Com a chegada da 7ª edição das Vivências de Gaia, César Oliveira falou com o AUDIÊNCIA sobre as coletividades do concelho, os seus desafios, do Festival de Saberes e Sabores, do GaiaFolk e do seu sonho para o associativismo.
Antes de mais,em que é que consiste uma coletividade?
Digamos que é um conjunto de pessoas que se reúnem, que se juntam para desenvolverem determinados objetivos, quer seja na área da cultura, do recreio, ou do desporto. Desde que seja do coletivo, é sempre interpretado como uma coletividade. Uma IPSS, que não é formalmente uma coletividade, não deixa de a ser porque trata de situações de interesse para o coletivo das famílias, dos mais necessitados. Uma associação de pais de uma escola é uma coletividade porque trata de situações que interessam à educação dos filhos, mas também das outras pessoas que beneficiam da educação deles. Numa comunidade escolar bem formada, todo o coletivo beneficia dessa formação. As coletividades nascem da necessidade ou da vontade da comunidade de fazer algo que eles necessitam.
E quantas há, atualmente, em Vila Nova de Gaia?
Em Gaia, há cerca de 600 coletividades de caráter geral. Existem mais, mas com fins muitos específicos, por exemplo, pode haver uma associação que trate só de potenciar a produção de um determinado alimento na região… Chamam-se associações de negócios.
As coletividades são importantes para o desenvolvimento de uma região…
As coletividades são indispensáveis para a sociedade. Eu considero indispensáveis. Da mesma maneira que as coletividades não conseguem fazer nada sem a sua população, a sociedade também não consegue fazer nada, caso não tenha o contributo das associações. As coletividades são, muitas vezes, retaguarda, se quisermos, almofada, de muitas famílias que veem na sua coletividade a extensão da sua família.
Devido à importância que têm na sociedade, é necessário não deixá-las morrer. Quais os desafios que as coletividades enfrentam?
O desafio é sempre fazer algo mais, melhor. Esse tem que ser o primeiro objetivo. Não pode ser a luta pela sobrevivência. Depois há uma situação intermédia, que é a consolidação, onde passa por a coletividade conseguir reunir elementos que se interessem por esse objetivo. Portanto, passa pelo crescimento e consolidação. Há associações que se podem extinguir já que o objetivo, para o qual a coletividade foi constituída, deixou de ser necessário. Um associado, quando entra para uma coletividade, tem que procurar trazer outro, tem que participar na vida ativa da associação e o dirigente tem que, consequentemente, fazer o melhor por ela e preparar o futuro, no que diz respeito, às suas substituições de novos responsáveis.
É fácil encontrar essas novas pessoas?
Já foi mais difícil, embora não seja fácil. Hoje em dia, há muitos desafios para os jovens.Os jovens, neste momento, na minha perspetiva, vivem com um grande dilema que é a competitividade,a estabilização na sociedade e os planos do futuro. Quando o futuro é incerto, o jovem fica sempre numa encruzilhada e isso dificulta a participação noutros desafios. É evidente que muitas vezes as coletividades também servem para o jovem procurar ali estabilidade ou procurar ali novos objetivos.Mas é um motivo de satisfação ver os jovens a aderir muito ao associativismo.O associativo é muito mais aberto do que antigamente. Os jovens quase que nem podiam pensar em ir para um coletivo porque aquilo não era para eles, atualmente, tomara a todos os pais que os jovens participem nessas coisas. Hoje em dia, os jovens já têm personalidade para marcar as suas orientações, as suas convicções e podem ver que há margem nas coletividades para darem largas às suas imaginações e à sua vontade. A minha vontade é que de facto os jovens participem cada vez mais.
Como tem sido o contributo da Câmara e das Juntas?
As Câmaras e as Juntas de Freguesia, eu diria, que o que mais querem é apoiar o associativo. Naturalmente, se me perguntar se é o suficiente, eu direi que não. Aliás, nunca é suficiente porque à medida que vão apoiando mais, as coletividades também vão subindo o patamar. Mas, são parceiros para as coletividades.
