleger. Se a realidade for distorcida para uma pretensa candidatura a presidente, aí qualquer pessoa de bom senso sabe que a probabilidade de o Bloco ser o partido mais votado se situa algures entre 0 e -0. Um dia haveremos de ser o partido mais votado, mas todos sabemos que ainda não vai ser este ano. Considerar o candidato do Bloco como ‘candidato a presidente’ teria o efeito de nos pôr fora de jogo. É por isso que nós não nos revemos nessa espécie de promoção.
Quais são as principais motivações da sua candidatura?
Em Gaia há nove vereadores do PS e dois do PSD. Ora, com seis vereadores o PS já teria maioria absoluta. Com sete tinha uma maioria absolutíssima. Oito já seria um verdadeiro exagero de absolutismo. Nove já é um resultado mais ou menos pré-coreano. Isto nem é uma crítica ao PS. Se o PS teve esse resultado foi, certamente, por mérito próprio e por demérito dos outros partidos, incluindo o nosso. Uma reflexão que sugerimos aos gaienses é a seguinte: foi melhor termos uma vereação com 9-2 ou teria sido mais positivo uma vereação com 8-1-2? Nós somos defensores convictos da democracia pluralista e entendemos que a presença do Bloco na vereação, embora não alterasse a maioria absoluta do PS, traria provavelmente mais vivacidade ao debate, mais ideias para cima da mesa e, eventualmente, uma ou outra melhoria nas decisões tomadas. Mas há outro aspeto mais profundo: a crise social que se está a desenvolver na sequência da pandemia começa a criar uma enorme insegurança na população afetada, e é muita gente, e isso tanto pode ser um campo para a consolidação de uma visão democrática e progressista da sociedade, se a esquerda souber responder com prontidão às dificuldades, como pode, pelo contrário, ser um campo fértil de desespero que leve as pessoas a abraçar aventuras populistas antidemocráticas. A ameaça existe, o perigo é real. Ora, instituições com gestão monopartidária, como temos em Gaia, podem talvez ser mais compactas e uniformes, mas é provavelmente através da pluralidade que a esquerda pode conseguir a resiliência necessária para superar com êxito esta fase tão difícil e desafiante em que o país está a entrar.
Como avalia o trabalho que o atual executivo tem realizado ao longo dos últimos oito anos?
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Como vê a evolução do concelho de Gaia nestes últimos anos? O que teria feito de diferente?
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Se for eleito, o que anseia concretizar durante o seu primeiro mandato, em prol do desenvolvimento da população e do concelho?
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Em caso de vitória, pode mencionar alguns projetos que serão implementados nas áreas da educação, saúde, desporto, cultura, ação social e ambiente? Que equipamentos/infraestruturas acredita que enriqueceriam e proporcionariam melhor qualidade de vida em Vila Nova de Gaia?
A resposta a um direito tão fundamental como a habitação não pode ficar dependente do mercado, dos bancos e das imobiliárias. Eles, pura e simplesmente, não têm resposta para muitas das pessoas que precisam de casa. Pensamos que este é o momento para uma mudança de paradigma político no setor da habitação, uma verdadeira reforma estrutural. Essa reforma vai, certamente, incluir um leque vasto de soluções diferenciadas e complementares que não cabe aqui explicar em detalhe, mas, para resumir, diria que consiste na oferta de uma quantidade massiva de habitação pública ou com apoio público, dando uma resposta digna e rápida às pessoas em maior necessidade e libertando uma parte das classes médias das garras da especulação imobiliária e das impossíveis condições impostas pelos bancos. Este plano já está em curso e deverá incluir a construção de fogos novos, a aquisição ou reafectação de uso e reabilitação de frações ou prédios devolutos e degradados e até mesmo o apoio à autoconstrução, total ou parcial, que noutros países tem revelado ter grande potencial. Deve apostar também na dinamização e apoio a cooperativas de habitação, que já tiveram um grande dinamismo e apoio público em vários concelhos da AMP, mas que foram sendo abandonadas e foi pena, porque era uma forma muito antiga e de sucesso comprovado na solução do problema habitacional. O