ASSOCIAÇÃO RECREATIVA DE CANELAS PROMOVE O INTERESSE SOCIAL E CULTURAL DO MOVIMENTO ASSOCIATIVO

A Associação Recreativa de Canelas foi fundada no dia 6 de junho de 1927, na Rechousa, em Canelas, e tem como principal missão promover o desenvolvimento local e comunitário e difundir ações de sensibilização para estimular o interesse recreativo, social, cultural e desportivo do movimento associativo.

Edmundo Coutinho, presidente da direção da Associação Recreativa de Canelas, contou, em entrevista ao AUDIÊNCIA, que começou a frequentar esta coletividade desde que nasceu, pela mão do seu pai, António Ferreira Coutinho, um dos fundadores da Associação Recreativa de Canelas.

Qual é a história da Associação Recreativa de Canelas e da sua envolvência nesta instituição?
A este propósito, eu costumo referir uma citação que escrevi sobre a história da Associação Recreativa de Canelas: “e foi há 91 anos, à porta do Crispim, na Rechousa de cima, (esta porta do Crispim era uma mercearia que havia na Rechousa, que naquele tempo era um local de encontro das pessoas das redondezas), aqui se sentava para conversar ao fim da tarde e aos domingos, um saudoso grupo composto por António Ferreira Coutinho, (meu pai), Alberto Pinto de Almeida, Alcino Ferreira Coutinho, (meu tio), Mário Ferreira Coutinho, (meu tio), Alexandre Ferreira Coutinho, (meu tio), Alexandre Ferreira Duarte e Francisco Pereira da Silva, tendo dessas conversas, nascido a ideia da criação de um clube recreativo. E com todo o espírito criativo e solidário que animava aquele pequeno grupo, foi lançado o desafio a que outros amigos se juntaram entre os quais os irmãos Adelino e António Francisco da Cunha e Sousa, que de imediato disponibilizaram uma parte de um edifício seu para a instalação da que seria a primeira sede. Com o empenhamento e vitalidade daquele grupo de jovens, nasceu a 6 de julho de 1927 a ‘Assembleia Recreativa e Beneficente da Rechousa’, que depois se chamou ‘Assembleia Recreativa de Canelas’ e hoje é a nossa ‘Associação Recreativa de Canelas’”. Perante isto, eu, através do meu pai, acabei por me integrar nestas atividades e, na altura própria e com a idade própria, acabei por dar seguimento ao trabalho realizado pelo meu pai, porque sempre gostei da atividade que nos proporciona o movimento associativo. O movimento associativo é muito difícil, porque é preciso conciliar muitas coisas, principalmente conciliar a família de forma a não provocar ruturas, caso contrário deixa de ser movimento associativo. Isto sempre funcionou e funciona como uma coletividade, que tem muitos altos e baixos. A minha integração na Associação sucedeu-se numa época em que tivemos bastantes conflitos, próprios do movimento associativo, e, nessa altura, eu estava pela Associação, até que fui convidado para a Assembleia Geral da coletividade, pelo presidente da Assembleia da coletividade da altura, que era o senhor César Oliveira, atual presidente da Federação das Coletividades, que também é natural daqui, e ele convidou-me para ocupar o lugar dele, pois tinha a necessidade de avançar para outras funções, e eu, juntamente com outras pessoas, aceitei e fiquei na Assembleia Geral, até que, em 2007, passei para a direção, porque havia realmente a necessidade de conjugar vários esforços para resolver alguns problemas que surgiram pelo caminho.

 

Quais são os principais objetivos desta Associação?
Como diz o nome, esta é uma Associação Recreativa, portanto, o nosso principal objetivo passa por proporcionar aos nossos associados atividades próprias de forma vantajosa para eles, naturalmente, que são vocacionadas tanto para os mais como para os menos jovens, de modo a ajudar realmente a preencher os tempos livres dos nossos associados e dos seus familiares, tal como reza o movimento associativo.

Qual é o papel que esta Associação tem junto da comunidade?
A Associação tem serviços que promove, que divulga e que oferece, e aceita que as pessoas correspondam, dentro dos seus interesses e das suas disponibilidades, pelo que, depois, nós cá estaremos para tentar conciliar tudo isso.

A Associação Recreativa de Canelas tem quantos sócios neste momento?
Neste momento a Associação tem cerca de 350 sócios.

