“A MINHA RECOMPENSA É O SORRISO NA CARA DAS PESSOAS”

No mundo da política desde 2009, Filipe Lopes aceitou o convite de ser candidato à Junta da Freguesia Pedroso e Seixezelo, feito por Eduardo Vítor Rodrigues.

Estando a terminar o primeiro mandato, a freguesia de Pedroso e Seixezelo cresceu e tornou-se um modelo para várias freguesias do concelho de Vila Nova de Gaia. Em conversa com o AUDIÊNCIA, Filipe Lopes falou sobre os vários projetos que implementou, a disponibilidade para continuar a desempenhar a função de presidente por mais quatro anos e sobre os jovens e a política.

 

Para quem ainda não conhece, quem é Filipe Lopes?
O Filipe Lopes é uma pessoa normal, com 38 anos, nascido em Pedroso. Sempre vivi e estudei em Pedroso, com exceção do tempo da faculdade que fiz no Porto. Sou uma pessoa tranquila que gosta de viver, que gosta do que faz, que gosta muito da terra onde vive, uma pessoa que sempre fez parte dos movimentos aqui na freguesia, quer sejam movimentos associativos quer sejam movimentos cristãos. Sempre tive uma participação bastante ativa, desde tenra idade, e sempre tive um bichinho pela política, onde a influência do meu pai foi grande. No fundo, sou uma pessoa alegre, que vive um dia de cada vez e que tenta deitar-se melhor do que acordou, que tenta deitar-se com o sentimento de dever cumprido e, acima de tudo, tenta deitar-se pensando que no dia a seguir será um novo dia com novas oportunidades para fazer mais e melhor.

 

A influência do seu pai foi a principal razão para, em 2009, entrar no mundo da política?
Sempre fui uma pessoa muito ligada ao associativismo, sempre fiz parte de algumas instituições aqui na freguesia. Depois, o interesse pela política. O meu pai faleceu em 2008, e era uma pessoa que esteve sempre ligada ao partido, onde estou agora, uma pessoa que sempre fez parte de algumas instituições da freguesia, e lembro-me desde pequenino de o acompanhar nessa atividade, que ele tinha paralelamente à vida profissional. Quando ele faleceu, talvez numa forma de o homenagear, tornei-me militante do Partido Socialista. Fui ao site, imprimi a ficha, enviei para Lisboa, e passado algum tempo, contactaram-me aqui da secção de Pedroso e comecei a ir às reuniões em 2008. Em 2009, convidaram-me para fazer parte da lista encabeçada pelo professor Joaquim Tavares, que, por pouco, não ganhou as eleições, e estive quatro anos na Assembleia da Freguesia. Foram quatro anos onde pude comprovar algumas das ideias que ia sistematizando na minha cabeça de como estava a ser dirigida a Junta e, ao fim dos quatro anos, tudo se conjugou, quer a minha vida familiar, quer a minha vida profissional, para que fosse possível assumir uma candidatura, e foi isso que aconteceu. Tive a sorte de entrar no Partido Socialista de Pedroso e acompanhar pessoas que muito me ensinaram, como o Joaquim Tavares, o Antero Costa, o Matos Marques e muitos outros que me receberam no partido de braços abertos e me ensinaram a ser (politicamente) o que eu hoje também sou.

 

Surgiu o convite para ser candidato à Junta de Freguesia de Pedroso e Seixezelo e, tendo ganho as eleições, quais foram os maiores desafios que encontrou quando chegou aqui?
Quando cheguei à Junta da Freguesia, num convite pessoal de Eduardo Vítor Rodrigues para me candidatar, a minha principal preocupação foi realizar uma auditoria financeira à Junta. Já era conhecido o valor da dívida, mas eu não me sentiria bem com a minha consciência se o meu pontapé de saída não partisse com essa auditoria. A auditoria foi feita por uma empresa, que acho que é totalmente idónea, a KPMG, que é uma das maiores empresas do mundo. Foi essa empresa que fez a auditoria e confirmou o estado lastimoso em que estava a Junta de Freguesia, na qual a dívida que me foi passada pela anterior gestão não condizia com a verdade. Por isso, o meu principal desafio, no primeiro ano foi, efetivamente, de total aperto de cinto. Foi um ano muito difícil, foi um ano em que os fornecedores não saiam da Junta, não deixavam o telefone, mas foi um ano em que esta dificuldade nos tornou mais fortes. Nós tínhamos uma prioridade para este mandato que não era, seguramente, pagar dívidas que nos deixaram. Acho que ninguém se candidata a pensar nisso, mas no primeiro ano foi isso que fizemos. Logicamente, introduzimos alguns projetos, algumas propostas, não tivemos parados aqui em estilo contabilista, a pagar apenas faturas. No fundo, fomos preparando um caminho que queríamos que fosse implementado na freguesia. As expectativas eram dar o melhor de mim, fazer coisas novas mas, infelizmente, no primeiro ano, praticamente só pude mostrar que sou um bom pagador.

