Assumindo-se como sendo um homem de causas, o empresário Joaquim Leite não conseguiu virar as costas ao desafio que lhe foi lançado pelo seu amigo Alberto Paiva, para encabeçar a lista candidata à Direção do Lar Santa Isabel. Conquistado o sufrágio há mais de um ano, os novos órgãos sociais e o atual diretor desta instituição têm trilhado um caminho de mudança, com a implementação de inúmeras melhorias materiais e imateriais, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida dos mais velhos. Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, o também proprietário da Ciclocoimbrões evocou a transformação que tem ocorrido na instituição, a relevância do conforto e do carinho que deve ser dado aos idosos, assim como o impacto que um apoio da Câmara Municipal de Gaia teria no funcionamento do Lar Santa Isabel.
Há pouco mais de um ano assumiu a liderança da Direção do Lar Santa Isabel. O que o levou a aceitar este desafio?
Nós estamos sempre atentos e prontos para ajudar qualquer instituição de solidariedade social. Claro que eu tenho grandes conhecimentos nesta área, como fui presidente de Junta, durante 12 anos e, para mim, a coisa mais importante eram os idosos e as pessoas mais fragilizadas. Por isso, aqui, quando o Alberto Paiva se decidiu candidatar e me convidou, eu simplesmente disse que sim, apesar de não ter muito tempo, mas não podia dizer que não ao meu amigo Alberto Paiva, para fazer parte da lista. Eu sou o presidente da Direção, mas, na verdade é o Alberto Paiva, atual diretor, quem tem conhecimentos disto. Na altura, ele não podia assumir a direção, por incompatibilidade, e convidou-me para encabeçar a lista, porém, o Alberto Paiva é que é o homem forte da instituição. Ele já conhecia esta IPSS e acompanhava-a de perto, uma vez que ia às Assembleias e reuniões de Direção. Era um verdadeiro contestatário da forma como o Lar Santa Isabel estava a ser gerido e nós já tínhamos concorrido, numas eleições anteriores, numa lista que era liderada pela secretária do senhor Fernando Vieira, mas fomos derrotados. Contudo, depois, o Alberto Paiva conseguiu fazer uma lista que saiu vencedora e que está, agora, aqui a gerir esta instituição.
O que é que mudou desde a tomada de posse dos novos corpos sociais?
Mudou muita coisa. A instituição estava, na verdade, numa situação um bocado precária e o Alberto Paiva, assim como toda a Direção, têm feito uma remodelação muito forte, principalmente na área da manutenção, porque o Lar Santa Isabel estava muito abandonado e os nossos idosos querem ter uma habitação com dignidade e havia Assembleias em que eles se manifestavam. Atualmente, tem havido obras, na verdade, ao mais alto nível nas habitações dos idosos, o que leva a que a instituição não esteja bem financeiramente. Já fizemos diversas modificações ao nível das instalações, nomeadamente, da cozinha, do bem servir e da alimentação, em relação aos antecedentes que geriam esta instituição. Portanto, nós temos de apelar ao senhor presidente da Câmara, para distribuir um subsídio ao Lar Santa Isabel, porque esta é uma instituição de solidariedade social de Vila Nova de Gaia, de modo a conseguirmos fazer face a grandes dívidas que o lar tem, principalmente, a fornecedores, porque isso é muito importante, pois pode ter consequências no fornecimento dos bens alimentares.
Sente que os seniores estão mais felizes?
É esse o lema da Direção. Eu arrepio-me muito quando entro aqui, porque penso: como é que uma pessoa trabalhou durante 70 ou 80 anos, ou 60 ou 70, criou um império e depois vem parar a uma instituição destas, onde não se sentem bem, porque acreditam que criaram família, os filhos os netos e, às vezes, um grande império e que não mereciam cair numa instituição destas, onde apesar de serem muito bem tratados, sentem que não é o mundo deles, o mundo que eles criaram.
O que é que é a mensagem que gostaria de transmitir?
Eu queria transmitir aos idosos a mensagem de que podem estar cientes de que esta direção tudo está a fazer para que eles tenham o melhor possível na instituição. Nós temos tido muito empenho na forma como os nossos colaboradores tratam os idosos. Também queria aproveitar a ocasião para recordar os colaboradores desta instituição que um dia também vão chegar à idade daqueles que precisam dos seus carinhos e do seu bem-estar, porque um funcionário de uma instituição destas tem de ter um sentido social muito forte e, por vezes, nós temos problemas, porque as pessoas necessitam do carinho deles e eles não são capazes de os transmitir. Por isso, eu apelava ao bom senso de todos os nossos colaboradores, que são excelentes. Esta é uma casa com mais de uma centena de colaboradores que são extraordinários, mas que têm de se lembrar de que os nossos idosos precisam do carinho deles. Por isso, eu acredito que cada funcionário desta instituição tem de ter a sensibilidade de fazer bem e de tratar bem os nossos idosos.
Cátia Reis, terapeuta ocupacional
“Eu faço uma avaliação inicial, tendo em conta as dificuldades de cada um, porque as pessoas não têm todas as mesmas complexidades, umas queixam-se dos membros superiores, outras dos membros inferiores, outras precisam de trabalhar na manutenção da marcha, para depois irem ao exterior, ou fazerem, aqui, as atividades normais. Portanto, a cada dia temos de fazer uma reavaliação. A importância é, acima de tudo, manterem-se ativos, tanto da parte da manhã, como da parte da tarde, para terem uma melhor qualidade de vida”.
Maria de Lurdes Andrade, residente
“Eu tenho 88 anos e sou de Moncorvo. Eu ainda não tinha 18 anos, quando fui para Angola, com uma tia, que era casada e tinha dois filhos. Na altura, eu ainda era solteira e os meus pais tiveram de me dar licença para eu ir, naquele tempo era assim. Fui servir e fiz lá a minha vida e, depois, conheci o meu marido e casamos. Estivemos casados durante 47 anos, mas não tenho filhos. O meu marido é de perto de Mirandela e quando se deu a Independência viemos embora sem nada e fomos para a terra dele e desde aí até então, nunca mais fui à minha terra, porque não tinha carro, nem transporte. Depois, os meus pais venderam o que tinham na terra e vieram para o Porto e como viram que tínhamos regressado de Angola sem nada, arranjaram emprego para o meu marido e estive mais de 30 anos no Porto, até que o meu marido mudou completamente e começou a maltratar-me e eu fui à Segurança Social, que me aconselhou a vir para um lar, porque eu estava bem fisicamente e mentalmente e então entrava mais facilmente, enquanto ele foi para outro sítio. Eu já cá estou há 18 anos e gosto muito de aqui estar, porque é a minha família, eu não tenho filhos, não tenho ninguém, pelo que a minha vida é aqui e eu sou muito bem tratada. Eu sinto-me feliz, dão-me conforto, alimentação e carinho, por isso não posso pedir mais nada”.