A Escola Profissional da Ribeira Grande comemorou, este ano, 25 anos de existência. Neste quarto de século, o estabelecimento foi gerido por uma fundação, passando, em 2014, a ser coordenado pel’A Ponte Norte – Cooperativa de Ensino e Desenvolvimento da Ribeira Grande, que continua o trabalho até aos dias de hoje. Ao longo deste tempo, já lecionou 122 cursos e foi casa de cerca de 1500 diplomados, constituindo-se, assim, num importante degrau para o crescimento do concelho, da ilha e do arquipélago. João Dâmaso Moniz é diretor geral do estabelecimento desde novembro de 2021 e falou, em exclusivo ao AUDIÊNCIA, sobre o percurso da escola, bem como as maiores dificuldades que atravessa na atualidade. Além disso, também não escondeu o sonho de construírem um polo de formação, na Ribeira Grande, e prometeu continuar a lutar para destruir preconceitos e ideias pré-concebidas sobre o ensino profissional.
Para começar, pedia que nos falasse um pouco da história da instituição e do seu percurso, até aos dias de hoje.
A Escola Profissional da Ribeira Grande surgiu há 25 anos e é um projeto que esteve, e continua a estar, muito ligado à Câmara Municipal. Ergueu-se numa altura em que o ensino profissional, na região, estava a dar os primeiros passos, aliás, são várias as escolas profissionais de outros concelhos que também têm 25 anos de existência. À época, este estabelecimento de ensino foi pensado para colmatar uma necessidade de formação, a nível das pescas. Esse projeto, como referi, muito ligado à Câmara Municipal, acabou por ficar sediado em Rabo de Peixe, porque a ideia era ser mais abrangente e pretendia-se, na altura, que tivesse, também, uma componente de ensino superior, nomeadamente com a abertura de um politécnico, que ficaria na cidade da Ribeira Grande e, por uma questão estratégica, de dispersão geográfica, o ensino profissional ficaria, então, na vila de Rabo de Peixe e daria resposta, como referi, essencialmente, à área das pescas, ou seja, qualificaria os pescadores, dando-lhes alguma formação, algo que era essencial e que, na altura, não existia, não só no concelho, mas na ilha, e que obrigava muitos desses pescadores a terem de se deslocar ao continente português para ter formação nesta área. Foi, essencialmente, desta oportunidade e desta necessidade que surgiu a Escola Profissional da Ribeira Grande, na vila de Rabo de Peixe, num edifício que, ainda hoje, é pertença do município, com compactas instalações, não mais de três ou quatro salas de aulas, mas foi o local onde o projeto deu os primeiros passos. Mais tarde, surgiu a Fundação para o Desenvolvimento Socioprofissional e Cultural da Ribeira Grande, e esta acabou por ficar com a alçada do estabelecimento de ensino, sem a dependência direta, de certa forma, da Câmara Municipal, mas a fundação era detida, a 100%, pela autarquia, ou seja, esta passou a ter uma participação indireta. Entendeu-se, na altura, que a fundação podia dar resposta a outros projetos, nomeadamente ao tal ensino politécnico, mas também participar na divulgação da nossa cultura, a nível municipal, particularmente, no desenvolvimento das nossas tradições, como as cavalhadas de São Pedro e as marchas. Enfim, viu-se, ali, uma oportunidade de aprofundar e dinamizar a cultura da cidade. Deu-se, então, essa fundação e houve um franco desenvolvimento da escola nos anos subsequentes, ali até 2012/2013 houve um forte incremento da formação profissional. Entretanto, o país também atravessava outras dificuldades, aliás, como todos temos memória, há cerca de dez anos, Portugal foi intervencionado pela Troika e, no âmbito dessa intervenção, surgiu uma questão legislativa, que exigia que as fundações que não tinham receitas próprias e que dependiam, diretamente, do Estado, neste caso