nosso sistema de transportes é bastante diversificado. Temos transportes de caráter nacional – o comboio – temos transportes de carácter metropolitano – metro e STCP – cuja rede tem ainda um vasto campo para melhorar, mas isso é assunto a tratar no âmbito supramunicipal ou intermunicipal. Temos linhas concessionadas a privados, algumas muito antigas e com um longo historial nas freguesias mais periféricas que tinham sido abandonadas pelo serviço público. Continuamos a receber muitas queixas sobre a qualidade do serviço desses operadores, especialmente no que respeita aos horários, à informação e à pontualidade. São matérias a que a Câmara terá de dar especial atenção na renovação das concessões. Mas estes três sistemas, no seu conjunto, estão longe de cobrir as necessidades da população. Gaia continua a ter um problema sério de transportes. Algumas intervenções complementares foram já postas em prática pela autarquia, para atenuar as falhas mais graves de cobertura daqueles sistemas. É o caso do transporte escolar, do metrobus, do shuttle de Grijó. E é, ou devia ser, o caso do transporte fluvial de Crestuma, uma proposta do Bloco na campanha de há quatro anos, que a Câmara decidiu adotar. Outra proposta do nosso programa era a criação de uma rede de transporte de proximidade, em viaturas pequenas de nove lugares, com a colaboração das Juntas e de forma gratuita. Esse projeto já arrancou, com a designação de Mob+. É feito a pedido, destinado a maiores de 65 com dificuldade de locomoção. Nós apoiamos isso, mas fica muito aquém do nosso projeto, que era de uso universal e não só para os mais velhos, com carreiras regulares e não só a pedido, com percursos e horários a definir com a participação da população. Este conjunto de soluções municipais deve ser articulado através da integração num Serviço Municipal de Transportes, a criar no próximo mandato, que seria uma base sólida para, à medida das possibilidades financeiras, se ir densificando a rede municipal até termos um serviço que cubra todo o território, sempre numa lógica complementar articulada com os restantes serviços existentes, para não haver duplicação de percursos, que seria um inútil desperdício de meios. Propomos que estes novos transportes municipais sejam sempre gratuitos. A gratuitidade é uma velha aposta do Bloco, por razões sociais e ambientais, que tem vindo a fazer o seu caminho e não tenho dúvida de que será o futuro dos nossos transportes. Outro aspeto é o do reforço do uso das mobilidades suaves, andar a pé e de bicicleta. Defendemos a melhoria das condições para o uso da bicicleta e a construção de pistas cicláveis, coisa barata, mas que melhora muito a segurança e o conforto deste meio de transporte (há mais de 2000 acidentes por ano vitimando ciclistas). Se aumentar a segurança, aumenta o número de utilizadores.
Relativamente ao projeto autárquico que lidera para este concelho, pode falar-nos sobre a equipa que o está a acompanhar ao longo deste desafio?
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Que mensagem gostaria de deixar à população?
Devido à pandemia, esta é uma campanha atípica, em que o papel da comunicação social local, como o Audiência, ganha maior importância na informação à população e no combate à iliteracia política. Se levamos um amigo a uma exposição e ele diz: isto não interessa nada, os quadros são todos iguais, temos um problema de iliteracia cultural; se levamos esse amigo a um grande jogo de futebol e ele diz: isto não interessa nada, os jogos são todos iguais, estamos perante um problema de iliteracia desportiva; se o levamos a um concerto e ele diz: isto não interessa nada, as músicas são todas iguais, estamos perante um problema de iliteracia musical; se perante um grande leque de propostas políticas ele diz: isto não interessa nada, os políticos são todos iguais, estamos perante um problema de iliteracia política e isso é uma séria dificuldade para a democracia. Penso que, nesta campanha, a imprensa local vai ter um papel ativo no combate a essa dificuldade.
Lista de Candidatos do BE à Câmara Municipal de Gaia
- Renato Soeiro
- Paulo Mouta
- Maria David
- Maria Macedo
- Alberto Silva
- Alda Sousa
- Fernando Macedo
- Paula Valentim
- José Cardoso
- Carla Almeida
- Víctor Crespo