O BRASÃO DO MARQUÊS DE POMBAL QUE ESTEVE ESCONDIDO DURANTE DÉCADAS

Sabias que o brasão do Marquês de Pombal esteve ausente durante mais de meio século de um dos monumentos mais emblemáticos de Lisboa? A história começa em 1775, com a inauguração da estátua equestre de D. José I na Praça do Comércio. No pedestal, além da figura do rei, foi colocado um medalhão em bronze com o perfil do seu poderoso ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal.

Dois anos depois, em 1777, D. Maria I sobe ao trono. A nova rainha não perdoava o Marquês pelos abusos cometidos durante o reinado do pai e rapidamente tratou de o afastar da política. Mas não ficou por aí. Um medalhão em bronze com a sua imagem, exposto num dos locais mais centrais do país, era demasiado para tolerar. Por ordem do rei consorte, D. Pedro III, o medalhão foi retirado durante a noite, discretamente, para evitar protestos populares. No seu lugar, colocaram o brasão da cidade de Lisboa.

O curioso é que o escultor responsável pelo monumento, Joaquim Machado de Castro — uma das grandes figuras da arte portuguesa — decidiu não se desfazer da peça. Guardou-a consigo, preservando-a durante anos, como quem guarda uma parte da memória que ainda não estava pronta para ser esquecida.

Só em 1833, já no período liberal e com outra visão sobre o legado do Marquês de Pombal, o medalhão foi finalmente reposto no pedestal da estátua. Quase sessenta anos depois, a imagem do homem que tinha sido “apagado” da História regressava ao lugar de onde nunca deveria ter saído.

Na próxima vez que passares pela Praça do Comércio, vale a pena olhar com mais atenção. Há silêncios na pedra que contam histórias — e este é um deles.