Apesar de fisicamente limitado a uma estreita faixa longitudinal no extremo mais ocidental do “velho continente” e às parcelas atlânticas da Madeira e dos Açores, Portugal não é um país pequeno! Pelo contrário, em termos linguísticos, a nação corporizada pelo povo que desde há muitos séculos habita neste “cantinho” da Península Ibérica, orgulha-se de ver a sua língua instalada nos mais diversos pontos do globo, onde, nalguns casos, até seria impensável.
A presença mais significativa da Língua Portuguesa no mundo é representada pela imensa República Federativa do Brasil, também a mais vasta nação do continente sul-americano e um país enorme e cheio de contrastes e potencialidades.
“Cortado” pela linha do Equador, quase nos seus limites nortenhos, o Brasil é uma nação de etnias múltiplas, climatericamente diversificada, cuja população excede os duzentos milhões de “almas”. Assim sendo, pode mesmo afirmar-se que é o “espírito” camoniano que aqui teima em resistir à erosão provocada por força de vicissitudes com que alguns aventureiros, ao longo da história, têm pretendido impor a aceitação dos povos que aí subsistem, mas com atitudes causadoras de dissensões que o pacifismo das comunidades residentes não toleraria. Por isso mesmo, esse imenso Brasil é um território que se estende por milhares de Kms a sul dessa linha imaginária que divide o globo terrestre como se de uma laranja cortada a meio se tratasse.
Um cenário que se perpetua desde o extremo norte (no Amapá e no Roraima), nas fronteiras com a Guiana Francesa, o Suriname e antiga Guiana Inglesa (hoje um estado independente) até ao Rio Grande do Sul, nas imediações do Mar da Prata, nesse Atlântico imenso que ali “beija” também a República do Uruguai e toda a costa leste e nordeste da República Argentina. Todavia, também aí, a presença portuguesa não foi miragem (pelo menos em termos históricos) por via da ligação marítima outrora desconhecida, que a perspicácia do navegador português Fernão de Magalhães deu a conhecer na sua viagem inédita de circum-navegação.
Foi a sua audácia e espírito de aventura que a partir de então, proporcionaram ao mundo a criação de uma nova rota marítima – o Estreito de Magalhães – que teve o “condão” de abreviar a ligação do Atlântico ao Pacífico, sem a exaustiva necessidade de tornear as diversas parcelas insulares do arquipélago da Terra do Fogo, já no extremo sul de um continente que cohabita de forma tolerante com o Atlântico Sul a leste e o seu congénere Pacifico, cujo território banha em toda a costa ocidental da República do Chile.
Hidrovião Lusitânia
também amarou nos Ilhéus
Mas o Brasil não é apenas o que atrás se expõe, já que para além do Parque Natural dos Lençóis Maranhenses, na costa norte (Estado do Maranhão), uma área protegida mundialmente conhecida pela sua paisagem desértica de dunas de areia branca, formada por lagoas sazonais criadas pela pluviosidade natural, enquanto no nordeste se localizam também a ilha de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas, numa linha imaginária que, navegando para leste, nos conduzirá à Estação Científica do arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, empreendimento localizado a meio caminho entre o Brasil e a costa africana do Golfo da Guiné. Esta Estação Científica, que funciona numa das principais ilhas do pequeno arquipélago (ilha Belmonte), foi instalada em 1998, ali mantendo o Governo Brasileiro uma actividade plena, com equipas de investigadores nas áreas da Biologia Marinha, da Geologia e da Oceanografia, que se renovam quinzenalmente, por forma a manter viva a soberania brasileira em permanência sobre o pequeno território insular.
Administrativamente, os ilhéus de S. Pedro e S. Paulo, que distam cerca de mil Kms da costa brasileira, inserem-se na jurisdição administrativa do Estado de Pernambuco, com sede no Recife, embora o ponto do território continental mais próximo coincida com o litoral do Rio Grande do Norte (cidade do Natal), situam-me numa latitude Norte não muito acima do zero, numa linha que culmina com o Golfo da Guiné. A altitude do local onde está instalada a Estação Cientifica é bastante escassa, não indo além dos 18 metros no seu ponto mais elevado.
Curiosamente, o Penedo de S. Pedro e S. Paulo já antes de meados do século XIX (1832) era conhecido dos exploradores europeus, uma vez que ali fez escala o naturalista britânico Charles Darwin, no âmbito de uma das suas viagens ao redor do mundo. Curiosamente, quase um século depois (1922), o local também serviu de base para a amaragem do hidrovião Lusitânia, tripulado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, no âmbito da histórica primeira travessia aérea do Atlântico Sul, que ligou Lisboa ao Rio de Janeiro. Por outro lado, foi nesse mesmo local do Atlântico, que em 1930, a Marinha de Guerra Brasileira ergueu um farol para melhor assegurar a presença efectiva do colosso sul-americano naquela minúscula parcela no “coração” do Atlântico Sul.