concreto, de uma autarquia local, caso não tivesse mais de 50% dos seus rendimentos oriundos de receitas próprias, teriam de ser extintas. Neste caso concreto, a fundação que geria a Escola Profissional não tinha essas condições e por não as ter foi necessário extinguir a Fundação para o Desenvolvimento Socioprofissional e Cultural da Ribeira Grande e, na altura, a Câmara Municipal, liderada por Alexandre Gaudêncio, viu-se com um problema bastante grande nas mãos. O ensino profissional estava órfão, não havia nenhuma entidade que quisesse ficar com ele, a fundação não poderia continuar e estávamos a falar de um quadro de pessoal a rondar os 40 funcionários e um conjunto de outras valências e áreas de atividade, uma vez que eramos, e continuamos a ser, a entidade gestora de dois centros de ciência, um no concelho da Ribeira Grande, e outro na Povoação, nomeadamente o OASA – Observatório Astronómico de Santana, Açores e o OMIC – Observatório Microbiano dos Açores. Então, a capacidade e audácia do poder local, da altura, permitiu arranjar uma solução, que foi a criação de uma cooperativa que ficasse com a alçada, não só do ensino profissional, mas também desses centros de ciência e outros projetos que estavam a ser desenvolvidos pela fundação. Foi isso que aconteceu e foi constituída A Ponte Norte – Cooperativa de Ensino e Desenvolvimento da Ribeira Grande, a 10 de outubro de 2014, e, a partir daí, felizmente, as coisas têm-se vindo a consolidar. No entanto, e também acho importante dizer que, desde essa altura, apesar de não haver uma relação com a extinção da fundação, o ensino profissional, infelizmente, passou a ter outros desafios e houve uma redução do número de cursos e do número de formandos ligados à nossa escola. Isto aconteceu, não por uma opção da própria direção, mas, essencialmente, porque a Escola Profissional da Ribeira Grande depende de fundos comunitários, nomeadamente do Fundo Social Europeu, e houve uma diminuição das verbas disponíveis para a formação profissional. Felizmente, aqui, já vimos uma alteração com o aumento do número de cursos, no ano passado, e que se espera que continue este ano.
Quais são as valências da Escola Profissional da Ribeira Grande e quantos alunos tem?
Nós, atualmente, temos nove cursos profissionais, sendo que desses, oito são financiados pelo Fundo Social Europeu e um pela Câmara Municipal da Ribeira Grande. Isto foi uma opção que foi tomada pela própria autarquia, em 2020, de abrir um curso, porque a escola necessitava, e continua a necessitar, de aumentar a sua oferta e a Câmara Municipal achou que devia financiar a abertura de um curso o que, obviamente, auxiliou, financeiramente, a escola para ter maior estabilidade. Neste momento, no primeiro ano temos dois cursos de apoio à infância, um de informática de gestão e um de produção agropecuária. Já no segundo ano temos o curso de técnico de secretariado e técnico de apoio familiar e à comunidade, e, no terceiro ano, os alunos que terminam agora em junho, temos o curso de técnico comercial, técnico auxiliar de saúde e técnico de produção agropecuária. A escola tem cerca de 200 alunos, em números redondos. Essencialmente 100 do primeiro ano e os outros 100 divididos pelo segundo e terceiro. Há, aqui, uma aposta em áreas específicas. Na agropecuária, porque é um setor importante para os Açores, mas também para o concelho da Ribeira Grande, sobretudo na zona nascente, ou seja, nas freguesias de Porto Formoso, São Brás, Maia, Lomba da Maia, Fenais da Ajuda e Lomba de São Pedro. Esta zona do concelho tem uma forte e importante dinâmica económica nesta área. As pescas são uma área que está muito ligada à nossa génese e à nossa constituição, portanto, é uma vertente com a qual temos uma ligação muito forte, mas há uns