José Manuel Ramos foi eleito vogal do executivo da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho, no seguimento das eleições ocorridas, no passado dia 26 de maio, no salão nobre do edifício da Junta, em Serzedo, no âmbito de uma sessão extraordinária, que foi convocada pela presidente da Assembleia de Freguesia, Ana Silvina Almeida, na sequência do pedido de demissão apresentado pelo vogal Joaquim Camarinha. Durante a sessão, foi pedido um esclarecimento ao presidente da Junta de Freguesia, João Morais, relativamente à reportagem que foi publicada nos dias 19 e 25 de maio, nas edições online e impressa, respetivamente, do Jornal AUDIÊNCIA, porém o autarca sublinhou que “reservo-me no direito de não dar quaisquer esclarecimentos, consciente de tudo aquilo que aconteceu ao longo destes sete, quase oito anos, corresponde a acordos de cavalheiros. Portanto, nada mais tenho a dizer sobre o assunto”.
A presidente da Assembleia de Freguesia de Serzedo e Perosinho, Ana Silvina Almeida, convocou uma sessão extraordinária, que decorreu no passado dia 26 de maio, pelas 21 horas, no seguimento do pedido de demissão que lhe foi apresentado pelo vogal do executivo da Junta de Freguesia, Joaquim Camarinha, e teve como ponto único da ordem de trabalhos a eleição de um novo vogal.
No início da reunião extraordinária, que contou com a presença dos membros da bancada do Partido Socialista e da bancada do PSD/CDS-PP e com o apoio de Hugo Azevedo, colaborador da autarquia, Ana Silvina Almeida, fez questão de enaltecer que “em quase oito anos de mandato nós nunca tivemos o gosto de contar com a presença de qualquer jornalista nas nossas sessões da Assembleia, embora eu pense que nós tomamos decisões muito importantes e muitas, muitas, delas para os serzedenses e para os perosinhenses”, acrescentando que “foi-me pedida, pela primeira vez, a acreditação das duas jornalistas”.
Neste seguimento, a presidente da Assembleia de Freguesia passou a palavra a João Morais, presidente da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho, que revelou que “esta Assembleia extraordinária foi no seguimento do pedido de demissão apresentado pelo vogal do executivo Joaquim Manuel Camarinha, na última Assembleia de Freguesia realizada, aqui, neste mesmo salão nobre, no passado dia 30 de abril”, referindo que o executivo propunha à Assembleia o membro da bancada do Partido Socialista, José Manuel Ramos, “que assumirá de imediato as suas funções, substituindo o vogal Joaquim Manuel Camarinha, que tomará o seu lugar na Assembleia de Freguesia”.
Assim, Ana Silvina Almeida deu início à votação, que contou com a participação dos 13 elementos da Assembleia de Freguesia. No final da contagem dos votos foram anunciados os resultados, que revelaram que a proposta apresentada pelo executivo recebeu nove votos nos quais foram assinalados o “sim” e quatro votos em branco. Por conseguinte, José Manuel Ramos foi nomeado vogal do executivo da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho e procedeu-se à troca de lugares, sendo que o eleito saiu da bancada do PS e sentou-se no lugar reservado ao executivo, enquanto Joaquim Camarinha saiu da bancada do executivo e sentou-se no lugar da bancada do Partido Socialista, tendo a presidente da Assembleia de Freguesia aproveitado a ocasião para “desejar, a ambos, as maiores felicidades no exercício das novas funções”.
Entretanto, a deputada da bancada do PSD/CDS-PP, Susana Beleza, pediu a palavra, o que levou Ana Silvina Almeida e perguntar a João Morais se estava disponível para ouvir as questões, aludindo “não temos nenhum motivo, aqui, para análise, nem discussão, hoje era apenas única a exclusivamente para procedermos à eleição”. Contudo, João Morais aceitou o pedido e a social-democrata revelou que “gostava de ouvir da parte do senhor presidente da Junta, um esclarecimento de tudo o que corre nas redes sociais e do que veio Jornal e sobre o pedido de demissão do senhor Joaquim Camarinha. Eu gostava de nos desse um esclarecimento sobre o que, de facto, está a acontecer aqui, uma vez que não apareceu nenhum desmentido, nem foi nada comunicado”.
Neste contexto, o presidente da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho, afirmou que “assumi para comigo mesmo, que não faço qualquer comentário, não farei qualquer comentário e o facto de, neste caso, a comunicação social, nomeadamente o AUDIÊNCIA, ter publicado uma carta que não corresponde à carta que foi lida aqui e por isso é que eu não me vou alongar a quaisquer comentários, porque acho que houve um atropelo da comunicação social àquilo que aqui se passou, ou seja, e estamos todos presentes menos a doutora Ana Silvina que estava ausente nesse dia, de resto todos os outros elementos estavam aqui presentes e sabem que a carta aqui foi lida, não foi a carta cuja montagem saiu na comunicação social e por isso não vou comentar, nem o autor, ou seja o Jornal AUDIÊNCIA, muito menos os serzedenses e os perosinhenses, porque entendo que não houve lealdade na apresentação daquilo que saiu na comunicação social, que procurou espalhar o que não foi dito, aqui, nesta Assembleia e, como tal, reservo-me no direito de não dar quaisquer esclarecimentos, consciente de tudo aquilo que aconteceu ao longo destes sete, quase oito anos, corresponde a acordos de cavalheiros. Portanto, nada mais tenho a dizer sobre o assunto”.
