Tiago Jesus tem 28 anos, nasceu em Lisboa e assume-se como sendo “cantautor das dores dos tempos modernos”. Em 2016, começou por tocar as suas composições nas ruas de Lisboa e, em 2023, lançou o seu EP de estreia, intitulado “Onde Andam Todos?” que, este ano, foi publicado em todas as plataformas digitais. A preparar o lançamento do seu primeiro álbum, “Solsuspenso”, o artista falou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, sobre a sua carreira no mundo da música, a banda JAVISOL e os inúmeros projetos para o futuro, garantindo que vai continuar a trabalhar no que mais ama, que é cantar.
Para quem não o conhece, quem é o Tiago Jesus?
O Tiago Jesus tem 28 anos, é natural de Lisboa e é um cantautor, que escreve aquilo que quer cantar e que quer dizer. Alguém que fala um pouco sobre aquilo que acontece quando estamos sozinhos e quando pensamos sobre o que aconteceu no final do dia. Não é assim tão complexo, mas acho que sou alguém que fala sobre temas mais pesados do que sentimos.
Como e quando é que surgiu a sua paixão pela música?
É difícil dizer quando é que realmente surgiu, porque acho que é uma coisa que está lá sempre presente connosco, desde quando era criança e cantava aquelas músicas. Então, acho que é difícil de catalogar quando é que começa a grande paixão, mas acho que nasceu um pouco já dentro de mim. Acho que desde que eu me lembro eu sempre gostei de música e de cantar, especialmente. Mas, posso dizer que talvez ali nos profundos 16 anos, quando comecei a ouvir Red Hot Chili Peppers e comecei a fundar bandas e a tentar criar música original. Acredito que foi nesta altura que despertou a verdadeira paixão.
Fale-me um pouco acerca do seu percurso artístico. Desde quando vive da música?
Em 2016, sensivelmente, comecei a tocar na rua, em Lisboa, assim, mais frequentemente. Já tinha experimentado umas quantas vezes antes, mas a partir daí é que acho que se tornou, mais ou menos, uma coisa profissional, porque nessa altura ia todos os dias, o que dava um grande rendimento, neste caso, diário, porque quando cantamos na rua ganhamos logo o dinheiro no dia e dá-nos aquela sensação de que quanto melhor formos ou quanto melhor de nós dermos, melhor nos vamos sair, no final do dia, em termos financeiros, mas sim, hoje em dia, vivo dependente da música. Também não tenho grandes luxos, então é fácil de sustentar as contas que tenho neste momento da casa e da comida e transportes.
Quando começou a tocar e a cantar na rua pela primeira vez, qual foi o sentimento?
Vergonha, talvez. Acho que foi o mais forte de todos.
E qual foi a recetividade por parte do público?
Acho que é algo que começou a ser transformativo, porque no início quando era mais novo, eu cantava outras músicas, nomeadamente covers e músicas em inglês e acho que com o passar dos tempos e com o facto de ter passado a cantar as minhas próprias músicas o impacto que o público tem em mim começa a ser outro. Por exemplo, quando eu toco as minhas músicas e as pessoas gostam, é muito mais valioso, é muito mais importante do que o dinheiro que se depois acaba a ganhar a cantar músicas em inglês.
Toca guitarra. Como é que surgiu o interesse por este instrumento musical?
Gosto muito de tocar guitarra, mas não me chamaria de melhor guitarrista ou algum virtuoso. A guitarra é um bocado mais secundário, para poder cantar por cima, mas acho que surgiu, porque sempre houve uma guitarra em minha casa, aliás, o meu irmão, quando eu era criança, era uma figura importante para mim e tocava guitarra, então eu quis aprender. Também dou uns toques no piano e um bocadinho de trompete, mas não tenho escola, é tudo de aprender com amigos e assim. Contudo, o que melhor sei, diria que é cantar.
Uma vez que escreve as suas próprias músicas, que tipo de mensagens é que pretende transmitir através da sua voz?
Principalmente que não estamos sozinhos nas coisas menos felizes que sentimos, que, às vezes, não tem mal chorar só com uma coisa que pode parecer mínima, mas que na verdade não é, que se calhar não importa quanto tempo demora, mas vamos conseguir alcançar os nossos sonhos. Acho que é um pouco por aí, por dar uma sensação de companhia a quem se perde um pouco neste tipo de sentimentos, que às vezes podem ser considerados mais depressivos ou tristes.
Recentemente lançou o seu EP intitulado “Onde Andam Todos”. Qual foi o sentimento?
Foi das coisas mais especiais de sempre. Lancei o EP o ano passado só em versão física, porque queria testar como é que era fazer as coisas à minha maneira ou de uma maneira diferente e até foi bastante positivo, houve alguma adesão aos CDs e mesmo no Bandcamp, onde também estava disponível, havia algumas pessoas a ouvir. Mas sim, agora que saiu no Spotify chegou a muito mais pessoas que se calhar por uma questão de não conhecerem o Bandcamp ou se calhar por uma questão financeira, não tiveram aquela disponibilidade ou a predisposição de irem à procura de ouvir, então agora tornou-se mais fácil de chegar a essas pessoas. Em geral, eu acho que foi bem recebido, porque não há grande pretensão de ser um álbum épico ou de deixar ali uma marca temporal na música. É quase como se fosse uma página do diário, mas aberta ao público.
Se pudesse destacar o momento mais marcante do seu percurso musical, qual seria?
