“MONAMI” e ”AVIADORES” NA VISÃO DE DUARTE ESTÊVÃO

O título deste apontamento é precisamente o título dum livro publicado por um amigo gaiense que já partiu – António Duarte Estêvão – e prefaciado por outro amigo comum – dr. Samuel de Bastos Oliveira, carregosense do concelho de Oliveira de Azeméis, licenciado pela Universidade de Salamanca e que cumpriu grande parte da sua carreira docente no Colégio de Gaia. Na apresentação do Prefácio, começou por citar uma frase de Eugène Delacroix, segundo a qual o mais belo triunfo do escritor é fazer pensar os que são capazes de pensar. Quanto ao Prefácio em si, acerca de uma publicação que o autor gentilmente me ofereceu, deixo as passagens mais marcantes da vida de Duarte Estêvão, citadas pelo prefaciador:

«Quando, no ano lectivo de 1955/56, iniciei a actividade docente no Colégio de Gaia, tive o prazer de conhecer um homem de carácter afável e conversa atraente – António Duarte Estêvão – autor do presente livro. Duarte Estêvão pontificava, então, na Mercearia Porto, estabelecimento comercial onde afluía muita clientela, conquistada pela sua simpatia, e onde se juntavam, a certas horas, conterrâneos e conhecidos seus para um bate-papo animado. Já nesse tempo se lhe notava um fino trato, a fidelidade de um amigo que me conquistara, e certos fulgores dum espírito curioso e culto.

Em Fevereiro de 1957, Duarte Estêvão abria na Rua Marquês Sá da Bandeira, em frente ao monumento aos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, um café que baptizou sugestivamente de “Mon Ami”, que como o nome pressagia, passou a ser local privilegiado para encontros dos amigos do meu amigo e de todos os amigos da urbe e do dono do café. Seduzidos pela hospitalidade e bonomia de Duarte Estêvão, professores e estudantes das escolas das redondezas fizeram do “Mon Ami” uma espécie de escola subsidiária, onde o “mestre da vida”, Duarte Estêvão, servia aos mais novos, além do café, vitaminas de bom humor e entusiasmo para o estudo e confronto com a vida. Entre muitas outras citações abordando temas diversos, o prefaciador diria ainda para concluir: — «Na verdade, o já longo percurso literário de Duarte Estêvão como prosador do social, poeta e filósofo da vida, é caso admirável dentro da cultura gaiense. Por minha parte, confesso que me tenho dedicado a ler o poeta e aconselho vivamente os leitores a saborearem o “néctar”, a graça e a profundidade do pensamento de Duarte Estêvão, em grande parte espelhado neste volume. Parafraseando Eugène Delacroix, ut-retro citado, contribuamos para o triunfo de Duarte Estevão, levando o nosso espírito a reflectir sobre a mensagem das suas produções literárias».

Oliveira de Azeméis, Fevereiro de 2001

Samuel de Bastos Oliveira

NB: Além de docente no Colégio de Gaia e na Escola Almeida Garret, Samuel de Bastos Oliveira fundou e dirigiu “O Nascente”, publicação interna do próprio Colégio, tendo sido também correspondente do extinto diário “O Comércio do Porto” no concelho de Oliveira de Azeméis.