Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, recebeu o Troféu Personalidade do Ano de 2016, na XII Gala Audiência, que ocorreu em janeiro, na Ribeira Grande, São Miguel, Açores. Em conversa com o AUDIÊNCIA, o autarca falou sobre a importância da atribuição do prémio, do trabalho realizado até ao momento, da relação entre o poder regional e municipal, de uma possível relação entre Ribeira Grande e Vila Nova de Gaia e sobre o empreendedorismo no concelho.
O que significa este prémio para si?
Significa antes de mais uma surpresa, uma situação que não estávamos a contar, longe disso. Nós temos feito o nosso trabalho sempre de uma forma afincada, no que diz respeito à estratégia que temos definido, e vi com muito orgulho o troféu. Como disse também na altura quando foi anunciado, acho que é também uma responsabilidade agora que me é colocada em cima dos ombros, mais uma responsabilidade, e sempre com o objetivo de não ir contra as expectativas que as pessoas nos colocam. Neste tipo de cargo, como deve calcular, há muita gente que põe a expectativa muito alta e que nós tentamos corresponder, portanto é mais um responsabilidade que nos é colocada. Só tenho que agradecer o reconhecimento que é feito pelo AUDIÊNCIA.
Foi também o reconhecimento pelo trabalho feito ao longo destes 3 anos e meio, mas isso desperta em si, ou não, ainda mais vontade de quatro anos de progresso e de desenvolvimento para esta terra?
Sim. Aliás, nós sabemos que quem está neste tipo de cargos autárquicos e, principalmente, no primeiro mandato, aquilo que nos é colocado como desafio, quatro anos não é suficiente para pormos em prática tudo aquilo que nós ambicionamos, e, por outro lado, a experiência que vamos ganhando, ao longo do mandato, permite-nos outras ambições, nomeadamente, com projetos que vão aparecendo a meio do mandato e que não são exequíveis no curto espaço. Nós julgamos é necessário dar continuidade a um trabalho que começou a ser desenvolvido, em particular, neste primeiro mandato. Nós temos intenção de continuar com esta dinâmica, se bem que isto depois parte de uma situação particular,nomeadamente, dos apoios partidários, neste caso o PSD local, mas que reforço novamente a disponibilidade de continuar a encabeçar um projeto que possa dar continuidade a esta dinâmica que temos vindo a imprimir no nosso concelho.
Estive a rever o vídeo da SMTV feito após a sua eleição, onde fez uma ronda pelos estabelecimentos comerciais da Ribeira Grande. Nota-se que representava a esperança do concelho. Acha que conseguiu não defraudar essa esperança.
Julgo que temos provado, ao longo deste mandato, que temos uma atenção muito especial para a economia local, e quando eu digo economia local, refiro o comércio tradicional, em particular. Tudo aquilo que nós fazemos é pensar, acima de tudo, nos nossos comerciantes,no retorno económico que, por exemplo, os vários eventos, que temos vindo a fazer. representam. Ao passar, por exemplo, no centro histórico há uma série de novos estabelecimentos que apareceram entretanto falo, concretamente, aqui na praça do município, que era uma praça praticamente deserta, e que fruto de uma dinâmica e de uma obra de requalificação urbana que fizemos, relativamente, há pouco tempo, permitiu aparecer outros negócios que não haviam aqui à volta. Temos tentando ir ao encontro dessas expectativas dos comerciantes e, vou dar aqui um exemplo, quando nós programados alguns eventos como a Festa de Natal ou o Fim do Ano, nós damos a conhecer,em primeira mão, aos comerciantes locais qual é a intenção da câmara, vamos recolhendo contributos e vamos melhorando este programa com o intuito de ir ao encontro das expectativas que são criadas. Portanto, de uma maneira geral, temos tentado manter essa ligação com o tecido empresarial local porque são eles que estão abertos todo o ano, são eles que pagam impostos, são eles que empregam as pessoas e não faz sentido estarmos aqui de uma forma isolada sem ouvir aqueles que diariamente lutam para manter os seus estabelecimentos abertos.
