A pouco mais de um ano das próximas eleições autárquicas, Arménio Costa, presidente da Junta de Freguesia de Canelas, conversou com o AUDIÊNCIA e ressaltou o orgulho que sentiu ao inaugurar o edifício sede da Junta de Freguesia da terra onde nasceu e por, deste modo, ter concretizado o sonho de longa data dos canelenses. O autarca falou ainda sobre o regresso às aulas que se avizinha, sobre o Fórum de Cidadania de Canelas e sobre as suas perspetivas para o futuro da localidade, afirmando que “quando nós inaugurarmos o Auditório e a Praça, seremos a freguesia com melhores condições para as próximas gerações”.
Como está a freguesia de Canelas a lidar com esta situação pandémica, que está relacionada com a proliferação da covid-19 em Portugal e no mundo?
Nós sentimos que muitas famílias começaram a passar dificuldades. Os pedidos de apoios começaram a chegar à Junta de Freguesia, quer a nível alimentar, quer a nível de pagamento de faturas e de renda e aquilo que nós fizemos quando começou a pandemia, em março, foi criar um conjunto de respostas que dessem para essas mesmas famílias. O nosso lema foi sempre “ninguém fica para trás” e nós, com os serviços da Junta, com o apoio preponderante da Câmara Municipal de Gaia e com um grupo de voluntários conseguimos dar essas respostas, para que ninguém, como eu referi anteriormente, ficasse para trás neste período tão difícil das nossas vidas.
Nesse seguimento, que medidas implementou o executivo da Junta de Freguesia, logo desde o início, para responder às necessidades da população?
Nós criámos um grupo de voluntariado, de cerca de 50 pessoas, nós fizemos máscaras para toda a comunidade, incluindo para toda a comunidade educativa e para toda a comunidade mais idosa da freguesia. Nós criámos, também, um programa de entrega de compras ao domicílio, assim como um programa de pagamento de rendas e de pagamento de faturas. Enfim, nós demos um cem número de respostas e eu lembro-me, inclusivamente, que o grupo de voluntariado propôs a quem não quisesse ou não pudesse sair de casa e tivesse animais de estimação passear esses mesmos animais de companhia, o que contemplou um conjunto de respostas que, no geral, fez com que esta pandemia não tivesse sido pior do que aquilo que foi na freguesia.
O Arménio Costa esteve recentemente infetado pelo novo coronavírus, contudo continuou a liderar os destinos da freguesia de Canelas. Como descreve o desafio?
Foi estranho, porque nós pensamos que é algo que apenas acontece aos outros e quando eu tive os primeiros sintomas, senti que eram completamente diferentes daquilo que eu já tinha alguma vez tido, quer gripe, quer constipação e eu suspeitei logo que estava infetado. A minha maior preocupação seria para com os meus pequenos. O Rodrigo também teve alguns sintomas no primeiro dia, mas a Rita foi sempre assintomática, mas essa foi a minha maior preocupação. Felizmente, tudo correu bem. Trabalhei em regime de teletrabalho durante 20 dias em casa, todavia graças ao meu executivo e aos meus funcionários, a freguesia continuou o seu caminho e eu recuperei bem com os meus pequeninos em casa.
Devido à pandemia, a Junta de Freguesia teve de suspender o Passeio Anual da Terceira Idade. De que forma é que vai compensar a população, nomeadamente os idosos? Equaciona a realização de outro tipo de iniciativas?
Nós pensamos nisso, mas, infelizmente, como este ano tudo o que são festividades, passeios e comemorações estão reduzidos a quase nada, nós não podíamos ser irresponsáveis a esse ponto, porque quando estamos ainda a meio da luta contra o novo coronavírus, não poderíamos juntar cerca de 600 ou 700 pessoas seniores. Portanto, aquilo que foi decidido entre as freguesias e com o apoio da Câmara Municipal de Gaia foi, realmente, cancelar todas as atividades que envolvessem ajuntamentos, principalmente entre a população sénior, mas vai haver uma pequena surpresa durante este mês de setembro, com o apoio da Câmara Municipal, que contemplará a entrega de uma lembrança a cada sénior que foi o ano transato ao Passeio da Terceira Idade. Nós ainda não sabemos como vamos proceder à entrega, mas já estamos a tratar da logística da mesma em articulação com a Câmara Municipal.