De que forma é que a Associação Recreativa de Canelas contribui para o panorama sociocultural da freguesia de Canelas e do concelho de Vila Nova de Gaia?
Temos, neste momento, diversas atividades principalmente destinadas aos jovens, tais como hip-hop, capoeira, Karaté e um grupo de teatro que se destina a todas as idades e que está a desenvolver uma atividade importante tanto na freguesia, como no concelho e fora do concelho, a convite de outras coletividades, tudo dentro do espírito do apoio do movimento associativo. No entanto, temos também a funcionar nas nossas instalações, através de um protocolo, uma universidade sénior. Posso dizer-lhe que a juventude e a terceira idade são dois setores que, sempre que nos for possível, nós vamos tentar privilegiar, porque entendemos sempre que estes são dois vetores da nossa vida e da vida de qualquer pessoa, para além disso nós estamos atentos e sabemos que vivemos numa zona com um número substancial de pessoas com uma idade avançada, isto quer dizer que as pessoas aproximam-se mais facilmente e nós tentamos acolher este tipo de pessoas que fazem das instalações e principalmente do bar, um local para conversarem e para passarem o tempo livre à sua maneira, pelo que nós tentamos dar esse apoio.

O que distingue esta Associação Recreativa de tantas outras?
Nós temos um espaço de grandes dimensões que nos permite proporcionar diversas atividades aos nossos associados e aos filhos dos nossos associados. Além disso, também nos possibilita promover a cativação de outras associações, que não tenham um espaço físico e nós, através de protocolos e contratos, podemos colaborar e permitir que estas desempenham e desenvolvam aqui as suas atividades, porque efetivamente temos um espaço grande que nos permite isso.

O Movimento Associativo tem um papel muito importante na sociedade e é visto como um fator de consciência cívica, de cultura e como um elemento valioso da qualidade de vida dos cidadãos. Na sua opinião, tem notado, ao longo dos anos, uma diminuição ou um aumento da adesão ao movimento associativo?
Tendo em consideração encontros e conversas que tenho com colegas ligados ao movimento associativo, chego à conclusão de que, realmente, este é um problema difícil de equacionar, porque há colegas que dizem que o movimento está a crescer e a desenvolver-se, mas, por vezes, eu fico a pensar que é por uma questão de gosto próprio. Na minha opinião, a adesão ao movimento associativo tem oscilado bastante, tem os seus prós e contras, contudo, acho que tende mais para ser prejudicado, porque nós vivemos numa época em que os jovens, jovens estes que nós poderíamos captar e que o movimento associativo precisava de captar, estão rodeados de solicitações de todos os géneros, de melhor ou pior valor, e, portanto, afastam-se um pouco destas atividades, porque o excesso de requisições não lhes dão oportunidade de fazer aquilo que eles querem realmente fazer ou pensar e isso afasta os jovens do movimento associativo. Nós, na Associação Recreativa de Canelas, sentimos que temos convivido com a aproximação de alguns jovens, mas há, realmente, uma oscilação muito grande.

Então podemos afirmar que nota uma dessintonia entre os cidadãos e os projetos associativos?
Não sei, porque os cidadãos quando recebem outras solicitações acabam por não saber o que é que o movimento associativo lhes pode dar e o que é que eles podiam conseguir com o movimento associativo. Posso dizer-lhe que nós fazemos o máximo esforço, seguindo a ótica do movimento associativo, para fazer sentir, principalmente aos jovens, a vantagem destas captações. Como referi anteriormente, relativamente ao grupo de teatro, nós temos feito uma tentativa de captação de jovens para integrarem o grupo de teatro. Os jovens, não pagam nada, têm um salão todo à disposição deles e um encenador que os ajuda, que os ensina e direciona, mas nem sempre é fácil conseguir, devido às tais solicitações com que eles muitas vezes se defrontam, daí as oscilações. Mas, como é óbvio, no caso do teatro, se os jovens gostarem realmente de teatro tomam essa decisão e vão experimentar e ao experimentar não têm responsabilidade nenhuma. Mas isso é uma coisa a que realmente o movimento associativo está sujeito e é difícil contrariar isso.

 