Há vários que são muito importantes, mas acho que agora, neste momento, talvez estes últimos concertos com a minha banda, JAVISOL, foram muito especiais, porque nunca tínhamos tocado para aquelas pessoas e eram mais de 150 pessoas. Foi especial para mim. Já tocámos aqui em Lisboa para 100 e 150 pessoas, mas ali foram mais de 150 pessoas que nunca tinham ouvido e, neste momento, em que já estou nisto há tantos anos, parece que às vezes estou a tocar para as mesmas pessoas e dá aquela sensação será que as pessoas gostam mesmo ou já é hábito? E, ultimamente, poder tocar em sítios onde estão muitas pessoas que eu sei que nunca tinham ouvido é muito especial e marcante, porque, com o tempo, acabamos por tocar muitas vezes para as mesmas pessoas. Acho que isto é das coisas que mais motiva e mais dá força para chegar mais longe.
Porque para além de cantar a solo, também integra outros projetos musicais, como é o caso de, tal como mencionou, o JAVISOL.
Portanto, eu tenho também este projeto que é o JAVISOL, onde eu sou também compositor, mas onde tenho já uns colegas que também compõem as músicas comigo e tocamos mais rock, é um pouco mais pesado que o EP que lancei e que os outros trabalhos que também estou a compor e a planear lançar. Portanto, esta banda tocou agora em dois festivais mais pequenos, que foi o Camecípare, em Cesar, e o Avanca Gare, em Avanca e foi mesmo especial, porque havia malta jovem e malta mais velha e essa receção é aquilo que eu mais quero na minha carreira e na minha vida artística, isto é, poder chegar a cada vez mais pessoas diferentes e novas.
Também sei que está para breve o lançamento de um álbum.
O meu álbum de estreia, enquanto Tiago Jesus, vai chamar-se “Solsuspenso” é um pouco um trocadilho com o nome da banda, com também o meu nickname do Instagram, que parte de várias histórias. Então, decidi que “Solsuspenso” poderia ser o nome do meu álbum, pois é um nome que já existe, pelo menos ali, para me definir na internet há uns valentes anos e, no fundo, as músicas são sobre isso, sobre o sol estar suspenso, sobre a luz da nossa vida e não estar ali no plano principal e estou a pensar em criar um disco com muita influência folk, mas ao mesmo tempo mais pesado, com outras influências minhas, mais grunge. Não consigo catalogar bem o género, mas gostava de fundir o folk mais ligeiro e mais tradicional, a música mais pesada, não queria chamar por exemplo metal, mas tem muitas influências metal. Contudo, continua a ser folk e meio ligeiro.
Para o lançamento deste álbum, que outros projetos têm em vista para os próximos tempos?
Acho que o projeto mais prioritário agora para mim é o álbum de estreia da minha banda, JAVISOL que, na verdade, são as primeiras músicas que eu compus de sempre e que já existem há muitos, muitos anos. Nós estamos a gravar para esse trabalho e para além de ser, também, um dos trabalhos mais importantes que eu conto vir a fazer, é o que realmente vai ser mais libertador, porque são muitos anos à espera de concretizar e materializar estas músicas. Acho que este primeiro EP do “Onde Andam Todos” foi mais uma coisa assim de um momento, por exemplo, naquela altura em que a banda estava meio parada nós decidimos, vamos gravar alguma. Este EP foi gravado a solo, juntamente com o baixista da JAVISOL, André Morais e, no fundo, algumas músicas são as que tocamos enquanto banda. Mas, por exemplo, o álbum “Solsuspenso” que eu estou a compor agora já terá músicas que não serão tocadas pela banda. Aqui eu estou a tentar dividir o repertório, porque antigamente tocava muitas músicas da minha banda nos concertos a solo, de modo a separar os espetáculos.
Qual é o seu maior sonho?
Acho que neste momento, adorava tocar em todos os festivais de Portugal. Adorava. Seria a concretização do meu maior sonho, acho eu, conseguir chegar a esse sítio de exposição, onde tanta gente pode ouvir a minha música, que é a minha vida, não só é o tempo que eu invisto e que passo a compor e a tocar, mas também é a minha vida no sentido em que é sobre mim que eu falo e sobre mim que as músicas são e cada passo que elas dão, eu sinto que é um passo em que, neste caso, certos traumas que eu tenho e que falo nas músicas são curados, ou que certas dúvidas são esclarecidas. Eu acho que é um pouco por aí, é um pouco clichê, mas é mesmo verdade.
Que mensagem gostaria de transmitir aos nossos leitores?
Gostava de, acima de tudo, convidar os leitores a ouvirem a minha música, tanto no meu projeto a solo, no EP, como com a banda. Mas, acima de tudo, gostava de dizer a quem faz música ou a quem escreve música, e acho que isto é um mundo complicadíssimo e que em Portugal nunca ninguém vai ser ninguém, que quando nós acreditamos em nós próprios e quando não desistimos, chegamos a sítios bem mais impactantes do que pensávamos originalmente. Acredito que tudo o que eu alcancei hoje em dia, enquanto músico, desde concertos onde há muitas pessoas, porque para mim muitas pessoas são tipo 150 pessoas, por enquanto, que pagaram um bilhete para irem ver o nosso espetáculo, mostra que quando colocamos o nosso esforço nisto de ser artista, as coisas compensam, talvez não financeiramente, porque ninguém vai viver aqui no underground, ninguém vai viver muito bem, acho eu, mas é o suficiente para pagarmos as contas e continuarmos a tentar.