UM CIDADÃO DE CAUSAS SOCIAIS, DA CULTURA E COM AVINTES NO CORAÇÃO

Eduardo Ribeiro nasceu no Porto, viveu quase sempre em Gaia, entre Mafamude e Avintes, onde a família construiu casa e se mudou em 1981. A sua vida é feita de dedicação às pessoas e são muitas as causas que abraça, sendo discreto na sua forma de atuar. Economista, a sua vida profissional foi na área da Gestão, durante muitos anos na indústria têxtil, passando pelo ensino e formação, tendo sido docente no ensino profissional e universitário. Ligado à causa da pessoa com deficiência desde 2000, como diretor da APPDA-Norte, em 2010 foi sócio fundador da AIA – Associação para a Inclusão e Apoio ao Autista (Braga), da qual é atualmente Presidente da Direção. Desde 2013 que integrou os sucessivos Executivos da Junta de Freguesia de Avintes, sempre com a Área Social, participando ativamente na vida social, cultural, educativa e associativa da sua freguesia. Além disso, é Secretário do Conselho de Administração e Presidente Executivo da Fundação Joaquim Oliveira Lopes, uma IPSS sediada em Avintes, membro da Comissão Alargada da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens-Gaia Sul, do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas Gaia Nascente, fazendo parte dos órgãos sociais da Associação Humanitária dos Bombeiros de Avintes, da Associação Cultural Instantes e da Pedra d’Audiência Cine Clube.

 

De 2000 a 2009 foi diretor da APPDA-Norte (Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo) associação sediada em Gaia. Como foi essa experiência?

Foi uma experiência única e irrepetível. Por um lado, pude levar para a Associação a minha experiência técnica como economista, que a Associação nunca teria a possibilidade financeira de contratar. Por outo, vivi uma experiência única de “mergulhar” num universo desconhecido para mim à data, o do espetro do autismo, que alterou completamente a minha perspetiva de olhar e ver o mundo, e admirar a garra, resiliência e trabalho das famílias de autistas na procura de respostas e melhores condições para os seus filhos, que até ao início deste século eram mesmo excluídos da e pela sociedade. Troquei um mundo em que o objetivo é a maximização do lucro, para outro em que é a maximização do potencial da capacidade, bem-estar, autonomia e independência da pessoa com deficiência, promovendo a sua inclusão na sociedade. Muito gratificante.

 

É, atualmente, Presidente da AIA (Associação para a Inclusão e Apoio ao Autismo-Braga). Como tem de se deslocar desde Avintes a Braga não deve ser fácil…

Atualmente desloco-me só o necessário. Os avanços tecnológicos, principalmente na área digital, vieram facilitar este aspeto, embora gostasse de doar mais tempo a esta Associação, pois a presença é sempre importante, pese ter na AIA pessoas que vestem todos os dias a camisola.

 

Esta Associação cresceu muito. Pode-nos dizer como foi este percurso desde que é presidente?

Atendemos anualmente em média 50 crianças em terapias de intervenção precoce, em regime ambulatório, e 14 com multideficiência em Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão. Gostaríamos de ter mais respostas, mas não temos conseguido junto da Autarquia Bracarense a disponibilização de um equipamento para requalificar, ou terreno para construção de raiz de respostas sociais necessárias às necessidades presentes e futuras. Quando os jovens adultos autistas terminam o seu percurso escolar obrigatório, vão obrigatoriamente ter de ficar em casa. Nem os sucessivos governos acautelam esta necessidade, nem vejo as famílias mobilizarem-se em despender tempo para preparar o futuro dos seus filhos, associando-se e trabalhando com as associações existentes ou criando novas associações.   Desde 2020 que temos trabalhado muito na sensibilização e informação acerca do autismo, em que o ponto alto é a organização de uma Caminhada Solidária, com mais de 14 mil inscrições, que tem o inestimável apoio da Jerónimo Martins, a divulgação pelo Correio do Minho, o licenciamento e policiamento pela Câmara de Braga, e a presença, quando é possível, da madrinha da AIA, a enorme Rosa Mota. Por outro lado, deslocamo-nos gratuitamente às Escolas para pequenas ações, que normalmente acompanho.

 

É, também, presidente do Conselho Executivo da Fundação Joaquim Oliveira Lopes. Cuidar do Futuro é um dos seus grandes desafios?

