“DEFENDER A MEMÓRIA DE QUEM TRABALHOU NA PEDRA, COM MUITA DUREZA E COM MUITA NOBREZA”

A Confraria da Pedra realizou o seu X Capítulo, no passado dia 29 de outubro, no auditório da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Valadares. A cerimónia contou com a entronização de quatro novos Confrades Efetivos, um deles jovem, o que deixou no ar a certeza da continuidade da instituição. Além disso, várias outras personalidades foram entronizadas Confrades de Honra e entraram, assim, para o grupo cujo objetivo é perpetuar a memória dos pedreiros.

 

 

No dia 29 de outubro, o auditório da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Valadares recebeu o X Capítulo da Confraria da Pedra, que aconteceu num formato mais intimista do que era habitual.

A sessão teve início com o tradicional pequeno-almoço do pedreiro, onde os presentes puderam apreciar o arroz de tomate e pataniscas, refeição que, normalmente, os profissionais da pedra faziam durante a manhã, para ter força para o dia de trabalho.

Iniciada a formalidade da cerimónia, José Carlos Leitão, chanceler presidente da Confraria da Pedra, recordou as pessoas que partiram nos últimos tempos, dando maior ênfase ao confrade José Reis, cuja imagem esteve em palco, durante toda a iniciativa. “O nosso Zé Reis, que nos deixou a 21 de maio, é uma pessoa que estaria aqui presente com toda a certeza, aliás, estaria e está”, disse o anfitrião antes de pedir um minuto de silêncio.

Quebrando um pouco a ordem da cerimónia, José Carlos Leitão chamou o padre Fernando Coutinho, da paróquia da Madalena, para ser entronizado Confrade de Honra, uma vez que o mesmo tinha de se ausentar para ir realizar um casamento. “O que vem cá fazer hoje é passar a ser Confrade de Honra da Confraria da Pedra e assumir, connosco, um compromisso de, também, passar para a memória dos vindouros, o nosso objetivo, que não é outro que não seja defender a memória de quem trabalhou na pedra, com muita dureza e com muita nobreza”, referiu o chanceler presidente ao pároco que, depois de receber a sua medalha, passou pelo ritual de brindar e beber vinho de um nabo.

De volta ao rumo normal da sessão, José Carlos Leitão lembrou a primeira vez que ele próprio foi chamado a participar numa confraria, hoje com o nome de Confraria dos Velhotes, padrinhos da Confraria da Pedra, que nasceu a 12 de julho de 2001. O X Capítulo foi feito de forma interna, para reafirmar o grupo de dentro para fora, porque, segundo o chanceler presidente “uma coisa que quase nos matou foi a pandemia, mas o nosso caminho vai continuar a ser o da solidariedade”.

“Somos este grupo de pessoas que se junta, na última terça feira do mês, fazemos um jantar tertúlia, convidamos sempre uma pessoa que nós entendemos que tem algo para trocar connosco, de experiências, e são tantos os que estão cá hoje, que nos foram lá dizer, basicamente, quem são”, explicou o anfitrião do evento, que recordou que “nós temos muito orgulho nos confrades que vamos entronizar hoje e íamos entronizar mais, mas alguns não puderam estar presentes, por dificuldades de agenda”.

Além da vertente de perpetuação da memória de quem trabalhou na pedra, a confraria orgulha-se da sua vertente solidária forte. José Carlos Leitão deu o exemplo do mestrado do José Henriques, pago pela confraria e que lhe permitiu, hoje, ter um emprego, apesar das limitações físicas. Além disso, contou ainda sobre o apoio prestado na obra do Lar de São Francisco de Assis, liderado pelo Frei Fernando Ventura, e que será inaugurado no próximo dia 8 de dezembro. “Somos também banqueiros no Banco de Leite, onde, com a ajuda de muitos que estão aqui, metemos, todos os meses, 1500 kg de leite em pó, de substituição, em São Tomé e Príncipe. Se não fosse isso, aquelas crianças não teriam grande futuro, porque lá é normal haver meninas com 10, 11 e 12 anos a serem mães”, referiu, ainda, José Carlos Leitão.

