No âmbito do programa das comemorações do seu 94º. aniversário, a Tuna Musical de Santa Marinha promove, entre 15 de setembro e 7 de dezembro, um Festival de Teatro a que deu o nome do poeta, dramaturgo e encenador José Guimarães, um dos mais criativos e produtivos autores da música ligeira portuguesa e do nosso teatro musicado – e uma das figuras maiores e mais marcantes da história desta coletividade.
O evento reúne cinco espetáculos produzidos pela ESAP (Escola Superior Artística do Porto) e por quatro companhias de teatro profissional. E além destas 5 peças (10 representações), abrangendo vários géneros teatrais, desde a comédia clássica ao café-teatro, passando pelo teatro documental, psicológico e político, o certame apresenta um conjunto de atividades paralelas, de que se destacam uma exposição sobre o seu patrono, um espetáculo amador, conversas com o público e workshops de teatro.
“Tartufo”, de Molière, é o espetáculo de abertura do eixo central do Festival, com representações nos dias 2 e 3 de novembro. Produzido pelos alunos finalistas da Licenciatura em Teatro da ESAP, este clássico do teatro europeu é uma comédia de costumes do século XVII que revela o lado sórdido e dissimulado da natureza humana, que causou a fúria dos burgueses moralistas e do clero medieval, que usavam as religiões para manipular e tirar proveito financeiro e até sexual de pessoas de boa-fé.
“Eis o Homem!” é um espetáculo espirituoso e irreverente, sem guião rígido, onde o improviso faz parte da receita para um menu groumet que um dos atores produz ao vivo, enquanto o outro deambula por entre as mesas numa amena cavaqueira com o público, que marca o regresso da Palmilha Dentada ao café-teatro. Com textos de Ivo Bastos, Ricardo Alves e Rodrigo Santos, e apresentações agendadas para os dias 9 e 10 de novembro, esta produção propõe-se ser, acima de tudo, uma divertida festa do teatro.
“Mulheres-Tráfico”, espetáculo construído a partir de relatos de vítimas de tráfico humano, reporta o comércio de mulheres, que, em busca de uma vida melhor, são iludidas, traídas, transformadas em mercadoria descartável, privadas da sua liberdade, sujeitas a todo o tipo de violências e tortura. Um negócio com ramificações em grandes cidades de todo o mundo, que é denunciado nesta produção do coletivo A Turma, numa parceria com o MDM, com apresentação nos dias 16 e 17 de novembro.
“Ela, Bela ou A Imaculada Concepção” é um projeto do coletivo NAPALM, com texto do seu diretor e fundador Jaime C. Soares, com apresentação nos dias 23 e 24 de novembro. Em cena, dois atores vão-nos revelando progressivamente a intimidade de alguém que nunca chegamos a conhecer, a não ser através das suas próprias palavras. Um diálogo desmedido e irreversível, numa implícita crítica à modernidade impavidamente observadora mas eminentemente inerte e alheada da realidade concreta.
“Armazenados”, com texto de David Desola e criação do Teatro Art’Imagem, é o espetáculo que encerra, nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro, o eixo central da programação do Festival. Num armazém comercial vazio de mercadoria, admite-se que o stock são os próprios empregados. E se os empregados são relegados à condição de mercadoria, estamos perante uma perversão evidente: sobre eles passa a imperar as leis de mercado em vez das leis laborais criadas com o intuito de lhes assegurar a dignidade.
“Pedaços de Mim, José Guimarães” é uma exposição biográfica, cujo percurso temporal foi retirado do enorme espólio artístico do poeta e autor teatral, que atravessa todo o Festival. Desde o passado dia 15 de setembro, e até 7 de dezembro, o público tem oportunidade de empreender uma viagem cronológica pela sua inventividade artística, contada através de manuscritos de poesia e teatro, objetos pessoais, desenhos, fotografias e outros “pedaços” do seu génio imaginativo, nas mais variadas expressões.
“Tira o Chapéu ao Zé”, a nova produção do corpo cénico da Tuna Musical de Santa Marinha, apresenta-se em estreia nos dias 5 e 6 de outubro, no âmbito das atividades paralelas do Festival. Trata-se de um espetáculo de revista que revisita alguns dos textos mais emblemáticos (sketches, números dramáticos, rábulas e quadros de comédia e de rua), que constituem a obra teatral do patrono do Festival, todos eles encenados pelo próprio autor no palco desta coletividade nas décadas de 1960 a 2010.
“Conversas com o Público” reúne espectadores, artistas e demais criadores de cada uma das peças que integram o eixo central da programação do Festival, minutos após a sua primeira apresentação, visando olhar o teatro por dentro, numa reflexão entre quem o faz e quem o vê. A moderar estas conversas estarão alguns artistas e criadores, que nos ajudarão a compreender melhor o respetivo processo criativo e sua temática.
“Workshops” sobre o fazer teatral, da encenação à estética, com participação sujeita a inscrição através do email “tunasantamarinha@gmail.com”, preenchem as tardes de sábado, de 3 de novembro a 1 de dezembro, porque o teatro como Arte precisa de ser constantemente questionado a partir da sua história e da singularidade dos seus processos de criação e das várias matérias que engloba, como o texto ou a encenação.
“Rádio Teatro” é o título do inédito de José Guimarães que será interpretado por um grupo de formandos dos workshops a realizar ao longo dos cinco fins-de-semana do eixo central do Festival, sob orientação do encenador e pedagogo teatral Roberto Merino. Em formato de Leitura Encenada, a “representação” deste texto, que terá lugar na noite de 7 de dezembro, encerrará a programação desta primeira edição do Festival de Teatro José Guimarães, que passa a integrar o roteiro cultural anual de Gaia.