Quando assumi o compromisso de reorganização e recuperação financeira da Fundação, faltava um princípio orientador simples, que resumisse o nosso trabalho com as crianças que nos são confiadas pelas famílias. “Cuidamos do Futuro”, resume tudo. As crianças são o futuro, o futuro deste país. Cuidamos das crianças de uma forma holística, física, mental e desenvolvimental. Em setembro do próximo ano, a Fundação comemorará 25 anos de funcionamento da Creche e Jardim, altura em que procuraremos trazer à discussão os efeitos e combate às “experiências adversas na infância”, que marcam as crianças para toda a vida. Já é do nosso conhecimento os efeitos determinantes dos primeiros anos de vida de uma criança no seu futuro. Crianças felizes e saudáveis, serão adultos potencialmente mais felizes e saudáveis. Isto implica muito foco e atenção no seu desenvolvimento, despistando e tratando qualquer perturbação o mais precoce possível, melhorando assim o prognóstico da criança. A Fundação promove formações específicas para os trabalhadores, tem uma psicóloga a acompanhar e apoiar as crianças e as Educadoras nas suas dúvidas em relação a possíveis problemas em determinada criança, podendo depois recorrer a avaliações e terapias no âmbito da Terapia da Fala e Terapia Ocupacional, numa parceria com a Kids & Family, que funciona nas nossas instalações. No lado oposto, fruto de uma doação testamentária à Fundação de uma casa e terreno pelo Engº Lopes Dias, vamos ter capacidade daqui a uns anos (dependendo dos apoios financeiros) de ter nova resposta para apoio aos nossos mais velhos. Estamos a trabalhar na requalificação da casa e posteriormente poderemos ir para edifício de raiz para pessoas idosas e, quem sabe, uma creche acoplada, fomentando um relacionamento intergeracional saudável.

 

Avintes é uma freguesia com vida. O Teatro, as propostas fotográficas, a Casa da cultura com o livro da minha vida, as marchas, a Festa da Broa de Avintes, as caminhadas solidárias… Como arranja tempo para marcar sempre presença em tantas iniciativas?

Diz-se que quem não tem tempo, arranja sempre algum tempo. O que faço, faço porque gosto, estando por detrás desta disponibilidade um bom suporte familiar com uma mulher maravilhosa, a minha esposa.

 

O humor faz parte do seu perfil, qual é a mensagem aos leitores do AUDIÊNCIA?

O segredo da vida é viver. A boa disposição e humor ajudam, mesmo em relação a nós próprios e em alturas difíceis, levando sempre a que estejamos bem connosco, gerando também para os outros um ambiente descontraído e saudável. Cada um deve gostar mais de si, dar mais atenção a si próprio, e parar o exercício desgastante de perder tempo com supostos processos de intenção dos atos dos outros. A vida ensina-nos que a grande maioria das nossas “suposições” não se concretizam.

 

Atualmente exerce o cargo de Tesoureiro no executivo da Junta de Freguesia de Avintes. Como tem decorrido este mandato?

O mandato tem decorrido bem, dentro dos objetivos, capacidades e limitações de uma Junta de Freguesia, que os nossos concidadãos começam a perceber, numa parceria com a Câmara Municipal de Gaia, que desde o primeiro mandato levou a mudanças acentuadas na nossa Freguesia com enormes investimentos, focando muito do nosso trabalho nas áreas mais invisíveis para a sociedade, a área social, mas com muito impacto nas pessoas, seja em apoio pontual de emergência social (água, eletricidade, renda), medicação, vacinas, acessibilidades (um corrimão ou rampa), em deslocações, no espaço do cidadão, num prémio de mérito escolar, num reconhecimento de mérito, ou numa simples conversa.

 

É preciso pensar mais alto e mais longe… qual é o seu grande sonho?

Entre muitos sonhos, que passam sempre pelo foco nas pessoas, gostava que se começassem a ver resultados no combate á pobreza, à violência doméstica e aos problemas de saúde (física e mental) que atingem a nossa sociedade. Todas as pessoas merecem ter uma vida digna, temos de ser proativos na denúncia de casos de violência doméstica, e o futuro do nosso SNS passa por termos agora hábitos saudáveis a nível de alimentação, cognitiva e emocional. Se queremos uma sociedade mais equilibrada, pacífica, justa, harmoniosa, temos de quebrar círculos viciosos replicadores de desigualdades e problemas que nos afetam a todos.