O XADRÊS POLÍTICO NA EURÁSIA

A RAND Corporation, instituição «think tank» actua como uma entidade que desenvolve pesquisas e análises para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e actualmente os seus trabalhos contribuem para a tomada de decisões e implementação de políticas no sector público e privado.

Um estudo recente desta instituição preparado para o Exército dos EUA sugere com notável precisão quem pode estar em campo daquilo que se tornará uma grande ameaça à segurança russa nos próximos meses e o certo é que a ofensiva permanente da NATO contra a Rússia, agora também contra a China, tem sido uma característica dos tempos que correm conduzindo paulatinamente para um conflito de grandes proporções e consequências imprevisíveis, acrescido o facto de que o cerco ao território russo e a luta pelo controlo das zonas de influência na Eurásia são expressões dessa tendência para o abismo.

Não sabemos se esta sugestão colocada no domínio público pela Rand Corporation  constitui um aviso «urbi et orbi» ou simplesmente serve para consumo interno em tempo de eleições presidenciais, no entanto, há poucos dias o Presidente chinês, Xi Jinping, visitou uma base militar na província de Guangdong e pediu às tropas o seguinte: «ponham toda a vossa mente e energia na preparação para a guerra», não sendo de estranhar tal pedido, pois os Estados Unidos estão a planear vender a Taiwan um sistema de mísseis de médio alcance, mísseis terra-ar e sensores para caças F-16 e Pequim respondeu com um aviso para que Washington não negociasse com Taipé.

Na verdade o objectivo permanente do imperialismo é criar o máximo de instabilidade possível nas proximidades da Rússia e nessa conformidade o conflito actual desencadeado pelo Azerbaijão contra a Arménia serve perfeitamente esses interesses geoestratégicos imperiais.

Historicamente, estes dois países faziam parte da antiga União Soviética e nessa altura viviam em paz e com um desenvolvimento económico sustentado essencialmente pelas trocas comerciais com as outras repúblicas.

A Arménia tem cerca de 3 milhões de habitantes e o Azerbaijão 10 milhões, mas é exportador de petróleo, facto  a tornar a correlação de forças desfavorável à Arménia, acrescido o facto de o Azerbeijão  poder comprar todo o armamento que quiser ao seu apoiante a Turquia, membro da NATO que já enviou para o terreno antigos mercenários do ISIS que actuavam na Síria.

A situação actual resulta de uma guerra travada entre 1988 e 1994 durante a qual a Arménia ficou com o território sob o seu controlo militar e administrativo, embora a posição dominante internacionalmente estabeleça que o enclave faz parte do território do Azerbaijão cabendo à população, em última instância, pronunciar-se sobre o estatuto final do território.

A mediação do conflito tem-se arrastado devido à inacção do chamado Grupo de Minsk, criado em 1994 para tentar encontrar uma solução, e chefiado pela  França, Estados Unidos e Rússia, mas este Grupo tem tido uma existência incoerente, pois a Rússia, na sua neutralidade tendendo para o lado da Arménia, País que integra instâncias regionais a par de Moscovo, vê com bons olhos uma situação estável, a França revela a habitual tendência para ter voz em organizações internacionais, embora sem conseguir exercer influência determinante fora dos âmbitos da NATO e da União Europeia  e aos Estados Unidos convém uma situação por resolver de forma a poder degenerar em conflito em qualquer altura em regiões fronteiriças da Rússia, a exemplo  dos conflitos na Crimeia e na Bielorússia.

A movimentação de mercenários islâmicos em direcção ao território azeri, iniciada há semanas com apoio de empresas de segurança turcas e norte-americanas, constitui um sinal preocupante, pois  não é novidade que nas guerras sem fim patrocinadas pelos Estados Unidos, o recurso a mercenários islâmicos, independentemente das bandeiras e das designações que usam, é uma prática norte-americana e dos seus aliados, entre eles a Turquia, como aconteceu na Líbia, no Iraque e na Síria.

O ministro turco da Defesa reconheceu, aliás, que forças militares turcas e azeris entraram em manobras conjuntas em Julho passado, logo a seguir a um primeiro e sangrento recomeço do conflito registado em meados desse mês e por outro lado também não houve

qualquer reacção crítica da NATO e do seu secretário-geral sobre a situação, como não houve qualquer crítica a Ancara em relação à zona económica exclusiva e extracção de petróleo em disputa com a Grécia, outro membro da aliança, ou seja, dois pesos e duas medidas, quem cala consente.

No dia 24 de Setembro passado e na reunião virtual da Assembleia Geral das Nações Unidas, foram ouvidas as partes em conflito, Arménia e Azerbeijão, sem contudo se ter chegado a qualquer solução pacífica, sendo certo que continua o cerco à Rússia, tanto através da agressiva permanência de tropas e meios da NATO nas suas fronteiras europeias, como na desestabilização regional em redor de outras zonas fronteiriças e também através da guerra económica.