Que outros eventos também detentores de grande impacto social tiveram de ser anulados? Que consequências têm estes cancelamentos tanto para a Junta de Freguesia, como para a população?
Nós tínhamos aqui festas simbólicas. Nós estamos a falar da nossa Festa de São João, estamos a falar da Feira Medieval, que também traz milhares de pessoas à freguesia, estamos a falar da Festa em Honra do Senhor do Calvário, isto é, de um cem número de eventos que trazem milhares e milhares de pessoas à freguesia e que, obviamente, tiveram de ser cancelados. Posso dizer-lhe que, principalmente é um ano mais triste aqui na freguesia, mas com a consciência de que tinha de ser feito, para que, no ano que vem, possamos regressar mais fortes, de modo a compensarmos a nossa população por este ano mais difícil.
O cem número de festas e romarias que referiu representam a maior fonte de receita das coletividades locais e a não realização destes eventos tem sido impactante na vida destas instituições. Neste contexto, qual é a situação e qual tem sido o impacto da pandemia no associativismo local?
Tem sido um impacto brutal. Nós temos acompanhado as nossas coletividades e associações e sabemos quais são as suas dificuldades. O presidente da Câmara esteve aqui na freguesia de Canelas e nós reunimo-nos com todas as coletividades locais, momento em que o município se manifestou completamente solidário em relação aos pedidos que pudessem chegar à Câmara Municipal e afirmou que a autarquia apoiará as coletividades, na medida do possível, tal como a Junta de Freguesia, pois nós estamos disponíveis para apoiarmos naquilo que for necessário. Agora, temos consciência de que, as instituições estando fechadas, os apoios também são reduzidos, uma vez que não existe atividade nessas mesmas instituições. Algumas coletividades estão agora a reiniciar a sua atividade e vamos ver como é que isso se vai passar. Durante este período, nós também contamos com o apoio dos Bombeiros Voluntários de Valadares naquilo que é a desinfeção dos espaços da freguesia e das associações e, deste modo, eles também são cruciais naquilo que é a atividade da freguesia.
Canelas não parou durante a proliferação do novo coronavírus. Que projetos relevantes foram concretizados durante esse período?
Canelas não parou, porque não pode parar. Apesar de estarmos numa crise pandémica, tudo o que estava previsto quer a nível municipal, quer a nível da freguesia continuou a acontecer. Portanto, nós continuamos a construção do Fórum de Cidadania de Canelas, que representa um grande marco daquilo que nós queremos para o próximo ano da freguesia, que é o Auditório, também a Praça que vai ser construída logo de seguida, assim como já foi assinado o contrato da Rua Delfim Lima e já foi assinado o ajusto direto da requalificação do Coreto. Isto é um símbolo de projetos que nós solicitámos à Câmara Municipal de Gaia e que continuam a desenvolver-se de uma forma perfeitamente normal, como não poderia deixar de ser.
O novo edifício sede da Junta de Freguesia de Canelas integra um projeto global denominado Fórum da Cidadania de Canelas, foi inaugurado no passado dia 19 de fevereiro e representa a concretização de um sonho com cerca de 20 anos. Que valências tem este espaço que o anterior não tinha? De que forma é que tem beneficiado a população?