Quais são as suas ambições enquanto cidadão e dirigente associativo? Que projetos pretende concretizar enquanto for presidente da direção da Associação Recreativa de Canelas?
Nós tivemos um grande projeto, há uns anos, que foi a construção desta sede, que contou com o apoio, entre outras ajudas, da Câmara Municipal de Gaia e da Junta de Freguesia de Canelas. Só que depois as entidades autárquicas não nos permitiram e não nos ajudaram como queríamos, para que pudéssemos melhorar a nossa situação, mesmo predial e tudo isso, de forma a podermos proporcionar e provocar manifestações para isso. Eu refiro isto, porque temos ali um polidesportivo que agora se resume a um campo de ténis. Isto deve-se ao facto de o polidesportivo ter sido inaugurado pela Câmara Municipal de Gaia, no tempo do senhor Luís Filipe Menezes, com a promessa da construção de um pavilhão gimnodesportivo e a estrutura está lá, mas está a apodrecer. Acontece que esta é uma das situações que ainda temos presente, quando estamos em manifestações ou quando estamos em contacto com os vereadores ou com o presidente da Câmara Municipal de Gaia. Além disso, a questão da manutenção do espaço, que é muito grande, também é algo que nos pesa bastante e para qual, normalmente, também precisamos de ajuda, pelo que nós tentamos recorrer à Junta de Freguesia, à Câmara Municipal, mas nem sempre temos o apoio que eles apregoam e eu acho que nós merecíamos, por aquilo que fazemos pelo movimento associativo aqui do concelho. Portanto, como eu costumo dizer, continuamos à espera, porque dizem-nos sempre para aguardarmos, porque vai chegar a nossa vez e nós vamos esperar, contudo é pena porque isto não ajuda em nada o movimento associativo. Logo, isto é, realmente, o que nós temos de mais prioritário, porque a manutenção deste prédio, como já disse anteriormente, é muito importante, é muito difícil e está-nos a causar alguns problemas. O nosso edifício tem algumas lacunas relacionadas com a cobertura e com as paredes e nós temos pedido ajuda à Câmara Municipal de Gaia e dizemos que não queremos dinheiro, apenas que nos auxiliem na resolução destes problemas prediais. Já tivemos aqui alguns elementos da Junta e da Câmara que estiveram a ver as paredes que nós temos cheias de humidade, as salas que temos que estão perfeitamente danificadas e o salão que ficou completamente inundado devido a umas fortes chuvadas que aconteceram e que conduziram ao levantamento do chão. Neste contexto, posso revelar que nós conseguimos, com um esforço muito grande da nossa tesouraria, arranjar o chão, que nos ficou por cerca de 5 mil euros, mas fizemos e ninguém nos ajudou. Mas, como a situação não foi resolvida na sua origem, continuamos a ter muitos problemas, por isso, temos insistido com os serviços e dizem-nos que vão atender quando possível, pelo que nós estamos à espera. Estas são as razões principais que nos levam a estar um bocadinho desiludidos, mas não perdemos a esperança e acreditamos que mais cedo ou mais tarde vamos receber a ajuda necessária para resolver estes problemas.

Na sua opinião, como tem sido o desempenho do atual presidente da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, no que respeita o movimento associativo e o apoio às associações e instituições culturais?
Eu tenho uma relação normal com o Eduardo Vítor Rodrigues e partilho com ele a mesa da Assembleia Geral da Federação da Coletividades, na qual ele é o presidente e eu sou o primeiro secretário. Também temos uma boa relação com o presidente da Junta de Freguesia, porque ele mostra ser muito ativo nestas coisas e eu sei que ele vai até onde pode. No que respeita a Câmara Municipal de Gaia, nós, em termos de direção, estamos um bocadinho desiludidos, porque vêm cá, fazem promessas, veem o que se passa, dizem que não pode ser e que as coisas têm de ser arranjadas, mas não passa disso. Eu espero que, mais cedo ou mais tarde, os nossos problemas sejam solucionados e que as promessas sejam cumpridas, porque nós somos uma coletividade que não tem grande abrangência, não tem grandes receitas económicas e, portanto, fica ao belo prazer destas entidades que, na nossa humilde opinião, devem ajudar-nos. Apesar de estarmos um bocadinho desiludidos, continuamos confiantes de que vão acabar por nos ajudar. Estas relações com autarquias já têm antecedentes. A título de exemplo, posso contar-lhe que nós, precisamente por este edifício que aqui temos e antes de entrarmos na fase de criarmos outras secções através de protocolos, tivemos um projeto para a criação, nesta casa, de um centro de convívio e isto porque, na altura, o presidente da Junta de Freguesia de Mafamude, que era o senhor Fernando Vieira, escreveu no AUDIÊNCIA que estava empenhado, como presidente da Junta, na criação de bases sociais na freguesia de Mafamude e que lhe faltava um local, um polo de Mafamude, porque ele precisava de criar um centro de convívio, para colmatar uma falha existente na freguesia, mas faltava-lhe um espaço no qual pudesse concretizar esse projeto. Acontece que Mafamude é aqui ao lado e, na altura, nós estávamos com alguns problemas em ocupar o espaço, dado às dimensões do mesmo, e então eu telefonei ao senhor Fernando Vieira e reuni-me com ele. Posso dizer-lhe que ele começou logo a fazer contactos e providências e eu ia ajudando no que podia, mas o trabalho maior era dele e fizeram-se aqui várias reuniões com a diretora da Segurança Social do Norte, com a Câmara Municipal de Gaia e com diversos vereadores dessa altura, isto já foi há uns anos, e o senhor Fernando Vieira dizia que as coisas iam para a frente, porque começava a ligar às instituições, principalmente a Segurança Social, a Câmara Municipal e outras que fossem necessárias. A Câmara Municipal de Gaia começou a vir para aqui tirar medidas e fazer projetos, mas de repente o desinteresse foi total e o projeto não se realizou. Nessa altura, quando o senhor Fernando Vieira começou a tratar disso eu disse-lhe que a Associação Recreativa de Canelas era de Canelas e ele disse que nós íamos trabalhar juntos. Nós ficamos tristes, mas continuamos a ter boas relações com toda a gente, com todas as autarquias e com todas as pessoas que nos queiram ajudar e não fazemos disto uma guerra, mas uma necessidade que temos.

