A ÉPOCA DAS BOAS INTENÇÕES

Nesta altura do ano surgem dos mais variados quadrantes as sugestões para subir o tom da solidariedade e da fraternidade. Os líderes mundiais, alguns deles causadores da instabilidade existente ao nível global, apressam-se em divulgar por todo o mundo os apelos às tréguas, nos imensos conflitos bélicos existentes.

Curiosamente até podemos encontrar muitos desses responsáveis, devotamente presentes nas eucaristias, rezando, comungando e batendo com a mão no peito, para que todos possam observá-los e verificarem que são cristãmente inspirados.

No tempo da existência da União Soviética a ideia em circulação era que lá se encontrava o eixo do mal, causador das maiores atrocidades e instabilidade mundial.

Quando foi derrubado o «muro de Berlim», erguido por questões políticas de ingerência e intromissão das potências ocidentais, o júbilo foi enorme e os ingénuos pensaram que iríamos entrar na era do são convívio entre todos os povos e nações.

Hoje, já não existe a União Soviética, levantam-se novos muros por razões anti humanitárias e o eixo do mal continua activo, lançando as suas hordas para invadir, assassinar, destruir património cultural e saquear os recursos naturais de países soberanos.

Com raras e honrosas excepções, a comunicação social existente, submetida ao jugo do grande capital monopolista, deturpa, manipula e lança a confusão entre os bem-intencionados deste mundo, onde uma notícia posta a circular, por exemplo no nosso País, tem leituras bem diferentes noutros lados do planeta.

Julian Assange, fundador da WikiLeaks, vai entrar no quinto ano de «reclusão» na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou a 19 de Junho de 2012, por ter divulgado em 2010, cerca de 500 mil documentos classificados como secretos sobre o Iraque e o Afeganistão e 250 mil comunicações diplomáticas, comprometendo seriamente a política externa, expansionista e militarista do imperialismo norte americano.

Edward Snowden, outro perseguido e refugiado na Rússia, é um americano profissional de computadores, antigo funcionário da CIA e posteriormente da NSA, Agência de Segurança Nacional, que deu a conhecer ao mundo programas de vigilância global ilegais efectuados pelo seu País e com a cooperação de empresas de telecomunicações e de governos europeus, sem quaisquer problemas de consciência nos seus governantes.

O mundo está incerto, em polvorosa, a Paz está em risco, o imperialismo e os seus aliados da União Europeia, da NATO e do terrorismo internacional continuam a trilhar os perigosos caminhos do hegemonismo e do militarismo expansionista.

Hipocritamente, levantam-se vozes da área do reformismo neo liberal preocupadas com o crescimento da vaga populista na Europa e no outro lado do Atlântico, mas essas mesmas vozes não se pronunciam sobre as causas sociais e económicas que lhe dão origem e radicam no empobrecimento da democracia, na liquidação de direitos fundamentais e no saque de recursos naturais de que o capitalismo predador se serve para continuar a exploração ao nível global, numa fuga em frente de resultados inimagináveis.

Nunca a investigação científica atingiu patamares de excelência como nos tempos actuais, no entanto, ainda há quem morra de fome, nomeadamente crianças, quem sofra por não ter acesso à prestação de cuidados médicos adequados e à necessária medicação e as desigualdades sociais, a corrupção e o nepotismo continuam a agravar-se com uma minoria de habitantes do mundo a ser detentora, escandalosamente, das maiores fortunas e poder e a esmagadora maioria a viver mal ou abaixo do nível de pobreza.

Razões estas, todas elas, que bem merecem uma atenção redobrada e bom senso por parte de todos os povos do mundo que não devem esmorecer na luta pela Paz e a Cooperação, rejeitando firmemente a escalada militarista e a repressão de liberdades e garantias.

Diz-nos o povo, na sua imensa sabedoria, que «de boas intenções está o inferno cheio» e tem toda a razão, pois, pelo caminho que está a ser seguido actualmente, o horizonte apresenta-se-nos próximo duma catástrofe global de consequências imprevisíveis.