 

Foi um grande esforço?
Com a situação financeira que o país atravessava e as autarquias houve necessidade de fazer ajustes, de fazer cortes, que influenciaram bastante o desempenho da Junta, mas acho que todos sentimos que era um esforço coletivo que tínhamos mesmo que fazer, porque as coisas podiam ser muito piores e, hoje, passados quase quatro anos, percebemos que valeu a pena fazer esse esforço. Felizmente, estamos mais autónomos, mais independentes de qualquer empréstimo, de qualquer solução financeira que a Câmara teria que adotar no município e todos nós íamos por arrasto. Sou uma pessoa otimista mas com uma grande dose de realismo e, por isso, não vinha para aqui com uma ideia de fazer um campo de golfe, fazer um hospital ou fazer um hotel, como era prometido há tantos anos em Pedroso e nunca se viu. Não vinha com essas ideias, vinha com a expectativa de dedicação às pessoas. Foi com esse intuito que nos candidatamos, dedicados às pessoas, dedicados a novas ideias pelas pessoas, por isso, as pessoas tinham que perceber que não podia ser mais do mesmo. Tinha que ser algo diferente, algo novo e pelas pessoas. Acho que isso é uma evidência hoje, qualquer indicador que se queira tirar da gestão atual da Junta de Freguesia, as pessoas estão em primeiro lugar.

 

Apesar de ter sido um ano difícil, as pessoas reconheceram o trabalho feito pela Junta?
Sempre disse que é dever de quem está na vida pública, quer seja à frente de uma Junta quer seja à frente de uma coletividade, quer seja à frente de uma confraria ou paróquia, de informar. Sempre fui assim. É assim que gosto de estar. Quando se fez a auditoria, fiz um panfleto e entreguei em toda a freguesia para as pessoas terem a noção de como é que as coisas estavam, para as pessoas terem a noção que o nosso ponto de partida ia ser aquele, porque acho que ninguém iria entender, se não soubesse o estado financeiro em que estava a Junta, porque é que não se fez isto ou porque não se fez aquilo. Felizmente, foi possível amortizar grande parte da dívida, mas ter investimento (graças à ação da Câmara Municipal), ter obra, e ter projetos. Eu não sou corredor de 100 m, eu sou mais corredor de maratona, por isso, percebemos que isto era um projeto de quatro anos e não valeria a pena querer fazer tudo num ano ou em meio ano. Se formos à página da freguesia tem lá um separador que é o nosso compromisso onde estão as nossas propostas que propusemos e está lá a taxa de concretização, e penso que isso fala por si… Quase que aposto que nenhuma autarquia do país tem a taxa de concretização do programa que nós temos. Os políticos vão tendo a fama de prometer de não cumprir, mas em Pedroso e Seixezelo, e em Gaia, somos um exemplo e, neste caso, nós dizemos, nós fazemos, e isso é uma evidência.

 

Quando entregou o folheto sobre a dívida, qual foi a reação da população e da oposição?
Quando a população escolheu um novo projeto, em 2013, já era conhecedora de como é que as coisas estariam. Às vezes, as pessoas pensam que o povo é estúpido, que o povo não sabe, mas o povo está sempre muito bem informado e, hoje, com as novas tecnologias, a informação difunde-se rapidamente por todo o lado. Logicamente que o valor choca porque um milhão e 150 mil euros de passivo numa Junta que tem um orçamento de 1 milhão, choca. Choca e muito. Uma ou outra reação que nos foi chegando do tipo “nunca pensei que estivesse tão má” foi o que mais me chegou mas nunca houve aquela surpresa “eu pensava que isto estava bem”, não, isso não. Da oposição, a reação foi a esperada de quem não tem argumentos. Começou por atacar a capacidade da empresa da autoria, que é só uma das 4 melhores empresas do mundo e é solicitada pelo Banco Central Europeu para fazer autorias a bancos, depois disseram que não havia dados. O que é certo é que os dados existem, o que é certo é que houve auditoria, na minha ótica muito bem feita. Com o relatório que saiu da auditoria e, como é meu dever, informei a Assembleia da Freguesia. Os deputados da Assembleia da Freguesia, por larga maioria, solicitaram que a Junta entregasse no Ministério Público o relatório da auditoria, e, agora, está a desenrolar-se um conjunto de procedimentos, pois é muito importante que se chegue a alguma conclusão porque foi mau aquilo que encontramos.