anos atrás foi feita uma aposta estratégica do Governo Regional de então abrir a Escola do Mar, na Ilha do Faial, e, efetivamente, essa acaba por receber a maior parte da formação a este nível. Note-se que, recentemente, já esta direção, fez um protocolo de parceria com a Escola do Mar dos Açores, de forma a que os nossos pescadores, aqui da vila de Rabo de Peixe e do concelho da Ribeira Grande, não tivessem de se deslocar à Ilha do Faial para ter formação. Nós disponibilizamos as instalações e os formadores deslocam-se à nossa escola, mas as pescas continuam a ser uma área muito importante para nós. A agropecuária também o é. Fiz questão de dizer no meu discurso, na comemoração dos 25 anos do estabelecimento de ensino, que numa altura em que se começa a falar da especialização das escolas profissionais, nós queremos estar, essencialmente, nessas duas áreas, na agropecuária e nas pescas. Também não é falso afirmar que estamos muito ligados à área social e temos vindo a formar muitos miúdos na área do apoio à infância, apoio familiar e à comunidade e técnico auxiliar de saúde. À parte desta vertente do ensino profissional, temos, também, um conjunto de formações de curta duração que servem, essencialmente, para dotar os formandos de algumas competências especificas. São abertas à comunidade e gratuitas, porque são financiadas pelo Fundo Social Europeu. Tem sido motivo de procura de várias pessoas. Foi uma aposta feita pela anterior direção, na qual houve a definição de um pacote de muitas horas de formação. A questão pandémica não ajudou, muitas não se realizaram, mas até junho deste ano temos de finalizar este pacote e, se a memória não me falha, são cerca de 10 a 15 formações que ainda nos faltam realizar. Muitas delas são ligadas à área do turismo.
No caso, a escolha dessa área é para ir ao encontro das necessidades do concelho e da ilha, uma vez que se trata, cada vez mais, de um destino turístico?
Exatamente, sem dúvida alguma. Aliás, no concelho em concreto, com a abertura do hotel, que já aconteceu há algum tempo, mas continua a criar necessidades em algumas áreas, mas também por um conjunto de projetos que estão ainda em carteira, em fase de licenciamento junto da Câmara Municipal, mas que, de certa forma, alguns promotores já nos procuram para saber se estamos a dar formação, se estamos a preparar pessoas para essas necessidades do mercado de trabalho. A Ribeira Grande é, bastante dinâmica na área da construção civil e já demos muita formação, antes de 2013, quando o setor tinha, aqui, uma pujança bastante forte na região e no concelho. Atualmente, não se tem formado ninguém nessa matéria. Temos um grande desafio associado ao facto de os cursos profissionais demorarem em torno de três anos a serem concluídos, porque não se consegue formar um técnico de um dia para o outro. Ou seja, pode haver uma necessidade imediata e nós não conseguimos dar resposta. Ao abrirmos, hoje, um curso, esse técnico só estará no mercado de trabalho daqui a três anos e, muitas vezes, nessa altura, o mercado pode já não ter essa necessidade. Daí também ser importante termos as formações de curta duração, para haver alguma requalificação de pessoas que estão em áreas similares e que, apenas com essa solução, conseguem inteirar-se dos assuntos e entrar na área. Nós tentamos trabalhar nesses dois patamares. A formação profissional, que é o que, efetivamente, está na nossa génese e na nossa matriz, mas também esta de curta duração, para dar respostas pontuais ao mercado de trabalho, porque este não pode ficar três anos à espera de um técnico.
De que forma é que a Escola Profissional da Ribeira Grande está envolvida com a comunidade? Por exemplo, ao nível de estágios, as empresas locais são recetivas a receber os vossos alunos?
