Dois meses emblemáticos da nossa memória colectiva que agitaram e agitam corações e sensibilidades, moveram e movem paixões e ódios, mas sem dúvida ergueram novas ideias, derrubaram barreiras ou preconceitos e conduziram-nos, com outros povos irmãos, para novas fronteiras e caminhos de liberdade, democracia e desejado progresso, numa caminhada que ainda não tem fim à vista, pois os escolhos são muitos, as traições também, o oportunismo e a corrupção fazem carreira.
Dando como certa a ideia de que as forças vivas da nova sociedade para funcionarem bem devem ser geridas por quem trabalha e não pelos profetas do retrocesso, da exploração e das desigualdades, apostados nos dias de hoje em levar-nos para situações de colapso social e descalabro económico de consequências imprevisíveis, podemos concluir que a História é o juiz e o seu executor é quem trabalha.
O homem necessita, em primeiro lugar, de trabalho com direitos para aceder a alimentação e habitação condignas e a serviços públicos de qualidade, isto é, duma governação com a economia ao serviço da população trabalhadora, homens, mulheres e jovens, pois é dela que resulta a produção e a riqueza do País.
Saudemos, pois, as datas do 1º. de Maio e do 25 de Abril pelo que elas representam na longa e dura luta contra a exploração do homem pelo homem, o fascismo e a emancipação do ser humano. Mas não podemos baixar os braços, pois a humanidade tendo passado por muito sofrimento, continua ainda a enfrentar nos dias de hoje os resultados nefastos derivados da actuação do imperialismo na sua ânsia de hegemonismo e dum militarismo deveras perigoso para a Paz mundial.
Não nos esqueçamos, porém, de saudar no nosso País todos aqueles que tornaram em realidade o sonho de liberdade, democracia, igualdade e fraternidade, alguns dando a própria vida, durante 48 longos e penosos anos de luta, mas também os Capitães de Abril, pois eles interpretaram bem os nossos anseios e connosco saíram à rua naquela radiosa manhã. Saibamos transmitir às gerações vindouras este precioso legado da nossa história como povo e também à juventude de hoje que vive em liberdade, tal e qual como respira, mas ignorando muitos dos passos dados para a atingir.
Sabemos que nem todos os ideais de Abril e Maio estão cumpridos na democracia que escolhemos, sabemos que muito do que está consagrado na nossa Constituição é letra morta para os actuais e anteriores governantes e também sabemos que o nosso regime democrático está carente das componentes políticas, sociais, económicas e culturais no seu todo, mas não vamos, por essa razão, desanimar nem desistir de os tornar realidade.
Nos tempos de hoje, nada nos tem sido dado sem luta, todos os direitos e salários, mesmo a própria liberdade, foram conquistados e foram-no através de sacrifícios, confrontações e lutas organizadas.
Hoje, embora a tecnologia e o progresso científico tenham contribuído para o aumento da riqueza social produzida, as condições de vida das classes trabalhadoras têm-se deteriorado, em todos os países capitalistas as conquistas têm sido atacadas: estão a atingir os salários, as pensões e a segurança social, estão a privatizar tudo, não hesitam em atacar até o direito de greve, como a arma mais poderosa nas mãos de quem trabalha.
Ao mesmo tempo, estão a preparar intensivamente e a realizar guerras regionais, abrindo o caminho para novos massacres que maximizarão os seus lucros, para novas intervenções imperialistas que destruirão nações, derramarão o sangue dos povos e privá-los-ão dos seus recursos naturais.
As intervenções sob falsos pretextos no Iraque, na Líbia, no Afeganistão, na Somália, no Iémen e na Síria, a crescente agressão contra a Venezuela e a Nicarágua, a decisão de os EUA reconhecerem Jerusalém como capital de Israel e a tensão na península coreana são indícios de que as multinacionais «cheiraram» novas áreas para os seus lucros a qualquer preço e essa realidade acontece sempre por cima do sacrifício dos trabalhadores e dos povos.
Estejamos atentos aos cânticos das sereias que nos pretendem levar para caminhos escusos.