Uma vez mais, a nossa consciência colectiva como povo livre convoca-nos para o salutar exercício da cidadania, ao comemorarmos o quinquagésimo primeiro aniversário da gloriosa Revolução do 25 de Abril. Os quarenta e oito anos de ditadura fascista que vivemos em Portugal no chamado Estado Novo, constituem um dos períodos mais sombrios da nossa História recente, sendo um acumular de perseguições, prisões, torturas e assassinatos daqueles que ousavam defender os direitos do povo à Liberdade, Igualdade, Justiça Social e Democracia.
Foram anos de intensa e heroica luta levada a cabo essencialmente pelo PCP, como organização política, mas também por outros democratas, muitos dos quais tombaram para sempre nas prisões da PIDE e do Tarrafal.~Mas a esses escuros anos seguiu-se aquela radiosa manhã com a acção dos Capitães de Abril, que interpretaram fielmente a vontade do povo de mudança radical de governação e colocaram os nossos sentimentos a exultar de alegria e emoção, ao constatarmos que finalmente podíamos respirar um ar mais limpo e saudável.
A Revolução aconteceu, pois, como realização e construção dos mais elevados objectivos, cuja força perdura e vive nos dias de hoje como elemento incontornável deste nosso e só nosso Portugal com futuro. Um dos mais notáveis contributos para a Paz dado pela Revolução de Abril foi, sem dúvida, o fim das guerras coloniais que ceifavam vidas e recursos e o reconhecimento da independência dos povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique até então submetidos ao colonialismo português. Não podemos também esquecer que da Revolução do 25 de Abril, nasceu a Constituição ainda vigente e considerada uma das mais progressistas da Europa, apesar do texto constitucional que hoje temos não corresponder fielmente ao que foi aprovado em 1976, tendo sofrido alguns processos de revisão negativos, negociados pelo efeito das políticas de direita.
Contudo, o actual texto ainda continua a consagrar um conjunto importante de princípios essenciais à promoção do desenvolvimento do País e de afirmação da soberania nacional que devemos defender a todo o custo, pois se os direitos que a Constituição hoje consagra fossem fielmente cumpridos e respeitados, se o projecto e os princípios que enquadram o texto constitucional fossem seguidos nas opções políticas dos governos, mas também pelo proprio Presidente da República que jura defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição, Portugal seria um País mais justo e desenvolvido, o povo viveria em condições bem melhores e o nosso futuro colectivo seria certamente encarado com muito maior esperança e confiança.
A Habitação, Educação e Saúde constituem as áreas priviligiadas da nossa Constituição nascida com a Revolução e é essa força material de transformações e valores que dela decorrem, que torna Abril tão partilhado enquanto projecto de esperança e luta, projecto que nos 51 anos da Revolução importa ser reafirmado para retomar o que Abril significou de direitos, de progresso e vida melhor, provando que, ontem como hoje, está nas mãos dos trabalhadores e do povo esse poder de construção e realização.
A Revolução de Abril, que de novo comemoramos, cumpre 51 anos e afirmou também a determinação do novo Portugal democrático de se abrir ao mundo, promovendo a Paz, o desarmamento e a cooperação em igualdade entre todos os povos, assim saindo do isolamento mantido durante o fascismo. A luta da juventude nos anos 60/70, a revolta consequente contra a guerra colonial, o combate dos estudantes por um ensino universal e progressista, também fazem parte da longa caminhada do povo português por Abril. A Educação e o Ensino escolares constituem-se como um importante papel e recurso informativo sobre o conhecimento do que foi e o que representa, para a nossa memória colectiva, para o presente e o futuro, a Revolução do 25 de Abril.
Aos jovens de hoje cumpre-nos exortá-los para o exercício salutar da cidadania, assim evitando que sejam surpreendidos por situações futuras que não desejem e possam colidir com os seus direitos e interesses, como hoje infelizmente acontece, obrigando-os a emigrar por sugestão de governantes ou por necessidade. Cinquenta e um anos depois há quem prefira assinalar Abril negando na prática o que foi, apagando o que representou, escondendo o que Abril de mais avançado e promissor de facto representou na vida de milhões de portugueses, optando por explorar o que de negativo e injusto se instalou entretanto na vida do País, por culpa daqueles que há décadas tentam destruir e deturpar os ideais do 25 de Abril.
A esses a resposta só pode ser uma: 25 de Abril, sempre!