Este é o nosso legado, nós somos aquilo que dizemos, mas também somos aquilo que fazemos e quando tomamos posse dos destinos da freguesia de Canelas, em 2013, juntamente com o executivo municipal, foi pela Junta de Freguesia que eu e o meu executivo lutamos. Quem foi à antiga Junta de Freguesia viu as condições miseráveis em que nós estávamos, mas, acima de tudo, a primeira coisa que eu noto nas pessoas da freguesia é no orgulho que sentem ao dizerem que são de Canelas, no orgulho de dizerem que têm uma Junta de Freguesia. Posso dizer-lhe, mas um pouco emocionado, que, para o ano, quando nós inaugurarmos o Auditório e a Praça seremos a freguesia com melhores condições para as próximas gerações, uma vez que vamos ter tudo aquilo que é tecnologia de ponta, digamos assim, e estão lançadas as bases para que tudo aquilo que nós perdemos nos últimos anos, seja agora recuperado. A nível de valências, o novo edifício sede da Junta de Freguesia tem o Espaço do Cidadão, tem o Gabinete de Inserção Profissional, tem a nossa parte da Ação Social, temos o nosso Salão Nobre que, agora, pode ser solicitado por qualquer pessoa ou qualquer instituição, portanto temos aqui agora tudo, não só para a freguesia, mas também para o concelho e quando o Auditório estiver pronto, vai ser também cinema, teatro, concertos, tudo o que podem imaginar a nível cultural e é isto o que nós vamos deixar, um legado para as próximas gerações e sem o nosso presidente de Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, isto não seria possível.
Como referiu, a construção do Auditório, que estará preparado para espetáculos e sessões de cinema e está orçado em 1,1 milhões de euros, já começou. De que forma é que este equipamento vai favorecer não só as coletividades, como a população?
A construção está a correr muito bem, o empreiteiro tem cumprido os prazos e como eu disse anteriormente, é expectável que a inauguração de concretize no próximo ano. Relativamente àquilo que pode trazer para a população, será um empurrão brutal de Canelas no pelotão da frente, a nível cultural. O que nós queremos trazer para o Auditório é música, teatro e cinema. Nós pretendemos que a nossa juventude usufrua deste espaço, que tenha aqui um sítio onde passar o tempo, porque a Praça também vai proporcionar isso. A nível tecnológico também não vai faltar nada, nós estamos a falar de pontos de internet e de pontos de encontro no espaço exterior do Auditório. A Praça vai ser espetacular e vai fazer a união com o Coreto, que quando estiver totalmente renovado, será uma mais-valia para a freguesia. Portanto, nós vamos fazer aqui um polo cultural muito significativo quer na freguesia, quer no concelho. As coletividades vão poder usufruir totalmente e da forma que entenderem, nós estamos sempre abertos para que elas venham e dinamizem este espaço, porque este espaço vai merecer ser dinamizado.
Relativamente ao início do próximo ano letivo, que tem preocupado não só o Governo, como também a sociedade civil, quais serão as medidas adotadas, com o intuito de responder aos desafios impostos pelo novo coronavírus, garantir a segurança e evitar a propagação desta pandemia?
Eu acho que o início do próximo ano letivo vai ser o primeiro grande teste depois do confinamento. Nós, em Canelas, estamos a antecipar e a criar condições de segurança para que os nossos alunos comecem as aulas presenciais. Nós não podemos antecipar o que é que vai acontecer, isso é impossível, mas a Câmara Municipal, juntamente com o nosso Agrupamento de Escolas, está a criar as condições possíveis, para que corra tudo bem, porque nós não sabemos como é que o vírus se vai comportar no inverno, essa é a grande incógnita, mas estamos a preparar-nos para gerir aquilo que é a gripe normal e a contaminação pelo novo coronavírus, porque pode gerar o pânico nas famílias, contudo é sempre impossível anteciparmos o que poderá acontecer.
Quais são as apostas do executivo na área da educação, da saúde, do desporto, da cultura e da ação social?