Quer dizer que estamos perante um programa de “comércio feliz!, já tínhamos uma empresa aqui na Ribeira Grande com um programa “A ilha das vacas felizes”, agora, uma aposta do concelho é de um “comércio feliz”?
Nós podemos apelidar aquilo que quisermos para essas ações que temos vindo a desenvolver, o facto é que há uma preocupação desta autarquia, deste executivo camarário, de criar emprego, ou seja, atrair investimentos. Durante este mandato também foi curioso ver que houve aqui algumas dinâmicas interessantes como, por exemplo, a liberalização do espaço aéreo, uma situação que aconteceu praticamente no início do mandato, e nós tivemos que ir ao encontro daquilo que estava a aparecer na ilha, nomeadamente, as viagens low cost, sabermos atrair o turista para a nossa cidade, como sabem Ribeira Grande não tem um aeroporto comercial, e daí é necessário que criar alguma dinâmica para atrair não só turistas,mas possíveis investimentos. Julgo que temos dados alguns passos importantes nessa área quer na divulgação do nosso destino enquanto concelho, e, nisso fomos a primeira autarquia dos Açores a ter um plano estratégico de turismo, que está em vigor há dois anos, e que aponta quais são as nossas mais valias, as menos valias, e o que podemos melhorar no sentido de termos sempre como objetivo a atuação desse investimento. É com base nesses documentos estratégicos que tem pautado a nossa atuação, mas que, acima de tudo, está relacionado com o bem estar da população em geral e, em particular, a economia local.
Falou da situação do turismo, mais concretamente, de querer que a Ribeira Grande se torne o principal espaço turístico da ilha. Não é muito ambicioso?
Não, nós temos aqui como missão sermos a capital do turismo dos Açores e eu acho que conseguimos fazer alguma coisa quando temos uma ambição bastante focada ou pensamos que são os interesses para o município, com certeza, se me perguntar se temos a mesma capacidade de Ponta Delgada, vou responder que não, não temos a mesma capacidade económica nem a nível da população nem se calhar de investimentos públicos que existem naquela cidade que não existem aqui. Mas, podemos concentrar-nos naquilo que somos únicos, e é nesse sentido que nós assumimos esta missão de sermos a capital de turismo, porque aqui no nosso concelho temos tudo o existe de melhor nos Açores, principalmente, as paisagens, que é se calhar o nosso ponto de honra, e com base nisso podemos fazer a nossa imagem de marca e aí criamos uma série de investimentos, que não vão descurar a paisagem, mas que possam criar mais valor para a economia local. Temos essa intenção de agora com o setor do turismo em crescimento, e, que na Ribeira Grande estava esquecido, recorde-se que aqui é muito forte no setor primário e secundário, mas não era tão forte nos serviço onde se enquadra o turismo, por isso, esta é a grande aposta de futuro, dando passos qualitativos e quantitativos bastante interessantes para criarmos mais valia económica.
Há um aspeto interessante, que observei como espetador da Gala do AUDIÊNCIA, a interação do poder regional e o poder municipal é inestimável o seu valor para que alguns ou todos os objetivos sejam alcançados. O facto de ter recebido o Troféu Personalidade do Ano das mãos de um membro do Governo Regional abre portas para uma interação entre o poder regional e o municipal da Ribeira Grande?