 

Depois destes anos, quais são as maiores recompensas que tem tido?
A minha principal recompensa, e digo muitas vezes isso, é, efetivamente, no lugar em que estamos, numa Junta de Freguesia, conseguirmos implementar medidas que fazem com que apareça um sorriso na cara das pessoas, e fazer isso numa terra onde eu nasci, onde cresci, onde conheço a maior parte das pessoas, acho que isso tem uma recompensa brutal. Também sinto recompensa pelo facto de, em Gaia, a freguesia ter-se tornado um modelo, é vista como um bom exemplo em muitas matérias, quer seja no rigor e controlo de contas, quer seja a nível de investimentos ou de projetos. Costumo dizer muitas vezes que tenho orgulho em ser de Pedroso e Seixezelo e isso, atualmente, sente-se pela freguesia. A principal recompensa que poderei ter é as pessoas sentirem que a Junta não é um sítio em que os desempregados vinham de 15 em 15 dias marcar o carimbo, mas é um sítio onde há um projeto de academia sénior, há uns correios, onde há pessoas que atendem, um gabinete social dinâmico. Antes nem sequer gabinete de ação social havia. Por isso, hoje as pessoas identificam-se com a Junta, faz parte do dia-a-dia das pessoas. As pessoas sentem orgulho da freguesia, dos projetos, da capacidade de liderança que hoje a freguesia tem e isso é muito bom.

 

 

“Nunca fui de lamentar, nunca fui de ir para casa chorar os problemas que tenho”

 

Já se sentiu alguma vez incapacitado, mesmo sendo presidente, por não conseguir ajudar uma pessoa ou resolver um problema?
Sim, isso é o que mais me dói na alma, no lugar em que estou. Eu e os meus colegas somos confrontados com pessoas que não conseguem pagar as despesas, não têm casa, não conseguem pagar a luz, estão sem água, e muitas têm crianças. Isso é frustrante para nós porque não temos resposta para tudo. Temos que viver com isso. Temos que perceber que não temos um mundo perfeito, que nunca iremos ter um mundo perfeito. É muito a minha filosofia de vida eu não querer mudar o mundo, eu quero mudar a minha rua, se eu mudar a minha rua e se o meu vizinho mudar a rua dele já são duas ruas diferentes, acho que deve ser muito esse o espírito. Agora é uma lacuna muito grave no país. Nós criamos um gabinete de ação social e temos um conjunto de respostas sociais muito grande, fruto também de parcerias que temos com empresas que olham agora para a Junta e vêm uma entidade credível e de confiança. Nós temos hoje protocolos com farmácias, com óticas, num valor de quase 10 mil euros anuais, na qual nós conseguimos fornecer óculos e medicamentos gratuitos às pessoas e não pagamos. Por exemplo, a farmácia atribui um plafond à Junta de Freguesia. Temos ainda, a nível do orçamento da Junta, cativado uma verba para a ação social para pagamento de renda, de luz, de água, etc. Temos protocolos com superfícies comerciais para a alimentação. Ou seja, nós hoje conseguimos ter uma resposta social enorme, mas mesmo assim não conseguimos cobrir tudo. Quando cheguei à Junta tinha dois tipos de problemas: de um lado os fornecedores, e de outro lado uma parte da população que dizia que a rua estava cheia de buracos, que não se limpava a berma das ruas, que precisavam de pagar a renda, a luz, a alimentação. Atualmente, das ruas e das bermas não tenho, mas a nível de pedidos de apoios contínuo a ter, a uma escala muitíssimo menor, porque as pessoas também sabem que há um gabinete que tenta dar respostas a essas necessidades. Agora, eu não me sinto incapaz, ou seja, o que eu sinto é que a realidade é assim, e não conseguimos, infelizmente, cobrir todas as lacunas que existem. Mas, acima de tudo, devemos ter o sentimento de dever cumprido, e esse sentimento eu tenho.

