À margem das festas de S. João, que em Ginetes, concelho de Ponta Delgada, se caracterizam por um lado mais religioso, cumprindo uma promessa de 200 anos, João Paulo Medeiros, presidente da Junta de Freguesia, falou ao AUDIÊNCIA do atual momento da freguesia e de uma possível recandidatura ao cargo, deixando claro que a falta de fundos e alguma falta de apoio do Governo Regional prejudicaram alguns investimentos.
Estas festas de S. João são diferentes das normais, das tradicionais romarias. Estas estão mais ligadas ao carácter religioso.
Sim. Esta festa resulta de uma promessa que tem mais de 200 anos do nosso povo. Conta a lenda que quando o vulcão rebentou no mar, na ilha Sabrina, terá cuspido para terra lava e pedras, destruindo várias habitações. Houve uma grande crise sísmica e o povo reuniu-se ao toque dos sinos, pegou nos símbolos do Espírito Santo e enfrentou a lava que se dirigia para terra. E a lava terá recuado para o mar. Foi então feita essa promessa de, todos os anos, se realizar uma festa, uma procissão, que vai desde a Igreja até ao pico das camarinhas, e lá é coroado o mordomo do império de s. João. Entretanto isto foi evoluindo, a Igreja foi dinamizando e assumindo essa promessa em nome da comunidade e hoje em dias as imagens e santos da igreja saem e são enfeitados pelas pessoas e vamos até ao pico das camarinhas cumprir a promessa que nunca foi interrompida ao longo destes 200 anos.
Ser presidente de uma freguesia com esta dimensão não é fácil…
Ser presidente em qualquer freguesia nunca é tarefa fácil mas temos algumas especificidades, desde logo o facto de sermos duas localidades, os Ginetes e a Várzea, que são a mesma freguesia. Até 1972 as Sete Cidades também pertenciam aos Ginetes que é uma freguesia bastante grande em termos geográficos. Hoje em dia continua a ter essa dispersão da Várzea e dos Ginetes e como são praticamente duas freguesias porque têm igreja, escola, cemitério, costumo dizer que o trabalho é a duplicar e o dinheiro é a dividir. E isso torna-se um bocadinho complicado. Mas temos a sorte de trabalhar em conjunto com as instituições da freguesia, que são várias, e tentamos ao longo destes anos, como se costuma dizer, remar todos para o mesmo lado. E isso facilita a nossa tarefa.
Esta é uma freguesia de cor diferente do Governo Regional. Tem-se ouvido muitas queixas de quem não é da cor do Governo Regional, que sofre na pele as consequências. Aqui no Ginetes também sentem isso?
O que posso dizer sobre isso é que os apoios que o Governo Regional por força da lei dá, são publicados no jornal oficial e temos conhecimento deles. De facto, no último ano, ou nos últimos dois anos, têm sido muitos milhões, sobretudo por uma determinada secretaria, por coincidência agora é candidata à Câmara Municipal de Ponta Delgada, que tem distribuído muitos milhões por freguesias que são geridas pela mesma simpatia política. Isto não nos coíbe nem nos diminui, pelo contrário, dá-nos mais ânimo e mais força para, com o menos que temos, conseguirmos fazer mais. E penso que, de certa forma, temos conseguido.
Vai-se recandidatar nas próximas eleições?
Essa é uma decisão que ainda não está tomada. Estamos a aguardar pelo fim das festas para decidir, é uma decisão que tem de ser tomada a curto prazo. Já estou na Junta de Freguesia há 16 anos, nem sempre como presidente, portanto, ainda me posso candidatar a mais um mandato.
Neste mandato, o que ambicionava fazer e conseguiu, e o que, por qualquer razão, não conseguiu?
Um dos grandes sonhos da nossa comunidade era recuperar o moinho de vento do Pico do Cavalo, que dá o nome à freguesia. Infelizmente não foi possível dar seguimento a esse projeto por falta de verbas. É muito dinheiro envolvido. Mas estamos a trabalhar para que, no âmbito do orçamento participativo do município de Ponta Delgada, em 2018, seja possível concretizar isso. A outra situação, que é muito querida, é a criação de um parque infantil na freguesia. Mas, em princípio, até ao final do mandato, ainda vamos conseguir.
O que gostava de fazer no próximo mandato, ou quem o vier substituir? O que realmente falta e é inadiável?
Desde logo, a recuperação do salão do edifício no centro da freguesia para um centro comunitário, um edifício polivalente que abranja situações culturais, sociais, ou seja, diversas valências. É importante que seja recuperado. Felizmente, ao longo destes 16 anos, em termos de arruamentos e de apoio social, temos conseguido dinamizar muita coisa. Portanto, no fundo, é dar continuidade a esse esforço, estar próximo das populações. A título de exemplo, quando começamos tínhamos mais de 35 famílias que não tinham casas de banho e hoje já conseguimos, através de um investimento enorme, em cooperação com o Governo Regional e com a Câmara Municipal, diminuir a quantidade de casos e hoje são menos de uma dúzia.
E o município de Ponta Delgada tem-se esquecido dos Ginetes, ou tem sido solidário?
Tem sido solidário de forma geral com todas as freguesias. Tem por princípio tratar todas as freguesias por igual, distribuindo as verbas de acordo com critérios que são nacionais e transparentes. Neste mandato houve aqui um problema que foi a ausência de fundos comunitários, é um processo de transição do quadro comunitário 2007-2013 e o início do de 2014-2020, mas o facto é que já estamos a meio de 2017 e ainda não começou. A ausência de fundos comunitários atrasou muitos investimentos que por parte do município não se concretizaram. Vamos a ver, penso que o próximo mandato será muito mais efervescente.
O que será melhor para Ponta Delgada, José Manuel Bolieiro ou Vítor Fraga?
Sem qualquer sombra de dúvida, acho que a experiência e o discernimento do presidente José Manuel Bolieiro será sempre uma grande mais-valia para o concelho de Ponta Delgada e para as suas 24 freguesias.