“FALAR DE CANÁBIS É FALAR DE CRESCIMENTO ECONÓMICO”

A III edição da CannAzores – Fórum Transatlântico de Cânhamo e de Canábis decorreu entre os passados dias 27 e 28 de outubro, na Associação Agrícola de São Miguel. Promovida pela Confraria Internacional Cannabis Portugal e CannaPortugal – Expo Internacional de Cânhamo e Canábis, em parceria com a Associação Terra Verde, Associação Agrícola de São Miguel, LusiCanna, CannaCasa e Neuron Bonus, esta iniciativa teve como principal objetivo formar e informar sobre estas plantas ancestrais, como também promover o potencial económico e social do cânhamo e da canábis para os Açores.

 

A Associação Agrícola de São Miguel foi o palco da III edição da CannAzores – Fórum Transatlântico de Cânhamo e de Canábis, que se realizou entre os passados dias 27 e 28 de outubro e congregou, num só espaço, especialistas de vários países, dinâmicas formativas, palestras, workshops, mostras e atividades, que denotaram a vitalidade deste setor económico e a necessidade de a Região Autónoma dos Açores introduzir, a curto prazo, o cultivo desta planta, tendo em vista o benefício da população e economia local. “É importantíssimo iniciar o cultivo, para que haja matéria-prima para várias indústrias locais, mas também para a captação de CO2; regeneração dos solos; e reutilização de terrenos abandonados. Nós consideramos que, de ano para ano, fica cada vez mais claro que temos de seguir as pegadas de outras regiões e países na aposta feita na canábis, para salvar as economias de iminentes colapsos e para diminuir drasticamente a pegada ecológica e os efeitos das mudanças climáticas. O relatório da ONU é muito claro: não há sustentabilidade sem colocar na equação o cânhamo industrial”, ressaltou Graça Borges Castanho, docente da Universidade dos Açores, fundadora da CannAzores e da CannaPortugal e presidente Assembleia Geral Confraria Internacional Cannabis Portugal, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA.

Promovida pela Confraria Internacional Cannabis Portugal e CannaPortugal – Expo Internacional de Cânhamo e Canábis, em parceria com a Associação Terra Verde, Associação Agrícola de São Miguel, LusiCanna, CannaCasa e Neuron Bonus, esta edição contou com o apoio do Governo dos Açores e da Câmara Municipal da Ribeira Grande e, à semelhança das anteriores, integrou inúmeras iniciativas, tendo em vista diferentes áreas profissionais e públicos. Para além das palestras e workshops, dinamizados por oradores nacionais e internacionais conceituados, o Fórum Transatlântico de Cânhamo e de Canábis contou com várias áreas de exposição e contemplou o III Capítulo de Entronização da Confraria Internacional Cannabis Portugal, que integrou uma mostra de produtos açorianos com cânhamo, em parceria com a Confraria dos Gastrónomos dos Açores.

Em causa estava, divulgar o conhecimento científico, acrescentar valor e acompanhar a expansão da fileira do cânhamo, em particular, e da canábis, em geral, bem como reforçar todo o processo produtivo, sem esquecer o impacto positivo que a atividade canábica tem no campo dos direitos humanos, qualidade de vida, saúde, sustentabilidade do planeta e desenvolvimento económico dos países. “Falar de canábis é falar de crescimento económico, que vai beneficiar um leque vastíssimo de profissionais e de setores que têm nesta planta a sua matéria-prima. Se é bem verdade que a canábis psicoativa é da maior importância para a saúde humana e restantes animais, o cânhamo industrial tem mais de 25 mil aplicações na literatura da especialidade, uma vez que é fonte de bioplástico; biocombustível; celulose para papel; fibras para têxteis, sapatos, malas; componentes para meios de transporte; construção civil; mobiliário; gastronomia; alimento para animais; cosméticos; biomassa; componente para baterias de lítio; vernizes, tintas e também canabinóides importantíssimos para a saúde, como CBD e CBG”, enfatizou a, também, CEO da Neuron Bonus – Master Franchising Legal Canapa Shop.

Assegurando que, durante os dois dias, mais de 400 pessoas participaram neste evento, Graça Borges Castanho sublinhou que “é importante lembrar que, de ano para ano, o número de participantes online e presencialmente tem vindo a aumentar. Para além dos inscritos, tivemos representantes do Governo, membros de autarquias, Juntas de Freguesia, Casas do Povo, ordens profissionais, confrarias, técnicos dos serviços agrários, agentes da PSP e da PJ, advogados, grupos de alunos da Universidade dos Açores e escolas profissionais a assistir”.

Também Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, fez questão de marcar presença no certame e de congratular a organização, por trazer à discussão pública os benefícios da produção de cânhamo, para fins industriais. “Portugal já começa a dar os primeiros passos neste tipo de produção e os Açores podem aproveitar a regulamentação em vigor para, também, começar a produzir, de forma industrial, esta planta”, frisou o edil, asseverando que “nos últimos anos, temos investido na formação agropecuária dos nossos jovens. A diversificação agrícola deve ser apontada como uma solução para os mais novos, onde as produções mais rentáveis, como é o caso do cânhamo, poderá ser uma boa oportunidade”. Neste contexto, o autarca também foi entronizado, em representação da autarquia ribeiragrandense, no III Capítulo da Confraria Internacional Cannabis Portugal.

Garantindo que o balanço é extremamente positivo, a fundadora da CannAzores e da CannaPortugal reforçou que “este é um sector, identificado pela ONU, FMI, Banco Mundial e União Europeia como de particular relevância nas áreas do crescimento económico, desenvolvimento humano, sustentabilidade do planeta, saúde e qualidade de vida. Ora, atendendo a que ainda recai um forte estigma sobre esta planta, associando-a indevidamente a substâncias ilegais ou atividades ilícitas, nunca é demais levar até ao grande público e às pessoas interessadas a estarem, no futuro, diretamente envolvidas no cultivo, processamento e comercialização, a ciência que abunda sobre esta planta, que convive com a humanidade desde sempre e a acompanha nos grandes avanços civilizacionais”.

Radiante e a pensar no futuro, Graça Borges Castanho enalteceu que “não temos de inventar a roda. Basta seguirmos os exemplos que têm servido de modelo pelo mundo fora e adaptá-los aos Açores, para vermos a mudança a acontecer. Precisamos de cultivo, de criar indústrias que façam a captação da matéria-prima ou encontrar mercados que comprem os nossos produtos. Também, precisamos de adaptar aos Açores, no âmbito da Autonomia Administrativa, o regulamento da produção de cânhamo emanado pela DGAV, para pôr fim ao absurdo dos nossos produtores terem de pedir uma autorização a Lisboa, quando o cânhamo é um vegetal, uma hortícola, no Catálogo Europeu Comum de Variedades de Espécies Agrícolas. Os Açores têm de ser um bom modelo na captação de CO2 e têm de dar bons exemplos de sustentabilidade ao mundo. Quanto ao escoamento local da matéria-prima, é urgente ter produção têxtil de cânhamo, construção civil, cosméticos e comida. A Confraria Internacional Cannabis Portugal, com o apoio do Governo dos Açores, está a criar uma HUB de empresas com produtos açorianos canábicos, com vista à exportação para os países da emigração. Estamos a avançar com os pés bem assentes na terra, com o envolvimento de diferentes setores, do Governo e do poder local.  Um dia de cada vez, rumo a um futuro mais promissor”.