 

Depois de sair da Junta, ao fim do dia, vai para casa e consegue desligar os problemas?
A minha vida profissional sempre foi muita ativa. Há 20 anos que trabalho, há 20 anos que sempre tive duas ocupações profissionais, mas há uma coisa que sempre me esforcei para fazer. Se estou no local de trabalho A é lá que tenho que resolver os problemas do trabalho A. Profissionalmente, isso é possível, mas numa Junta de Freguesia isso não é possível porque também há um sentimento, há um gosto pessoal de quem é presidente de Junta não vê isto como uma carreira profissional, eu nunca vi, mas vejo isto como um sentimento que tenho pela freguesia, pelas pessoas da freguesia, e que, em determinado período, predispus-me a colaborar um bocadinho com os destinos da freguesia e melhorar um bocadinho a qualidade de vida dos fregueses. Não vim para aqui para fazer carreira, nem estar aqui até à reforma. Por isso, naturalmente que nas outras atividades consigo desligar-me, mas aqui não me consigo desligar até porque o telefone está sempre disponível, as chamadas caem, o fim-de-semana é sempre ativo porque, felizmente, somos uma freguesia bastante grande e com bastante atividade no fim-de-semana, que são dias de trabalho normal. Felizmente, não tenho assim problemas que me deixem dormir mal. Tenho o trabalho que o tenho que fazer, por isso é que cá estou, e tenho que resolver da melhor maneira. Nunca fui de lamentar, nunca fui de ir para casa chorar os problemas que tenho. A dedicação com que me disponibilizei para este projeto em determinada fase da minha vida é a mesma que amanhã quando tiver que deixar este cargo e continuar com a minha vida profissional, porque eu nunca dependi financeiramente da autarquia e nunca irei depender.

 

O facto de ser licenciado em gestão ajudou a exercer a função de presidente da Junta, numa Junta tão mal gerida financeiramente?
Em parte ajudou, porque, eventualmente, poderemos ter outra sensibilidade e conseguiremos perceber melhor uma ou outra situação, dá-nos essa abrangência, um bocadinho maior nessa matéria. Mas o presidente da Câmara de Gaia não é contabilista, nem gestor, nem economista, e tem feito um trabalho brilhante a nível financeiro. Agora ele diz várias vezes que um presidente de Junta e um presidente de Câmara não é um contabilista, mas é só com boas contas que conseguimos realizar trabalho, porque caso não tenhamos contas saudáveis, dinheiro no banco, fornecedores satisfeitos, não vamos conseguir fazer nada. Quem tem a ideia de que o presidente da Junta é o sabichão aqui do sítio, que fala com A e com B e que as coisas aparecem feitas está completamente desajustado da realidade.

 

O que é que aprecia mais em ser presidente?
O que mais gosto é, efetivamente, servir a minha terra, servir as pessoas com que sempre vivi e convivi. A satisfação que me dá de fazer uma rua e as pessoas, no imediato, poderem beneficiar e usufruir disso, a satisfação que me dá de fazer um projeto como a Academia Sénior e ver uma adesão enorme, fazer um simples arranjo no cemitério e as pessoas ficarem satisfeitas. É o melhor que eu levo desta minha experiência política como presidente de Junta.

 

Apesar de a maior parte do programa eleitoral estar cumprido, o que ainda falta fazer por esta população?
Há sempre algo para fazer. A rede viária é uma obra inacabada. Neste mandato, fizemos cerca 30 ruas o que é uma coisa assombrosa, para haver uma coisa parecida em Pedroso temos que recuar vários mandatos. Depois, acho que há uma obra estruturante que era necessário fazer, ter um multiusos como o de Gondomar, logicamente, numa dimensão muito mais pequena, mas acho que faz falta à freguesia porque temos muito associativismo, somos uma freguesia com 3 ranchos federados e queremos, por exemplo, fazer um encontro das Janeiras e não temos espaço, temos que ir para uma freguesia vizinha. O multiusos compensaria duas situações: numa vertente mais cultural e associativa e um espaço tipo pavilhão para a prática de desporto porque temos alguns pavilhões na freguesia mas ou são das escolas ou são do Colégio dos Carvalhos e do hóquei, e nós temos equipas que estão a competir a nível de futsal, além de ser um equipamento muito procurado para o aluguer. Acredito que uma grande obra que estaria em falta era isso e depois será necessário sermos espertos como comunidade e tentarmos criar um objeto, um produto, um lugar que seja uma referência da freguesia, não só para dentro da freguesia mas, principalmente, para fora da freguesia. Nós crescemos muito durante este mandato, acho que isso é evidente, ficamos muito conhecidos em Gaia por todos os projetos que fomos lançando, mas não temos a broa como Avintes, por exemplo, que serve de referência.

