ECOS DUM “DUELO IBÉRICO” DE 20/6/1981 NO SOFÁ E NAS “CABINAS”

Havia pouco mais de dois anos que tinha sido admitido no extinto diário portuense “O Comércio do Porto” (cessou actividade em 31/07/2005), para colaborar na secção de Desporto, ao tempo sob a liderança do saudoso Manuel Correia de Brito. A “Invicta” já fervilhava face ao anúncio de mais um “escaldante” (embora amistoso) duelo ibérico, agendado para o antigo Estádio das Antas, entre as selecções de Portugal, orientado pelo antigo internacional do Sporting, Júlio Cernadas Pereira (Juca) e da vizinha Espanha (“La Roja” para “nuestros hermanos”), ao tempo sob a “batuta” de uma das maiores glórias do futebol espanhol e do Real Madrid, José Emílio Santamaria, “central” uruguaio de Montevideu, com dupla nacionalidade por via da origem asturiana (Gijon) dos seus progenitores. Mas Santamaria era também um ídolo dos jovens da minha geração, muitos dos quais oriundos da minha comunidade de origem, no universo do Parque Natural do Douro Internacional. Por isso, não podia deixar de recordar aqui a figura e a generosidade dum condiscípulo e amigo, que tão prematuramente nos deixou (!) – Alberto Augusto Lopes – que adorava jogar futebol, tal como euEm campo, empolgava-se de forma notável, quer na “construção” do jogo, quer na elegância de execução que o assemelhava ao citado treinador da selecção de “nuestros hermanos” na Península.

Voltando ao amigável em si, uma vez que se tratava dum encontro que fazia crescer as emoções, para não dispersar as atenções do cronista designado, fui eu o incumbido de assegurar a audição das “Cabinas”, isto é, de registar pela voz dos treinadores, o comentário final desse jogo, que as nossas cores acabaram por vencer por (2-0), já na ponta final do encontro, com golos de Nené e Nogueira. Porém, depois do jogo terminado, o momento mais caricato estava para vir, tendo-se gerado uma certa confusão aquando dos preparativos para a audição dos comentários finais. Face à momentânea desorganização gerada e ao elevado número de órgãos de comunicação presentes, de repente, vi-me afastado do contacto directo com os interlocutores (treinadores) colocando-me numa situação delicada. De imediato, ainda que fosse contra os meus princípios, saltei para um sofá que havia na sala e só assim consegui testemunhar o essencial das audições às incidências do jogo descritas pelos dois técnicos. Hoje, há distância de quase meio século, face à caricata atitude que tive, dá-me vontade de sorrir pela desagradável situação em que involuntariamente me envolvi. Todavia, se assim não fosse, este “repórter estreante” correria o risco de regressar à Redação de “mãos-a-abanar”, isto é, sem ter cumprido minimamente a função para que fora incumbido.

Mas, além desta curiosa peripécia, como há sempre leitores que adoram recordar este tipo de acontecimentos, achei por bem nomear aqui todos os intervenientes do lado português, que envolveu atletas do FC Porto, Benfica, Sporting e Belenenses, entre os quais os guarda-redes Bento e Tibi; os defesas Gabriel Mendes, Eurico Gomes (cheguei a entrevistar os dois nas Antas), Simões e Pietra; um trio intermédio formado por João Alves, Shéu e Carlos Manuel, e outro que incluiu os avançados Manuel Fernandes, José Alberto Costa e Nené Tamagnini. Como se tratava de um jogo de cariz diferente, Juca

refrescou a equipa lançando na segunda parte, Lima Pereira (deixou-nos há poucos meses), António Sousa (ambos campeões europeus pelo FC Porto), Amilcar, Chalana e Nogueira, enquanto do lado espanhol, Emílio Santamaria lançou na partida, entre outros, além do guardião Arconada, do “madrileño” Juanito, e do lateral direito e antiga “estrela” do Real Madrid, José António Camacho, que anos mais tarde viria a conquistar a Taça de Portugal, na condição de responsável técnico do Benfica.