O Edmundo Coutinho, além de ser presidente da direção da Associação Recreativa de Canelas, também é presidente da Assembleia Geral da Academia do Bacalhau do Porto, é primeiro secretário da Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia e está na Assembleia Geral da Academia das Coletividades do Porto. Qual é o seu papel nas instituições em causa?
Posso dizer-lhe que, na verdade, quem está presente nestas instituições não sou pessoalmente eu, mas a Associação Recreativa de Canelas e eu represento a Associação Recreativa de Canelas na direção, embora, na realidade, sou eu quem lá está pessoalmente. Eu estou na Assembleia Geral da Academia das Coletividades do Porto e sou primeiro secretário da Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia. Portanto, represento a coletividade. Neste seguimento, a Associação Recreativa de Canelas limita-se a ser uma associada destas entidades e depois recorre, principalmente à Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia, quando precisa de ajuda referente a qualquer aspeto que diga respeito a problemas associativos, porque estas entidades estão preparadas para proporcionar uma resposta a qualquer dúvida que tenhamos. Na Academia das Coletividades do Porto é a mesma coisa, embora eu tenha a impressão que, principalmente, a Academia está também a passar uma fase difícil, porque faltam pessoas que resolvam disponibilizar-se para dar seguimento a determinadas coisas. No entanto, a nossa relação com eles é a mesma, esta é uma Academia que está acima das coletividades e que pode sempre servir de apoio. Aliás, tanto a Federação como a Academia têm como finalidade o movimento associativo e não se desviam das suas normas, nem dos seus estatutos. No que respeita a Academia do Bacalhau do Porto, eu sou presidente da Assembleia Geral desta Academia. Na altura em que a Academia do Bacalhau nasceu, eu tinha dois irmãos na África do Sul, e foi lá que nasceram as Academias do Bacalhau, em Joanesburgo. Na época, o meu irmão era presidente da Academia do Bacalhau de Durban, e quando ele veio para cá, veio mandatado pela Academia mãe, como nós lhe chamamos, que é a de Joanesburgo, para fundar aqui, no Porto, a Academia do Bacalhau e assim foi, ele começou a tratar das coisas, começou a fazer convites e formou-se a Academia do Bacalhau do Porto. Entretanto ele faleceu e eu continuo ligado à Academia do Bacalhau, que funciona como uma tertúlia de amigos que se juntam para jantar, para trocar ideias e para conversar.

Quais são as perspetivas para o futuro?
Espero continuar a entreter-me a trabalhar aqui, porque é uma forma de eu passar o tempo que, de outra forma, seria livre e desejo continuar ligado ao movimento associativo. A minha esposa Isabel ainda trabalha e, deste modo, eu também tenho a possibilidade de estar sempre disponível para participar no desenrolar da vida dela, porque a vida dela é a minha vida. No que concerne a Associação Recreativa de Canelas, se eu estou aqui porque gosto de estar aqui, porque gosto da coletividade, porque, como disse anteriormente, comecei a frequentar esta Associação pela mão do meu pai, é evidente que eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para poder fazer beneficiar isso e eu fico contente e satisfeito com tudo aquilo o que de bom nascer. Nós temos uma equipa de direção, de corpos sociais, que me agrada muito, porque de outra forma também não podia ser, e, felizmente, para nós é muito coletiva, o que facilita a gestão das coisas que vão acontecendo aqui e que hoje em dia já são bastantes. E espero também que as pessoas, que estão no patamar de nos poder ajudar, olhem realmente para o movimento associativo, porque acho que vale a pena, todavia, para estar no movimento associativo é preciso gostar.

 

BI

Edmundo Ferreira Teixeira Coutinho tem 77 anos e é natural da Rechousa, de Canelas, mas atualmente vive no Porto. A Associação Recreativa de Canelas faz parte da vida de Edmundo Coutinho, que costuma afirmar que vive nesta coletividade desde que nasceu, contudo, só em 2000 é que começou a aproximar-se mais desta coletividade, sendo que foi, primeiramente, presidente da Assembleia Geral e é, desde 2007, presidente da direção da Associação Recreativa de Canelas.