 

E qual poderia ser essa referência em Pedroso e Seixezelo?
Penso que encontrei aquilo que poderá ser a marca da nossa terra que é o Monte Murado, que é a estação arqueológica que lá existe e que está escondida. Estive recentemente na estação arqueológica do Freixo, no Marco de Canaveses, onde um arqueólogo, que por acaso é natural de Pedroso, me disse que no Monte Murado era uma coisa 20 vezes maior, mais importante e mais bonita do que o que estava a ver no Freixo. E, só de me lembrar que há alguns anos a Junta de Freguesia fez lá um aterro de lixo e depois tinha no rodapé do papel timbrado as peças que foram encontradas dos romanos, quer dizer, valorizavam aquilo ao nível de papel timbrado mas no terreno autorizavam o aterro de lixo. Eu sou um sonhador. Vamos tentar desenvolver esse projeto, com tempo. Para termos uma noção, a estação arqueológica do Freixo existe há 34 anos e não está concluída, por isso, eu ainda quero durar mais uns anos, mas, se calhar, ainda vou morrer sem ver aquilo concluído. Mas algum maluco tem que começar, e acho que esse maluco serei eu. Enquanto cá estiver tudo farei para que se promova a freguesia, penso que seria um marco espetacular para promoção da freguesia e do concelho.

 

 

“As pessoas não podem ser tão estrategas, têm que seguir o coração”

 

Mesmo com toda a afirmação que a freguesia está a ter em Gaia, acha que os gaienses conhecem Pedroso e Seixezelo?
Sinceramente, acho que sim, de uma forma geral. Eu vejo, ouço isso, vêm-me dizer isso. Acho que hoje Pedroso e Seixezelo é um exemplo, ao nível do rigor da gestão, do investimento inteligente, da quantidade e qualidade de projetos. Não digo isso como uma vaidade pessoal mas como uma vaidade coletiva, de comunidade, temos que ser melhores, temos que ter orgulho e mostrar aquilo que fazemos. Por exemplo, a Academia Sénior teve uma exposição na Biblioteca Municipal de Gaia e a satisfação com que os seniores colocavam fotos nas redes sociais, dos trabalhos, da família e amigos que foram ver a exposição, como se vestiram para receber os convidados, é esse o orgulho e é essa a alegria que eu vejo nos olhos das pessoas que faz com que todos os dias ao deitar-me na cama tardíssimo e, normalmente, acordo cedíssimo, dizer que vale a pena todo o esforço.

 