Diria mais, receber o prémio das mãos de um representante do governo e ao som de uma música que fez parte da campanha do Partido Socialista ainda dá um gozo mais especial como deve calcular, mas isto para dizer que temos tido uma relação institucional saudável, não vou dizer de amizade porque estaria a ser hipócrita, mas temos tido uma relação institucional saudável. Claro que há áreas do governo em que temos uma relação mais direta outras menos, é normal. Mas, se me perguntar se poderia haver mais investimento público regional aqui no nosso concelho, eu diria que sim, ou seja, nem tudo está feito na parte do que diz respeito ao governo regional. Nós temos sido reivindicativos daquilo que são as principais preocupações do município, no que diz respeito a atividade do governo regional, e nós não estamos satisfeitos em relação aos investimentos públicos regionais no nosso concelho. Claro que muito foi feito, também não vou ser hipócrita nesse sentido, por exemplo, uma escola que já há décadas que era prometida, e o ano passado foi feito um investimento público regional, mas, fora isso, há outras questões preocupantes e urgentes necessárias de serem resolvidas, nomeadamente, a orla marítima da cidade, o tal virar a cidade para o mar que é um desígnio nosso, mas que poderia haver uma interação maior do governo em relação a isso. Somos nós que estamos a fazer o investimento puro e duro,enquanto que,noutro concelho, o investimento é assumido pelo Governo regional. Em jeito de comparação neste momento está a decorrer uma obra de requalificação em Vila Franca que está a ser suportada pelo Governo regional, enquanto, na Ribeira Grande é a Câmara Municipal que está a fazer o investimento. São essas dualidade de critérios que nós assumimos que não são positivos, no entanto, não é isso que nos faz parar, nós assumimos esta realidade, mas assumimos um compromisso como Câmara Municipal, independentemente, de outros querem ajudar ou não.Claro que isso sai do orçamento público municipal, mas trata-se de um investimento que fica para o futuro, e as pessoas sabem quem o fez. O orçamento da Câmara para 2017 ronda os 20 milhões de euros, uma redução em comparação ao ano passado que tínhamos fechado o orçamento em 21 milhões,mas tem a ver precisamente com uma quebra de receitas que estamos a ter, principalmente, com este quadro comunitário de apoio, o Açores 20-20, que ainda não está a decorrer conforme aquilo que estava a ser anunciado.
Durante estes dias esteve cá no município, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues. Acha que é possível juntar sinergias com o concelho de Gaia, para que o bom de Gaia venha para a Ribeira Grande e o bom da Ribeira Grande vá ter a Gaia?
Nós ficamos muito impressionados com o presidente da Câmara de Gaia, que veio aqui em convite do AUDIÊNCIA. Tivemos um momento de reflexão daquilo que podem ser essas sinergias, estamos a falar num concelho com 300 mil pessoas em Gaia e Ribeira Grande tem 32 mil, não há comparação possível, mas há aqui afinidades que nós podemos tirar proveito para o futuro, nomeadamente, o facto de haver aqui alguns produtos feitos localmente que podem ser promovidos em Gaia e vice-versa. Ficamos também muito interessados nos projetos que a própria Câmara Municipal tem desenvolvido e que muitos deles são semelhantes aos que estamos a desenvolver neste momento, nomeadamente, a nível social e a nível educativo. Julgamos que abre-se aqui uma porta que nós queremos estreitar, nomeadamente, com as ligações mais profícuas que existem e com esse contacto mais pessoal, que houve diretamente com presidente de Gaia, há aqui uma oportunidade única e que nós queremos agarrá-la e, também, servindo aqui um pouco do AUDIÊNCIA, com esse elo de ligação ao Norte do país.
Como um município de braços aberto ao empreendedorismo, o que é que um empreendedor que não é da Ribeira Grande e, caso decida apostar no concelho, que condições é que aqui pode encontrar?
Acima de tudo, e, agora, com o foco no turismo, acho que é uma oportunidade única que existe relativamente a esta área. Nós temos vindo a fazer algum trabalho de casa no sentido de acarinhar quem quer investir no nosso concelho, temos, por exemplo, um guia do investidor que está disponível para consulta e que temos socorrido para essa informação a quem quer investir, este guia do investidor tem desde as zonas de expansão urbana, aos benefícios fiscais possíveis, passando pelos sistemas de incentivo que, neste momento, a região pode dar relativamente a quem quer investir no nosso concelho. Também, temos, neste momento, um gabinete dedicado quase 100% ao investimento privado, mas, acima de tudo, a nossa maneira de receber as pessoas tem sido saudável, e tem sido reconhecido que nós estamos muito interessados e preocupados em relação aos empreendedores e às pessoas que querem investir no nosso concelho. Portanto, queremos aproveitar esta ocasião e convidar possíveis investimentos que nos contactem de uma forma pessoal e que nós depois encaminhamos o processo de investimentos desde a primeira hora que a pessoa é recebida até à fase em que a pessoa está a abrir o negócio.