ESTAS NOITES BRANCAS

Dois espetáculos notáveis da companhia profissional de Teatro Art´Imagem, sediada na quinta da Caverneira/Maia. Noites Brancas em encenação de Pedro Carvalho e “ Os Anos que Abalaram o (Nosso) Mundo!”, com encenação e texto do Director Artístico da Companhia José Leitão. Duas visões de um mundo perante uma revolução, o de um momento pré-revolucionário, com seguras interpretações, ambos espetáculos representam a solidez e maturidade de um coletivo teatral desalojado da cidade do Porto (literalmente!) e acolhido na vizinha cidade da Maia.

Este ano o elenco viu reforçado o seu apoio pela DGA, pelo seu valioso contributo ao teatro e a sua divulgação. Não devemos esquecer que a companhia é ainda a organizadora do Festival Cómico da Maia e do encontro Fazer a Festa, encontro de teatro para a infância e juventude. “Estas Noites Brancas: Romance Sentimental das Memórias de um Sonhador (1848) resultam de uma adaptação dramatúrgica do romance homónimo do escritor russo Fiódor Dostoievski.Sob as noites claras de verão, um Sonhador perpétuo caminha solitariamente pelas ruas desertas de S. Petersburgo, alimentando, incessantemente, o seu imaginário com a energia que encontra na inanidade do que o rodeia. Esta comunhão onírica é subitamente interrompida quando, certa noite, este se depara com Nástenka, uma jovem rapariga que chora sob a ponte do rio Nieva. Depois de a salvar, oportunamente, de uma tentativa de abordagem por parte de um transeunte suspeito, ambos estabelecem uma ligação amistosa que descortina as estórias de duas vivências tão díspares, mas que ascendem numa atração mútua. Une-os uma espera inquietante, que virá a definir os seguintes encontros noturnos, carregados de revelações, ansiedades, sonhos, medos, e um confronto enigmático de paixões.Dois actores, Flávio Hamilton (Sonhador) e Carina Ferrão (Nástenka), interpretam, assim, um jogo de suspensão, que coloca signos oníricos de uma dimensão poética em confronto com os cânones realistas da comunicação pragmática. Daqui, emerge, simultaneamente, a contracena com uma ausência de desígnios incertos, que traz uma sombra à brancura destas longas noites de verão.

Dramaturgia e Encenação Pedro Carvalho Assistência de Encenação Samuel Pascoal , Cenografia, Figurinos e Imagem de Cartaz Marta Silva Criação Musical e Sonoplastia Carlos Adolfo .Os Anos que Abalaram o (Nosso) Mundo!“Acorda, acorda, há uma revolução”. É assim que José M. toma conhecimento do movimento militar desencadeado na madrugada do 25 de Abril. A sua resposta, ainda ensonada, parece insólita. “Deixa-me dormir, pá, não me chateies! “Pelo palco e plateia passarão os dias da descoberta e da alegria de “o povo unido jamais será vencido”, do inesperado e inesquecível primeiro de Maio, a evocação de um tempo de deslumbramento e esperança em que “Nunca Portugal foi tão feliz”. Tudo era então possível quando “o sonho comanda a vida” ainda que, depois da bela aurora e ao finar o dia primeiro, as lágrimas voltassem a aflorar os rostos desta “gente feliz” chorando os últimos mortos, nas horas amargas que Lisboa viveu junto à PIDE, quando se conquistava a nova cidade de mãos dadas com os jovens capitães, ao serviço do povo.

A morte voltava a sair à rua, agora num dia sim, o dia da libertação. Recordaremos a cidade do Porto nos primeiros dias de festa e luta com o povo na rua, ajudando a determinar o carácter revolucionário que tomou o levantamento militar, neutralizando as forças que ainda resistiam à mudança.Texto, Dramaturgia e Encenação José Leitão, assistente de Encenação Daniela Pêgo, Interpretação Daniela Pêgo, Susana Paiva, Patrícia Garcez e Luís Duarte Moreira, Música Rui David, Figurinos, Luísa Pinto,Movimento Costanza Givone, Desenho de Luz, Som e Vídeo André Rabaça, Espaço, Cénico José Leitão e José Lopes.