Esteve presente na ronda “Dar + voz à juventude” aqui na freguesia, como é que os jovens veem a política, atualmente?
Os jovens veem a política de uma forma geral má, e com razão. Eu também vejo. Ou melhor, eu também via. Um jovem não percebe, e os jovens são mais qualificados, que chegando ao lugar onde estou, visse que a Junta de Freguesia tinha uma dívida de 8 mil euros a um restaurante, ninguém percebia isso. Um jovem que chegasse ao meu lugar e que visse que a Junta gastava 5 mil euros em vinhos todos os anos, não percebia isso. Um jovem que chegasse ao meu lugar e que visse que a Junta comprava 2 mil euros em relógios por ano, também não percebia isso. Por isso, estamos a colher aquilo que semeamos e os jovens afastam-se e depois preferem ir atrás de pokemóns do que preocupar-se com a comunidade. O que eles sentem é que os políticos não estão ali para o bem coletivo. De uma forma geral, estão para o bem individual. Temos que pôr o dedo na ferida, não vale a pena fazermos de conta que não vemos. Eu tive essa dificuldade. Felizmente, parece que a nova geração de políticos ao nível local têm o sentido de comunidade. Eu tenho um Conselho Consultivo, que era a minha comissão de honra em período de campanha, e o que eu ia sentindo era que, efetivamente, os jovens estavam desligados até que uma dessas pessoas do conselho me disse “porque é que não se cria um Conselho Local da Juventude” e criamos há um ano que é composto por 12 elementos, na qual, estou eu e o Abel Gonçalves, que é responsável pelo Pelouro da Juventude de Desporto aqui da Junta, e já fizemos 3/4 reuniões, mas a primeira e a segunda foram difíceis, tinha que ser quase com um saca-rolhas porque via-se que estão desfasados da realidade. Eu tive sempre uma participação muito ativa na sociedade e como muitos outros da minha geração, acredito que hoje, com as distrações que existem, as pessoas ficam mais em casa, mais isoladas, e veem mais o mundo deles e não mundo coletivo. Agora também reconheço que quando as pessoas se interessam pelo mundo coletivo e depois veem o que vi aqui na Junta quando cheguei, se afastam e vão para o mundo individual. Penso que chegou o momento de transparência, de boas contas, de mostrar, de criar um conselho local de juventude como criamos, de ter um conselho consultivo. É esse o dever e só assim é que conseguiremos as pessoas de volta, não para a política mas para a comunidade. A ideia da Câmara foi brilhante e foi importante ouvi-los, mas também é importante que os jovens vejam que das 100 ideias que deram há ali 9 ou 10 que são implementadas porque se for tudo falado, se ficar num gráfico bonito e depois não se concretizar, ainda haverá mais o desacreditar. Estou certo que com esta Câmara Municipal os projetos não ficarão nas gavetas. O passado mostra-nos isso. A política é muito estratégica mas também vive do princípio da pessoa porque em estratégia um canalha é sempre um canalha e uma pessoa honesta é sempre uma pessoa honesta, isto não é um monopólio de jogar, de comprar casa e depois arrendar, as pessoas não podem ser tão estrategas têm que seguir o coração. É lógico que a razão impera mas têm que seguir muitas vezes o coração.

 

Nessa ronda saíram ideias interessantes para a freguesia?
Saíram ideias interessantes, não tanto direcionado para a freguesia mas mais até para o concelho, no sentido de rever o plano curricular, de criar espaços de lazer para jovens, e isso temos no nosso programa. Foi muito no sentido do plano curricular, de preparar os jovens para o futuro e tem mesmo que se fazer algo porque criar e formar licenciados às paletes e depois não ter oferta para eles e as pessoas irem pôr em prática aquilo que aprenderam, em Portugal, no estrangeiro. No fundo é investir numa pessoa, é gastar dinheiro na formação e depois essa pessoa vai criar riqueza noutro país que não o nosso, por isso, isto tudo está mal. Neste momento foi um agitar de ideias. Foi criar confusão e acho que foi importante.

 

Mas, então, o que é necessário fazer para motivar os jovens?
Eu penso que, neste momento, é importante que eles comecem a acreditar nas pessoas que estão na vida política e na vida pública, e, depois de isso estar consolidado, e acho que aqui em Pedroso e Seixezelo começa a estar, é importante que eles sintam que têm um espaço onde as vozes deles são ouvidas e onde eles sintam ser parte integrante do projeto da comunidade. Não podemos também apenas querer ouvir, ouvir e ouvir e depois não concretizar nada, assim haverá uma desmotivação. É importante trazê-los e eles sentirem-se como uma parte integrante. Eu poderia trazer um grupo de músicos muito mais virado para os jovens, mas isso seria uma situação fugaz, de um dia, e o ano tem 365 dias. É preciso pensar, e não é propor um nome e um concerto que os jovens vão aderir, ou seja, vão aderir àquilo, não ao resto. É um caminho que vai durar o seu tempo.

 

 

“O caminho que levamos na vida é um caminho de opções”

 

Falou muito sobre o próximo ano, recandidatar-se é uma opção?
Poderá ser uma opção. Faço parte de um partido, isto não é a minha casa, há regras dentro de um partido, há pessoas que mandam dentro do partido, e ainda bem que assim é. Eu estarei disponível se o meu partido entender. Penso que isto é um projeto que não se esgota ao fim de quatro anos, não é um projeto eterno, isso não, é um projeto de estafeta, no qual temos que passar o testemunho a alguém e eu vou entregar muitíssimo melhor do que o que recebi. Eu tenho uma motivação muito forte pela terra, gosto muito do que faço, gosto muito da população da minha terra e também me identifico muito com o projeto do meu partido para concelho. Eu não sou daqueles que diz que o meu partido é Pedroso. O meu partido é o Partido Socialista, com muito orgulho das coisas boas que tem e com muita vontade de ajudar a corrigir as menos boas. No entanto, penso pela minha cabeça e não mudo nem mudarei de cor partidária consoante a cor do presidente da Câmara de Gaia. A terra que eu amo é Pedroso e Seixezelo. Estou disponível, caso o partido entenda. Vejo que o projeto que o Partido Socialista tem para a freguesia de Pedroso e Seixezelo é um projeto não de quatro anos, mas sim de muitos mais. Felizmente, o Partido Socialista tem muitos e bons valores na freguesia para dar continuidade ao projeto que iniciei em 2013 com a minha super equipa. O Filipe Lopes vê-se com energia suficiente, dedicação e vontade para concluir este mandato e ficar aqui mais quatro anos.