Sim, sem dúvida. Aliás, esta questão tem sido quase uma bandeira desta direção. Nós, desde que tomamos posse, temos trabalhado, e de certa forma temos desenvolvido esforços, para que a escola não seja aquele edifício fechado, rodeado de paredes e de um gradeamento exterior, que é natural existir, mas que seja um espaço aberto à comunidade. Muitas vezes é difícil trazermos a comunidade para dentro da escola, porque está nas suas atividades diárias, e então há, aqui, um esforço de tirarmos os alunos daquelas quatro paredes e envolvê-los nessas atividades e na vivência da população. Temos uma proximidade muito grande com a Câmara Municipal da Ribeira Grande, ou seja, participamos em praticamente todas as atividades que ela organiza, como, por exemplo, a Festa da Flor, as festas da cidade e o Cantares às Estrelas. Mas a escola envolve-se, também, com outras entidades, como Santas Casas da Misericórdia. Participamos, inclusive, na Feira de Segurança Infantil, organizada pela Polícia de Segurança Pública aqui da cidade da Ribeira Grande, onde duas das nossas turmas estiveram encarregues da dinamização das atividades. Isso não deixa de ser, também, um momento de aprendizagem, uma vez que eles interagem e têm a oportunidade de ter contato com o mercado real de trabalho. Em relação às empresas, somos bastante procurados, felizmente, e digo isso com orgulho, no entanto, é algo transversal, não apenas na nossa escola, mas ao ensino profissional, em geral. O tecido empresarial local reconhece a qualidade das escolas profissionais da região e isso é ótimo. Muitas vezes, mal os alunos realizam o estágio, os empresários e as empresas querem logo assinar contratos de trabalho com eles, ou seja, fazem aqui o recrutamento, ou uma pré-seleção, e isso é muito bom. Os estágios acontecem em dois momentos distintos, no segundo e no terceiro ano dos cursos profissionais, num módulo que é chamado de Formação em Contexto de Trabalho, sendo que no terceiro ano a carga horária desse módulo é maior do que no segundo. Estamos a falar de um período de cerca de um mês, de contacto diário com as empresas. Isto é muito bom para os alunos, porque permite-lhes aplicar os conhecimentos que adquirem ao longo da sua aprendizagem e acaba por ser, também, bom para as empresas, pelo tal momento de seleção e recrutamento. Há muitos formandos nossos que, quando terminam o curso, já saem, praticamente, com local para trabalhar, fruto desses contactos que têm durante o curso.
De que forma é que este estabelecimento influencia o desenvolvimento do concelho, em particular, e dos Açores, em geral?
Nós, ao longo destes 25 anos, desenvolvemos 122 cursos de tipologia técnico-profissional, ou seja, estamos a falar de cerca de 1500 diplomados. Se fizermos uma conta rápida e dividirmos esses 1500 por 25 anos, estamos a falar de 60 adolescentes e jovens que, anualmente, saem para o mercado de trabalho, preparados e dotados de formação específica e eu julgo que isto, só por si, confirma o que referiu na questão. Esta dinâmica, esta continuidade de formação, faz com que os empregadores tenham, aqui, a quantidade de recursos para colmatar as suas necessidades, e, obviamente, que, eles, incorporando esses formandos nos quadros das suas empresas, podem oferecer mais serviços, podem vender mais produtos e, de certa forma, contribuem, diretamente, para o desenvolvimento económico, não só do concelho da Ribeira Grande, como da ilha e do arquipélago, em geral. O ensino profissional tem uma importância muito elevada a este nível, porém gostaria que tivesse mais.
Gostaria que tivesse mais relevância ou maior visibilidade da importância que já tem?
Eu gostaria que tivesse mais importância. Julgo que a concorrência que é feita pelas escolas de ensino regular, que também têm ensino profissional, é distinta e, sinceramente, acho que não tem a mesma qualidade. De salientar que, nos cursos profissionais dados em escolas regulares, os professores não são das áreas técnicas, são do quadro, professores de profissão, enquanto nas escolas de ensino profissional, esta formação, principalmente na parte técnica, é dada por pessoas que estão no terreno e que dispensam algum do seu tempo diário para ir à escola para transmitir aquele que é o seu conhecimento e experiência. Eu acho que há, aqui, um contacto de maior proximidade entre o mercado de trabalho e a escola, porque esses profissionais são pessoas que, efetivamente, diariamente, aplicam os conhecimentos e sabem, na prática, como é que as coisas são. Eu julgo que isso é uma enorme mais-valia do ensino profissional, mas olhando para os dados na região, ainda não tem o peso que tem noutros países, como na Alemanha, por exemplo, que é um território onde este tipo de ensino, em termos de escolhas, tem uma preponderância muito superior. Quem ingressa no ensino regular são pessoas que, depois, querem prosseguir os estudos e ingressar na universidade, todos os outros acabam por optar pelo ensino profissional, algo que, no nosso país, não é bem assim. Ainda há muitos cidadãos que terminam o 12º ano no ensino regular e, depois, também não prosseguem os estudos para a universidade, ou seja, acaba por ser uma desvantagem, porque apesar de terem o 12º ano, não têm nenhuma especialização. Por isso é que os cursos profissionais são de dupla certificação.
