“UM SINAL DE FORÇA A FAVOR DA UCRÂNIA, QUE FICARÁ PARA A HISTÓRIA”

O presidente da Área Metropolitana do Porto e da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, foi convidado a participar no Fórum Internacional de Comunidades e Cidades, que decorreu entre os passados dias 19 e 20 de abril, em Kiev, na Ucrânia. Promovida sob a égide do Conselho Europeu e da Embaixada da Ucrânia, esta cimeira juntou líderes dos governos locais da Europa, com o propósito de reforçar os compromissos com a paz, nas cidades e regiões afetadas pela invasão russa. Recordando o que presenciou em solo ucraniano, o edil reforçou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, a importância do compromisso com a paz e com uma vida “para lá da guerra”.

 

 

A convite da Embaixada da Ucrânia, a Área Metropolitana do Porto participou no Fórum Internacional de Comunidades e Cidades. Que balanço faz deste encontro?

O balanço é extremamente positivo, quer pela confiança e tranquilidade transmitida pelas principais figuras da Ucrânia, a começar pelo seu presidente, Volodymyr Zelensky, quer pelo compromisso dos governos locais e das regiões europeias, que se fizeram representar no apoio às cidades e regiões ucranianas mais afetadas pela invasão russa, há mais de um ano. A própria presença surpresa do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, foi um sinal muito forte do empenho das autoridades internacionais, um sinal de força a favor da Ucrânia, que ficará para a história.

 

De que forma foram reforçados os compromissos com a paz nas cidades e regiões ucranianas afetadas pela invasão russa? A seu ver, o que é que ainda pode ser feito?

É possível cada município, cada região ou comunidade, cada país apoiar a Ucrânia das mais diferentes formas, e não estou aqui a falar de armamento, e, aí, é que está o compromisso com a paz e com uma vida “para lá” da guerra. A vida segue, todos os dias, ao contrário do que possamos pensar, aqui, a esta distância. É preciso reconstruir escolas, casas, hospitais, todos os serviços, assim como milhares e milhares de habitações e só havendo um esforço conjunto de solidariedade, que fundamentalmente significa humanidade, é que isso poderá fazer-se.

 

Ao pisar o solo deste país em conflito, qual foi o sentimento?

É uma enorme experiência, desde a entrada e o atravessamento do país via comboio, à possibilidade de visitar alguns dos locais mais flagelados pela invasão russa, onde se evidenciam os principais dramas das pessoas: vidas destruídas, cidades inteiras aniquiladas, pessoas destroçadas, crianças deportadas de forma desumana para centros russos de “reeducação”, infraestruturas básicas destruídas e tantas mais atrocidades contra os mais elementares direitos dos seres humanos. Por outro lado, é quase indescritível observar um líder, que há mais de um ano, vê o seu país e a sua população serem vítimas de uma invasão cruel e das suas consequências, ser capaz de demonstrar tanta força, assertividade e tranquilidade e nunca transparecer ódio nos seus gestos e nas suas palavras.

 

Como mencionou, também teve a oportunidade de visitar alguns dos locais mais flagelados pela guerra. Neste contexto, qual foi o momento mais marcante para si?

Perante a destruição e o arrasamento indiscriminado, é difícil haver mau e menos mau, mais ou menos marcante. Tento retirar o que é possível de positivo, numa situação horrenda como esta. A força das pessoas, a capacidade de se reinventarem, de superarem estas circunstâncias e de se manterem firmes, a resiliência, muito mais do que o instinto de sobrevivência.

 

Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?

Para se afirmar, a paz precisa, às vezes, das armas de defesa contra a agressão imperialista. Não o fazer, significa o verdadeiro abandono de pessoas e de países à sua sorte e às consequências da guerra infligida por uma potência invasora. A paz, não se conquista abandonando os ucranianos às atrocidades russas e às forças invasoras. Isso não é paz, é aniquilamento, é capitulação. E, no dia em que deixarmos cada um à sua sorte, abdicamos do princípio da solidariedade e da defesa dos valores, em detrimento do comodismo de quem defende que “não é nada connosco”, até porque, em bom rigor, é mesmo connosco.