 

Caso o percurso como presidente termine aqui, sente que deixou a sua marca?
Deixamos, eu não gosto muito de falar na primeira pessoa, prefiro dizer deixamos. Claramente, deixamos a nossa marca. É um conjunto de muita e boa obra. Ainda vamos concluir duas emblemáticas na freguesia e que, se calhar, eram prometidas e eu ainda não era nascido, que são a Casa Mortuária de Seixezelo e a Sede da Associação Musical de Pedroso. Foi a inauguração da piscina, foi a inauguração da Quinta do Padrão, a inauguração do Polidesportivo de Seixezelo, do sintético do Futebol Clube de Pedroso, foi a reabilitação de mais de 30 ruas, foi não parar de fazer obras no cemitério, foi a criação de projetos como a Festa do Caneco, a Petrus Run, a Academia Sénior, o Posto de Enfermagem, o Juntos pela Inclusão, o Cinema ao Ar Livre, e muitos outros mais. Foi um conjunto de eventos, de projetos, de investimentos, de credibilidade e afirmação de uma freguesia. Deixamos a nossa marca. Com toda a calma e com todo o sorriso que possa ter e com toda a forma otimista que vejo a vida, se por opção minha, se por opção do partido ou se por opção do povo eu não continuar, sairei de consciência totalmente tranquila e poderei tomar o café onde sempre tomei, comprar o jornal onde sempre comprei, poderei falar com as pessoas com que sempre falei, e terei a minha vida profissional de volta. Com a mesma felicidade que entrei, é com a mesma felicidade que sairei ainda, por cima, com o sentimento de dever mais que cumprido.

 

Cresceu nestes últimos anos?
Nós crescemos sempre. A nossa vida é feita de momentos bons, momentos menos bons e de momentos assim-assim. Enquanto pessoa cresci. Cresci muito. Descobri qualidades que não tinha ideia possuir: ter paciência, muita paciência pelo que fui encontrando aqui na Junta e fui vivendo nas assembleias, por isso, paciência, muita calma, muito bom senso. É uma experiência que vou levar para a vida. Tenho colegas no meu executivo que me costumam dizer que “trabalhar contigo é fácil porque para ti um problema é sempre um encontro com soluções” e acho que isso devo muito à empresa onde trabalho, essa bagagem que me deu pelo facto de também ser diretor, de falar com muita gente, deu-me uma experiência de vida bastante grande e trouxe benefícios para a função que desempenho aqui na Junta. Certamente que quando daqui sair, quando regressar à empresa ou outro local, continuarei a crescer e continuarei a fazer de mim uma pessoa mais apta para os desafios que aí vêm. Não me considero um político, não me considero uma pessoa ligada cegamente à política. Saber que amanhã é um novo dia e que amanhã tentamos fazer melhor. Temos obra para mostrar desde o dia 16 de outubro de 2013 até ao dia em que terminar este mandato porque nós não andamos a correr para inaugurar coisas a uma semana das eleições, não demos apoios às coletividades no ano de 2017, demos a partir de 2014, todos os anos.

 

Olhando para toda a sua vida pessoal, mudaria alguma coisa?
Nunca fui muito de pensar nisso. O caminho que levamos na vida é um caminho de opções. Felizmente, sempre tive a possibilidade de ter mais do que um caminho em certos momentos, quer seja a nível pessoal, quer a nível profissional, sempre tive e errei em alguns mas acho que na grande maioria acertei. Não mudaria muito, mas alguns deles não os repetiria.