Mas, acredita que, ao longo destes 25 anos, a imagem negativa conferida aos cursos profissionais, de solução para quem não é “bom o suficiente”, foi mudando?
Eu julgo que essa ideia pré-concebida tem menos força, agora, do que teve em há alguns anos, mas é uma luta que não está ganha, de forma alguma. Há, aqui, um debate que nós, escolas profissionais, temos a obrigação de continuar a fazer porque, infelizmente, por parte de algumas pessoas, o ensino profissional ainda é visto como uma solução para os menos capacitados, para aqueles que não têm tanta capacidade intelectual, que são piores alunos na escola. Isso é uma falsa questão. Obviamente que nem todos os alunos vão ser brilhantes, mas isto acontece, tanto no ensino regular, como no profissional, mas há, efetivamente, bons, e eu diria até excelentes, alunos no ensino profissional. Aliás, ainda recentemente, com a participação no Campeonato de Profissões, quer regional, quer nacional, que ocorreu em Portimão, é fácil ver, pelos resultados obtidos pela Região Autónoma dos Açores, que são muitos e bons os técnicos que temos a esse nível, nas diferentes áreas. Nós, na Escola Profissional da Ribeira Grande, tivemos um campeão regional na área de caring e cuidados pessoais. Estamos munidos, e as escolas profissionais estão preparadas para dar boa formação, agora, eu sei e compreendo que esses pensamentos não se mudam de um dia para o outro, só com muito trabalho é que se vai alterar. O ensino profissional é uma mais-valia, uma solução para muitos dos problemas do mundo empresarial e do mercado de trabalho. Aliás, de notar que o nosso mercado de trabalho valoriza, imenso, o ensino profissional. Na hora de contratar, a experiência desta formação é tida muito em conta e isso acontece, não só aqui nos Açores, mas a nível nacional. Os nossos empresários reconhecem o bom ensino que se dá nas escolas profissionais. É um trabalho que temos de continuar a fazer e eu acredito que as próximas gerações já não vão olhar para o ensino profissional como um refugo para aqueles com menos capacidades, como um ensino secundarizado, acredito que essas ideias pré-concebidas sairão da cabeça de muita gente, mas, como disse, isso é um trabalho que temos de continuar a fazer, até porque o ensino profissional é recente, não tem 200 anos, estamos a falar de 25, 30 anos, na região.
Que outras dificuldades está o ensino profissional a viver, nos dias de hoje?