Em causa está uma reportagem que foi publicada nos passados dias 19 e 25 de maio, nas edições online e impressa, respetivamente, do Jornal AUDIÊNCIA, que contém uma carta da autoria de Joaquim Camarinha, ex-vogal do executivo da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho, na qual consta que “no mandato 2013/2017 cada um dos dois elementos do executivo a quem foram atribuídos os meios tempos, transferiam a quantia de 250 euros por cada um dos catorze meses de remuneração para a conta pessoal do presidente [João Morais]. Contas feitas, os dois elementos do executivo transferiam, anualmente, 7000 euros para a conta pessoal de João Morais, “um presidente de Junta reformado e voluntário (no papel)”.
A sessão extraordinária terminou com a aprovação, por unanimidade, da minuta da ata.
Após o encerramento da reunião, o AUDIÊNCIA tentou falar com Ana Silvina Almeida e João Morais, mas ambos não quiseram prestar declarações. Já Susana Beleza, perante as afirmações de João Morais, sublinhou que “não há muito mais a dizer, o senhor presidente mantém a mesma postura que manteve da última vez, que não iria comentar, só iria fazê-lo em local que fosse oportuno. Não sei se fez ou não. Não veio a público desmentir nem concordar. Estamos a aguardar, vamos ver”, salientando que não seria a resposta “que eu queria ouvir, mas já estava a imaginar que seria essa que iria ser dada”.
Também, Joaquim Camarinha fez questão de prestar algumas declarações ao AUDIÊNCIA, garantindo que, “é verdade que eu não li aquela carta [a que foi por nós publicada], porque entendi que tinha matéria demasiado delicada, para estar a pôr na Assembleia de Freguesia e restringi esse acréscimo de informação, para justificar a minha tomada de posição aos elementos do executivo e quando eu acabei de ler aquela carta em assembleia, enquanto o presidente de Junta estava a referir que não tinha nada a dizer em relação à carta, eu estava a enviar a carta completa aos quatro membros do executivo, por isso, eu enviei a carta completa, dois minutos depois de eu ter lido a carta troncada” e esclarecendo que as partes em falta correspondem “a tudo o que dizia respeito a dinheiro que, pelos vistos, agora é acordo de cavalheiros, não sabia”.
“Como eu digo na carta, quando me foi atribuído o cargo, eu perguntei como era a questão do dinheiro e ele respondeu-me que no mandato anterior os dois elementos davam 250 euros cada um. E eu senti-me como que obrigado a fazê-lo”, mencionou o ex-vogal do executivo da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho, ressaltando que “não houve acordo, aliás, eu ofereci-me, e disse isso na carta, eu disse que ia estar a tempo completo na Junta, e estive até há uma semana, e entendia que o presidente tinha mais do que disponibilidade para sair, para ir à Câmara, para ir onde quer que fosse tratar de assuntos relacionados com a Junta de Freguesia, com o desenvolvimento da Freguesia, e assumi que aquele dinheiro seria uma espécie de patrocínio para as viagens dele. Foi nesse sentido que eu fechei os olhos e deixei o dinheiro sair”.
Relativamente à demissão, Joaquim Camarinha explicou, ainda, que “eu não me demiti na Assembleia. Eu demiti-me de receber dinheiro do executivo, não me demiti na Assembleia de Freguesia de dia 30, isso que fique bem claro. Eu disse «deixo de ser remunerado a partir de agora». Depois, na altura em que pedi para ser demitido [novembro de 2020] não havia problemas, continuava-se e não havia necessidade de mudar. A partir do momento em que eu disse que não queria receber mais dinheiro, «aqui-d’el-rei», que teve de se mudar o executivo e eu tive de dizer que me tinha de demitir. E demiti”, acrescentando que “nós tivemos uma reunião de executivo e eu percebi que estava a ser um incómodo muito grande e demiti-me. Apresentei a minha demissão à presidente da Assembleia no dia 10 ou 11 de maio, por aí”.
Por outro lado, Filipe Ferreira, um cidadão de Perosinho, que esteve presente da sessão extraordinária e se assumiu como sendo apartidário, aproveitou o momento para relatar ao AUDIÊNCIA que “uma Assembleia de Freguesia sem ponto antes da ordem do dia para dar a possibilidade de as pessoas falarem? Isto é uma ditadura? Mas estamos a brincar? Eu acho isto muito grave”, asseverando que “o senhor presidente de Junta não pode, de maneira nenhuma, dar-se ao direito de, perante os perosinhenses e serzedenses e na presença da comunicação social, não dar, aqui, uma justificação a quem o elegeu, porque isto assume contornos graves, está aqui em causa assuntos graves e o senhor presidente de Junta não se pode dar ao direito de não comentar e de se escudar numa pseudo-possibilidade de leitura deturpada da comunicação social, para não dar uma justificação. Isto é muito grave. Ele põe em causa o trabalho dos jornalistas, põe em causa a vossa honra, ao fim ao cabo, a vossa ética, para se escudar, mais uma vez, a não falar. Ele foi eleito pelos perosinhenses e pelos serzedenses e deve-nos contas. A todos. E a ser verdade o que foi dito pelo senhor Joaquim Camarinha, ele tem, obrigatoriamente, de dar contas e não é quando ele quiser. Não é quando lhe apetece, porque ele não está ali, porque lhe apetece. Está entendido? O senhor presidente tem de dar uma justificação. Os perosinhenses e serzedenses têm de perceber, urgentemente, o que se passa. Não é quando lhe apetecer, porque ele não é dono de Perosinho, nem de Serzedo”.