O problema que constitui a prova nº. 7 do Torneio Policiário’ 2017 é da autoria de um dos nossos mais distintos policiaristas, com um currículo verdadeiramente invejável, de seu nome Daniel Falcão.
Foi no entanto como Jomasacuma que este nosso confrade apareceu pela primeira vez no Policiário, em 1980, através da secção “Mistério… Policiário” da revista Mundo de Aventuras, orientada pelo saudoso Sete de Espadas.
E foi este, aliás, que o dissuadiu de usar nome “tão complicado”, tendo passado então a ser, a partir de 1983, Mac Jr., pseudónimo que acabaria por dar lugar a O Falcão entre 1992 e 1995, com o aparecimento do PÚBLICO-Policiário. Mas eis que, após um breve interregno, O Falcão findou e nasceu DANIEL FALCÃO, atual Campeão Nacional, vencedor da Taça de Portugal, líder das Melhores Soluções, primeiro classificado na tabela de Policiarista do Ano e nº. 1 do Ranking, competições na vertente de decifração realizadas pela secção Policiário do jornal PÚBLICO.
A estes galardões de 2016, juntam-se os mais variados troféus conquistados ao longo de 37 anos de atividade quase ininterrupta, onde se incluem também diversos prémios relativos à produção de enigmas, vertente que tem experimentado com menos regularidade mas sempre com um enorme sucesso.
TORNEIO POLICIÁRIO’ 2017
Prova nº. 7
“Um Enigma…”, de Daniel Falcão
As nossas reuniões (quase) quinzenais ocorriam na primeira e terceira sexta-feira de cada mês. Cada reunião, em que imperava sempre a sã camaradagem e a salutar troca de ideias, estava organizada em três partes distintas. Na primeira parte, a nossa atenção concentrava-se em mais um majestoso jantar em que os pratos regionais portugueses, acompanhados por prodigiosos vinhos, são reis. Findo o jantar, era chegada a ocasião dos digestivos.
Nesta segunda parte da reunião, a acompanhar os digestivos propriamente ditos, era tempo de centrar a atenção na decifração do mistério que havia sido proposto no final do jantar anterior. Refira-se, de passagem, que este período, em muitas ocasiões, era repleto de verdadeiros momentos “antidigestivos”. Cabia a cada confrade, periodicamente, a preparação de um mistério a apresentar durante a reunião, o qual deveria ser (ou tentar ser) decifrado por todos os restantes elementos. Por fim, na sua última parte, a reunião terminava com a apresentação, ou leitura, do mistério do dia que iria perdurar até à reunião seguinte.
Assim chegamos ao momento da reunião em que, volvido o jantar e o profuso debate em torno do mistério que havia sido posto em cima da mesa na reunião anterior, vos vou contar o mistério que preparei para esta ocasião.
Estava eu na minha visita de rotina a um alfarrabista conhecido, quando reparei que, embora muito discretamente, ele me chamava a atenção.
– Pode chegar aqui ao meu escritório? – perguntou-me, quase sussurrando.
O escritório, ou melhor, o que ele chamava de escritório, era um pequeno cubículo de quatro metros quadrados, com uma cadeira e uma secretária repleta de livros, uns com aspeto se derem bastante antigos, outros bem mais recentes.
– Senta-se nessa cadeira, por favor – disse ele, enquanto abria a gaveta central da secretária com a chave que tinha acabado de tirar do bolso das calças.
Depois de algum tempo, pouco por sinal, a rebuscar na gaveta, espetou-me, literalmente, nas mãos, três manuscritos que pareciam ser muito, mas mesmo muito, antigos.
Numa primeira observação, reparei que, enquanto um deles estava escrito em português, embora num português diferente do que usamos nos dias de hoje, os restantes estavam escritos em francês, um deles, e em inglês, o outro.
Naturalmente, comecei por ler o que estava escrito em português. Em seguida, iniciei a leitura do manuscrito escrito em francês. Muito antes de concluir a leitura, surpreendido, voltei a olhar para o manuscrito em português e, de imediato, comecei a ler o manuscrito escrito em inglês. Estava verdadeiramente espantado! Findas as leituras cheguei, como é óbvio, à conclusão a que havia chegado o alfarrabista. O conteúdo dos manuscritos era rigorosamente o mesmo, com exceção do idioma em que foram escritos e das datas que identificavam o momento e o local em que haviam sido redigidos. Olhei para o alfarrabista, ele olhou para mim e, com curiosidade, questionou:
– Qual é a sua opinião sobre os manuscritos?
Deixem-me acrescentar que as letras dos manuscritos eram muito semelhantes, assim como as assinaturas que os encerravam. A diferença mais notória entre eles marcava presença na primeira linha: o manuscrito redigido em português, começava por “Lisboa – Domingo, 17 de Outubro de 1582”; enquanto o que estava redigido em francês, iniciava-se por “Paris – Domingo, 25 de Novembro de 1582” (em francês, claro); e, por fim, o manuscrito escrito em inglês, apresentava “Londres – Domingo, 30 de Dezembro de 1582” (em inglês).
A curiosidade do alfarrabista, como podem aperceber-se, devia-se ao facto de ele não ter a certeza de estar perante manuscritos, potencialmente, verdadeiros. A curta conversa que tivemos em seguida permitiu dissipar as suas dúvidas.
DESAFIO AO LEITOR
O que o autor, o campeão nacional Daniel Falcão, quer que nos diga, atendendo aos elementos conhecidos, é se:… a) Apenas a data do manuscrito redigido em Lisboa está correta; b) Apenas a data do manuscrito redigido em Lisboa está incorreta; c) Ambas as datas dos manuscritos redigidos em Lisboa e em Paris estão corretas; d) Todas as datas dos manuscritos estão corretas. Mas, atenção, não basta escolher uma das alíneas como resposta certa. É preciso justificar a escolha, o mais pormenorizadamente possível, através de um relatório que deve ser enviado para o orientador da secção, até ao dia 10 de setembro, por um dos seguintes meios:
– por correio, para AUDIÊNCIA GP / O Desafio dos Enigmas, rua do Mourato, 70-A – 9600-224 Ribeira Seca RG – São Miguel – Açores;
– por email, para salvadorpereirasantos@hotmail.com.
E, já sabe, não se esqueça de identificar a solução enviada com o seu nome ou pseudónimo. Entretanto, prepare as “células cinzentas” para o enigma (o último!) que se seguirá.