O ministro do Interior britânico, Sajid Javid, anunciou ter assinado o pedido de extradição para os Estados Unidos do fundador do Wikileaks Julian Assange e que cabe agora aos tribunais decidir o futuro deste jornalista.
O australiano, detido no Reino Unido, deverá comparecer num tribunal de Londres para uma audiência preliminar do processo de extradição, na sequência do pedido formalizado pelos Estados Unidos, no entanto o veredicto somente deve ser anunciado dentro de vários meses e a última palavra cabe ao Governo britânico, que pode decidir aplicar ou não a decisão judicial.
Julian Assange, de 47 anos, é acusado pelos Estados Unidos de duas dezenas de crimes, incluindo espionagem e divulgação de documentos diplomáticos e militares confidenciais, puníveis no seu conjunto por uma pena que pode chegar aos 170 anos de prisão, segundo o diário norte-americano Washington Post.
O fundador do Wikileaks recusa a extradição, argumentando que os seus atos «protegeram muitas pessoas»; permaneceu, entretanto, quase sete anos na embaixada do Equador em Londres até que, em 11 de Abril passado, o Presidente equatoriano lhe retirou a proteção diplomática e permitiu a sua detenção pela polícia britânica.
Nos primeiros comentários públicos após a sua prisão, Julian Assange, pormenorizou as condições repressivas que enfrenta na prisão britânica de alta segurança em Belmarsh e apelou a uma campanha contra a ameaça da sua extradição para os Estados Unidos.
Os referidos comentários de Assange foram escritos no cárcere em carta dirigida ao jornalista britânico independente Gordon Dimmack, que decidiu torná-la pública na sequência do anúncio feito pelo Ministério da Justiça dos EUA de novas acusações contra Assange com base numa antiga lei sobre espionagem.
Aqui se reproduz o texto completo da carta de Assange a Gordon Dimmack:
«Fui isolado de toda capacidade para preparar a minha defesa, nem laptop, nem internet, nem computador, nem biblioteca até agora, mas mesmo que eu obtenha acesso à biblioteca será apenas por meia hora junto com toda a gente uma vez por semana. Apenas duas visitas por mês e leva semanas para conseguir inserir alguém na lista de entrada.
É uma situação sem saída conseguir que os seus dados sejam examinados pela segurança. Assim, todas as chamadas excepto com o advogado são gravadas e são num máximo de 10 minutos e num período limitado de 30 minutos em cada dia no qual todos os prisioneiros competem pelo telefone. E o crédito? Apenas algumas libras por semana e ninguém pode ligar. Estou diante de uma superpotência que tem estado a preparar-se durante nove anos com centenas de pessoas e incontáveis milhões gastos no caso. Estou indefeso e conto consigo e outros de bom carácter para salvar minha vida.
Estou intacto embora literalmente cercado de assassinos. Mas os dias em que eu podia ler, falar e organizar para defender a mim próprio, os meus ideais e o meu povo estão acabados até eu estar livre. Todos os demais devem tomar o meu lugar. O governo dos EUA, ou melhor, aqueles elementos execráveis que odeiam a verdade, a liberdade e a justiça querem ludibriar todos a fim de obterem a minha extradição e morte, ao invés de permitirem ao público que ouça a verdade pela qual ganhei os maiores prémios de jornalismo e ter sido nomeado sete vezes para o Prémio Nobel da Paz. Em última análise, a verdade é tudo o que temos».
As autoridades britânicas em conluio com as estado-unidenses, sempre prontas para invocar e denunciar atentados aos direitos humanos, estão agora a fazer todo o possível para eliminar Assange, chegando mesmo a criar dificuldades para impedir os cuidados médicos de que ele precisa com certa urgência.
Nenhum dos grandes media corporativos internacionais, CNN, BBC, NYT, esteve presente no acto da sua prisão e somente através da agência noticiosa RT o mundo obteve imagens de Assange, doente e combalido, a ser arrastado por polícias para fora da embaixada do Equador onde estava asilado. A seguir, como não puderam ocultar o escândalo, os media referidos tentam enlamear Assange, veiculando acriticamente todas as afirmações vis propaladas pelo governo equatoriano sobre a estadia dele enquanto asilado.
Privado de asilo pelo Equador e procurado pela Suécia e pelos EUA por crimes duvidosos, o fundador da WikiLeaks, Julian Assange, é um dos homens mais perseguidos do planeta, preço que tem de pagar pela sua devoção à verdade numa era de enganos, mistificações e falsas notícias em que a comunicação social de referência, nas mãos do grande capital, se encontra atolada.
Quando se considera a verdadeira finalidade do jornalismo, resumida pela falecida repórter americana Helen Thomas como «procurar a verdade e aplicar pressão constante sobre os nossos líderes até obter respostas», torna-se mais compreensível quão inestimável é Julian Assange para a antiga profissão e como esta situação também explica a razão pela qual algumas pessoas o consideram uma ameaça profunda.
Nestes tempos de desaforo e falta de profissionalismo, quando muitos jornalistas estão de consciência tranquila por servirem como porta-vozes dos poderes instalados, este modesto australiano ocupava-se a mostrar como a superpotência americana actuava em questões relativas a crimes de guerra, tortura e corrupção ao mais alto nível.
Aquela implacável busca da verdade, sem se importar com os riscos pessoais que envolvia, explica porque este jornalista e programador informático está hoje sujeito a tanta fúria e perseguição patrocinada por Estados que afinal não têm as mãos limpas como hipocritamente querem fazer crer, mas pelo contrário não servem de exemplo para a humanidade, nem tão pouco merecem qualquer credibilidade.