Apaixonado pela promoção do desporto, o francês Jules Rimet inicia a sua longa carreira de dirigente desportivo ao criar, em 1897, o Red Star Club Français de Paris, um clube polidesportivo que virá a constituir o pontapé de saída dos mundiais de futebol.
Partidário do futebol para todos, Rimet advoga a ideia de que o desporto deve permitir o confronto de todas as classes sociais, pelo que deve ser profissional, ou seja, o oposto das teses vigentes do amadorismo desportivo, elitistas, já que só as camadas com capacidade económica podiam dar-se ao luxo de se dedicar à sua prática.
Rimet integra a a direcção da Union des Sociétés Françaises de Sports Athlétiques e participa na fundação da FIFA no ano de 1904 em Paris de que será um dos primeiros dirigentes.
A Grande Guerra interrompe o projecto de um Mundial de Futebol, mas uma vez terminado o conflito, Rimet retoma o seu sonho, funda a Federação Francesa de Futebol, promove os torneios olímpicos de futebol de 1920, 1924 e 1928 e nos Jogos Olímpicos de 1928 a FIFA agenda a primeira Taça do Mundo de Futebol, a realizar no Uruguai, vencedor dos dois últimos torneios olímpicos e primeiro País a incluir não brancos na sua selecção.
A Taça do Mundo de Futebol tornou-se assim no evento desportivo mais assistido e prestigiado em todo o mundo, ultrapassando até mesmo os Jogos Olímpicos, considerados como a principal competição mundial.
Economicamente, a competição tem efeitos positivos sobre o crescimento de certos sectores e no desenvolvimento do País onde se realiza, pois, tanto instalações desportivas, como os estádios, são construídos ou reformados para a ocasião, mas também estradas, aeroportos, hotéis e outras infraestruturas são melhorados para receber a competição. Entretanto, esta competição pode transmitir ainda os valores da paz e universalismo e paradoxalmente ser também a ocasião de brigas generalizadas e violência em torno das partidas, ou seja, existem várias adversidades para se organizar um Mundial, embora este acontecimento esteja presente na cultura popular.
Como tal, podemos bem considerar que, pela sua natureza, essencialmente o desporto transporta valores de cooperação e de solidariedade entre os povos, valores esses que são particularmente marcantes em realizações de participação desportiva à escala internacional, o que não tem nada a ver com a inaceitável exploração dos trabalhadores no Qatar sujeitos a condições intoleráveis, desumanas e onde os seus direitos não são respeitados, assim como não são respeitados os direitos dos trabalhadores da Embaixada portuguesa no Qatar, situação que particularmente nos envergonha.
No entanto, a expressão inequívoca da defesa dos direitos pode assumir diferentes dimensões e não tem de passar por acções de boicote à participação desportiva de atletas ou de equipas e ao seu acompanhamento institucional, caso da deslocação ao Qatar do nosso Presidente da República a seu pedido, como apoio à Selecção Nacional, aliás, nos termos da nossa Constituição.
Outro tanto já não pode ser afirmado quanto às declarações do mais Alto Magistrado da Nação, relativamente à violação dos direitos humanos no Qatar, que podem ser consideradas como ingerência e já causaram a chamada, pelo Vice Primeiro Ministro do Qatar, do Embaixador de Portugal em Doha, considerando como era de esperar as referidas declarações como hostis, sendo no mínimo curioso observar que, relativamente a outros países sistematicamente violadores dos direitos humanos por acções de ingerência, invasão, morte, destruição de património mundial e saque de recursos naturais, não existir a mesma preocupação por parte do mais Alto Magistrado da Nação.
Polémicas de parte, resta-nos fazer votos para um bom desempenho da Selecção Nacional e se possível que traga para o nosso País o tão almejado trofeu.