Exatamente a um mês do arranque do torneio de decifração “Solução à Vista!”, e quando apenas cinco dias nos separam do final do prazo de envio de originais para o concurso de produção de enigmas policiais “Mãos à Escrita!”, voltamos hoje a desafiar os nossos leitores com mais uma aventura policiária do astuto, perspicaz e carismático Inspetor Fidalgo.
Este novo enigma, que vem na senda de um conjunto de problemas de grau de dificuldade reduzida que temos vindo a publicar desde o início do ano, norteia-se pelo objetivo de despertar o espírito detetivesco que existe em cada um de nós e de estimular em todos os que nos acompanham uma indomável vontade de experimentar a participação nas competições que irão animar esta secção até ao final do último mês do ano em curso.
Por outro lado, voltamos mais uma vez a “facilitar a vida” aos nossos leitores que habitualmente leem os enigmas e esboçam mentalmente as respetivas soluções, mas não se arriscam a participar nas competições e ficam a aguardar com alguma expectativa a solução do autor para uma comparação com a sua, uma vez que têm a oportunidade de avaliar as suas capacidades dedutivas sem quaisquer esperas, já que a solução do problema que hoje publicamos volta a acompanhar o respetivo enunciado, no fecho da edição.
ENIGMA POLICIÁRIO
O Inspetor Fidalgo ao Luar do Verão…, de Insp. Fidalgo
O inspetor Fidalgo nem queria acreditar no que lhe acontecera. Na verdade nem parecia possível que, numa noite tão bela e quente como aquela, com um luar tão perfeito, com a lua a mostrar toda a sua plenitude, redonda e brilhante, um qualquer tipo, certamente com algum problema, viesse ter com ele, daquela maneira, a gritar que tinha visto um lobisomem e outras coisas igualmente incríveis.
O inspetor olhou o homem com um misto de interesse e compaixão, logo se arrependendo deste último sentimento. Na verdade, o homem parecia estar convicto de que tudo acontecera como estava a contar…
“Mas é verdade, inspetor, foi hoje mesmo… Julga que sou algum lunático, não é verdade? Pois não sou… Hoje mesmo, dia 5 de junho deste ano de 1993, com esta Lua Cheia que pode ver, que o lobisomem apareceu… Eu mesmo o vi!”
“Enganou-se, certamente… Deve ter imaginado”, retorquiu o inspetor.
“Não, não e não! Eu vi-o. Eram mais ou menos 21h30 e a escuridão invadia já os caminhos ermos por onde tenho de passar, para chegar à minha casa. Foi ali mesmo, naquele sítio, escuro como breu, como pode ver, só iluminado pela luz da Lua. Como pode ver, quando a lua se mostra, ainda se vê alguma coisa, mas quando as nuvens a tapam…”
“E o que é que aconteceu?”
“Ora, aquelas nuvens escuras encobriram a Lua e ficou tudo escuro. Foi então que me atacou… Só tive tempo de me esquivar, julgando que era algum cão, ou coisa assim, mas logo a seguir a Lua descobriu a sua face redonda e pude ver claramente que era um homem com o corpo coberto de pelos, com feições de lobo, horrível… Desatei a fugir e tive a sorte de estarem a chegar outras pessoas, que espantaram o animal, ou homem, ou lá o que ele é…”
“Mas ele chegou a fazer-lhe algum mal?”, insistiu o inspetor Fidalgo.
“Não, tive muita sorte!”, respondeu o homem.
Nenhum dos indivíduos que ele apresentou como tendo chegado a tempo de o safar viu fosse o que fosse e tudo o que sabiam era pelo que o “nosso” homem contara.
O inspetor Fidalgo sabia que não podia ser um lobisomem o que ele vira, mas queria aprofundar se o homem estaria a mentir ou se estaria de boa-fé, enganado por um qualquer fenómeno…
E pensou… Poder-se-iam pôr as seguintes hipóteses:
A – O homem mentiu premeditadamente, inventando uma história que nunca poderia ter-se passado como ele conta.
B – O homem mentiu sem querer, confundido por ter visto alguma coisa que alguém, para lhe meter medo, forjou.
C – O homem não mentiu, antes viu e sentiu tudo como indicou, embora não fosse, como é óbvio, um lobisomem.
D – O homem não mentiu e nada impede que não haja mesmo lobisomens e que tudo seja, rigorosamente, como descreveu.
DESAFIO AO LEITOR
Amigo leitor, analise bem o problema e escolha a resposta da alínea que lhe pareça a correta… E depois confira-a com a solução do autor, que se publica a fechar esta edição.
MORREU DICK HASKINS
É com enorme pesar que damos nota do falecimento do nosso confrade António Andrade Albuquerque, que se tornou popular e reconhecido em Portugal e no estrangeiro com o pseudónimo de Dick Haskins. Foi o autor de literatura policial português com maior notoriedade, tendo publicado desde o final da década de cinquenta do século XX mais de vinte livros. Estreou-se em 1958 com o livro “O Sono da Morte” e foi um caso ímpar na literatura policial no meio editorial português, tendo sido traduzido na Alemanha, Espanha, Holanda, Itália e Reino Unido, onde alcançou enorme sucesso com o romance “O Processo 327”, editado em 1967. António Andrade Albuquerque foi também editor de grande mérito, tendo criado na década de 1960, com a chancela da Ática, a coleção policial Enigma, onde publicou alguns dos mais importantes romances dos maiores nomes da literatura policial mundial. No ano 2000, após uma prolongada pausa, voltou a publicar, com o pseudónimo que o tornou famoso, o romance “A Embaixadora”. Já em 2007 publicou, com o seu verdadeiro nome, os livros “O Papa que Nunca Existiu” e “O Expresso de Berlim”. Deixou-nos na madrugada de 21 de março, aos 88 anos.
SOLUÇÃO DO ENIGMA DESTA EDIÇÃO
O Inspetor Fidalgo ao Luar do Verão…, de Inspetor Fidalgo
Hipótese A. Naturalmente que há premeditação, uma vez que a história é muito mal contada, porque, às 21h30, nunca poderia existir uma escuridão total, como afirma o homem, já que a cena passa-se no dia 5 de junho de 1993. Nenhuma das outras hipóteses é viável.