Antes das entronizações, o chanceler presidente ainda mencionou que a sua neta não quis participar na cerimónia porque “diz que isto é uma coisa de idosos”, lamentando ver, realmente, tantas pessoas mais experientes na sala, em detrimento das mais jovens. Mas, para contrariar isso, chamou, assim, o jovem de 14 anos, Diogo Botelho, ao palco para ser entronizado. “Eu só quero agradecer por estar aqui, agradecer à minha família e a todos os que estão aqui e que vão ser, agora, uma nova família para mim. É preciso, como já foi dito, renovar as pessoas, arranjar mais gente jovem, para continuar com esta confraria no futuro”, foram as palavras do jovem, depois de passar pelo ritual de entrada no grupo. “Sábias palavras, tenho de me pôr fino, não tarda muito está a fazer uma lista contra mim”, brincou, depois, José Carlos Leitão, arrancando largas risadas da plateia.

Posteriormente, seguiu-se a entronização de três Confrades Efetivos: Albino Monteiro, Joaquim Guedes e Manuel Cardoso, que depois de receberem as suas medalhas, agradeceram e expressaram o orgulho de pertencer à família da Confraria da Pedra.

Após isso, de uma vez só, José Carlos Leitão chamou ao palco aqueles que iriam ser entronizados Confrades de Honra: Alexandra Amaro, Luísa Magalhães, José Manuel Soares, Rafael Silva, Manuel Fernandes Silva, Francisco Baptista, Manuel Moreira, Manuel Guedes Martins, Yping Chow e António Domingues, colaborador Jornal AUDIÊNCIA. Todos tiveram a oportunidade de dirigir uma palavra à sala e de agradecer a honra. António Domingues, por exemplo, dedicou a medalha ao seu pai e contou a todos que trabalhou nas pedreiras da Madalena durante cerca de um ano, depois de ter terminado o ensino primário.

Seguiu-se o momento das homenagens. Os confrades Abel Guedes e Joaquim Melo Nogueira foram elevados a Confrades de Honra, “porque merecem a nossa simpatia e o nosso carinho, pela disponibilidade e pelos serviços”, referiu o anfitrião do evento.

Seguidamente, a Confraria da Pedra ainda homenageou Carlos Pereira, pelo feito de ter conseguido, com a sua equipa, vencer a Volta a Portugal deste ano, tendo sido Joaquim Leite, ex-ciclista, e Rafael Silva a entregar-lhe o diploma; e Armanda Teixeira “por ser o exemplo da simpatia, do sorriso franco e do abraço fraterno”. O Frei Fernando Ventura também recebeu o diploma de gratidão e solidariedade por parte da confraria, por lhes ter ensinado que “podemos não acabar com a fome no mundo, mas podemos tirar alguém do mundo da fome”. “Este diploma será colocado numa das paredes do Lar São Francisco de Assis, este milagre feito pelos pobres, em dois anos, e em que uma sala vai ter o nome da Confraria da Pedra (…). O Hospital de São Tomé, quando corre bem, tem soro fisiológico e paracetamol, o gabinete dentário, durante todo o ano, não tem anestesias. O lar terá uma enfermaria, um gabinete e um ambulatório. Vai ser possível, lá, fazer pequenas cirurgias, as que não precisem de anestesia geral. Será inaugurado no dia 8 de dezembro. Temos a enfermaria, a cozinha e a lavandaria montadas, mas temos, sobretudo, gente com coração pronta para trabalhar”, referiu o Frei sobre o projeto.

O chanceler presidente agradeceu, também, a presença de algumas entidades, nomeadamente aos Bombeiros Voluntários de Valadares pela cedência do espaço, e entregou, às confrarias amigas presentes, uma pequena lembrança. José Carlos Leitão deu ênfase à Confraria da Moamba, por se tratar de uma confraria recente e que participava, pela primeira vez, num capítulo da Confraria da Pedra.

Para terminar a sessão, Miguel Almeida, presidente da Junta de Freguesia da Madalena, também dirigiu umas palavras aos presentes e referiu que espera “que o chanceler presidente não se arrependa e mantenha o convite para breve”, podendo, assim, juntar-se aos Confrades de Honra, numa próxima oportunidade, e saudando o testemunho histórico que perpetuam e a vertente solidária que defendem. “A Madalena tem muita honra nesta confraria”, sublinhou, ainda, não escondendo que fazia gosto que, num próximo capítulo, toda a cerimónia se pudesse realizar na terra que lidera.

Já depois de terminada a formalidade, João Paulo Correia, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, juntou-se ao enorme grupo para a fotografia de família e a cerimónia terminou com um almoço, onde não faltou a tradicional massada dos pedreiros, antes do prato principal.