O próximo evento é as Vivências de Gaia. Em que é que consiste?
Consiste naquilo que é a gastronomia e a cultura. Nos três dias, a animação estará ao encargo das coletividades de Gaia que vão mostrar as suas atividades. Haverá também espaço para jogos tradicionais. É um evento de saberes, ligados aos jogos tradicionais e à própria animação; e dos sabores, ligado às tasquinhas de cada coletividade.
Já vai na 7ª edição. Como surgiu a ideia?
Surgiu da necessidade de duas coisas: dar visibilidade às atividades que as colectividades desenvolvem e, de alguma forma, angariar fundos para dar uma pequena ajuda às associações. Criou-se um evento para convergir duas situações importantes. As pessoas sentem-se bem em fazer este evento, mas, às vezes, é difícil conciliar uma data devido a todas as atividades que as coletividades têm.
Tem sido sempre no Parque da Senhora da Saúde. Qual a razão desta escolha?
Apesar de ter sido sempre no Parque da Senhora da Saúde, nada impede que não possa ser noutro sítio.Entendemos que o Parque da Senhora da Saúde é um lugar muito recatado, um sítio fresco, livre, e muito ligado a tradições, romarias, e convívios. O único problema acaba por ser a pouca centralidade e,por isso, os transportes públicos não são muitos. Nós já pensamos noutros sítios como a Alameda do Senhor da Pedra, o centro Cívico de Gaia, mas nesses sítios há algumas dificuldades de caráter logístico. Enquanto não aparecer outra situação que ofereça boas condições, a escolha passa sempre pelo Parque da Senhora da Saúde.
Quais são as expectativas para este ano?
É cada vez aumentar mais o interesse da população e que o seio associativo se interesse mais por esta atividades. A grande expectativa, sem dúvida, é servir melhor a comunidade. A nível financeiro, não temos objetivo nenhum.
Apesar de ser um evento gratuito, tem ideia do número de visitantes das Vivências de Gaia?
Na 7ª edição vão participar cerca de 30 coletividades. O povo são milhares…Não sabemos contabilizar. Este ano é o primeiro ano que fazemos em agosto, por isso, esperamos que aumente a procura.
É um desejo ter as 600 coletividades no evento?
(risos) Era um desejo mas é impossível. Não tínhamos nenhum espaço em Gaia, até em Portugal, que possa reunir 600 coletividades. Conciliar uma data era completamente impossível. O nosso objetivo é que nos visitem, apesar de não estarem lá como coletividade.
No mesmo fim de semana começa o Gaia Folk, em parceria com o Rancho Regional de Gulpilhares, e muitas outras coletividades organizam o seu Festival Internacional É importante a existência deste intercâmbio?
Muitíssimo importante. Aliás, nós fomentamos e motivamos os ranchos folclóricos para isso.O Rancho de Gulpilhares está a fazer um trabalho nessa lógica dos intercâmbios, não fechando a sua casa que pode ser para todos. O nosso objetivo também é esse. Por exemplo, nós queremos que uma associação de teatro não fique só nas suas portas, queremos que vá para outros lados. O Rancho Regional de Gulpilhares, com a qualidade do GaiaFolk, pode ser uma mais valia para todos.
Qual é o seu sonho para as coletividades?
Eu gostava muito que houvesse uma maior personalização do associativo. O associativismo está carregado de valores e é uma parte fundamental da nossa sociedade. A minha vontade era que todos tivessem essa consciência. Os dirigentes e associados têm que valorizar ainda mais aquilo que é a sua coletividade: participando, defendendo, impondo. Nós somos cerca de 3 milhões de pessoas nas coletividades mas somos 10 milhões de portugueses, o que quer dizer, que mais de ⅔ ainda são completamente alheios ao movimento associativo. O meu objetivo é que aumentasse a percentagem da participação.