Atravessamos, diria eu, atualmente, duas ou três dificuldades. A primeira tem que ver com a adaptação aos novos tempos. As escolas profissionais têm de fazer avultados investimentos para ir, de certa forma, acompanhando a evolução dos tempos. Somos escolas de direito privado, ou seja, não temos uma comparticipação pública, a não ser o financiamento comunitário, do Fundo Social Europeu, mas depois, dos orçamentos, no caso concreto da região, as escolas profissionais não são auxiliadas em nada, ou seja, quero com isso dizer que há, aqui, uma necessidade de atualização de equipamentos, de computadores e softwares que é praticamente permanente e consiste numa dificuldade, porque a disponibilidade financeira das escolas profissionais não é assim tão elevada. A questão do financiamento também é uma dificuldade. Atualmente, estamos no fim do quadro comunitário de apoio e muito expetantes relativamente ao próximo, porque precisamos, urgentemente, de uma atualização das tabelas que, de certa forma, financiam os cursos profissionais, porque estes, consoante a área, são financiados em certos valores e essas tabelas são anteriores a 2014 e, entretanto, com o aumento generalizado dos valores, não se encontram, minimamente, atualizadas e não suprimem as necessidades. Há outra dificuldade no que diz respeito à contratação de formadores. Mais uma vez, pelo facto destas tabelas ainda não terem sido atualizadas, nós não conseguimos pagar, em termos de valor por hora, aos formadores, aquilo que, no nosso entender, seria um justo valor e isso faz com que muitas pessoas, formadores e professores, não estejam disponíveis para colaborar com o ensino profissional. Tem sido difícil conseguir contratar formadores e professores para áreas especificas, onde não existem muitas pessoas a laborar e com conhecimento, falo, por exemplo, para a disciplina de programação, entre outras, onde as pessoas precisam de uma experiência muito específica e, muitas vezes, não estão disponíveis para trabalhar pelos valores que nós pagamos. Outra dificuldade é a redução do número de cursos. Felizmente, como já referi, em 2022, deu-se o aumento do número de cursos na Escola Profissional da Ribeira Grande. A continuar dessa forma é ótimo porque, nós, escolas profissionais, temos uma estrutura de custos, temos um quadro de pessoal associado e precisamos de um número mínimo de cursos para conseguir pagar aquela que é a nossa estrutura e sempre que se fica abaixo desse número de cursos, obviamente, que nós não conseguimos, por muita boa vontade que exista ou por muito boa dinâmica que a escola tenha, fazer face àqueles que são os nossos compromissos. Isso, muitas vezes, pode levar a uma redução do nosso quadro de pessoal, uma redução da dimensão das instalações, porque a escola está em edifícios que não são da sua propriedade, são arrendados. Essa questão do financiamento é, efetivamente, uma preocupação, mas estamos esperançados que, na próxima configuração do quadro comunitário de apoio, estas questões sejam atendidas. No nosso caso concreto, são essas as dificuldades. Temos colegas de outras escolas profissionais que estão a sentir, na flor da pele, a questão da demografia. Sabemos que somos cada vez menos a viver neste pedaço de encanto que são as nove ilhas e isso faz com que, muitas vezes, haja falta de formandos para preencher os cursos e as turmas. Felizmente, a Escola Profissional da Ribeira Grande não sente isso, mas também devo dizer que estamos no concelho mais jovem do país e isso, felizmente, não nos tem trazido problemas. Atualmente não o é, mas poderá ser, no futuro, porque nas ilhas mais pequenas já o é, não conseguem constituir turmas com o número mínimo, que, hoje, são 16 alunos, mas ainda recentemente eram 18. Mas este é um problema que não é só do ensino profissional, também se vai verificar no ensino regular e, infelizmente, vai atingir-nos a todos.
Na cerimónia de comemoração dos 25 anos da Escola Profissional da Ribeira Grande, que decorreu no Teatro Ribeiragrandense, no passado 6 dia de fevereiro, o diretor fez questão de afirmar que o maior sonho é, neste momento, a criação do polo cidade. Pode falar-nos um pouco mais sobre este projeto?
