Neste mês de Julho no qual se celebram as Comemorações do Centenário do nascimento da nossa saudosa Comadre Amália Rodrigues, a “Voz de Portugal”, uma das mais brilhantes e conceituadas cantoras do século XX que levou a música e a língua portuguesa aos quatro cantos do mundo, a Academia do Bacalhau do Porto associa-se digna e honrosamente a este justo e significativo evento nacional.
E para quem desconhece as razões do que acima cito, penso ser importante para esclarecer os motivos desta nossa decisão, lembrar alguns factos do passado deste movimento universal em boa hora fundado em Joanesburgo no dia 10 de Junho de 1968, dia de Portugal e de Camões, bem como da própria Academia Mãe, conforme refiro na I e II Edição do Livro de Prestigio que escrevi e ofereci à nossa Academia e que hoje “corre mundo”.
Nessa altura e uma vez que a maioria dos compadres trabalhava na cidade, os habituais Almoços das “quintas-feiras” realizados em horário pós-laboral, eram mais frequentados por homens, por ser difícil às senhoras deslocarem-se propositadamente à cidade.
Por tais razões as senhoras não frequentavam estes Almoços semanais, mas marcavam significativa e assídua presença nos Jantares que normalmente incluíam uma vertente cultural, com recitais de poesia, música para dançar, grupos folclóricos e cantores, Jantares esses que se transformavam em animadas festas, prolongando-se até altas horas da madrugada, como o “Baile das Debutantes”, considerado um dos mais importantes acontecimentos sociais da comunidade portuguesa na África do Sul e nos quais se angariavam receitas para ações de solidariedade.
Foi num destes Jantares que, a convite do mítico fundador e então Presidente da Academia Mãe , o nosso querido e saudoso Durval Marques, atuou o “Orfeão Universitário do Porto”, do qual “importámos o Gavião de Penacho”, bem como a fadista Amália Rodrigues que a todos encantou com a sua celestial voz e lindos fados, tendo depois sido agraciada com o estatuto de COMADRE e recebido o seu DIPLOMA no dia 09 de Junho de 1972.
AMÁLIA RODRIGUES FOI POIS A PRIMEIRA COMADRE DAS ACADEMIAS DO BACALHAU.
E nesta data Comemorativa do seu Centenário, aqui fica gravado o nosso caloroso e mui terno “Gavião de Penacho” para tão ilustre e saudosa Comadre Amália Rodrigues.
Posteriormente outras senhoras igualmente receberam os seus Diplomas de Comadres nomeadamente, Vera Lagoa e Manuela Aguiar, ex-Secretária de Estado das Comunidades.
Como tal, e ao contrário do que ainda hoje algumas Academias mais tradicionalistas pensam, as Academias do Bacalhau nunca foram, nem serão “instituições machistas” ou uma imitação de “clubes ingleses” segregacionistas, nos quais só são permitidas as presenças de cavalheiros, pelo que e desde a primeira hora, as senhoras sempre tiveram e têm plena participação, quer como simples convidadas, quer como “comadres por afinidade”, quer como “comadres de pleno direito” e neste caso, assumindo inclusive, cargos nos Órgãos Sociais.
Infelizmente o mesmo não acontece nalgumas Academias, onde ainda prevalecem outras ideias, só permitindo a presença de senhoras nos Almoços de Natal, Páscoa e Aniversário.
E o mesmo acontecia na nossa própria “tripeira” Academia durante alguns anos, situação a que sempre me opus e a qual de imediato eliminei quando assumi há 15 anos a Presidência.
Foi também a partir dessa altura que tive a honra de me deslocar propositadamente a diversas Academias do nosso e doutros países para esclarecer esta anómala situação.
Para finalizar permitam-me aproveitar esta minha mensagem para informar que os eventos agendados para a nossa e todas as outras Academias, continuam temporariamente cancelados pela inimaginável pandemia, que por todo o mundo continua a assassinar milhares de vítimas inocentes e tanto afeta a nossa vida, mas nunca travará a nossa SOLIDARIEDADE, pois como sabem, contemplámos recentemente Instituições carenciadas – Lares de Crianças e Idosos e continuamos agora com outras ações junto de famílias que hoje vivem situações dramáticas.
Deus vos abençoe e até breve com um abraço de gratidão, amizade e um caloroso e académico “Gavião de Penacho”