O SIONISMO NO SEU MELHOR

A Assembleia das Nações Unidas teve a oportunidade há dias de assistir a uma cena publicitária protagonizada pelos representantes de Israel que acharam por bem exibir nas lapelas das roupas  a estrela dourada idêntica à usada durante a perseguição nazi aos judeus europeus na década de 1930, com a inscrição ao centro «Nunca Mais».

Na intervenção do Embaixador israelita e nos debates realizados, face à esmagadora maioria da oposição quanto aos bombardeamentos de hospitais, escolas, ambulâncias em serviço, elementos do Crescente Vermelho e da ONU, população indefesa, nomeadamente mulheres e crianças, obstaculização ao cessar fogo e a pausas humanitárias, para além da arrogância sobre a posição do Secretário Geral da ONU que até foi branda demais,ficou patente a ideia de comparar o Holocausto ao ataque do Hamas durante a invasão de solo israelita no dia 7 de Outubro passado, ou seja, uma tentativa ignóbil de considerar a oposição política aos actuais e sucessivos massacres da população palestiniana, como acção anti-semita.

Em desespero de causa, nem sequer se dão ao cuidado de procurar o significado das palavras anti-semitismo e anti-sionismo, que representam de facto dois conceitos distintos, pois o anti-semitismo é definido como «hostilidade ou discriminação contra os judeus como um grupo religioso, étnico ou racial», ao passo que o anti-sionismo define-se como «oposição ao estabelecimento ou apoio do Estado de Israel», ou seja, o primeiro é um preconceito religioso e étnico milenar e o segundo é uma ideologia política em oposição a uma entidade política chamada Israel.

Para os Estados Unidos, Israel é uma democracia liberal moderna e secular nos moldes do Ocidente, a única democracia no Oriente Médio, que se contrapõe às «hordas populares» de islâmicos que a rodeiam, mas acima de tudo representa uma posição geoestratégica de primeira ordem no Médio Oriente, confluência de rotas económicas e um enorme repositório de produtos naturais, basta pensarmos que a zona marítima da faixa de Gaza é rica em gás e petróleo.

Os Estados Unidos seguram este manancial com unhas e dentes, económica e militarmente, não sendo por mero acaso que lhe proporcionaram inclusive o poder nuclear e consequentemente nada ou quase nada podem ou querem fazer para contrariar os desígnios sionistas, justificados segundo eles pelo «direito de defesa», ou seja, predomina a narrativa mais vantajosa para os interesses de ambos os lados, por mais viagens e encontros que o Secretário de Estado, Antony Blinken, possa fazer agora ou vir a fazer futuramente, o importante de momento é cinicamente trazer para a ribalta a memória do Holocausto como cobertura política para as atividades do Estado de Israel.