 

Enquanto Filipe Lopes, o que é que não abdica na sua vida pessoal?
Não abdico de ser feliz. Não abdico de estar bem-disposto. Não abdico de dar o melhor de mim em tudo o que faço. Não abdico de puxar pelo meu clube. Não abdico de fazer aquilo em que acredito. Muitas vezes, abdico de tempo de qualidade meu e de quem é mais próximo de mim para questões profissionais. Sempre fui muito dedicado ao trabalho, não só neste cargo, mas desde que me conheço, desde que comecei a trabalhar. Sempre que tivesse que ir trabalhar a um domingo, eu ia, nunca me fez confusão, nunca meti uma hora extra. Sou muito viciado no trabalho. Sou uma pessoa chatíssima a nível de trabalho, comigo mesmo e também acredito que em alguns momentos também transporto esse meu sentimento para outras pessoas que estão próximas de mim. Logicamente que abdiquei de muita coisa nestes quatro anos que cá estou, mas valeu a pena. Não há nenhum emprego do mundo ou salário que pague a satisfação de ao colocar ali um paralelo, fazer com que aquela pessoa deixasse de tropeçar no buraco, e isso para mim tem um valor que não se consegue medir. Olhando hoje para a freguesia e vê-la motivada, ver a freguesia a acreditar num projeto, ver a adesão ao concerto de natal solidário, de colocar alimentos à entrada para entregar aos mais necessitados. Hoje, a comunidade vive para a comunidade. É engraçado quando o Eduardo Vítor me convidou, nesse dia falei com a minha família e no dia seguinte falei com administração da empresa e o administrador disse-me assim “ Ó Filipe, uma pessoa como tu vai-se meter na política” e eu fiquei e pensar e depois disse “ Olhe Dr. Luis quem faz as coisas são as pessoas se tivermos um mau padre, vamos ter uma má Igreja, se tivermos um mau professor, vamos ter uma má educação, um mau político vamos ter uma má política, mas se por algum motivo começarmos a ter um bom padre, um bom professor, um bom político, um bom empresário, vamos ter uma sociedade melhor”. No fim, ele levantou-se deu-me um abraço e desejou-me boa sorte e acho que isso foi um empurrão. Aproveito para agradecer a toda a administração da empresa o afeto e carinho que têm comigo.

 

O lema de vida é….
O caminho faz-se caminhando. Acho que personifica bem aquilo que eu encaro para a minha vida. Não sou pessoa de desesperar com problemas. Não sou pessoa de desistir com dificuldades. Não sou pessoa de não dormir por isto ou por aquilo. Sou uma pessoa crente, tenho fé, mas não acredito na sorte e costumo dizer que a sorte dá um trabalho terrível. Mas, penso que o caminho faz-se caminhando, escolhendo o meu caminho, escolhendo as melhores pessoas para me acompanhar, mas saber onde quero chegar, porque há pessoas que caminham muito mas que não têm um rumo, um objetivo. Eu tenho um objetivo, sei onde quero chegar. Sei que o mundo gira muito depressa e, muitas vezes, hoje penso que quero fazer isto mas amanhã não é bem assim, mas há princípios, há valores que me foram passados pelos meus pais dos quais, por muito que o mundo gire ao contrário, de pernas para o ar, nunca irei mudar, nunca irei fugir deles. Claro que os objetivos pessoais e profissionais são muito voláteis e vão-se alterando, mas quando não se tem valores, quando não há carisma, confiança, seriedade, honestidade, podemos escolher vários caminhos, podemos ter vários objetivos mas vai ser sempre na trapaceirice e vai ser sempre prejudicar este ou aquele para chegar ali. Eu nunca fiz mal a ninguém na minha vida profissional, só tenho amigos por onde passei. Costumo dizer muitas vezes enquanto líder de um projeto, de uma equipa, que só fico satisfeito quando deixo de ser preciso no dia-a-dia. Logicamente, um líder é sempre preciso, mas quando isso assim acontecer, é sinal de que a equipa identifica-se connosco, com o nosso projeto, conhece e sabe o que é que quero que se faça. Antigamente, vivia-se na angústia, as funcionárias da Junta recebiam chamadas dos fornecedores para pagar, hoje, pagamos a 30 dias a todos os fornecedores. O ambiente na Junta é espetacular. Toda a gente sabe o que tem que fazer, as pessoas sabem que não há riscos de ordenados atrasados. Nós cumprimos e isso é bom para mim, dá-me paz de espírito, é bom para os funcionários porque não andam ali a enganar ninguém, e é bom para o fornecedor porque hoje vende a 100 porque sabe que vai receber daqui a 1 ano mas amanhã já vende a 90 porque sabe que em 30 dias recebe.