Efetivamente, o polo cidade é um projeto que nos acompanha, não diria há 25 anos, mas seguramente há 20. Desde os primórdios da escola, que se fala da possibilidade de existir, na cidade da Ribeira Grande, um polo de formação. Aliás, isto era apenas a segunda peça de um projeto tripartido, em que existiriam três locais de formação no concelho, ou seja, a sede em Rabo de Peixe, depois o polo cidade, na Ribeira Grande, e haveria ainda o polo nascente, para as freguesias desse lado do município. É interessante verificar que, noutros anos, quando a escola profissional teve muita ação formativa, foi possível ter esse projeto em pleno funcionamento. Chegamos a ter um polo cidade e um polo nascente, em instalações arrendadas. Infelizmente, devido à redução de cursos profissionais, esse sonho tem vindo a ser adaptado, fechando esses polos. Agora, nós gostaríamos de voltar a ter, aliás, não só ter, mas materializar, definitivamente, esse projeto, porque achamos que faz todo o sentido abrir, de uma vez por todas, o polo cidade, agora não em modelo de arrendamento. Foi daí que, na comemoração do nosso aniversário, referimos que gostaríamos que isso acontecesse nas antigas instalações da Escola Gastar Frutuoso, que é um edifício que é pertença do Governo Regional dos Açores, mas que este já demonstrou, junto da Câmara Municipal, interesse em ceder, gratuitamente. Depois, a autarquia, através de um contrato de comodato, podia, também, providenciar uma cedência para a nossa escola profissional. Seria a concretização de uma velha ambição. Isto acaba por ser fruto de uma estratégia e de uma necessidade, porque, com o aumento de cursos, a nossa sede de Rabo de Peixe já não consegue dar resposta, uma vez que não temos salas disponíveis para acomodar muitos mais cursos e isso fará com que nós tenhamos de utilizar outras instalações, como já acontece com o Centro de Artes e Ofícios, que há vários anos vem sendo utilizado por nós para dinamizar a formação. Mas, se conseguíssemos o tal polo cidade, já não necessitaríamos dessas instalações e daríamos formação na cidade da Ribeira Grande. Por exemplo, relativamente ao transporte dos alunos, tem sido um desafio. Nós, ainda o ano passado, adquirimos um autocarro novo, que é imprescindível para a nossa atividade, porque nós não conseguiríamos ter os nossos alunos na vila de Rabo de Peixe às 8h30, para o início das aulas, de outra forma. Obviamente que, tendo um polo na cidade, isso já seria possível. De qualquer das formas, este seria um polo secundário, a sede seria sempre em Rabo de Peixe, pela matriz e pela cultura que nós temos, é la que estamos e muito bem, mas este, apesar de secundarizado, seria importante para a formação, nomeadamente de ativos, ou aqueles que referi de curta duração e, eventualmente, alguma profissional, que não coubesse nas nossas instalações da vila. Enfim, a ideia era haver, aqui, um complemento ao nosso edifício sede e que, de certa forma, pudesse também dar resposta às nossas necessidades. Se tudo correr bem, como nós esperamos, no próximo ano abrem quatro curso profissionais e aí já teremos necessidades de espaço e não será, certamente, no decorrer do próximo ano que conseguimos abrir o polo cidade, até porque o edifício em causa carece de obras de intervenção de alguma montra, mas estou em crer que com a boa vontade de todos e com o nosso contributo, enquanto escola, há aqui a possibilidade de concretizarmos isto num futuro próximo.
Para terminar, qual é a mensagem que gostaria de transmitir à comunidade escolar, que se encontra, ainda, de parabéns?
É sempre bom agradecer a todos aqueles que confiaram a sua qualificação profissional à nossa escola. Falo de todos os alunos que, ao longo destes 25 anos, fizeram parte da história da Escola Profissional da Ribeira Grande, mas também dos formadores que contribuíram, e diariamente continuam a contribuir, na dinamização do ensino profissional no concelho. Falo dos nossos colaboradores, que se entregam, de corpo e alma, a esta causa e sempre que é necessário estão disponíveis. Penso que este mix, de formandos, formadores e pessoal administrativo, tem permitido que o ensino profissional, na Ribeira Grande, seja um sucesso. Também quero agradecer aos pais dos formandos, porque muitas vezes são eles que orientam os filhos na sua qualificação profissional, por isso, agradecer-lhes, também, a disponibilidade e confiança. O ensino profissional tem os seus desafios, não é mentira nenhuma, mas é bom, porque, felizmente, temos vindo a receber este carinho, por parte dos formandos e dos encarregados de educação. Dá para perceber que ainda há muita gente disponível e com vontade de fazer formação profissional na Ribeira Grande. Posso dizer que, no decorrer do ano passado, aquando da abertura dos quatro cursos, deixamos, ainda, cerca de 50 formandos fora da nossa escola, porque já não tínhamos capacidade para os receber, porque apesar de termos quatro cursos, eles têm uma limitação máxima, de 25 alunos, e não podíamos receber mais do que isso.