A REPRESSÃO CONTINUA EM GAZA

O fim de semana da Páscoa deste ano ficou indelevelmente marcado pelo massacre perpetrado pelas forças militares israelitas em Gaza.

O povo palestiniano efectuou uma marcha pacífica, pretendendo com esta iniciativa lembrar os seis congéneres mortos em 1976, na comemoração do Dia da Terra, e que lutavam contra a expropriação das suas terras situação que, a par da continuada construção de colonatos, tem sido um dos programas favoritos do governo sionista.

Mantendo o habitual uso da violenta e desproporcional força, Israel reprimiu mais esta manifestação pacífica que se saldou até ao momento em 16 mortos e mais de 1000 feridos, o que causa a maior indignação em todos quantos lutam pela Paz no Médio Oriente.

Desta vez, a comemoração atingiu uma invulgar dimensão ao tornar a celebração deste dia o primeiro de uma «Grande Marcha do Regresso», uma reivindicação do direito de regresso dos refugiados aos seus lares, tal como determina a resolução 194 das Nações Unidas, reivindicação essa que se pretende estender até 15 de Maio, quando se completarão 70 anos sobre o Dia da Catástrofe, «Nakba» em árabe, sobre a expulsão de mais de 700.000 palestinianos por Israel, em 1948.

Este fim de semana da Páscoa assistiu a uma das maiores manifestações palestinianas junto à fronteira Gaza-Israel, em anos recentes, em que famílias inteiras palestinianas, homens, mulheres, jovens e crianças, acamparam a poucas centenas de metros da barreira de segurança israelita, ou seja, mais um muro contra os direitos humanos.

Foram dezenas de milhares, fontes militares israelitas referem 30 mil, os manifestantes que se dispuseram em cinco pontos ao longo da fronteira de 65 quilómetros, ergueram tendas, desenharam campos de futebol e cantaram, preparando-se para um protesto que terá continuidade durante seis semanas.

Antes dos protestos, Israel reconhecia já ter duplicado o dispositivo militar ao longo da fronteira, incluindo unidades paramilitares fronteiriças, forças especiais e atiradores de elite, conjunto de unidades que considera adequadas para o controlo de distúrbios, como refere o Daily Star, de Beirute, acrescido o facto de que, pasme-se, blindados e tanques também reforçaram o dispositivo.

A indignação pela actuação israelita fez alastrar os protestos a outras áreas da Palestina, separadas geograficamente da faixa de Gaza, nomeadamente em Jericó, Nablus e Belém, porém não só os palestinianos mas também a Turquia acusaram Israel de «uso desproporcionado da força» e o Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio emitiu um comunicado «denunciando o uso da força contra civis nos territórios ocupados da Palestina», assim como A Liga Árabe condenou a «selvajaria» de Israel.

O Presidente Mahmoud Abbas anunciou também sábado passado, 31 de Março, um dia nacional de luto na Palestina e declarou também responsabilizar Israel pelas mortes dos manifestantes, apelando à comunidade internacional para intervir urgentemente, protegendo o povo palestiniano contra a «escalada diária de agressão de Israel».

Entretanto, aguarda-se com alguma expectativa uma tomada de posição do Conselho de Segurança da ONU reunido de urgência para debater, mas uma vez, a violência em Gaza, no entanto e se tivermos em conta situações anteriores idênticas, as possíveis acções não devem sair do papel, pois o governo sionista tem as «costas quentes» pela governação estado unidense que até vai transferir a sua embaixada de Tel-Avive para Jerusalém, cidade que já reconheceu provocatoriamente como capital do Estado de Israel.

Curiosamente, aqueles países da União Europeia, tão desembaraçados há dias a condenarem sem provas a Rússia pelo envenenamento do espião russo, assim como sobre a invasão do Iraque e outros países soberanos da mesma zona oriental, até agora hipocritamente não se pronunciaram, talvez por não possuírem provas.

No entanto, o contínuo agravamento da situação na Palestina, tornando a zona como um factor de desestabilização global, bem devia merecer outra tomada de posição, mais consentânea com os direitos dos povos à sua identidade e soberania e com a Paz mundial.