A chuva da noite de 15 de outubro impediu que a Desfolhada do Resto do Rancho Folclórico e Cultural de Nossa Senhora do Monte se realizasse junto à eira. As espigas foram transportadas para o interior da sede e, lá, deu-se a encenação do que, em tempos, eram as noites dos nossos antepassados a desfolhar o milho. O serão foi um sucesso e contou com a presença de dezenas de pessoas, entre as quais Elísio Pinto, vereador da Câmara de Gaia, e Filipe Silva Lopes, presidente da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo.
A interpretação da Desfolhada do Resto, protagonizada pelo Rancho Folclórico e Cultural de Nossa Senhora do Monte, aconteceu no passado dia 15 de outubro. A chuva que se fez sentir, nessa noite, impediu que a representação fosse fiel aos tempos antigos e acontecesse na eira, no exterior, no entanto os membros do rancho adaptaram-se e levaram as espigas para o interior da sede da coletividade.
“Foi muito significativa esta desfolhada, ainda para mais tendo em conta o sacrifício a que ela obrigou. Basicamente, despejamos as espigas às seis da tarde na eira e às sete e meia estávamos a trazê-las da eira para aqui, para o interior”, referiu Manuel Silva, presidente da coletividade, asseverando que “não é igual, há mais conforto, melhor ambiente, as pessoas estão mais resguardadas do frio, mas, para nós, é muito mais trabalhoso. Tenho de agradecer aos meus componentes que, daqui, levaram as espigas para o espigueiro, que ainda é um pouco longe. Foi um trabalho árduo”.
A encenação da desfolhada começou com as luzes apagadas e apenas alguns candeeiros acesos para, segundo Manuel Silva, as pessoas compreenderem como eram vivida a noite desta tradição. “Era, realmente, assim, antigamente. Evidentemente que, se calhar, havia mais candeeiros, mas era assim, as pessoas não se viam e quando aparece aquele serandeiro ou encapuçado, a ideia é ninguém o reconhecer, estava escuro e ele vinha ver se a namorada dele estava cá”, explicou.
Quem anda no rancho, há muito sabe o que é uma desfolhada e o que representa, mas o presidente desta instituição sublinhou a importância de mostrar aos mais jovens esta tradição, nomeadamente às crianças, que muitas vezes não sabem que o processo do pão que comem, começa assim, na desfolhada.
“Correu muito bem, as espigas estão no sítio, fizemos uma desfolhada impecável, com um ambiente, também ele, impecável, cheio de vivacidade”, concluiu Manuel Silva, em jeito de balanço.
Foram dezenas as pessoas que assistiram à encenação da coletividade, entre elas, Elísio Pinto, vereador da Câmara Municipal de Gaia, Filipe Silva Lopes, presidente da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo, Joaquim Tavares, presidente da Assembleia de Freguesia, Paulo Rodrigues, presidente da Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia, e Zélia Silva, conselheira técnica da Federação do Folclore Português.
Zélia foi a primeira a dirigir-se ao público e destacou o empenho do rancho na realização do evento, felicitando “a maneira como fizeram o início da desfolhada, é de louvar, souberam mostrar ao povo como era antigamente”, reforçando que “muitas crianças pensam que o pão que comem vem diretamente do Continente”.
Já Paulo Rodrigues agradeceu o convite e afirmou que “é fantástico reviver os tempos antigos, aquilo que as pessoas viviam naquela altura, sem luz e, muitas vezes, sem outras mordomias, mas viviam de uma forma mais simples, e mais feliz até, digo eu”. Por fim, apelou a que o grupo continuasse a manter vivas “as nossas tradições e as nossas raízes”.
Por sua vez, Joaquim Tavares, presidente da Assembleia de Freguesia de Pedroso e Seixezelo, enalteceu a atividade e a “importância que tem na nossa comunidade local”, dando também o exemplo das crianças, mais especificamente as que, nas escolas, tiveram a oportunidade de receber os ranchos das freguesias e aprender sobre a desfolhada.
Filipe Silva Lopes, autarca de Pedroso e Seixezelo, aludiu que “o mais importante é manter vivas estas tradições, os valores e os destinos de uma terra que esta coletividade, também representa”. Apesar de ter referido, a par de Joaquim Tavares, as encenações nas escolas, o edil frisou o convívio que a noite representou. “É um orgulho estar aqui e fazer parte de uma comunidade, que tem uma instituição com a importância e com o destaque que tem esta e é um orgulho ver que, aos poucos, estamos a retomar as nossas atividades normais, depois de dois anos estranhos na nossa vida”, terminou com a certeza de que “estes momentos nos enriquecem a todos”.
O vereador da Câmara de Gaia, Elísio Pinto, transmitiu a amizade e alegria que Eduardo Vítor Rodrigues tem pelo folclore e pelo que ele representa. “Ao movimento associativo, mas principalmente aos ranchos, eu quero deixar uma palavra de gratidão, por aquilo que representam no folclore municipal, mas sobretudo nacional”, disse, sublinhando que, nesse mesmo dia, em Vila Nova de Gaia, estavam a acontecer seis desfolhadas e dando os parabéns pelo exemplo que os ranchos dão na dinamização da cultura e das tradições.
Para terminar a noite, além do bailarico obrigatório, ao qual todos foram chamados a participar, a organização distribuiu castanhas, pão e vinho pelos que tinham trabalhado, mas os associados e visitantes também tiveram a oportunidade de provar, apoiando assim, com um valor simbólico, o rancho.