A Junta de Freguesia tem aquilo que eu chamo de problema de delegação de competências, porque muitas das competências não são nossas, nós somos o apêndice, digamos, daquilo que a Câmara e o Governo decidem e estamos aqui para esse apoio, que não é mais do que a nossa obrigação. Agora, aquilo em que eu e o meu executivo vamos apostar, sem dúvida, como eu disse, no próximo ano, será a nível cultural, mas, principalmente, a nível social. Nós, a nível social, não podemos baixar a guarda, infelizmente, porque sabemos que as coisas vão ser difíceis na fase final deste ano e para o próximo ano e essa será a nossa aposta, se bem que a nível da educação aquilo que nós fazemos, e que já iniciamos, no apoio às nossas escolas é, por exemplo, a limpeza dos espaços exteriores, para que tudo fique pronto antes do arranque do próximo ano letivo. A nível da saúde, temos uma estreita colaboração com o nosso Centro de Saúde, também com a limpeza dos espaços exteriores, porque, infelizmente, enquanto não houver uma verdadeira delegação de competências não poderemos fazer muito mais, porque é o que a lei define neste momento.
Quais são os projetos que vão desenvolver-se futuramente na freguesia de Canelas?
Nós estamos a um ano das eleições e começando a Rua Delfim Lima, a grande artéria da freguesia, uma obra, também, reivindicada há cerca de 20 anos, que irá representar um investimento de 1,2 milhões de euros e começando a Rua Delfim Lima, todo o nosso programa eleitoral está cumprido na íntegra e é isso o que nós esperamos fazer. Nós vamos começar a preparar outros dossiers, mas isso será para o próximo mandato, para quem quer que esteja cá, para quem quer que esteja na Câmara e nós estamos a falar das Capelas Mortuárias e estamos a falar da VL11, pois essas serão as grandes apostas para o próximo mandato.
Que balanço faz deste mandato?
O balanço deste mandato é muito gratificante, porque de 2013 a 2017 foi um mandato muito complicado, muito difícil por causa das condições financeiras que encontramos e neste segundo mandato veio para o terreno tudo o que nós pensamos para o primeiro e é gratificante porque a população confiou em nós, porque apesar de no primeiro mandato não ter vindo a obra que nós queríamos, porque nós quando entramos nesta vida política pensamos que vamos mudar o mundo num dia, mas depois a realidade diz-nos que não é assim, por muitos motivos, por motivos burocráticos, por motivos financeiros e nós temos de nos adaptar a isso e neste segundo mandato, depois de a população ter confiado em nós, os resultados estão à vista e é o mandato mais gratificante para mim e para o meu executivo porque, realmente, a confiança nas pessoas deu resultado, a confiança neste projeto deu resultado e quer para mim, mas principalmente para a freguesia, valeu a pena apostar neste projeto dedicado a Canelas e dedicado a Gaia.
Considerando que estamos a pouco mais de um ano das próximas eleições autárquicas, quais são os seus objetivos? Já tomou uma decisão?
Quanto ao futuro, sinceramente não sei. Nós ainda não falamos sobre isso, pois andamos tão focados na vida diária, que a vida partidária às vezes fica esquecida. É expectável que no final deste ano ou no início do próximo, realmente, já comece a haver mais definições. Agora, eu gosto do que faço, é uma vida difícil, mas gratificante e estou disponível para aquilo que o partido quiser. Eu acho que vai ser um projeto de continuidade, mas o que é hoje na política, amanhã pode não ser, por isso vamos ver o que é que o presidente do partido vai decidir e eu estarei aqui para ajudar o partido, como sempre estive.
Como presidente de Junta, qual foi o momento mais importante para si?
A essa questão não demoro nem cinco segundos a responder, foi a inauguração da Junta de Freguesia a 19 de fevereiro de 2020, porque eu estudava aqui na secundária e já ouvia falar nisso. Sonhava lá eu que iria ser eu a inaugurar e a concretizar este sonho da população que, em 2001, ficou sem o seu espaço digno, sem a sua referência do poder local e esse é um dia que, a seguir ao nascimento dos meus filhos, vai ficar para sempre marcado na minha memória.
Que mensagem gostaria de deixar à população?
Continuem a confiar. Nós estamos aqui para continuarmos, juntos, com a confiança e com a transparência com que sempre me pautei, por isso, essencialmente, continuem a confiar em nós, porque nós não queremos deixar ninguém para trás e queremos continuar este caminho unidos.