EM QUE FICAMOS

O número de desempregados que se inscreveram nos centros de emprego do IEFP tem aumentado quase todos os dias desde o início da crise pandémica, embora esteja a subir menos, apesar de os números actualizados contrariarem as declarações da Ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, a qual em entrevista à Antena 1 afirmou que «há um reflexo da retoma da actividade» porque, em Abril, a subida no desemprego registado foi de 48 mil casos e em Maio o número de registos ficou nos 16 mil.

Porém e de acordo com o Diário de Notícias, a ministra tem dados oficiais muito mais atualizados que mostram um quadro diferente, mas não os usou e só ela sabe a razão.

O Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério do Trabalho revelou que, entre o final de Maio e o dia 22 de Junho, dirigiram-se ao IEFP 15 mil desempregados, quase tanto quanto o acréscimo de 16 mil registados no mês de Maio.

A ministra também referiu que desde o final de Fevereiro havia mais 93 mil desempregados, mas estava a referir-se à realidade do mês anterior e mesmo assim afirmou que não receava um súbito aumento de desemprego.

Entretanto e de acordo com o GEP, só em Portugal Continental, o número de desempregados registados nos centros de emprego aumentou em mais de 106 mil casos e segundo o DN há indicadores avançados que mostram que o ritmo de agravamento do desemprego pode piorar, pois o número de trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos e que podem ficar sem trabalho num futuro próximo está a aumentar a um ritmo superior a 60% em meados de Junho comparativamente com os números do mês anterior.

Entre 1 de fevereiro e 22 de Junho, cerca de 3.500 trabalhadores foram referidos em processos de despedimento coletivo, quase tanto como no ano de 2019 e desde o início do corrente mês e até ao tempo presente foram atingidos pelo despedimento 800 trabalhadores, ou seja, mais 61% do que em igual período de Maio.

A ministra adiantou que há menos empresas a recorrer ao lay-off simplificado, «há menos 21 mil empresas a recorrer ao lay-off» porque desde o início desta crise pandémica recorreram ao regime «cerca de 110 mil empresas, mas só 89 mil pediram a renovação», porém e ainda de acordo com o GEP, 113 mil empresas entregaram os papéis do pedido de entrada no regime.

Para protestar contra o aproveitamento da situação epidémica pelo patronato e a tentativa de retirada de direitos aos trabalhadores, a União de Sindicatos de Lisboa promoveu um desfile entre o Rossio e a Praça do Município, em Lisboa e no passado dia 25 de Junho, acção esta inserida na semana nacional de luta da CGTP com o lema «Defender a saúde e os direitos dos trabalhadores, Garantir emprego, salários e melhores Serviços Públicos».

No caso particular da empresa Transportes Sul do Tejo, a Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul denunciou em comunicado que a administração «mantém motoristas em lay-off e não cumpre as suas obrigações de prestação de serviço público».

A comissão de utentes denuncia que, ainda antes da declaração do estado de emergência, a empresa «já não cumpria as suas obrigações» e vinha reduzindo a oferta de transportes públicos. Actualmente, «continua sem repor a totalidade dos horários», apesar de ter sido das «primeiras a aproveitar as medidas do Governo para colocar em lay-off os seus trabalhadores e para terminar com os seus serviços».

Não é legítimo que nos seja pedido para mantermos o distanciamento social e que os transportes públicos circulem sobrelotados, é inaceitável que a empresa Transportes Sul do Tejo e outras estejam a receber as verbas  «como se prestassem o serviço no período pré-epidémico» e continuem «sem cumprir as suas obrigações de prestação de serviço público”.

No Porto e numa audição da semana passada, trabalhadores da Casa da Música acusaram a administração assim como a direcção artística de falta de diálogo, e falaram em «pressões e represálias», ou seja, estamos perante um optimismo da ministra, contrastando com a dura realidade do País, pois estes exemplos replicam-se de norte a sul do nosso território, nas áreas da indústria, comércio, transportes, cultura, sem que as medidas governamentais possam pôr cobro a esta situação calamitosa que no caso dos Transportes poderá inclusivamente estar a contribuir para o aumento dos infectados com o vírus pandémico.