Enquanto o orientador se confronta com a tarefa de atribuição da pontuação às propostas de solução apresentadas para a prova nº. 2 do torneio de decifração “Solução à Vista!”, de que daremos conta na próxima edição da secção, os nossos detetives conhecem hoje a prova que se segue, da autoria do confrade scalabitano Bigode. O enigma tem por protagonistas Gazua e Alavanka, que se confrontam com uma crise conjugal motivada por um bloqueio no Facebook. Como sempre, aconselha-se a todos os “detetives” a maior atenção na interpretação do enunciado do enigma, desconfiando das suas aparentes facilidades, evitando assim surpresas desagradáveis.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 3
“O Estranho Caso da Falsa Mobilidade”, de Bigode
O agente Gazua regressara de mais uma missão da luta contra o crime. Esperava no jeep que o camarada, subchefe Alavanka, viesse do bar com as cervejas e o farnel para o lanche. Festejavam o sucesso da missão e o 45º. aniversário do 25 de Abril.
Revivia mentalmente algumas das peripécias e argúcia utilizada, para desmembrar a subtil rede ilegal, quando o ajudante entrou com o petisco, para o lugar do pendura.
– Podemos seguir ─ disse para o superior hierárquico.
Meia hora depois entravam na esquadra.
Na receção, à espera, estava uma senhora atraente. Interpelou o agente Gazua deste modo peculiar:
– O senhor é o agente Gazua?
– O próprio, dona…?
– Maria.
Gazua apercebeu-se do ar inibido do subchefe, que presenciava a conversa, e para desanuviar o ambiente, tomou a iniciativa de proceder às apresentações estendendo o braço:
– O subchefe Alavanka, meu ajudante.
– Muito prazer… ─ disse Maria com um sorriso.
Alavanka retribuiu o cumprimento e acabou de arrumar a merenda no frigorífico do bar, sentando-se depois à secretária para continuar a fazer, com afinco, um relatório interrompido.
– Senhor Gazua, venho participar o desaparecimento do meu cônjuge.
– Lamento muito, dona Maria. Quando foi que o caso se deu? ─ perguntou, enquanto abria a aplicação no computador.
– Fez um ano, no passado dia 2 de Abril.
O subchefe e Gazua entreolharam-se surpreendidos. Fleumático como uma enumeração, perguntou:
– E só agora comunica a sua ausência?
– Sim. Na altura, falou-me irritado numa mudança do local de trabalho, de Beja para Cuba. No princípio não parecia uma coisa descabida, porém a situação criada pelo bloqueio…
– Continental? ─ Interrompeu Alavanka, que escutava com atenção.
– Não! Da amizade no facebook.
– Dona Maria, desculpe o meu ajudante. Em tempos, foi mestre de história, e por vezes o trajeto do seu método de investigação tem alguns desencaminhamentos pelo passado.
Teclou alguns apontamentos, e continuou.
– Qual a profissão do seu marido?
– Funcionário público.
– O bloqueio da sua amizade no “face”, como referiu, foi a ponta do iceberg de algo inesperado?
O rosto moreno de Maria lampejou.
– Foi o emergir de uma traição bem camuflada.
O agente sentiu alguma apreensão.
– Possui alguns dados concretos que estejam na raiz dessa suspeita?
Maria pensou. Acendeu um cigarro e fitando o teto com um olhar vago, a tocar ao de leve o azedume, afirmou:
– Não, mas há uma mentira. Soube por uma amiga que ele no dia da mudança não trabalhou.
Gazua desarticulou ligeiramente uma repentina letargia e concentrou-se solidamente no assunto.
Entretanto o subchefe perguntou:
– A senhora recorda-se de mais alguma coisa?
– Disse também com despropósito que iria ver o Fialho, que não conheço e não faz parte do nosso círculo de amigos.
Uma dúvida genérica perturbou a ambiência da esquadra.
Dona Maria continuou a relatar o caso.
– Porém, senhor agente, preciso que ele assine os papéis do divórcio e não sei onde o encontrar.
Gazua, compreensivo, disse com assentimento:
– Esteja tranquila minha senhora. Vamos agir dentro do que a nossa área de atividade permitir, a fim de recolher a assinatura do seu ─ ainda ─ consorte, para que consiga alterar o seu estado civil.
Caros confrades:
a) – A Maria terá razão quando diz que no dia indicado pelo seu marido ele não foi trabalhar?
b) – Qual será a identificação do Fialho?
c) – Assinalem as eventuais incongruências que detetem no enunciado do problema.
DESAFIO AO LEITOR
Caro leitor, responda às três alíneas, através de um relatório justificativo das suas deduções, a enviar até ao próximo dia 30 de agosto, utilizando um dos seguintes meios:
– por correio postal, para AUDIÊNCIA GP / O Desafio dos Enigmas, rua do Mourato, 70-A – 9600-224 Ribeira Seca RG – São Miguel – Açores;
– por correio eletrónico, para salvadorpereirasantos@hotmail.com.
E, já sabe, não se esqueça de identificar a solução enviada com o seu nome (ou pseudónimo). Recordamos entretanto que, juntamente com a solução deste enigma, deve enviar a pontuação atribuída ao problema da segunda prova do torneio, da autoria de Rigor Mortis.